"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 31 de maio de 2012

Três artigos, a seguir

01)Resolução do Encontro Internacional Geopolítica da Paz e do conflito em busca da solução política ao conflito social e armado na Colômbia.

Em desenvolvimento dos debates e discussões abordados no Encontro Internacional, a Geopolítica da Paz e do Conflito, realizado nos dias 24 e 25 de maio de 2012 em Dublin [Irlanda], as organizações convocadoras, os processos sociais, setores acadêmicos, pesquisadores e participantes do evento, nos manifestamos na necessidade de avançar na Solução Política ao Conflito Social e Armado que vive a Colômbia a partir do diálogo civilizado, que possibilite abrir cenários de participação na busca da superação dos níveis de marginalidade, pobreza e exclusão como causas estruturais da confrontação na perspectiva da Paz com Justiça Social.
 
Nos somamos aos esforços que, desde o movimento social e popular colombiano, se vêm realizando a partir do fortalecimento de cenários de unidade de ação em torno da mobilização, projetando como tarefa imediata a conquista da Paz Democrática.
 
Reclamamos e exigimos do Governo Colombiano a outorga de plenas garantias para o livre exercício da participação social e política da Marcha Patriótica e demandamos da comunidade internacional a solidariedade e o acompanhamento com as lutas do povo colombiano.
 
Expressamos nossa disposição e compromisso de trabalhar pela Paz na Colômbia a partir da convocatória de cenários de debate internacional que possibilitem socializar a difícil situação que vive este País e a elaboração coletiva de propostas e iniciativas em favor da Paz.
 
 
Fonte: www.pacocol.org
 
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02) Todo um êxito viagem de dirigente de Marcha Patriótica, Carlos García, em vários países da Europa
 
Por Eliécer Jiménez e Marie-France Allemand
 
O dirigente colombiano do Movimento Marcha Patriótica Carlos García Marulanda se reuniu em Grenoble, França, com uma centena de pessoas especialmente francesas, as quais ouviram numa conferência os esclarecimentos e programas do que significa a luta do povo da Colômbia pela segunda e definitiva independência. Além disso, se entrevistou com dirigentes da Frente de Esquerda como Alain Dontaine, ativistas do Partido Comunista Francês, e Marie-France Allemand, do Movimento ALBA, entre outras, as quais brindaram sua solidariedade e apoio internacionalista ao novo movimento na Colômbia.
 
García Marulanda prossegue a excursão de socialização da Marcha Patriótica nesta semana por Itália, Alemanha e Espanha, anotando que já desenvolveu programas e entrevistas na Suíça, Bélgica, Irlanda e Suécia. Até o momento, a longa jornada pela Europa deu seus frutos, já que tanto os colombianos como os europeus têm recebido com entusiasmo e otimismo o programa deste movimento popular, que nasceu das entranhas do povo colombiano e que busca a unidade de todos os setores sociais e políticos que se opõem ao atual governo na busca de uma mudança de modelo econômico e político, lutando também pela solução política do conflito social, político e armado que vive o país desde há mais de sessenta anos.
 
Fonte: www.pacocol.org
 
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03) Irlanda do Norte disposta a ajudar a Colômbia no eventual processo de paz
 
 
 
Por Eliécer Jiménez y Marie-France Allemand
28 de maio de 2012
 
As autoridades da Irlanda do Norte estão dispostas a compartilhar suas experiências com suas homólogas colombianas ante um eventual processo de paz que pusesse fim ao conflito armado do país andino, disse hoje a Efe o congressista Iván Cepeda.
Cepeda viajou a Belfast, Dublin e Londres com os ativistas Carlos Lozano, diretor do semanário comunista VOZ, e Marleny Orjuela, presidenta da Associação Colombiana de Familiares de Membros da Força Pública Retidos e Libertados por Grupos Guerrilheiros [Asfamipaz].
 
Esta comissão regressou ontem da visita de sete dias patrocinada pela organização não-governamental Justice for Colômbia [Justiça para Colômbia], cujo objetivo era “conhecer as experiências de paz da Irlanda do Norte e ver quais podem ser de utilidade para um processo de paz na Colômbia”.
 
Segundo Cepeda, que é porta-voz da Comissão de Paz da Câmara de Representantes, tanto o ministro principal norte-irlandês, o unionista Peter Robinson, como seu adjunto no Governo de poder compartilhado, o republicano Martin McGuiness, expressaram seu interesse em apoiar “qualquer iniciativa de paz na Colômbia”.
 
Os dirigentes irlandeses do Norte condicionaram esta colaboração às condições que poderia impor o Executivo colombiano sobre a participação internacional no processo.
 
No entanto, Cepeda não descartou que uma missão de membros de todos os partidos com representação parlamentar da Irlanda do Norte possam visitar a Colômbia proximamente.

Em Dublin, os três ativistas colombianos se reuniram com representantes do Governo, e em Londres se entrevistaram com membros da Chancelaria Britânica e com Frances O’Grady, vice-presidenta da Central Sindical Britânica [TUC, sigla em inglês].
 
“São gestões e aproximações no contexto da possibilidade de buscar ambientar a paz na Colômbia. Não estava pensado como parte da agenda da discussão parlamentar do Marco Legal para a Paz, porém do que se vem debatendo sobre a paz no país”, explicou, em alusão a um ato legislativo que entra nesta semana em sua reta final.
 
Para Cepeda, há que “tomar em consideração” o atual cenário na Colômbia, no qual o presidente Juan Manuel Santos “tem insistido em que quer buscar uma solução política ao conflito, assim como o tem feito a guerrilha” das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia [FARC].
 
“É muito interessante ver como, em 1998, se chegou a uma situação democrática depois de um conflito tão sanguinário na Irlanda do Norte, de maneira que a reconciliação se plasma numa cultura do debate político”, concluiu o legislador de esquerda.
 
Finalmente, anunciou que apresentará um amplo informe sobre os resultados da viagem ante o Plenário da Câmara.


Com informação EFE
 

Comunicado das FARC-EP na entrega de Romeo Langlois

Em uma campanha de devastação que pretendeu eliminarmos em só um ano e que já leva décadas sem poder nos tirar do mapa, significa que nossa historia é a historia dos múltiplos esforços do povo colombiano por lograr uma paz definitiva e verdadeira.

Desde aquelas cartas dos camponeses de Marquetalia nas que pediam não serem agredidos militarmente ate nossa atual política de paz, passando pela União Patriótica e pelos diversos cenários dos diálogos, temos sempre sido partidários da solução política, da paz com dignidade e justiça social.

Os verdadeiramente surdos e teimosos ante nossas propostas têm sido os donos do poder político e econômico do país porque temem o poder popular e o cambio social.

Os tempos que correm são propícios para as mudanças profundas não só em nossa América, mas também no mundo inteiro.

Os povos levantam-se decididos a lutar pelas alternativas ao capitalismo cada vez mais decadente, mais injusto e explorador. Na Colômbia o povo está cansado dos governos oligárquicos, repressivos corruptos que não o representam para nada, pois não atendem suas reivindicações. Suas iniciativas unitárias de luta percorrem todos os cantos da pátria tecendo resistências que saudamos festivos sabendo que o caminho a percorrer todos é o mesmo, o caminho da unidade popular

Os últimos acontecimentos demonstram que existe um fervor massivo pela necessidade de alcançar a paz com dignidade e justiça social.

Organizações cívicas, camponesas, sindicais, dos estudantes, e de todo e qualquer tipo estão na tarefa de demonstrar que alcançar a paz democrática é a premissa de qualquer transformação social verdadeira e profunda em nosso país.

Sabemos que o futuro da Colômbia está no que decida seu povo, soberanamente e na convicção no que deve ser o destino da pátria. Colocaremos todos nossos esforços nisso. Saberemos nos posicionar ante essas circunstancias, como combatentes e compatriotas.

Com o exemplo e o legado de Manuel, Jacobo, Jorge, Alfonso, Raúl, Iván e todos nossos mártires seguiremos ate a vitoria final com a paz como bandeira e o melhor estar de nosso povo como horizonte.

Vivam as FARC, viva o povo colombiano.
Contra o imperialismo com a pátria.
Contra a oligarquia, com o povo.

Secretariado do Estado Maior Central

Forças Armadas Revolucionarias de Colômbia – Exército do Povo

Montanhas da Colômbia

Maio 27 de 2012


terça-feira, 29 de maio de 2012

Assim como no Massacre da União Patriótica: paramilitares ameaçam integrantes da Marcha Patriótica

Caracas, 15 de maio de 2012, Tribuna Popular (TP) – Diversas organizações integrantes da Marcha Patriótica, um novo movimento político de esquerda, foram ameaçados pelos paramilitares autodenominados “Águias Negras” através de uma carta dirigida ao presidente do sindicato agrário Fensuagro, Alirio Garcia. A mensagem, carregada de insultos e datada do mês de maio em Cundinamarca declara como “objetivo militar” as direções de doze organizações que acusa de “financiadas pela guerrilha para o trabalho junto à população e a construção de um novo movimento”.


Também tacha estas organizações como membros da União Patriótica (UP), um partido de esquerda nascido nos anos oitenta do século passado e que desapareceu após os assassinatos sistemáticos de milhares de seus integrantes por forças de segurança do Estado e paramilitares.

As organizações ameaçadas são o sindicato Fensuagro, a Associação Camponesa dos Desplazados (“sem-terra”) – Asocamde, a Coordenação Nacional dos Desplazados – CND, a Associação Nacional de Desplazados da Colômbia – Andescol, a Coordenação Nacional de Organizações Agrárias e Populares – Conap, o Reiniciar (organização dedicada à defesa dos direitos humanos).

Também a Mesa (Coordenadoria) Ampla Nacional Estudantil – Mane, Funhascol, a Associação Nacional de Ajuda Solidária – Andas, a Mesa Nacional de Vítimas, a Casa de Amizade com a Venezuela e a Federação Nacional Sindical Nova Liderança Camponesa.

Os “Águias Negras” advertem aos ameaçados que “lhes restam poucos dias para abandonar a cidade” e os acusa de ser “destacamentos avançados da guerrilha nas cidades”.

A carta, à qual teve acesso a agência de notícias Efe, está assinada pelo “Bloco Capital DC” e seus autores acusam a suas vítimas de estar “sublevando as comunidades para que reclamem seus supostos direitos, suas terras e demais supostos benefícios por ser sem-terra ou vítimas do Estado”.

Afirma também que “estão abusando da enorme boa-vontade” do presidente Juan Manuel Santos.

A Marcha Patriótica veio à luz em Bogotá no abril passado com uma grande manifestação pacífica que percorreu as ruas desta capital e congregou milhares de pessoas vindas de todo o país.

Trata-se de um movimento que tende a ocupar o espaço político deixado pelo União Patriótica e que, junto ao Pólo Democrático Alternativo (PDA), se constitui na única oposição ao governo de Unidade Nacional do presidente Santos.

Os “Águias Negras” encerram a carta com o desejo de “acabar logo com esta praga que é a UP para a Colômbia”.

Estas ameaças se somam a dois casos de rapto e outros de assassinatos de integrantes da Marcha Patriótica desde sua apresentação oficial em abril, segundo denunciaram seus integrantes.

Fonte: Rede Diário Digital

http://www.pcv-venezuela.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1408:tal-como-en-la-masacre-de-union-patriotica-paramilitares-amenazan-a-integrantes-de-marcha-patriotica&catid=29:colombia&Itemid=23

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Movimento dos Pequenos Agricultores realiza mobilizações em todo o país durante Jornada Nacional de Luta Camponesa.

Cerca de 10 mil camponeses e camponesas de 17 estados do país, organizados pelo Movimento dos Pequenos Agricultores, estarão mobilizados entre os dias 28 de maio e 1º de junho, na Jornada Nacional de Luta Camponesa.

Os camponeses e camponesas vão às ruas para reafirmar o compromisso de luta com o campesinato e os trabalhadores urbanos, e cobrar ações do estado brasileiro que garantam e fortaleçam a produção de alimentos saudáveis no campo para a geração de renda das famílias cam­ponesas e o abastecimento das famílias da cidade.

Para que o campesinato continue produzindo 70% da comida que vai a mesa do povo brasileiro, o movimento reivindica políticas públicas voltadas para melhoria da qualidade de vida no campo, que incluam o acesso à terra, investimento na produção, beneficiamento e comercialização de alimentos, moradia e educação camponesa, incentivos para que os camponeses continuem preservando o meio ambiente, e mudança do modelo agrícola brasileiro, com o fortalecimento da agricultura camponesa e da produção agroecológica. Além disso, o MPA reivindica solução definitiva para o problema das dívidas dos pequenos agricultores.

O MPA ainda questiona e denuncia as mudanças do novo Código Florestal, que beneficia diretamente os latifundiários do agronegócio, legitima o desmatamento já realizado e abre fronteiras agrícolas sobre as nossas florestas e áreas de preservação.

A jornada traz também como pauta central o combate ao uso de agrotóxicos e a construção de uma nova dinâmica de produção no campo, caracterizada pelo fim dos latifúndios e dos monocultivos, e que priorize a produção de alimentos para garantia da soberania alimentar do povo a partir da agricultura camponesa com base agroecológica.

Durante a semana , diversas audiências nacionais e estaduais estarão sendo realizadas para garantir a pauta de reivindicação do movimento. Já foram solicitadas reuniões com 17 ministérios, entre eles o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério da Agricultura, Ministério das Cidades (MC), Ministério da Cultura (Minc), Ministério da Saúde (MS), Ministério do Desenvolvimento Social e combate à fome (MDS), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ministério de Minas e Energia (MME); além de reuniões com a Anvisa, Caixa Econômica Federal, Receita Federal, Banco do Brasil, Companhia Nacional de abastecimento (Conab) e Embrapa.

Pautas específicas

A jornada pede soluções imediatas e definitivas para o problema do endivi­damento agrícola e a criação de uma linha de crédito subsidiado para a produção de alimentos, desbancarizado e com paga­mento pela produção.

Os camponeses e camponesas cobram do estado a criação de um programa público de paga­mento por serviços sócio-ambientais realizados pelas famílias camponesas, que garanta o incentivo de um salário mínimo por família ou propriedade que cumpra as regras estabeleci­das pelo Código Florestal Brasileiro. Ainda dentro da pauta de meio ambiente, o MPA solicita a criação de um programa de apoio à experiências cooperativadas de produção de Energias Renováveis como: PCHs, aerogeradores, micro destilarias, unidades de óleo vegetal e biodiesel, biodigestores, etc;
Em relação à educação, o MPA reivindica a reabertura das escolas do campo e adaptação dos currículos escolares com a realidade cam­ponesa, além da criação de uma bolsa permanência, para jovens estudantes e recém formados, para que per­maneçam no campo trabalhando em prol do desen­volvimento da comunidade.

O MPA cobra do governo que programas como PAA e Habitação Rural, sejam transformados em políticas públicas para que possam garantir a permanência dos serviços prestados aos campesinato e que seus recursos sejam ampliados. Ele ainda pede o fortalecimento da CONAB, com pessoal, estrutura e orçamento, com estratégia para a soberania alimen­tar brasileira. Em relação ao Programa Luz Para Todos, o pedido é que seja feita a ligação imediata de energia para todas as famílias cadastradas no Luz para Todos e que haja melhoria na qualidade da energia onde já foram ligadas.
Tendo em vista as demandas oriundas do PAA e PNAE, o movimento pede que se leve em conta uma legislação específica e que se crie um programa massivo de pequenas agroin­dústrias.

Diante das catástrofes ambientais vivenciadas atualmente por vários estados brasileiros, como chuvaradas e secas prolongadas, o movimento propõe a criação de mecanismos que permitam ao governo uma reação emergencial para esses problemas.

Para garantir uma transição massiva para agroecologia, o MPA reivindica a criação de um programa que fortaleça essa iniciativa, com crédito apropriado, políticas de comercialização, logística para insumos agroecológicos e diferenciação em todas as políticas públicas para quem der passos no processo de transição para esse modelo.
http://www.mpabrasil.org.br/

(*) Matéria reproduzida página do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). 

Piedad Córdoba em Telesur


A Defensora dos Direitos Humanos e ex-senadora Piedad Córdoba expressou, neste domingo, em entrevista exclusiva para teleSUR, sua satisfação por conhecer o comunicado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia [FARC], na qual deram a conhecer que a libertação do jornalista francês Romeo Langlois terá lugar na próxima quarta-feira 30 de maio.
Expressamos nossa satisfação e alegria por esta muito boa notícia, já que na quarta-feira o jornalista poderá estar com seus familiares, amigos e amigas”.
Córdoba agradeceu a agilidade e compromisso do governo de François Hollande e das FARC. “Agradecemos a agilidade do governo francês, assim como também o gesto das FARC de finalizar a entrega do jornalista”.
Córdoba, que se encontra no México com a equipe de produção do programa Causa Justa, que se transmite todas as segundas-feiras em teleSUR, assegurou que regressará a Colômbia imediatamente para pôr-se à disposição do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e das FARC.
Já mesmo empreendemos voo de regresso ao Distrito Capital [México] para tomar um voo que nos leve a Bogotá [Colômbia] e colocar-nos à disposição do CICV e das FARC para conhecer as coordenadas do lugar e outros detalhes pertinentes”.

Comunicado.

Primeiro: A libertação do jornalista francês Roméo Langlois terá lugar na próxima quarta-feira 30 de maio.


Segundo: As coordenadas do lugar onde será libertado o senhor Langlois serão entregues oportunamente à missão humanitária integrada pelo CICV, pela ex-senadora Piedad Córdoba e pelo delegado francês.


Terceiro: Nos declaramos na expectativa em torno da divulgação dos protocolos de sua segurança, indispensáveis para o êxito da operação. Todos os protagonistas desta libertação devem ser rodeados de garantias certas para sua integridade física.

15 Frente das FARC-EP. Bloco Sul.

Montanhas da Colômbia, 26 de maio de 2012

Fonte america.infobae.com 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

LANÇAMENTO AGENDA COLÔMBIA-BRASIL NO RIO E APRESENTAÇÃO DA MARCHA PATRIÓTICA

A Agenda Colômbia-Brasil-Rio de Janeiro com o apoio da Casa da América Latina, Central de movimentos Populares, Centro Brasileiro de Solidariedade dos Povos, Coletivo Socialismo e liberdade – CSOL/PSOL, Comité pro-Conselho Patriótico da Colômbia no Brasil, Grupo Tortura Nunca Mais, Instituto de Advogados Brasileiros, Mandato do Vereador Renatinho PSOL-Niterói, Movimento dos Trabalhadores Desempregados, Movimento Nacional de Luta pela Moradia, Movimento Sem Terra, Partido Comunista Brasileiro, Partido Socialismo e Liberdade – Niterói, União da Juventude Comunista, Sindicato ADUFRJ, e Visão da Favela Brasil.

Convidamos ao lançamento da Agenda Colômbia-Brasil e a apresentação do movimento Marcha Patriótica da Colômbia, na quarta feira 30 de maio no Centro Cultural do IAB - Rua Teixeira de Freitas nº5, sala 301, Lapa.

18:00 – 18:20h vídeos sobre a Marcha Patriótica

18:20 – 19:30h apresentação da Agenda e da Marcha

19:30 – 20:00h Pronunciamento das organizações que apoiam a Agenda Colômbia-Brasil

20:00 – 20:30h ato artístico

É urgente a solidariedade internacional com o povo colombiano que sofre terrorismo de Estado: 5 milhões de pessoas desterradas forçadamente, 9.500 presos políticos, 250.000 desaparecidos, o 60% de sindicalistas assassinados no mundo, ferramenta paramilitar do Estado e as transnacionais.



O QUÉ É AGENDA COLÔMBIA-BRASIL
É um espaço social e político que busca dar visibilidade à realidade colombiana e gerar solidariedade do povo brasileiro aos movimentos da sociedade civil e organizações políticas democráticas colombianas.

Como organização não é partidária, é autônoma, horizontal, prima pela equidade de gênero, a direção coletiva e a formação permanente.

Acredita e trabalha pela construção da solidariedade entre os povos, principalmente dos povos da América Latina. Luta contra o imperialismo, a militarização e a violação aos direitos humanos; e a favor da livre determinação dos povos, a paz no mundo, a justiça social, a superação da impunidade, o resgate e a preservação da memória, e em especial pela superação do povo colombiano de sua grave situação social e política.

Seu objetivo é criar solidariedade nas organizações sociais e políticas do povo brasileiro ao povo colombiano para apoiar as lutas das colombianas e dos colombianos. E no reconhecimento de seus direitos humanos, na superação da impunidade, na solução política ao conflito armado com uma paz real e duradoura, na construção de justiça social.

Mas também é fundamental para que as organizações na Colômbia conheçam os processo de luta no Brasil, e começar a articular uma agenda comum.

Apoie, milite, divulgue:

Agenda Colômbia-Brasil!

A solidariedade é dos povos!



O QUE É MARCHA PATRIÓTICA

Na crítica situação do conflito social, político e armado da Colômbia; as classes dominantes tem provocado uma situação de pauperização para a grande maioria do povo trabalhador, que sofre o pago da dívida externa, a exploração do território pelo capital transnacional, o desenvolvimento do narcotráfico, o deslocamento forçado, além de condições de desemprego, déficit de moradia, privatização da educação, precários serviços da saúde, e as diversas formas de repressão: desaparição forçada, o mal chamado “falsos positivos”, o assassinato sistemático, a criminalização da protesta, etc. Surge a Marcha Patriótica desde o ano 2010, articulando organizações sociais (de camponeses, urbanas, sindicais, culturais, de jovens, de género, étnicas, etc) na luta por continuar com o sonho do libertador Simon Bolívar em uma segunda e definitiva independência da Colômbia e de toda pátria grande.

Nestes dois anos a Marcha Patriótica logra a unidade de mais de 1700 organizações que tem muito tempo em luta e que se unem agora pela superação do capitalismo; assim, fez seu lançamento como Movimento Político os dias 21,22 e 23 de abril de 2012 onde participaram mais de 80 mil colombianos e colombianas com o respaldo de organizações dos povos irmãos da América Latina, da Austrália, Europa, e América do Norte.

O caminho continua na construção dos conselhos patrióticos, sendo fundamental o acompanhamento e a solidariedade para que não se repita a história de extermínio às alternativas da esquerda na Colômbia.

¡A marchar pela solução política!

¡A marchar pela soberania e a integração dos povos!

¡A marchar pela unidade popular pela Segunda e definitiva independência!



POR QUE ORGANIZAR A AGENDA COLÔMBIA-BRASIL NO RIO DE JANEIRO?

No Rio de Janeiro, assistimos tanto à cooptação de alguns setores sociais quanto a resistência de outros – que também sofrem com intervenções repressivas. Os que resistem denunciam o modelo de desenvolvimento em curso no Brasil, cujo Estado se articula abertamente ao empresariado, brasileiro e internacional, na garantia do lucro em detrimento da resposta às necessidades concretas de moradia, educação, saúde, acesso à transporte. Ao contrário, se implementam diversas formas de privatização das políticas públicas e giram-se enormes montantes de dinheiro para o empreendimento dos mega eventos que o Rio de Janeiro sediará nos próximos anos, como o Rio +20, as Olimpíadas e a Copa do Mundo.

É evidente que a situação de nossos países mesmo com suas particularidades obedece a uma dinâmica mundial do capitalismo, por isso sentimos a necessidade concreta de lançar a Agenda Colômbia-Brasil no Rio de Janeiro, na tentativa de aglutinar setores no país e na cidade que sejam solidários à situação de extrema violência a que está submetido os povos colombiano e brasileiro e, desse modo, contribuir em seu processo de resistência e de construção de poder popular por meio da Marcha Patriótica e outros processos, que certamente precisarão do mais amplo apoio e articulação internacional, e que é claro, dada sua posição geoestratégica, seu avanço na luta será um avanço da nossa América Latina toda pela verdadeira democracia e pela paz com justiça social.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

PCB e UJC se solidarizam com Piedad Córdoba e a Marcha Patriótica


O  Partido  Comunista Brasileiro (PCB) e a União da Juventude Comunista (UJC) se solidarizam de forma militante  com a senadora colombiana Piedad Cordoba diante das ameaças que vem sofrendo por parte de grupos paramilitares de extrema-direita. É necessario que todas as forças comprometidas com a solução do conflito colombiano com justiça social repudiem e denunciem mais esta ação das forças reacionárias, que mais uma vez se manifestam na Colômbia sob o beneplácito do Estado terrorista - com o qual o governo brasileiro, cabe ressaltar, mantém acordos militares.
 
Por mais que as classes dominantes de nossos países tentem, elas não podem impedir os reclames  das massas. 
 
Fiéis a nossa tradição de internacionalismo proletário, estivemos (PCB e UJC) presentes na Marcha Patriótica que se deu em Bogotá nos dias 21, 22  e 23 de abril. E mais uma vez pudemos conferir isso, de forma compartilhada com o povo colombiano, nesta ação histórica.
 
Oferecemos todo apoio e solidariedade militante a senadora Piedad Cordoba e a todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa, para avançar na conquista da segunda e definitiva independência - com o socialismo nos países latino-americanos. 

23 de maio de 2012 

Partido Comunista Brasileiro e Uniao da Juventude Comunista

Irlanda do Norte apoia a paz na Colômbia.

Uma delegação colombiana, integrada pelo congressista Iván Cepeda Castro, a presidenta de ASFAMIPAZ, Marleny Orjuela e o diretor de VOZ, Carlos A. Lozano Guillén se reuniu em Belfast, na segunda-feira 21 de maio, com os representantes de todos os partidos políticos representados no Parlamento da Irlanda do Norte, para os quais expôs a situação colombiana e lhes solicitou o apoio para a busca da paz e solução política dialogada do conflito. O compromisso foi unânime. “Sem pretender que existam modelos ou cópias para imitar, é importante o apoio do Norte da Irlanda, onde se realizou um acordo de paz que trouxe a paz e a reconciliação entre os irlandeses”, disse Carlos Lozano.


Nos próximos meses, uma delegação de partidos irlandeses visitará a Colômbia para estabelecer contatos com o Governo Nacional e a sociedade civil. “Temos muito que aprender do processo irlandês que logrou a paz entre forças que pareciam irreconciliáveis”, assinalou Iván Cepeda.

Posteriormente, a delegação colombiana se reuniu com o primeiro-ministro Peter Robinson e o vice-primeiro-ministro Martin McGuinness do Partido de Sinn Fein. Foi um encontro cálido e amistoso em que se intercambiaram opiniões sobre a paz na Irlanda e a necessidade de que na Colômbia se abra um cenário de diálogo para buscá-la, disseram os colombianos. A delegação colombiana esteve acompanhada de Mariela Kohon, diretora de Justice for Colombia, ONG que organizou a visita.

Na terça-feira 22 de maio vão a Dublin e na quarta-feira 23 estarão em Londres, onde serão recebidos na chancelaria, por parlamentares trabalhistas e sindicalistas.

 

terça-feira, 22 de maio de 2012

A Marcha Patriótica, oposição estigmatizada e ameaçada



Por Luis Jairo Ramirez H.


As reações histéricas, quase instintivas, da atual direção do país frente à emergência do movimento social e político – Marcha Patriótica – nos mostram de novo uma oligarquia colombiana petrificada, que não permite evolução alguma para a democracia. Nas cabeças da “Unidade Nacional” começam as maquinações para ver como sacar de cima semelhante incômodo. Os laboratórios de inteligência da Polícia e do Exército trabalham as 24 horas do dia para idealizar estratégias midiáticas, políticas e militares que enfrentem ao novo “espantalho terrorista” que ameaça os privilégios de sempre. Novamente, os meios de comunicação, em vez de destacar as dimensões políticas e multitudinárias da marcha, optaram por um julgamento a Piedad Córdoba... De onde saiu o dinheiro para sufragar a marcha? Alguém assinalou: tudo do pobre é roubado...!! A história da intolerância oficial se repete uma e outra vez.
A violência dos anos 40 do século passado se explica na negativa das elites dominantes a admitir uma oposição real. A mentalidade monárquica da política tradicional colombiana resiste a qualquer sinal de inconformismo, com maior razão se provém da base mesma da sociedade. É a ideia de que os de baixo devem dedicar-se a fazer sapatos ou vender frutas, porque as questões da política e o poder são assunto exclusivo dos de cima, e quando os de baixo jogam o feitio dos sapatos para o lado, fazem política e pensam no poder, automaticamente são convertidos em “terroristas”, “ficam à margem da Lei”, porque a legalidade, a justiça, a democracia e a liberdade também têm uma conotação de classe na medida em que são bens exclusivos das grandes fortunas... Os de baixo foram concebidos para serem resignados e obedientes.
A 9 de abril de 1948, essas elites despóticas, assustadas pela irreprimível marcha de Eliécer Gaitán para o poder, não tiveram outra opção que assassiná-lo. Gaitán, ademais, não agradava a elas por ser negro e irreverente e o custo de preservar o poder para os conservadores foi um holocausto de 300 mil colombianos. Nos anos 60, também asfixiaram a Frente Unida do sacerdote rebelde Camilo Torres, fechando-lhe todos os espaços para a ação política aberta e, finalmente, foi assassinado quando recém dava seus primeiros passos insurgentes.
Pouco depois da fraude eleitoral contra a Anapo, nos inícios dos anos 70, se formou a União Nacional de Oposição – UNO –, constituída pelos comunistas, o Moir, setores da Anapo e liberais independentes; então, os governantes bicolores e militares da época brandiam o discurso e as ações anticomunistas em campos e cidades; ainda recordamos o assassinato de José Romaña Mena, vice-presidente do Conselho de Cimitarra, ultimado pelo DAS em 1975; ou o dos companheiros Nicolás Mahecha e Javier Baquero, vice-presidente do Conselho de Yacopí, em 18 de outubro de 1975 por tropas militares; depois, o exército assassinaria o Presidente do Conselho de Cimitarra e militante do Partido Comunista, companheiro Josué Cavanzo, a 9 de janeiro de 1977; em 7 de outubro de 1979, cai assassinado o vice-presidente do Conselho de Puerto Berrío, DARÍO ARANGO, dirigente do PCC e da Associação Nacional de Barqueiros. Os assassinatos em massa durante a atividade política da UNO na década dos anos 70 foram o preço de se declararem inconformados frente às tremendas injustiças de uma direção política medíocre e violenta.
Produto dos acordos de paz entre o governo de Belisario Betancur e as FARC, se lançou à vida pública a UNIÃO PATRIÓTICA [UP], Movimento Amplo de Oposição que propôs à sociedade colombiana um programa de transformação democrática que atraiu uma importante simpatia; no entanto, uma aliança do Estado Colombiano, os pecuaristas, o narcotráfico, o paramilitarismo e certos dirigentes políticos do bipartidarismo afogaram em sangue a mais importante possibilidade de paz no país. 5 mil líderes políticos e sociais assassinados são o testemunho cruel da selvageria de umas elites liberais e conservadoras que foram capazes de ordenar todo um genocídio para manter seus privilégios econômicos e políticos. Hoje, tratam de lavar suas culpas com infames desculpas: que a combinação das formas de luta, que ajustes de contas e lutas internas entre a UP e as FARC etc. Na realidade, a estigmatização por parte de altos funcionários do governo, militares e políticos tradicionais através dos grandes meios de comunicação instigou a matança que ainda se encontra na impunidade e, aliás, foi deixada à margem da recente “Lei de vítimas e restituição de terras”.

UM POLO DEMOCRÁTICO DEMONIZADO PELA MÍDIA E PELO PODER

Em 2005 se constitui o POLO DEMOCRÁTICO ALTERNATIVO, até agora o mais ambicioso movimento de unidade da esquerda. Nas eleições presidenciais de 28 de maio de 2006, nas quais resultou reeleito o presidente-candidato Álvaro Uribe Vélez, o ex-magistrado Carlos Gaviria, candidato do POLO, conquistou o segundo lugar, superando o candidato liberal Horacio Serpa e, assim, o Polo Democrático Alternativo obteve a máxima votação na história da esquerda colombiana, com 2.609.412 (22% da votação). A reação do governo de Uribe Vélez não se fez esperar, se desatou a mais violenta e sistemática atividade criminal para acabar com a oposição encarnada no POLO. Um jornal dos EEUU assinalou que “recursos dos Estados Unidos foram usados para espiar e adiantar campanhas de difamação contra os setores de oposição, entre outros”. A própria Promotoria qualificou como “empresa criminosa” a operação para difamar e atentar contra o POLO desde o DAS, e conspirar vinculando-o com grupos ilegais. O diretor de Notícias de RCN, Juan Gossaín, editorializou: “Isto não são chicotadas, isto é a espionagem mais horrenda e asquerosa e repugnante do mundo, com atentados terroristas”. Aproximadamente 20 líderes do Polo foram assassinados e mais de 49 ameaçados. Isto o Ministério do Interior sabe, porém pouco se está fazendo a respeito.


PERSPECTIVAS E PERIGOS QUE CERCAM A MARCHA

Desde a Marcha Nacional do Bicentenário de 19 a 21 de julho de 2010, que lotou as ruas de Bogotá, passando pelo Encontro multitudinário de Barrancabermeja de agosto de 2011, até a convocatória de 1.700 organizações sociais, partidos políticos, personalidades de toda a nacionalidade e mais de 100 delegações internacionais ao lançamento do Movimento Político e Social Marcha Patriótica, este período de 21 a 23 de abril de 2012 marca uma sequência da mobilização popular e uma guinada significativa da vida política nacional. É evidente que, para a maioria dos colombianos, este modelo de sociedade com a maior desigualdade de toda a América Latina, com uma classe dirigente belicosa e repressiva, um regime que facilita às transnacionais o saque do petróleo e dos minerais, uma pobreza que supera 67%, o maior índice de desemprego e precarização do trabalho dos últimos anos, com 5 milhões de deslocados e um roubo violento de terras, uma juventude à qual se fecham todas as possibilidades de estudo e uma crise de direitos humanos sem antecedentes, não é o modelo de sociedade com o qual sonhamos.
Tal como ocorreu nos últimos 60 anos, como se fosse um disco arranhado, todos a uma: Governo, FFAA, parapolíticos, meios de comunicação, gritam em coro que “a marcha patriótica é uma fachada das FARC”. Quem acreditaria... até há pouco apregoavam “o fim do fim” da guerrilha, e agora, de repente, vociferam que 100 mil marchantes chegados das mais diversas regiões do país, têm a ver com as FARC...!!! E os gastos? Não, senhores, não foi como o financiamento paramilitar da campanha Presidencial e de Congresso às elites em 2002 e, após, em 2006, que constitui o mais tenebroso período que conhece a história nacional. Neste caso, 1.700 organizações sociais financiaram, cada uma, sua própria mobilização, em meio a uma infinidade de retenções militares e de ameaças paramilitares como a do nordeste antioquenho; se alojaram em hotéis humildes e em barracas, se limitaram a comer pamonhas, arroz com frango e café. Com intoxicações incluídas. As precariedades a que estão acostumados os pobres durante lustros.
Não foi como na convenção nacional conservadora ou a convenção do Partido da U, movidas em aviões, alojadas em luxuosos resorts e comidas tipo buffet, com coquetel de despedida ao final, que tampouco passam por inumeráveis revistas do exército, senhor Presidente Santos.
A Marcha Patriótica não era uma convenção de banqueiros, industriais, pecuaristas, terratenentes e um que outro mafioso. Não. Na realidade, o que gerou suspeitas é que era uma convenção de desfarrapados, campesinos, indígenas e afrodescentes deslocados, sobreviventes do genocídio da UP, um que outro operário, um que outro intelectual, muitos jovens, boa parte deles estudantes, até artistas, a maioria mal letrados, porém que se fazem entender, deixando claro o que querem. O que tem incomodado é que se reuniram os que [a elite] tem proibido fazer política, os que lhes vedaram pensar na democracia, na paz e no poder. Lhes aterroriza que, assim como na Bolívia, não seja um alto executivo da capital quem governe, mas sim um índio vindo de longínquas terras.



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Repúdio à presença de Álvaro Uribe Vélez em Buenos Aires

Concentração no Obelisco, 23 de maio, 14h

Colombianos residentes na Argentina, nos pronunciamos contundentemente contra a presença do ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe Vélez no dia 23 de maio na cidade de Buenos Aires, no marco do WON Leadership, evento que responde a uma estratégia política de interesses neoliberais contra os povos que lutam na América. Em concordância com isso, apresenta a este nefasto personagem como um grande transformador da realidade colombiana, “pacificada” e “altamente atrativa à inversão estrangeira” depois de seus oito longos anos no poder. Evidentemente, o acima dito é um atentado à verdade sobre o que significou seu governo, que em nome da luta contra o “terrorismo” cometeu os crimes mais atrozes contra o povo colombiano, deixando em sua passagem um país fragilizado e saqueado pelo capital transnacional.

Álvaro Uribe Vélez – que, antes de ser presidente, foi declarado pelo Pentágono como o nº 82 no ranking dos narcotraficantes mais perigosos do mundo – deixou um país com cerca de 5 milhões de deslocados internos, 62.000 desaparecidos, 3.000 execuções extrajudiciais, 70% da população em condição de pobreza e miséria, o terceiro posto mundial em desigualdade econômica, 12% de crianças em condição de desnutrição crônica, 11% de desemprego, mais de 7.500 prisioneiros políticos, 6,5 milhões de hectares roubadas do campesinato, 52% da terra em mãos de 1% dos proprietários, o país mais perigoso do mundo para a organização sindical e um dos mais perigosos para se exercer o jornalismo. Cerca de 6% do Produto Interno Bruto do país se destinou à guerra, enquanto a educação e a saúde foram fatalmente desfinanciadas e privatizadas.

Denunciamos que sua Política de Segurança Democrática, mostrada como exemplo a seguir por outros governos da região, responde a lineamentos impostos pelos Estados Unidos no marco da “luta contra o narcotráfico e o terrorismo”. Entre 2001 e 2010, através do Plano Colômbia – que se transformou no Plano Patriota –, os Estados Unidos destinaram mais de 5 bilhões de dólares às Forças Militares Colombianas, posicionando o país como o terceiro recebedor no mundo de ajuda militar estadunidense, ademais de operar desde sete bases em território colombiano. No mesmo período, se negociou a assinatura do Tratado de Livre Comércio, que a única coisa que faz é acentuar as assimetrias sociais e legalizar a usurpação dos recursos naturais que pertencem ao povo.

Durante toda sua vida política, Álvaro Uribe Vélez teve nexos comprovados com grupos paramilitares, e, como produto disso, hoje em dia vários dos membros de seu gabinete estão processados judicialmente. Cinicamente, em sua qualidade de ex-presidente, criou uma fundação vinculada à direita mais recalcitrante do hemisfério, mediante a qual se promove a impunidade e a desarticulação dos processos de transformação social na América.

Ainda que companheiros tenham sido presos e criminalizados, mães seguem buscando seus filhos desaparecidos, crianças viram massacrar suas famílias e povos inteiros foram convertidos em fossas comuns, o povo colombiano resiste dignamente. Fazemos um chamado à solidariedade dos povos do mundo, entendendo que o modelo impulsionado por Uribe não é assunto do passado, pelo contrário, segue se aprofundando com o governo de Juan Manuel Santos e se converte em ameaça latente para toda a região.

Asamblea de Estudiantes Colombianos en Argentina, AECA
Colectivo Tinto, Mate y Resistencia
Red de Hermandad y Solidaridad con Colombia, REDHER
Movimiento Marcha Patriótica Capítulo Argentina - Colectivo Político América Mestiza
Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano (Brasil)

domingo, 20 de maio de 2012

VETA TUDO DILMA: EM DEFESA DO CÓDIGO FLORESTAL

Por Luiz Zarref
Dirigente da Via Campesina Brasil

O projeto que altera o Código Florestal brasileiro, votado nesta semana na Câmara dos Deputados, representa a pauta máxima ruralista. A bancada apoiadora do agronegócio e defensora daqueles que cometeram crimes ambientais mostrou sua coesão e conseguiu aprovar um texto de forma entrelaçada, comprometendo todo o projeto.
 
O texto está de tal forma que se a presidenta Dilma Rousseff vetar partes dele, continua a mesma coisa. Exemplo: se vetar a distância mínima de floresta recuperada na beira de rios que ficou em 15 metros – atualmente é de 30m -  o texto ainda fica sem nenhuma menção de recuperação nestas áreas. O turismo predatório em mangues também fica permitido, segundo o projeto.
 
Os ruralistas também aproveitaram para dificultar o processo de Reforma Agrária, com a restrição de dados governamentais para a população e até mesmo com a tentativa de anular as áreas improdutivas por desrespeito ao meio ambiente, tal como manda a constituição.
 
O pousio, ou seja, o descanso que se dá a terra cultivada, ficou sem qualquer restrição de tempo e de técnica. Isso acaba com o conceito de área improdutiva. O texto viabiliza as áreas que estavam paradas desde a década de 1990 com regeneração de florestas. São 40 milhões de hectares nesta situação.
 
Além disso, os ruralistas fragilizaram o Cadastro Ambiental Rural, de forma que a população não tenha acesso aos dados, escondendo todos aqueles que cometem crimes ambientais e ferindo o princípio da transparência governamental para a sociedade.
 
A presidenta Dilma tem até a semana que vem para anunciar seus vetos, mas movimentos sociais e organizações ambientalistas já estão mobilizados para que a presidente derrube integralmente o projeto que saiu do Congresso Nacional.
 
A presidenta tem nas mãos ainda vasto apoio de parlamentares, organizações camponesas, sindicatos, sociedades científicas, entidades da igreja pelo veto global.
 
O papel dos setores progressistas é fazer pressão, enfrentar ideologicamente os ruralistas e criar um clima para que a presidenta Dilma faça o veto completo desse projeto. O meio ambiente e a Reforma Agrária estão seriamente comprometidos com esse texto que sai do Congresso Nacional.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Carta de Iván Márquez a María Jimena Duzán


O integrante do Secretariado das Farc respondeu à colunista de SEMANA uma carta pública na qual perguntava como esta guerrilha iria responder as vítimas do sequestro.
María Jimena

Respondo sua carta de março em meio ao clamor de paz que incessante se eleva desde abaixo, grito rouco do [cidadão] comum, sentimento orgulhosamente plebeu, estilhaçando contra o muro da surdez do poder, contra a violência e o terrorismo de um Estado que hoje ostenta sem vergonha a indignante joia
de nos ter convertido no terceiro país mais desigual do mundo. Somos um sonho de paz em construção, desde Marquetalia em 64 e desde muito antes. A busca da paz com justiça social é um princípio reitor, fundamental, o norte verdadeiro de uma estratégia. Não enfrenta nem divide as FARC. Quando algum analista assalariado golpeia o bumbo midiático da existência de uma linha pacifista e outra guerreirista, não deixa de arrancar-nos um leve sorriso. A histórica coesão do Estado-Maior Central das FARC, que é o grande legado de Manuel, não se deixa impressionar por divagações taciturnas.
Na década dos 80 vi o velho Jacobo Arenas abraçando como uma criança a fantasia de ver-se nas praças públicas como tribuno, comandando a alternativa política para Colômbia e a marcha irreprimível pela paz. Não foi possível, María Jimena, você sabe. Mataram a esperança da União Patriótica.
Com certa tristeza já distante, devemos admitir que Caracas e Tlaxcala foram uma oportunidade perdida. Gaviria e Hommes, possuídos já pelo Mefistófeles neoliberal, não admitiam outra discussão que não fosse a entrega das armas e a desmobilização da guerrilha. Aborreciam como seus sucessores seguem aborrecendo a mudança das injustas estruturas, o sentimento de soberania e o fim dos privilégios, alicerces da verdadeira paz. Nem eles mesmos podem orgulhar-se hoje de ter aberto as portas à desnacionalização de nossa economia nem de sua infame declaração de guerra integral contra o povo.
Porém, devo confessar-lhe, María Jimena, que nós, leitores assíduos de sua coluna e seguidores de seus debates radiofônicos, quase não a reconhecemos em sua leitura um pouco precária dos motivos que determinaram o fracasso dos diálogos do Caguán.
Por que não acreditar no ex presidente Pastrana e no ex comissionado de paz Victor G. Ricardo? Eles afirmaram em todos os tons que buscaram o diálogo como uma manobra para ganhar tempo frente a problemas claramente identificados como a seca de recursos para a guerra e a urgência de uma reengenharia do exército e da estratégia contra insurgente. Não importava desalojar cinco municípios se o que se buscava era salvar um regime cambaleante.
E, de fato, quando consideraram alcançado este propósito, já desenhado no Plano Colômbia pelos estrategistas do Comando Sul do exército dos Estados Unidos, declararam rompidas as conversações. E nem sequer atenderam o protocolo de respeitar o tempo de espera combinado para o reinício das ações bélicas. Tendo em conta estas circunstâncias, podemos afirmar que os diálogos do Caguán nasceram mortos. Quem burlou, então, ao país?
Pretender, hoje em dia, a entrega das armas e a desmobilização da guerrilha, com a submissão a uma justiça, que precisamente queremos destronar, é tão somente uma ilusão seráfica. Diríamos que um desrespeito mais a um país que está sendo esbulhado pelas transnacionais e traído por leis de prestidigitadores.
Devemos parar essa “locomotiva do desenvolvimento” que todos os dias leva o petróleo, o carvão, o ouro e o ferroníquel, recursos que deveriam ser empregados na solução dos graves problemas sociais do país. O impacto ambiental é um desastre. Na hora de falar de paz, estes temas não devem desaparecer da agenda, não se pode eliminar a superação das causas geradoras do conflito, a reversão da política neoliberal..., e o povo não pode ficar por fora da mesa.
Respeitamos, María Jimena, sua convicção contra a luta armada, porém, ao mesmo tempo, abrigamos a esperança de que a inteligência entenda que estamos fazendo uso de um direito universal. Bolívar nos diz que, “ainda quando sejam alarmantes as consequências da resistência ao poder, não é menos certo que existe na natureza do homem social um direito inalienável que legitima a insurreição”. No entanto, estamos dispostos a assinatura de um tratado de regularização da guerra, que recolha as especificidades do conflito colombiano para tornar menos dolorosas suas consequências, ao tempo em que propendemos por um acordo de paz, um novo contrato social que ponha fim à confrontação bélica, removendo as causas que a geram.
Lamentavelmente, na Colômbia o ato da rebelião tem sido desfigurado em seu caráter ao privar-se a conexão com condutas que lhe são inerentes, tudo em desenvolvimento de uma estratégia para dissuadir com penas severas a resistência, que nem sequer prevê que a oposição de hoje pode amanhã ascender ao poder, e que sempre será necessário invocar um tratamento mais benévolo para o opositor.
Alguns se escandalizam porque um prisioneiro de guerra passe 14 anos confinado na selva, porém se tornam cegos e mudos quando há guerrilheiros como Simón Trinidad condenados a 60 anos de prisão no desterro, e com correntes físicas. Nenhum dos casos deveria ser.
Diz você que acredita em nós quando anunciamos o fim das retenções econômicas, e em troca nos exige mais e mais gestos de paz, e nem um só ao governo. Talvez se tenha desvanecido em sua memória que libertamos unilateralmente a uns 500 prisioneiros de guerra capturados em combate, recebendo do Estado reciprocidade zero.
O estabelecimento nem sequer permitiu ao grupo de mulheres gestoras de paz – que intercederam para a libertação de seus prisioneiros de guerra – a visita aos cárceres para verificar as condições de reclusão dos guerrilheiros e dos milhares de prisioneiros políticos.
Não deveria, María Jimena, colocar-se essa venda subjetiva sobre seus olhos. Previamente ao anúncio, Timoleón Jiménez, nosso comandante, fez uma consulta a todos os Blocos, e a verdade é que nenhum deles tem pessoas retidas com esse propósito. País livre é uma organização paragovernamental de mentirosos que necessita justificar as ajudas internacionais e institucionais que recebe.
Já que recorda nebulosamente minha passagem fugaz pelo Congresso da República, considero pertinente precisar-lhe que, com Alfonso Cano e Raúl Reyes, e muitos outros combatentes, fomos obrigados pelo Estatuto de Segurança de Turbay Ayala e o Estado de Sítio permanente, a abraçar a luta armada. E que muitos dos dirigentes das mobilizações populares de hoje são os filhos e herdeiros de uma geração de revolucionários, decapitada pela intransigência do Estado e pelo genocídio da União Patriótica.
Essa intransigência das elites está entrincheirada por trás da máquina de guerra do Estado e por trás dessa arrogância violenta que lhes vem do apoio de Washington, porém não há que depreciar que os negócios dessas elites estão imersos na crise sistêmica do capital e que a entrega dolorosa da soberania é gasolina e carvão que pode acender a indignação.
Causa certa perplexidade seu desconhecimento das motivações políticas e ideológicas que estimulam as FARC, que a levam docilmente, sem muita reflexão, a equiparar-nos com as Bacrim. Você sabe que essa sigla foi inventada pelo governo para tentar inutilmente deslindar-se dos crimes de lesa-humanidade do paramilitarismo de Estado.
Na Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia está retratado um projeto político de nova sociedade. Duvido que alguma vez possa ver a um comandante das FARC descansando numa rede, tomando os licores que você imagina, desconectado da paixão que o impulsiona sem cessar à tarefa da construção da Nova Colômbia, soberana, em democracia, justiça social e paz.
É óbvio que não estamos na margem dos que pilham nossos recursos e causam a pobreza de 30 milhões de compatriotas. Mirar as possibilidades de paz desde a margem do empresário Luis Carlos Sarmiento Angulo, por exemplo, que diariamente desloca a umas 10 famílias de suas casas, alegando não pagamento, quando as pessoas já pagaram três vezes e mais o valor das mesmas, é correr o risco de ficarmos presos eternamente na noite da guerra. A estes tipos devemos render-lhes homenagens?
Depois de andar todos estes anos com um fuzil nas mãos e a chama da paz no coração, relembrando os caídos, pensando nos humildes, creio ter mais razões que nunca para lutar pelo ideal de dignidade de um povo até as últimas consequências. Se a paz há de vir pela via da solução política, bem-vinda seja. É o que desejamos todos. Temos fé cega na força da mobilização e marcha do povo pela paz.

Iván Márquez

Integrante do Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP

Montanhas de Colômbia, 20 de abril de 2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

"A força pode esconder a verdade, mas o tempo traz a luz"

Com aplausos e entoando estrofes do hino nacional, políticos, militantes dos direitos humanos, vítimas da ditadura e familiares dos mortos e desaparecidos do regime saudaram a instalação da Comissão Verdade, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto. Foram poucos os que conseguiram não se emocionar. A própria presidenta Dilma Rousseff, durante seu discurso, embargou a voz e chorou. “A força pode esconder a verdade, a tirania pode impedi-la de circular livremente, o medo pode adiá-la, mas o tempo acaba por trazer a luz. Hoje, esse tempo chegou”, afirmou.


Brasília - Com aplausos calorosos e entoando estrofes do hino nacional, políticos, militantes dos direitos humanos, vítimas da ditadura e familiares dos mortos e desaparecidos do regime saudaram a instalação da Comissão Verdade, em cerimônia realizada nesta quarta (16), no Palácio do Planalto. Foram poucos os que conseguiram não se emocionar. A própria presidenta Dilma Rousseff, durante seu discurso, embargou a voz e chorou ao falar sobre a importância histórica do momento. “A força pode esconder a verdade, a tirania pode impedi-la de circular livremente, o medo pode adiá-la, mas o tempo acaba por trazer a luz. Hoje, esse tempo chegou”, afirmou.

Dilma chegou à cerimônia acompanhada de todos os ex-presidentes civis que a antecederam, à exceção de Tancredo Neves e Itamar Franco, já falecidos. Fez questão de pontuar a contribuição de cada um deles à democracia brasileira, dividindo a responsabilidade pela criação do ambiente democrático que resultou na instalação da Comissão da Verdade com Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor de Mello e José Sarney. Mas não escondeu o orgulho de ter sido ela, uma ex-presa política torturada nos porões da ditadura militar, a responsável pela instituição da Comissão, tão reivindicada e ansiosamente esperada pela sociedade brasileira.

“Cada um de nós deu a sua contribuição para esse marco civilizatório, a Comissão da Verdade. Esse é o ponto culminante de um processo iniciado nas lutas do povo brasileiro, pelas liberdades democráticas, pela anistia, pelas eleições diretas, pela Constituinte, pela estabilidade econômica, pelo crescimento com inclusão social. Um processo construído passo a passo, durante cada um dos governos eleitos, depois da ditadura”, justificou.

Perfil polêmico
Os sete membros empossados pela presidenta comemoraram o momento histórico e se declararam prontos e capacitados a contribuírem com o processo de reconciliação nacional, “sem revanchismos e sem apedrejamentos”, como deixou claro o porta-voz do grupo no evento, o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. “A história vale pelo que ela conta e pelo que dela se espera”, afirmou, ressaltando a importância da busca pela verdade e memória sobre o período.

Dias também tentou arrefecer os ânimos de vítimas da ditadura e familiares que, desde o dia anterior, mobilizaram-se em desagravo à Comissão, devido às declarações de alguns membros, como o jurista pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, de que a comissão investigará não só os agentes de Estado responsáveis por crimes como tortura, morte, desaparecimento e ocultação de cadáveres, mas também os militantes de esquerda. Segundo Dias, “possíveis abusos cometidos na luta não justificam os atos de agentes e mandatários do Estado”.

O próprio Cavalcanti Filho adotou um tom mais ameno e, em entrevista à imprensa após a cerimônia, disse que, antes de decidir se irá ou não investigar militantes, a Comissão precisa definir seu plano de trabalho, ancorando-o sobre os consensos do grupo. “Ainda temos que conversar sobre isso. Eu recebi, pela internet e de várias fontes, a solicitação para investigar uma lista com 119 militantes. Mas vamos aguardar a decisão da comissão”, justificou.

Outro dos empossados, o ex-procurador geral da República, Cláudio Fonteles, defendeu a não apuração dos crimes praticados por militantes políticos. Segundo ele, nenhuma das comissões da verdade criada nos outros 40 países que já passaram pela experiência, tiveram este perfil.

A presidenta Dilma, no seu discurso, já havia delimitado a função conciliatória do colegiado, cujos membros foram escolhidos diretamente por ela. “Quando cumpri minha atribuição de nomear a Comissão da Verdade, convidei mulheres e homens com uma biografia de identificação com a democracia e aversão aos abusos do Estado. Convidei, sobretudo, mulheres e homens inteligentes, maduros e com capacidade de liderar o esforço da sociedade brasileira em busca da verdade histórica, da pacificação e da conciliação nacionais. O país reconhecerá nesse grupo, não tenho dúvidas, brasileiros que se notabilizaram pelo espírito democrático e pela rejeição a confrontos inúteis ou gestos de revanchismo”, pontuou.

Dilma também não se furtou a mandar um recado aos remanescentes das casernas e àqueles que entendem a instalação da comissão como uma ameaça. “A ignorância sobre a história não pacifica, pelo contrário, mantêm latentes mágoas e rancores. A desinformação não ajuda apaziguar, apenas facilita o trânsito da intolerância. A sombra e a mentira não são capazes de promover a concórdia. O Brasil merece a verdade. As novas gerações merecem a verdade, e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia. É como se disséssemos que, se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca mesmo, pode existir uma história sem voz. E quem dá voz à história são os homens e as mulheres livres que não têm medo de escrevê-la”, disse, muito emocionada, a presidenta.

Ausências e desagravos
A ciência do valor histórico de ver o país instaurar sua Comissão da Verdade, entretanto, não foi suficiente para acalentar os ânimos de ex-perseguidos políticos e familiares dos mortos e desaparecidos da ditadura militar. Muitos deles, descontentes com o perfil de parte dos membros escolhidos pela presidenta, nem apareceram à cerimônia. Caso da militante histórica pelos direitos das vítimas e seus familiares, a ex-exilada Iara Xavier Pereira, que perdeu o marido e dois irmãos durante o regime.

Outros registraram presença, mas apenas com o propósito de pressionar a Comissão a adotar uma postura suficientemente progressista para abrir espaço para que os agentes do estado responsáveis por crimes de tortura, assassinato, estupro, desaparecimento forçado e ocultação de cadáveres possam vir a ser punidos.

A anistiada política Rosa dos Santos, filha do militante comunista e ferroviário Artur Pereira dos Silva, morto durante a Ditadura, disse reconhecer o esforço do governo em tentar curar as feridas abertas, mas se disse muito receosa com o perfil da comissão. “Pessoas que pensam que militantes têm que ser investigados não deveriam estar aí. Tanto os militantes quanto seus familiares já sofreram a vida toda, toda a sorte de violências, privações e perseguições. Uma afirmação dessas é demonstração de desconhecimento da história e do contesto político em que vivemos”, criticou.

Ela defendeu que as vítimas e familiares adotem uma postura proativa de acompanhar de perto o trabalho da Comissão, pressionando sempre. “Eu quero participar das reuniões para ter acesso ao que está sendo discutido, nem que para isso eu precise providenciar um mandato de segurança”, afirmou.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Insurgência colombiana disposta a entregar jornalista francês


Fonte:Rebelion.org


As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP), anunciaram hoje a sua disposição de entregar o jornalista francês Romeo Langlois.

Em declaração pública divulgada pelo Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP sublinha que em prol de garantir ainda mais sua vida e integridade, propõem entregá-lo em lugar seguro para uma comissão formada pela Cruz Vermelha Internacional, a Senadora Piedad Córdoba e um delegado pessoal do novo presidente da França, François Hollande.

“Aprisionar, em meio a um combate, a quem em uma operação militar veste uniforme do inimigo e o acompanha, em nada macula nosso compromisso. Somente uma visão francamente tendenciosa pode considerá-lo um seqüestro”, enfatiza o texto.

A nota relembra que, no passado dia 27 de fevereiro, as FARC-EP comunicaram oficialmente que nunca voltariam a realizar detenções de pessoas com fins financeiros.

“É cada vez maior o número de pessoal militar e paramilitar norteamericano, ou ao seu serviço, que intervém na guerra civil colombiana, e os superiores militares se vangloriam de usar infiltrados e espiões para aplicar-nós severos golpes”, informa o texto.

É evidente – acrescenta o documento – que em casos como este, as FARC-EP tem total direito a deter e investigar, se tratando de um conterrâneo ou de estrangeiro.

O caso Langlois é ideal para revelar o papel que desempenham os grandes meios de comunicação na ordem social imposta pelo grande capital, que antes de informar e promover o pensamento livre, a grande imprensa tergiversa a realidade para converter em única verdade a versão dos seus patrocinadores, indica o texto.

Há apenas dois anos, os jornalistas Hollman Morris, Leonardo Acevedo e Camilo Raigoza foram arbitrariamente detidos pelo Exército no departamento de Caquetá, quando, de modo independente, cobriam a entrega de dois prisioneiros de guerra. Vestiam trajes civis e até o presidente da República os acusou de propagandistas das FARC – EP. A grande mídia mostrou-se totalmente indiferente com eles, pontua a nota.

Quando estiver em liberdade, Langlois poderá terminar de cumprir com o papel esperado pelo governo da Colômbia, suas forças militares e a grande mídia, expressa o texto.

Caso contrário, poderá permanecer fiel à sua consciência e referir a verdade; se fosse este o caso, poderia ser que os mesmos que hoje exigem a sua imediata liberdade se enfureçam com ele até destruí-lo por completo, conclui o comunicado.


Prensa Latina

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Actualidade de Marx num mundo caótico à beira da barbárie (*)

Por Miguel Urbano Rodrigues

No cerne do grande debate ideológico travado no âmbito do movimento comunista internacional uma questão continua a suscitar um interesse absorvente: a transição do capitalismo para o socialismo. Já Lenine dizia que ela seria infinitamente mais difícil do que a tomada do poder em Outubro de 17. E até hoje não encontramos respostas satisfatórias.

Uma campanha de âmbito mundial desencadeada por intelectuais de grandes universidades dos Estados Unidos e da Europa, amplamente divulgada pelo sistema mediático controlado pelo imperialismo, proclamou desde a desagregação da URSS o fim do marxismo. Para esses epígonos do capitalismo, o neoliberalismo como ideologia definitiva assinalaria o fim da História; no marxismo identificavam um arcaísmo obsoleto.

Essas profecias não tardaram a ser desmentidas pelo caminhar da História. Em lugar da era de progresso, abundância e democracia, anunciada por George Bush (pai) após o desaparecimento da URSS, uma crise de civilização abateu-se sobre a humanidade. A concentração de riqueza foi acompanhada por um alastramento da pobreza. Fomes cíclicas assolaram e assolam países da África e da Ásia. No início do milénio o capitalismo entrou numa crise estrutural de proporções globais.

Pela primeira vez na História, o capitalismo está sendo abalado até aos alicerces - como sublinha István Meszaros - como sistema mundial «e a transcendência da autoalienação do trabalho» configura um desafio dramático. Sem soluções, porque a Acumulação não funciona mais de acordo com a lógica do capital, os EUA, apresentando-se como pólo da democracia e da liberdade, desencadearam agressões monstruosas contra povos do ex-Terceiro Mundo, alegando que defendem a humanidade contra o terrorismo.

UM DEBATE SEMPRE ACTUAL

O debate sobre o combate ao imperialismo como tarefa revolucionária prioritária deve ser acompanhado de outro complementar sobre as causas e consequências da derrota temporária do socialismo.

Os comunistas (quase todos) coincidem hoje na conclusão de que a transformação da Rússia num país capitalista foi uma tragédia para a humanidade.

Mas persistem no movimento comunista profundas divergências quando a discussão incide sobre o processo cujo desfecho foi o desaparecimento da União Soviética.

Segundo alguns partidos, a ofensiva imperialista foi determinante para contaminar a sociedade soviética, minar o PCUS, e provocar a implosão do regime. Para outros, uma minoria, as raízes da contra-revolução são fundamentalmente internas. A perestroika teria sido apenas a espoleta e o instrumento de um complexo processo contra revolucionário cuja evolução acompanhou a luta de classes na Rússia revolucionária.

No primeiro tomo da sua obra «A luta de classes da União Soviética», Charles Bethelheim chama a atenção para uma evidência ao lembrar que dentro do próprio partido comunista a luta interna foi permanente numa sucessão de «guerras civis» atípicas. Por outras palavras, a contra revolução principiou por cima, no coração do PCUS.

Mas três décadas transcorreram até que a relação de forças na direcção do PCUS se alterasse, permitindo que o XX Congresso assinalasse a viragem que criaria condições para a destruição gradual do chamado «socialismo real».
A vitória sobre as hordas hitlerianas, que salvou a humanidade do fascismo e os grandes êxitos económicos, científicos e sociais que catapultaram o país de Lenine para segunda potência mundial, e também a solidariedade internacionalista com povos em luta contra o imperialismo, tornaram quase invisível até à perestroika o fermentar da contra revolução.

Não cabe nesta intervenção a análise dos erros e desvios da construção do socialismo na URSS, o afastamento do PCUS da democracia leninista e as consequências negativas do voluntarismo e do dogmatismo subjectivista.
Mas a ausência de êxito no desafio da transição do capitalismo para o socialismo tal como Marx concebia este não impediu o surgimento na União Soviética de uma sociedade muito menos marcada pela desigualdade e pela injustiça social do que a de qualquer das falsas democracias representativas do Ocidente, que são, na realidade, ditaduras da burguesia de fachada democrática.

O IMPERIALISMO COLECTIVO

Não obstante a contradição de interesses entre os EUA e os outros países do ex-G7 persistirem, essas contradições não são como antes antagónicas pelo que é hoje mínima a probabilidade de guerras inter-imperialistas como aquelas que provocaram dezenas de milhões de mortos na primeira metade do século XX. Ao imperialismo clássico sucedeu aquilo a que o economista argentino Cláudio Kats chama o imperialismo colectivo.

Sob a hegemonia dos EUA, cuja superioridade militar é esmagadora, países como o Reino Unido, a França, a Alemanha, o Japão e outros aliados menores (Itália, Espanha, Canadá, Austrália, etc.) tornaram-se cúmplices de uma estratégia de dominação planetária. Invocando pretextos falsos como a existência de armas de extermínio massivo ou a luta contra a fantasmática Al Qaeda, os EUA invadiram, vandalizaram e ocuparam o Iraque e o Afeganistão e as suas forças armadas praticaram ali crimes contra humanidade que somente encontram precedente no Reich nazi.

Goebels dizia que uma mentira muito repetida aparece como verdade. Não podia imaginar que a perversa propaganda hitleriana surge hoje como jogo quase inofensivo comparada com a sinistra engrenagem de desinformação montada pelo imperialismo para servir a sua estratégia. Nesta era da informação instantânea, uma gigantesca máquina, cientificamente montada e controlada pelos laboratórios ideológicos do imperialismo, bombardeia os povos com um discurso e imagens que distorcem a realidade.

Promover a alienação das massas e manipular a consciência social é um objectivo permanente do imperialismo. Essa ofensiva mediática visa anular a combatividade dos povos mediante a robotização progressiva do homem, meta facilitada pela contracultura alienante exportada pelos EUA.

Nesse contexto, as actuais guerras coloniais são precedidas de um massacre das consciências concebido para neutralizar eventuais reacções às agressões militares, apresentadas como iniciativas imprescindíveis à defesa da democracia e da paz.

As modernas guerras imperiais não seriam entretanto possíveis sem a cumplicidade do Conselho de Segurança da ONU, transformado em instrumento dessa estratégia.

A satanização de líderes transformados em verdugos dos seus povos tornou-se rotina nessas campanhas. Aconteceu isso com Khadaffi. O dirigente líbio, que há dois anos era recebido com abraços por Sarkozy, Cameron, Berlusconi e Obama passou, de repente, a ser qualificado de monstro e acusado de crimes contra a humanidade. Para se apoderarem do petróleo e do gás do país os novos cruzados do Ocidente fabricaram uma rebelião em Benghasi e fizeram aprovar pelo Conselho de Segurança da ONU uma Resolução sobre a «exclusão aérea» - com a cumplicidade, após vacilações, da Rússia e da China – resolução aliás logo desrespeitada quando começaram a explodir bombas e mísseis em Tripoli.
Seguiram-se seis meses de uma guerra repugnante, na qual a NATO funcionou como instrumento de uma agressão definida pela ONU como «intervenção humanitária».

Expulsar a China da África foi um dos objectivos dessa agressão, concluída com o assassínio de Muamar Khadaffi. Mais de 35 000 chineses, técnicos e trabalhadores, foram retirados da Líbia, onde trabalhavam. A China tinha ali, como noutros países do Continente, importantes investimentos. Cabe lembrar que Angola é actualmente o segundo fornecedor de petróleo africano à China.
A criação de um exército permanente dos EUA na África foi preparada com anos de antecedência. A recente intervenção militar no Uganda, anunciada por Obama com o pretexto de combater uma minúscula seita religiosa subitamente qualificada de «terrorista», foi uma etapa desse ambicioso projecto. O presidente norte-americano já informou, entretanto, que os EUA enviarão tropas para «combater o terrorismo» no Congo, Sudão do Sul e República Centro Africana, se os governos desses países pedirem «ajuda».

No âmbito dessa escalada, ignorada pelos media internacionais, aviões da USAF, a partir da sofisticada base instalada em Djibuti, bombardeiam periodicamente a Somália e o Iémen, para - segundo afirma Washington - «combater movimentos tribais aliados da Al Qaeda».

IRÃO E CHINA

Qual será a próxima vitima do sistema de poder hegemonizado pelos EUA?
O comportamento dos EUA traz à memória o do Reich nazi. Primeiro foi a anexação da Áustria; depois Munique e a posterior destruição da Checoeslováquia; finalmente a exigência da entrega de Dantzig, a invasão da Polónia, a guerra mundial.

Não pretendo estabelecer analogias. Mas o desprezo pelos povos e pelo seu direito à independência é o mesmo, tal como o cinismo e a hipocrisia do discurso.
Primeiro foi o Afeganistão, depois o Iraque, em seguida a Líbia, agora foi o Uganda. Nos intervalos, Israel, com o apoio de Washington, invadiu o Líbano e promoveu o massacre de Gaza.

A Síria está na linha de mira. O Irão é, na aparência, o grande «inimigo da democracia ocidental» a derrotar. Mas o inimigo real é a China. No seu discurso sobre o Estado da União, Obama não escondeu que na estratégia americana as prioridades se deslocaram do Médio Oriente para a Ásia Oriental. Hillary Clinton foi mais longe no final de Fevereiro. Ao qualificar o governo da China como «ilegítimo» (sic) assumiu uma posição desafiadora. James Petras viu nela uma «declaração de guerra» a prazo.

A gula imperial é insaciável. Nestes dias, é imprevisível o rumo dos acontecimentos no Golfo.

A decisão de atacar o Irão tem esbarrado com forte resistência no Pentágono. Os estrategos do sistema não têm a certeza de que as mais potentes bombas convencionais possam destruir em Natanz as instalações nucleares subterrâneas do país. Israel não pode intervir sem o aval de Washington e teme o poder de retaliação iraniano. A hipótese do recurso a armas nucleares tácticas tem sido tema de especulação. Mas os custos de uma tal opção seriam devastadores no plano político.

A situação caótica criada no Afeganistão após a queima do Corão numa base norte-americana veio alias confirmar o fracasso da estratégia americana na Ásia Central. Que credibilidade merecem as forças de segurança» do Afeganistão criadas pelos EUA e a NATO se os soldados afegãos matam com frequência os oficiais americanos e europeus que os treinam.

A escalada de leis reaccionárias nos EUA assinala o fim do regime «democrático» na República. A chamada Lei da Autorização da Segurança Nacional, promulgada por Obama, revogou na prática a Constituição bicentenária do país. A partir de agora, qualquer cidadão suspeito de ligações com supostos terroristas pode ser preso por tempo indeterminado e eventualmente submetido a tortura no âmbito de outra lei aprovada pelo Congresso.

A fascistização das Forças Armadas nas guerras asiáticas é já inocultável. No Afeganistao, elementos do corpo de Marines exibiram publicamente a bandeira das SS nazis e não foram punidos.

Comentando a promulgação por Obama da lei de Autorização da Segurança Nacional, Michel Chossudovsky, definiu os EUA como «um Estado totalitário com traje civil».

Não exagera. Os EUA estão a assumir o perfil de um IV Reich.

QUE FAZER?

Perante a estratégia imperial que ameaça a humanidade, a pergunta de Lenine QUE FAZER? adquire uma dramática actualidade.
A recusa da «nova ordem mundial» que o imperialismo pretende impor assumiu nos últimos anos proporções planetárias.

Seattle foi um marco na rejeição do sistema de dominação que utiliza o FMI, o Banco Mundial e a OMC como instrumentos da política do grande capital. De repente, milhões de homens e mulheres começaram a sair às ruas em gigantescos protestos contra a religião do dinheiro e as guerras imperiais.
O lema do primeiro Foro Social Mundial - «outro mundo é possível» - traduziu esse descontentamento e a esperança de uma mudança radical. Mas, transcorrida mais de uma década, o próprio Foro transformou-se numa caixa-de-ressonância de discursos inofensivos.

No ano passado, o Movimento dos Indignados, em Espanha, e o Ocupem Wall Street, nos EUA, mobilizaram multidões, expressando o desespero das massas oprimidas. Mas esses protestos, positivos, e outros, promovidos por diferentes movimentos sociais, não ameaçam seriamente o poder do capital. Os jovens sabem o que rejeitam, mas esbarram com um muro intransponível na formulação de uma alternativa. Que querem, afinal?

O espontaneísmo é como a maré oceânica; assim como sobe, desce.
O capitalismo está condenado a desaparecer. Mas o seu fim não tem data e a agonia pode ser muito prolongada.

Que fazer então?-repito

Não serei eu, nem outros comunistas a tirar do bolso a receita mágica.
É minha convicção que Lenine enunciou uma evidência ao lembrar que não há revolução durável sem um partido revolucionário que a promova e lidere as massas. Para mal da humanidade, a destruição da URSS e a implantação na Rússia do capitalismo permitiu ao imperialismo desencadear uma tempestade contra revolucionária que atingiu os partidos comunistas, semeando a confusão ideológica. Alguns com grandes tradições, como o italiano, desapareceram após várias metamorfoses; outros, como o francês e o espanhol, social democratizaram-se, assumindo linhas reformistas.

A criação do Partido da Esquerda Europeia contribuiu para aumentar a confusão. Não obstante a maioria dos partidos que a ele aderiram serem nominalmente comunistas, defendem estratégias reformistas. Actuam sobretudo dentro do sistema parlamentar, concentrando a sua luta em reivindicações sobre problemas imediatos, sem dúvida importantes, mas secundarizam a luta pelo socialismo como objectivo principal. Neutralizar a combatividade das massas, orientando as lutas no quadro institucional, é o objectivo inconfessado do Partido da Esquerda Europeia. Batem-se, na prática, pelo «aperfeiçoamento» do sistema.

No panorama europeu, o Partido Comunista da Grécia, o KKE, surge hoje como a grande excepção à tendência maioritária que privilegia a linha reformista. A sua contribuição - mais de uma dezena de greves gerais num ano - para a luta dos trabalhadores gregos contra as políticas impostas pelos governantes dos grandes países da zona euro, a Alemanha e a França, tem sido decisiva.
Julgo útil afirmar neste Congresso marxista que acompanhar os acontecimentos da Grécia, reflectir sobre eles e apoiar o combate dos comunistas gregos se tornou hoje um dever revolucionário.

O KKE defende a criação e o fortalecimento de uma Frente democrática anti-imperialista e anti-monopolista, uma aliança entre trabalhadores e pequenos e médios agricultores.

Permitam-me que cite um parágrafo do artigo da secretária geral do KKE, a camarada Aleka Papariga, publicado no número 2 da Revista Comunista Internacional:
 
Desenvolvimento desigual quer dizer desenvolvimento político e social desigual, o que significa que as condições prévias para o início da situação revolucionária podem surgir mais cedo num pais ou num grupo de países que, sob condições especificas, pode constituir «o elo mais fraco» do sistema imperialista. Isto é particularmente importante hoje, quando o desenvolvimento e as remodelações ocorrem no sistema imperialista e se intensificam as contradições tanto no âmbito dos países como no sistema imperialista. Entendemos, portanto, que cada partido comunista, tal como os trabalhadores de cada país, tem o dever internacionalista de contribuir para a luta de classes ao nível internacional, mobilizando e organizando a luta contra as consequências das crises nacionais, com vista ao derrubamento do poder burguês, à conquista do poder pelos trabalhadores e à construção do socialismo.

Insistindo na denúncia do oportunismo, a camarada Aleka Papariga lembra também que as reformas, por mais importantes que sejam, não podem conduzir ao socialismo sem uma confrontação final com a burguesia cujo desfecho seria a destruição das instituições do Estado capitalista.

A questão é fundamental. A chamada via pacífica para o socialismo foi ensaiada no Chile com o desfecho que conhecemos. Hoje a tese é retomada na América Latina pelos teóricos do Socialismo do Século XXI, nomeadamente na Venezuela Bolivariana e na Bolívia.

Em textos que publiquei no ano passado após participar no Foro Internacional de Maracaibo, critiquei essas posições, reafirmando a convicção de que a destruição do estado capitalista, em choque com o poder burguês, terá de preceder a construção de um poder popular estável.
Trata-se, insisto, de uma questão fundamental para o movimento comunista internacional.

Obviamente que a Europa não é a América Latina. E devemos sempre ter presente que a Europa é uma diversidade.

Mas no cerne do grande debate ideológico travado no âmbito do movimento comunista internacional uma questão continua a suscitar um interesse absorvente: a transição do capitalismo para o socialismo. Já Lenine dizia que ela seria infinitamente mais difícil do que a tomada do poder em Outubro de 17. E até hoje não encontrámos respostas satisfatórias. (**)

O que é valido para a Grécia não é obviamente transponível para outros países da zona euro. Às condições objectivas peculiares somam-se ali condições subjectivas inexistentes noutros países. A disponibilidade para a luta dos trabalhadores gregos é inseparável de uma herança histórica de sofrimento acumulado desde as lutas contra a ocupação turca no século XIX. Em 1945 a insurreição grega, após a expulsão dos alemães, quase levou ao poder os trabalhadores. Foi a bárbara repressão do exército britânico que restabeleceu a monarquia e impediu há mais de sessenta anos a construção na Grécia de um Poder .

PORTUGAL 

País periférico, subdesenvolvido, semi-colonizado, Portugal está há muito desgovernado por forças políticas que se submetem docilmente às imposições do imperialismo e as aplaudem.

As sanguessugas do capital, actuando nem nome da Comissão Europeia e do FMI, proclamam que os trabalhadores devem sacrificar-se, ser compreensivos, apertar o cinto e cumprir todas as exigências da troika para recuperar a confiança dos «mercados». Um sistema mediático perverso e corrupto participa no jogo da mentira. Emite críticas irrelevantes ao funcionamento da engrenagem, mas não contesta o diktat do capital.

O coro dos epígonos, perante o avolumar da indignação popular, teme que ela assuma proporções torrenciais e repete que somos um povo de «brandos costumes», diferente do grego, um povo que compreende a necessidade da «austeridade», consciente de que a superação da crise depende dela.
Incutir nas massas um sentimento de fatalismo é objectivo permanente no massacre mediático. Arrogantes, os sacerdotes do capital bradam que não há alternativa à sua política.

Só pelos caminhos da luta pode ser encontrada a solução para os problemas do nosso povo.

É necessário combater com firmeza a alienação que atinge grande parte da população. É indispensável combater a falsa ideia de que vivemos numa sociedade democrática, porque o regime parlamentar foi legitimado pelo voto popular. É necessário desmontar as campanhas que condenam as greves como anti-patrióticas e as manifestações de protesto como iniciativas românticas, inúteis.

É importante ajudar milhões de portugueses a compreender como foi possível que 38 anos após uma Revolução tão bela como a nossa, o país tenha voltado a ser dominado pela classe que o oprimia na época do fascismo.

Como foi possível o refluxo? A correlação de forças que permitiu as grandes conquistas revolucionárias durante os governos do general Vasco Gonçalves não se alterou de um dia para o outro.

A base social do PS não é mesma do PSD. Mas a direcção do PS tem actuado colectivamente ao serviço do grande capital. Na quase glorificação de Sócrates no Congresso daquele partido, o PS projectou bem a sua imagem. O secretário-geral tinha conduzido o país à beira do abismo com a sua politica neoliberal, mas foi ali aclamado com o herói e salvador. Renovaram-lhe a confiança e ele afundou mais Portugal. Depois ocorreu o esperado. O funcionamento dos mecanismos da ditadura da burguesia de fachada democrática colocou a aliança PSD-CDS de novo no governo. Uma parcela ponderável do eleitorado acreditou que votava por uma mudança. Na realidade limitou-se a accionar o rodízio da alternância no governo de partidos que competem na tarefa de servir os interesses do capital.

Hoje, cabe perguntar: como pode ter chegado a Primeiro-ministro uma criatura como Passos Coelho? O homem é um ser de indigência mental tão transparente que até intelectuais de direita como Pacheco Pereira reconhecem o óbvio.
A maioria do povo acompanha com angústia as cenas da farsa dramática. A contestação á política que está a destruir o país não pára de crescer. Mas é ainda muito insuficiente. As grandes manifestações de protesto e as greves nacionais e sectoriais somente podem abalar o sistema se a luta de massas adquirir um carácter permanente, intenso e diversificado. Nas fábricas, nos transportes, nos portos, nas escolas, na Administração, em múltiplos locais de trabalho, nas ruas.

É evidente que as condições subjectivas não são em Portugal as da Grécia, cujos trabalhadores, caluniados se batem hoje pela humanidade.
O esforço do PCP na luta contra o imobilismo e a alienação tem sido importante como contributo para o aprofundamento da consciência de classe e do nível ideológico da classe trabalhadora. Essa é uma tarefa revolucionária.

Não se deve ceder ao pessimismo. Não se combate a pobreza, o desemprego, a supressão de conquistas sociais baixando os braços.
 
A luta do povo português é inseparável da luta de outros povos, vítimas de políticas ainda mais cruéis.

É tarefa prioritária desmascarar a monstruosidade das agressões imperiais a países da Ásia e de África, lembrar que nas condições mais adversas, os povos do Iraque, do Afeganistão, da Palestina, da Líbia, entre outros, resistem e se batem contra a barbárie imperialista. A luta dos povos é hoje planetária.

É útil lembrar que o povo cubano, hostilizado pela mais poderosa potência do mundo, defende há mais de meio século a sua revolução com coragem espartana.

É útil lembrar que na América Latina os trabalhadores da Venezuela bolivariana, da Bolívia e do Equador apontam àquele Continente o caminho da luta contra o imperialismo predador.

É oportuno recordar que foram as grandes revoluções que contribuíram decisivamente para o progresso da humanidade. A burguesia francesa apunhalou em 1792 a Revolução por ela concebida e dirigida. Uma lenda negra foi forjada para a satanizar e lhe colar a imagem de um tempo de horrores. Mas, transcorridos mais de dois séculos, é impossível negar que a Revolução Francesa ficou a assinalar uma viragem maravilhosa na caminhada da Humanidade para o futuro.

É também oportuno lembrar que o mesmo ocorreu com a Revolução Russa de Outubro de 1917.O imperialismo festejou como vitória memorável a reimplantação do capitalismo na pátria de Lenine. Falsifica a História. Não há calúnia que possa inverter a realidade; as grandes conquistas dos trabalhadores europeus no século XX surgiram como herança indirecta da Revolução Socialista Russa, a mais progressista da história da Humanidade. Foi o medo do socialismo e do comunismo que forçou as burguesias europeias a conformar-se com conquistas como a jornada das oito horas, as férias pagas, o 13º salário.
Em Portugal é preciso reassumir a esperança que empurra para o combate e a vitória.

Em 1383 e 1640, quando o país estava de rastos e tudo parecia afundar-se, o 
povo português desafiou o impossível aparente e venceu.
 
É oportuno não esquecer que, após quase meio século de fascismo, o povo português foi sujeito de uma grande revolução que na Europa Ocidental realizou conquistas mais profundas do que qualquer outra desde a Comuna de Paris.
Vivemos um tempo de pesadelo, com os inimigos do povo novamente encastelados no poder. Mas as sementes de Abril sobreviveram à contra-revolução e depende da nossa gente que elas voltem a germinar nos campos e cidades de Portugal.

O horizonte apresenta-se sombrio. Mas sou optimista. As condições subjectivas para a luta estão a amadurecer embora lentamente.
Karl Marx é, a cada dia, mais actual para a compreensão do choque com a engrenagem trituradora do capital. A alternativa é entre Socialismo ou Barbárie. 

E o socialismo vencerá!

Obrigado por me ouvirem.
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(*) Comunicação apresentada no Congresso “Marx em Maio”.
(**) A minha concordância com as posições do KKK perante a crise estrutural do capitalismo e concretamente com a estratégia adoptada na luta em curso na Grécia contra a submissão dos governos da burguesia helénica às políticas neoliberais impostas pelo imperialismo não significa que me identifique com algumas das análises e conclusões da Resolução Politica aprovada em 2008 pelo XVIII Congresso daquele Partido.