"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Ignacio Ramonet: a maior batalha da esquerda na América Latina é contra o ‘golpe midiático’


Por Pedro Aguiar.

O maior confronto enfrentado na América Latina atualmente é "a batalha midiática”, desde pelo menos o ano de 2002, quando a tentativa frustrada de derrubar Hugo Chávez, na Venezuela, deu início a um novo tipo de golpe de Estado, o "golpe midiático”. Este transfere aos meios de comunicação privados o papel de partido político nas oposições aos governos da "guinada à esquerda”.
A avaliação foi feita pelo jornalista e professor Ignacio Ramonet, ex-editor do jornal Le Monde Diplomatique, na palestra de abertura do congresso "Comunicação e integração latino-americana”, realizado entre os dias 22 e 23 de julho, em Quito, capital do Equador.
Organizado pelo Ciespal (Centro Internacional de Estudos Superiores da Comunicação para a América Latina), o evento comemorou os 10 anos de fundação daTelesur, canal multinacional de televisão mantido por diversos governos da região. Fundada por iniciativa de Chávez, três anos após o golpe de Estado fracassado, a emissora nasceu com o papel de promover uma alternativa à cobertura das notícias latino-americanas, feita por jornalistas e comunicadores da própria região.
"Nos últimos 15 anos, todos os governos progressistas que chegaram ao poder democraticamente na região vêm sendo mantidos por via eleitoral. Nenhum deles foi derrotado nas urnas. Por isso, a resistência à mudança vem sendo cada vez mais brutal, apelando para novos tipos de golpes, alguns com fachada judicial, parlamentar, e sempre com forte ajuda da mídia”, afirmou Ramonet, lembrando os casos do Paraguai, Honduras e as investidas recentes na Argentina e no Brasil.
Ao lado de Ramonet, a presidenta da empresa, Patricia Villegas, lembrou que as principais coberturas do canal até agora foram justamente em países que não participam do consórcio, como a campanha militar contra a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o golpe contra o presidente Manuel Zelaya, em Honduras, em 2009.
"Naquele momento, o mundo só pôde acompanhar o que acontecia em Honduras, minuto a minuto, graças ao sinal da Telesur. Porque as emissoras privadas globais ou não estavam lá, e as que estavam preferiam ignorar”, disse.
Para Ramonet, o grande mérito da Telesur, ao longo dessa década, foi oferecer "uma outra leitura” sobre os acontecimentos da América Latina e do mundo, fugindo das perspectivas de redes privadas, como a CNN e e Fox News, que, para ele, seguem praticamente a mesma linha.
O maior confronto enfrentado na América Latina atualmente é "a batalha midiática”, desde pelo menos o ano de 2002, quando a tentativa frustrada de derrubar Hugo Chávez, na Venezuela, deu início a um novo tipo de golpe de Estado, o "golpe midiático”. Este transfere aos meios de comunicação privados o papel de partido político nas oposições aos governos da "guinada à esquerda”.
A avaliação foi feita pelo jornalista e professor Ignacio Ramonet, ex-editor do jornal Le Monde Diplomatique, na palestra de abertura do congresso "Comunicação e integração latino-americana”, realizado entre os dias 22 e 23 de julho, em Quito, capital do Equador.
Organizado pelo Ciespal (Centro Internacional de Estudos Superiores da Comunicação para a América Latina), o evento comemorou os 10 anos de fundação daTelesur, canal multinacional de televisão mantido por diversos governos da região. Fundada por iniciativa de Chávez, três anos após o golpe de Estado fracassado, a emissora nasceu com o papel de promover uma alternativa à cobertura das notícias latino-americanas, feita por jornalistas e comunicadores da própria região.
"Nos últimos 15 anos, todos os governos progressistas que chegaram ao poder democraticamente na região vêm sendo mantidos por via eleitoral. Nenhum deles foi derrotado nas urnas. Por isso, a resistência à mudança vem sendo cada vez mais brutal, apelando para novos tipos de golpes, alguns com fachada judicial, parlamentar, e sempre com forte ajuda da mídia”, afirmou Ramonet, lembrando os casos do Paraguai, Honduras e as investidas recentes na Argentina e no Brasil.
Ao lado de Ramonet, a presidenta da empresa, Patricia Villegas, lembrou que as principais coberturas do canal até agora foram justamente em países que não participam do consórcio, como a campanha militar contra a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o golpe contra o presidente Manuel Zelaya, em Honduras, em 2009.
"Naquele momento, o mundo só pôde acompanhar o que acontecia em Honduras, minuto a minuto, graças ao sinal da Telesur. Porque as emissoras privadas globais ou não estavam lá, e as que estavam preferiam ignorar”, disse.
Para Ramonet, o grande mérito da Telesur, ao longo dessa década, foi oferecer "uma outra leitura” sobre os acontecimentos da América Latina e do mundo, fugindo das perspectivas de redes privadas, como a CNN e e Fox News, que, para ele, seguem praticamente a mesma linha.
"Estou convicto de que a CNN vai desaparecer, não por falta de capital, mas por falta de audiência”, declarou Ramonet, falando por teleconferência de Caracas para a plateia de jornalistas, intelectuais e estudantes reunida no auditório equatoriano. "A Telesur não tem concorrência. Esse é o sonho de qualquer canal. Porque as outras fazem mais ou menos a mesma coisa”.
Convergência digital’
Segundo o jornalista — que é espanhol, mas vive radicado na França desde 1972 —, a maior mudança na comunicação nos últimos 10 anos foi a integração das várias plataformas, a chamada "convergência digital”: smartphones, tablets e computadores, que roubaram da televisão o posto de tela principal da mídia. E se antes as inovações tecnológicas estouravam primeiro nas cidades ricas da Europa e dos Estados Unidos, aponta Ramonet, agora, já são disseminadas simultaneamente nas grandes metrópoles da América Latina e de outras regiões em desenvolvimento.
"As novas plataformas abandonam a continuidade que obrigava o espectador a assistir tudo linearmente; agora, ele pode ver o que quiser, na ordem que quiser. Os canais que se adaptarem melhor são os que têm mais chance de sobreviver”, aponta.
Patricia Villegas enfatizou que a adaptação às novas plataformas é uma de suas maiores preocupações na Telesur. "Não adianta fazer conteúdos-espelho, que se repetem de forma idêntica na TV, na web, no Facebook, no Twitter. Os conteúdos precisam ser complementares e diferentes porque o público os consome de formas diferentes”, disse ela.
Além do décimo aniversário, completado na última sexta-feira, 24, a Telesur celebra também um ano desde o início da produção de conteúdos em inglês. "Não estamos traduzindo informações, mas produzindo diretamente em inglês”, enfatizou Patricia Villegas. Segundo ela, a entrada na esfera anglófona sinaliza a intenção da empresa em ampliar sua presença global. Por enquanto restrita ao site e às redes sociais, a Telesur em inglês espera iniciar, em breve, transmissões também como canal de televisão, com sede em Quito.
Sul geopolítico
"Na América Latina, vários intelectuais e lideranças políticas têm o vício de só verem a relação regional com o ‘gigante do norte’, os Estados Unidos. Mas também é extremamente importante considerar nossa relação com a China, a África, o Oriente Médio. A Telesur tem a tarefa de transportar a missão progressista da América Latina para o resto do mundo”, disse Ramonet.
Justamente por isso, Villegas diz que o canal continua expandindo seu universo de pautas para outras regiões, como aconteceu com o ataque da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental) à Líbia, em 2011, e, mais recentemente, na crise financeira da Grécia, quando o canal enviou jornalistas para Atenas e investiu na cobertura ao vivo. "Às vezes, perguntam aos nossos repórteres: ‘O que vocês estão fazendo aqui?’. Estamos aqui porque a nossa ideia de ‘sul’ não é apenas geográfica, mas, principalmente, geopolítica. Enxergamos a informação como um serviço, e não como mercadoria”.
"Durante muito tempo na América Latina, o jornalismo era um privilégio das emissoras privadas, e as TVs públicas ficavam relegadas à programação educativa, cultural e folclórica. Daí a importância de investir em produzir informação numa tela pública. Não se trata de um monólogo do Estado, mas de dar voz também aos grupos comunitários, como indígenas e afrodescendentes, contra a folclorização dessas comunidades”, concluiu Patricia Villegas.
Da teoria à prática
A proposta do congresso em Quito é ser não apenas acadêmico, mas também proporcionar a troca de experiências práticas em jornalismo e gestão de mídia voltada para a integração regional, ambos sob uma perspectiva crítica. A ideia é que professores, intelectuais e estudantes de fato dialoguem com jornalistas, diretores de emissoras e agências de notícias e gestores públicos do setor.
"É fundamental a teoria que reflete sobre a prática para dar-lhe sentido e compreender melhor a realidade para fazer diferente”, comentou Ramonet.
O diretor do Ciespal, o espanhol Francisco Sierra, lembrou, na fala de abertura, que a tentativa de descrédito sobre a Telesur e outras mídias públicas, assim como contra as iniciativas de regulação e democratização da mídia pelos governos da "guinada à esquerda”, lembra muito o ataque da mídia privada feito contra a campanha da Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação (Nomic) e o Relatório MacBride da Unesco (Órgão da ONU para Educação, a Ciência e a Cultura), entre os anos 1970 e 1980.
Ele recordou o legado do comunicólogo boliviano Luis Ramiro Beltrán, falecido na semana passada, que não apenas teorizou sobre a comunicação latino-americana, mas ajudou a promover fóruns e encontros internacionais, para criar iniciativas práticas de alternativas midiáticas na região naquela mesma época.
Nos dois dias do evento, que reuniu mais de 400 pessoas, também estiveram presentes outros nomes do pensamento crítico da região, como o argentino Atilio Borón, do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais), e o colombiano Omar Rincón, do Ceper (Centro de Estudos de Jornalismo, em espanhol). Mais de 100 trabalhos acadêmicos foram inscritos para apresentação. Entre eles, o do geógrafo André Pasti, doutorando pela Universidade de São Paulo (USP), que discute a trajetória das lutas pela democratização da comunicação no Brasil.
"É importantíssimo aprendermos e nos inspirarmos com os processos de democratização da comunicação em curso em outros países da América Latina. O congresso permite esse diálogo”, disse Pasti a Opera Mundi.
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Fontes: Adital e Opera mundi



Desescalada e contra hegemonia


Por Horacio Duque Giraldo


Desescalada e luta política democrática e transformadora vão juntas. As corruptas maquinarias eleitoreiras/clientelistas do regime santouribista pretendem utilizar a paz para sustentar seus apodrecidos feudos em municípios e estados. Centenas de parapolíticos, de caciques e delinquentes do oficialismo querem se aproveitar da desescalada e da paz em curso para dar continuidade a seus aberrantes monopólios em centenas de localidades e regiões do país. Reputados investigadores como Ariel Avila, com abundantes provas na mão, estão mostrando ao país como os azeitados aparelhos dos “partidos” do regime continuam prevalecendo em Sucre, Santander, Meta, Antioquia, Cauca, Quindio, Guajira, Atlantico, Cordoba, Magdalena e em quase todos os estados da nação.
A desescalada apresenta o desafio de aprofundar a luta contra hegemônica mediante a qualificação da consciência e da organização popular.
O que ocorre na Mesa de diálogos de paz de Havana entre o Estado oligárquico e a representação plenipotenciária da resistência campesina revolucionária é um processo essencialmente político. Sua lógica se inscreve na luta por transformar radicalmente o regime de poder dominante na sociedade colombiana. O oficialismo se move na direção de conservar e prolongar o domínio das redes plutocráticas de poder. É por tal razão que fixou umas linhas vermelhas consideradas intocáveis: modelo neoliberal, forças militares e o regime de representação liberal excludente.
O campo revolucionário da paz projeta mudanças de grande calado para que a mesma se desloque nos âmbitos da justiça, da igualdade, da equidade e da democracia ampliada para as maiorias sociais da nação.
Nesse contexto se metaboliza a desescalada da guerra que estamos presenciando por estes dias. Atenuar a guerra, omitir a beligerância das armas, eliminar o acontecimento bélico e aliviar de maneira consequente o sofrimento coletivo da multidão agrária, como numa antecipação da que será a paz plena conduz a outros momentos da vida política. É a luta, a disputa pelo poder sem a presença da violência que degrada e arruína tudo.
Nesses termos, o que procede é que a luta contra hegemônica das massas se materialize em toda sua essência. Nesse sentido, a contra hegemonia são os elementos e dispositivos organizacionais, comunicacionais e teóricos para a construção da consciência política autônoma nas diversas classes e setores populares. A mesma apresenta os lugares e estágios de disputa na passagem dos interesses particulares para os interesses gerais, como processo político chave para um bloco social alternativo.
Em outros termos, não se pode pretender que o bloco oligárquico seja o que monopolize os recursos do campo político, obstruindo-os, com falsos argumentos, às agências revolucionárias com a tese da incompatibilidade entre resistência armada e o receituário da política liberal.
Colocados numa transição que se orienta com muita certeza para o fim do prolongado conflito nacional, o óbvio é que o sujeito que encarna a resistência campesina intervenha plenamente, sem impedimentos, nem restrições arbitrárias da nenhuma índole, nas ações políticas em curso como é o debate eleitoral para escolher autoridades locais e regionais. Um ponto primordial nesse sentido é a urgente democratização dos meios de comunicação para que estes deixem de ser um recurso exclusivo da hegemonia de reconhecidas aristocracias associadas com as minoritárias elites de dominantes tanto na economia como no Estado.
Criar confiança implica não jogar com cartas marcadas como o fazem as maquinarias eleitorais do regime santista, infestadas de benesses burocráticas, orçamentárias e estratégicas.
Desde logo, ressaltar o eleitoral porque é a prioridade na conjuntura não significa reduzir a política a tal mister, aliás contaminado pela corrupção e pelo clientelismo; há outras manifestações do político que remetem à ação dos movimentos sociais com expressões imediatas como a mobilização pelo direito a saúde, a terra, ao trabalho, a moradia e a educação.

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Equipe ANNCOL - Brasil

FARC-EP oxigenam os diálogos de paz



Resumen Latinoamericano / Semanario Voz / 18 de julho de 2015 – 
Entrevista exclusiva para www.semanariovoz.com com o diretor de VOZ e dirigente d Partido Comunista Colombiano, Carlos A. Lozano Guillén, está à disposição dos meios de comunicação. Pode ser divulgada e reproduzida com liberdade sempre e quando respeitado o texto original
 
Encontramos Carlos A. Lozano Guillén, diretor de VOZ, dirigente comunista e uma das vozes mais conhecidas em matéria de paz, trancado em sua residência de Santa Isabel no centro de Bogotá, rodeado de livros e papeis em seu escritório, onde costuma trabalhar até altas horas da noite. “Esta semana posso fazê-lo porque descanso da quimioterapia. Na próxima será difícil fazer isto porque na terça-feira receberei outra dose e os efeitos são duros, não me permitindo trabalhar com inteira capacidade”. Está muito melhor, o encontramos de bom humor ainda que nos explique que o tratamento é longo e seja necessário esperar até outubro para constatar se fez o efeito desejado. É otimista e acredita que conseguirá recuperar a saúde.
Eventos importantes estão ocorrendo nos diálogos de Havana. As FARC-EP acabam de declarar um novo cessar-fogo unilateral, a partir do próximo 20 de julho e por um mês. Porém, como Lozano disse, “os gestos do governo de Juan Manuel Santos não são vistos em nenhuma parte”. Existe uma ofensiva da extrema direita e dos “inimigos da paz de dentro e fora do governo” que tem importunado o presidente Santos, que não a enfrenta com coragem, apoiando-se no poder. Observa-se um mandatário sozinho, fazendo concessões e dando mais ênfase à guerra que à paz.
Graças à intervenção dos países garantidores, à decisão das FARC-EP do cessar-fogo unilateral e à pressão internacional e nacional, o governo se viu obrigado a chegar a um acordo em Havana, no domingo, 12 de julho passado, no qual se comprometeu a adotar medidas para baixar a intensidade do conflito a partir da trégua unilateral insurgente, ainda que o presidente Santos tenha insistido no ultimato, desta vez para dentro de quatro meses, quando avaliará o funcionamento do cessar-fogo unilateral. “É como acender uma vela para Deus e outra para o diabo”, disse o Diretor de VOZ.
Sobre estas características da situação política o semanário VOZ falou com Carlos Lozano.



A crise dos diálogos
Qual sua opinião sobre o acordo de domingo, 12 de julho passado, na Mesa de Diálogos de Havana?
 É muito importante, esperançoso, como disseram em Havana os porta-vozes da guerrilha. As FARC-EP decretaram o cessar-fogo unilateral a partir de 20 de julho (já o tinham feito antes) e o governo corresponderá com medidas para diminuir o conflito, sem precisar bem quais serão. Espera-se que seja a suspensão dos bombardeios que tanto afetam a população civil e o meio ambiente, acabando com tudo que existe a seu redor. Agilizar em Havana e diminuir o conflito é o título do comunicado conjunto #55. Visam acordar sem demoras o cessar-fogo bilateral e a entrega de armas. É preciso reconstruir, respeitando o cronograma e buscando acordos de consenso e não impostos por nenhuma das partes, a confiança que influirá em maior aceitação dos colombianos do processo de diálogos e do apoio à paz.
Não se resolvem, é claro, aspectos nucleares como o da justiça e das reformas políticas e sociais, porque existem diferenças óbvias entre as partes. Uns representam a mudança revolucionária, outros o freio, o status quo. Assim, de uma maneira simplista. Porém, não me agrada a atitude do governo que recebe com certa desconfiança o acordo e fixa o ultimato em quatro meses, que são dados para diminuir o conflito. Uma vez feito o balanço pela parte governamental, será definida a continuidade ou não na mesa. É como acender uma vela para Deus e outra para o diabo. O governo permanece na posição medíocre de não defender de frente o processo de paz e prefere enviar mensagens para Uribe, para Ordóñez e para os militares golpistas, tranquilizando-os. Essa atitude não é boa porque é uma mensagem contrária à opinião nacional e não gera confiança à força insurgente.

Como qualifica a decisão das FARC de declarar, antes do último acordo, o cessar-fogo unilateral?
 É uma decisão audaz e construtiva, um novo gesto de vontade de paz da guerrilha em Havana. Oxigena o processo em meio às dificuldades, quando estava em agonia por querer do governo e da classe dominante. Santos provocou a suspensão do cessar-fogo unilateral e reiniciou os bombardeios, em meio a ameaças e ultimatos. Quer a guerrilha rendida, entregando as armas e seus principais dirigentes no cárcere, evitando as reformas políticas e sociais chaves para superar as causas do conflito. É uma visão equivocada dos diálogos de paz, onde se considera que os gestos e os compromissos são unilaterais e o Estado colombiano não tem nada a conceder. A guerrilha demonstrou vários deles e os gestos governamentais não aparecem em nenhuma parte.

Que gestos deve apresentar o governo?
 As FARC-EP com esta última trégua unilateral completa seis ao longo dos diálogos da Mesa de Havana: entregou os ‘prisioneiros de guerra’, incluindo o general Alzate, decretou o fim das retenções econômicas e esteve disposta a contribuir na chamada diminuição do confronto (desminagem, crianças na guerra, respeito às mulheres combatentes), entre outras. O governo não apresentou nenhum, nem na mesa nem fora dela. Aproveitou o cessar unilateral para obter vantagem militar, continua reprimindo a luta social, popular e as mobilizações, ao mesmo tempo em que as prisões se enchem de presos políticos. Hoje são mais de 9.000.
Em Havana, os porta-vozes governamentais falam de paz, mas na Colômbia Santos promove a guerra, não apenas porque aprofunda o confronto armado, sim porque implanta mais medidas neoliberais e antipopulares, como o Plano Nacional de Desenvolvimento. A desigualdade cresce, a brecha é cada vez maior, enquanto nega a “concertación social” com os trabalhadores, os camponeses, os indígenas, os afrodescendentes, os jovens, as mulheres e os LGBTI.
O governo não satisfaz nenhum setor popular, no que se refere aos direitos e reivindicações. Quando chega a se comprometer mediante acordos, afirma desconhecê-los, como ocorreu com a Cúpula Agrária. No entanto, os privilégios e regalias são para as transnacionais, para os poderosos grupos econômicos, o setor financeiro, latifundiários e pecuaristas. Afiança-se o poder plutocrático para proteger os interesses da oligarquia e do capital estrangeiro com o conto da confiança investidora. Em contraposição à paz e aos acordos parciais de Havana, deu passe-livre aos TLC, tão nocivos que o papa Francisco os criticou na recente viagem pela América Latina.
Creio que o presidente é refém dos belicistas. A cúpula militar, pelo menos a maioria, não quer a paz, e mais, pressiona a ruptura dos diálogos. Além disso, a extrema direita o pressiona e faz chantagem, o conhece muito bem, pois foi “ministro estrela” de Uribe. Santos está mais próximo de Uribe que da paz. Suas diferenças são de forma, porém no fundo, na estrutura do Estado antidemocrático, no modelo neoliberal, na confiança investidora e em outros despropósitos oligárquicos estão de acordo.

Então, o que fazer?
 O que sempre fizemos. Ganhar os espaços na luta popular de massas. “Colocando o povo no processo”. O caminho é fortalecer a Frente Ampla pela Paz como um projeto independente, que pressione a saída política dialogada e se converta em opção de poder popular. Equivocam-se aqueles que acreditam que o papel da Frente Ampla é estar na cola do Governo para respaldá-lo na política de paz, cada vez mais vazia e oportunista. O apoio à reeleição foi pertinente, no entendimento de que era necessário frear a vitória, que parecia iminente, da extrema direita uribista. E nada mais. Não existiu um acordo programático porque nada nos identifica com o projeto neoliberal de Santos, o mesmo da oligarquia, do governo e da extrema direita uribista. Santos nos deve a vitória e tem que cumprir. Porém, insisto: o precedente é a ação de massas, a pressão popular, articular o movimento com a luta pela paz e pelas reformas que assegurem a paz e a unidade popular.

Na direita e, inclusive na esquerda, alguns dizem que as FARC-EP não querem a paz, que está no mesmo jogo de sempre, de aproveitar estes processos para se fortalecer. Qual sua opinião?
 Escrevi um livro que foi lançado na última Feira Internacional do Livro, em Bogotá, com o título de “Las FARC-EP sí quieren la paz” [As FARC-EP querem a paz]. É o testemunho de conversas, entrevistas e análises baseadas na realidade de que chegou o momento da paz com democracia e justiça social como nunca antes existiu. Há poucas semanas, Iván Márquez leu uma declaração em que as FARC-EP asseguram, sem rodeios, que querem pactuar a paz com Santos. Disseram isso no momento mais difícil do processo, quando a “grande imprensa” e a direita reclamavam suspender ou romper os diálogos. De alguma maneira, estabeleceram a temporalidade que tanto exige Santos, porque seu governo, como todos, possui um tempo fixo, um período de quatro anos dos quais já restam quase três.

Não é muito otimista a apreciação?
 Não acredito. Sim, com a Mesa de Havana se conjuga a luta popular e a pressão das massas. A Frente Ampla tem que se converter em uma força alternativa democrática para a paz e a justiça social. Estão dadas as condições para a paz estável e duradoura. Por isso, a alternativa à crise é manter o diálogo e buscar saídas. A guerra fracassou como solução do conflito. Nenhuma das partes obteve vitória, o conflito está degradado e é uma tragédia nacional. É preciso colocar um ponto final. Nós revolucionários somos humanistas e não podemos resolver o drama social a tiros e com violência quando ela traz consequências funestas e terríveis para a população.

Deve-se entender que a luta armada foi um erro?
 A luta armada guerrilheira não foi inventada. Nem pelo Partido Comunista nem pelos camponeses que decidiram armar-se ante a violência do poder dominante. Ela obedeceu a causas profundas e históricas. A análise disso foi aprofundada pela Comissão de História, subestimada pelos porta-vozes governamentais que possuem pavor da academia e do registro histórico dos fatos e conflitos no país e no mundo. É uma posição retrógrada, reacionária e bestial, que não reconhece a contribuição que estes textos podem promover à verdade, à justiça, à reparação e à não repetição.
A luta armada não surgiu porque sim. Adotou as modalidades a cada conjuntura histórica e a cada etapa do processo político e social. Não é um problema de “combinação das formas de luta”, que é a forma vulgar de explicá-lo. A combinação das formas de luta de massas não é um decreto ou uma lei revolucionária, é a explicação de uma realidade colombiana, uma espécie de radiografia social de nossa própria realidade, em que a luta de massas se expressa de múltiplas formas, entre elas a ação armada guerrilheira. Neste sentido, o movimento guerrilheiro se converteu em uma força fundamental para as mudanças no entendimento de que a prioridade sempre está nas lutas democráticas e de massas no campo e na cidade.
Lembre que a primeira expressão da resistência armada foi a autodefesa de massas, ou seja, os camponeses na metade do século passado, tomaram as armas para se defender da violência dos latifundiários apoiados pelo Estado, durante as ditaduras conservadoras de Mariano Ospina Pérez e Laureano Gómez. Desse movimento fizeram parte os liberais, ainda que hoje não queiram recordar isso, apagando este fato da memória histórica.
Quando veio a ditadura militar em 1953, o general Rojas Pinilla falou de paz, os liberais se entregaram à custa da morte de vários de seus dirigentes. As guerrilhas revolucionárias se instalaram no sul do país, em plano defensivo, esperando que se ponderasse a política do governo, orientada à ditadura e ao anticomunismo vulgar e fazendo chamados à paz.
Chegou a Frente Nacional anunciando a paz e o que fez foi bombardear Marquetalia, El Pato, Riochiquito e Guayabero, tentando aniquilar a pequena força guerrilheira. Isso produziu a mudança estratégia e o movimento se converteu em uma força guerrilheira política e militar, cuja ação se baseou na guerra de guerrilhas, ainda que sempre propondo o diálogo e a paz, repudiados pelo governo de Guillermo León Valencia, sob a pressão do tenebroso Álvaro Gómez Hurtado, filho do “monstro” Laureano Gómez.
Nos anos oitenta e noventa, novas tentativas de paz foram fracassadas pela relutância do poder às reformas políticas e sociais para remover as causas do conflito. Fracassaram as tentativas com Belisario Betancur, César Gaviria Trujillo e Andrés Pastrana. O genocídio da União Patriótica, nos anos oitenta, gerou desconfiança na insurgência porque a violência por parte do poder determinou este aniquilamento horrível de toda uma organização política. O genocídio foi perpetrado pelos paramilitares com o respaldo da força pública, de políticos nacionais e regionais tradicionais, latifundiários, pecuaristas, empresários e narcotraficantes, uma verdadeira trama criminosa que demonstrou a oposição à paz e às mudanças democráticas.
Como você vê, estamos ante um poder violento, que se nega à democracia, fechado às mudanças avançadas na vida nacional. Olhe você, tudo isso foi denunciado pela Corporação Paz e Segurança, que na campanha eleitoral de outubro do presente ano (eleições regionais) existem 140 candidatos com estreitos laços com o paramilitarismo, o narcotráfico e as máfias, que lucram com o poder. Santos guarda silêncio porque esses candidatos são endossados pelo Partido Liberal, pelo Partido Conservador, a U (do presidente Santos), Mudança Radical (do vice-presidente Vargas Lleras), Opção Cidadã, todos da Unidade Nacional (governista) e do Centro Democrático uribista. Nestas condições, é difícil a paz; não se criam condições quando o governo está fechado à democracia, às liberdades e ao chamado Estado Social de Direito. A paz é possível com uma nova ordem política, econômica e social.

Está claro. Porém, onde se encaixam as fases da violência na Colômbia neste quadro que você descreve?
 Estão nesse marco. Sociólogos, historiadores e analistas do Partido Comunista Colombiano atribuem quatro etapas à violência na Colômbia, desde a metade do século passado até nossos dias: de 1948, após o assassinato de Jorge Eliécer Gaitán pela direita conservadora e pela CIA, até 1953, golpe militar de Rojas Pinilla; de 1953 a 1957, durante a ditadura, anticomunismo que ilegalizou o partido na Constituinte de bolso; de 1957 a 1964, com o ataque a Marquetalia, El Pato, Riochouito e Guayabero; e de 1964 até nossos dias. No entanto, numa moderna visão, coloca-se uma quinta etapa, desde 1984 até nossos dias, mais complexa porque é a do paramilitarismo, o genocídio da União Patriótica e dos processos de paz. É uma etapa de agudas lutas na qual fracassa a via militar e se abre caminho para a necessidade da solução política dialogada mediante a abertura democrática e social.

Outro tema: Quais são os erros de maior destaque do presidente Santos nos diálogos de Havana?
 Crer que está frente a uma guerrilha e como tal pretende tratá-la em um processo de paz com duas partes envolvidas; a modalidade de dialogar em meio ao conflito. Não requer maior explicação porque o objetivo essencial é a entrega das armas, a desmobilização e as regalias, ainda que com uma justiça inquisitorial e exclusiva, pois não incorpora os responsáveis e impõe decisões unilaterais, perdendo de vista a estrita bilateralidade da crise; não entender que o fundamental são as reformas, as mudanças no Estado para fortalecer a democracia e a justiça social. Por isso, para ele, é a partir do Estado de violência e promotor dos crimes em todos os tempos, prestar-se ao vaivém das concessões, tolerar a ambiguidade nas fileiras governamentais e dar demasiadas explicações a Uribe e Ordóñez, vilões inimigos da paz.

Quer dizer que se chegou em Havana ao ponto de não retorno?
 Ainda não. Falta um longo trecho a ser percorrido. Ficam pendentes temas chaves, como justiça, entrega de armas, garantias, mecanismos de referendo e o que está na geladeira. Tudo isso deve ser definido. Porém, digo uma coisa: Tenho certeza de que se chegar a um acordo sobre justiça, o processo chegará ao ponto de não retorno. Este é um acordo fundamental. A verdade, a justiça e a reparação não estão associadas a represálias e à prisão. Isso foi dito de Kofi Anan até outras importantes personalidades internacionais. Na Colômbia, a oligarquia tem uma posição não só de vingança, mas de subtrair sua própria responsabilidade sobre a violência na Colômbia. Foi ela que converteu o Estado em instrumento violento de dominação, agora não quer reconciliar.

¿Referendo ou Assembleia Nacional Constituinte?
 Definitivamente Assembleia Nacional Constituinte, que permite uma maior participação do cidadão e de suas organizações. É o poder constituinte convertido em instrumento fundamental de mudança. Nela se podem ratificar os acordos, dirimir os desacordos e abordar outras reformas políticas e sociais de fundo na vida do país. Por que a classe dominante tem medo da Constituinte? Por conta de seu pavor à democracia. O dia em que este país conquistar uma real abertura de liberdades, direitos e autênticos mecanismos de participação respeitados por todos, começará a oscilar o poder destes parasitas que enriquecem do erário e do que tiram dos camponeses e dos trabalhadores.


Obrigado, camarada Carlos. Desejamos rápida recuperação.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/07/21/colombia-farc-ep-oxigenan-los-dialogos-de-paz/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

quinta-feira, 30 de julho de 2015

SOLIDARIEDADE AO POVO COLOMBIANO NA LUTA PELA PAZ COM JUSTIÇA SOCIAL E LIBERDADES DEMOCRÁTICA. CESSAR-FOGO BILATERAL JÁ!


(Nota Política do PCB)

O Partido Comunista Brasileiro vem a público saudar o início de mais um cessar-fogo unilateral decretado pelas FARC-EP, numa nova demonstração de interesse na busca pela paz com justiça social e liberdades democráticas que ponha fim ao conflito militar colombiano, que já dura mais de meio século.
Por outro lado, saudamos também o compromisso assumido pelas partes no sentido de, reciprocamente, iniciarem um processo de redução das hostilidades militares, tendo como objetivo um desejável cessar-fogo bilateral. Outra novidade importante é o consenso em torno da incorporação, na mesa de diálogos de Havana, de delegações da ONU e da UNASUL, que apoiarão os mecanismos de monitoramento e verificação dos acordos que venham a ser celebrados.
Expressamos nossa irrestrita solidariedade a todas as forças políticas e movimentos populares que lutam na Colômbia por profundas mudanças sociais e políticas capazes de superar as injustiças e a violência, estatal e paraestatal, que deram causa ao conflito militar.
Para pavimentar e viabilizar o caminho da paz, será fundamental que o estado colombiano desmonte as estruturas paramilitares e promova de imediato a libertação dos milhares de presos políticos que penam em seus cárceres, em sua maioria esmagadora presos de consciência.
Finalmente, esperamos que o governo brasileiro, além de compor a delegação da UNASUL na mesa de Havana, se junte aos países fiadores (Cuba e Noruega) e acompanhantes (Venezuela e Chile) dos diálogos pela paz na Colômbia, que interessa a todos os povos da América Latina, em especial se vier acompanhada, como se espera, da retirada das diversas bases militares do imperialismo estadunidense instaladas no território colombiano.
Brasil, 26 julho de 2015
PCB - Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional




Jogadas políticas lembram 64, diz filho de Jango


Escrito Por Érica Aragão
Hoje nós estamos vendo aí jogadas políticas que nos lembram muito 1964”, afirma o filho do ex-presidente Jango, João Vicente Goulart. Para ele as semelhanças são reconhecíveis.
João Vicente está se referindo à comparação do momento que estamos vivendo com aquilo que seu pai, João Goulart, viveu no processo da derrubada do governo. Para ele o financiamento empresarial é a grande conexão entre hoje e 1964.
Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), uma campanha para eleger um deputado não sai por menos de R$ 2 milhões, e a de senador, por menos de 5 milhões.
É onde entram as grandes empresas. Financiam campanhas em formas de doações e seus benefícios garantidos através de acordos.  Aí que se criam as bancadas de interesses empresariais. A bancada da bala, a bancada evangélica, a bancada ruralista, entre outras que criam segmentações de bancadas que fazem políticas por interesses daqueles que os financiaram. Temos aí uma semelhança muito grande com a eleição em 1962, ano que iniciou o processo do golpe”, explica João Vicente.
João Goulart ficou conhecido como o presidente que propôs reformas estruturais e aprovou direitos trabalhistas como o 13º salário e direitos eleitorais como o voto para analfabetos. Isso agradou uma grande parte da população, mas não agradou muito a elite, que teria menos lucros com os benefícios dados aos trabalhadores.
Segundo João Vicente, João Goulart, conhecido popularmente como Jango, teve seu mandato de Presidente da República interrompido por um golpe parlamentar financiado pela CIA, agência de inteligência norte americana, com interesses baseados nos grandes lucros.  Jango substituiu Jânio Quadros, que renunciou em 1961. “A eleição para o Congresso em 1962, financiada pela CIA, elegeu mais de 140 parlamentares entre deputados e senadores para derrubar Jango”, observa ele.
O ex-embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, quando esteve no Brasil em 2002 para lançar um livro sobre o período de 1964, afirmou no programa Roda Viva que usou a CIA, com dinheiro americano, para depor o presidente João Goulart. “Lincoln falou que foram usados 5 milhões de dólares de verba secreta para derrubar Jango, que já era presidente na época e propunha várias reformas que atingiriam os privilégios das elites, que é o que está acontecendo hoje”, afirma João.
A mídia também teve grande participação no golpe. “Jango ficou taxado pela grande mídia de comunista, porque quando o presidente Jânio Quadros renunciou, ele, que era vice e deveria assumir o poder, estava na China. Na época quem era amigo da China era comunista”, explica João Vicente.
Várias manchetes foram decisivas para aumentar a quantidade de pessoas nas marchas que aconteciam naquela época, tudo articulado para o golpe. Uma marcha bem conhecida e que contribuiu para a derrubada de Jango foi a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” que reuniu mais de 500 mil pessoas na Praça da Sé.
Eventos considerados aparentemente “desconexos” foram tomados como reações espontâneas de segmentos da população. Na verdade, essas manifestações apresentavam uma sólida coordenação por parte da elite através da imprensa.
Para o sociólogo e jornalista, Laurindo Lalo leal Filho, a mídia sempre esteve ao lado das forças das elites mais conservadoras contra os movimentos populares, contra os governos que têm origens mais populares. “Isso se mantem até hoje quase que de forma indistinta. Talvez até em 64, a gente pode dizer que a força da imprensa, apesar de poderosa, inclusive teve participação decisiva no golpe, era ainda naquela época menor do que é hoje”, afirma o jornalista.
Naquela época a televisão não estava em todas as casas. Hoje, mais de 90% têm televisão em casa e 95% das pessoas se informam pela TV. “A televisão é mais concentrada ainda, no ponto de vista político e ideológico do que os jornais que ainda abrem um espaço ou outro para um comentário alternativo para falarem que são imparciais. A televisão não. A televisão é monolítica e faz esse papel com muita força e é ela que encabeça o processo golpista no Brasil, isso sem dúvida”, destaca Lalo.
O Diap também cita em sua publicação “Radiografia do Novo Congresso, legislatura 2015-2019”, que o Congresso Nacional é hoje o mais conservador desde a redemocratização do país, no final da década de 1980.
Esse congresso eleito em 2014 está comprometido com o dinheiro no qual eles foram financiados. É por isso que eles não têm nenhum pouco de responsabilidade com o povo brasileiro, sequer obrigação”, diz emocionado João Vicente ao comparar com a história em 1964.
 “Esse presidente da Câmara, Eduardo Cunha, por exemplo, é unha e cara lavada do então presidente do Senado, Aldo Moura de Andrade, que decretou vaga a Presidência da República em 1964, legitimando o golpe civil e militar com o presidente dentro do país, em Porto Alegre, tentando resistir”, destaca o filho do Jango.
As elites não aguentam mais perder eleição. Estão se articulando tipo um cavalo de corrida paraguaio, como aconteceu com o presidente Lugo, com um congresso comprometido com estas elites, comprometido com grandes financiamentos, e isso é uma consequência da falta de uma reforma política, assim como Jango queria na época, reformas estruturais para o país. Nós estamos falando de reformas há 50 anos e até hoje não houve”, critica João Vicente.
As semelhanças que estão aí, apesar da grande diferença temporal, são semelhanças muito cognitivas: o congresso da época, o golpe que estava sendo preparado em 64 e as movimentações de traições políticas como as que vêm acontecendo hoje, principalmente na base parlamentar de sustentação ao governo”, lembra João Vicente.
Hoje nós estamos na mesma situação tanto no que se refere à mídia quanto ao congresso e ao financiamento empresarial. Está na hora de uma grande frente nacional. Acho que os partidos de esquerda, sindicatos, movimentos sociais e populares deveriam fazer essa frente e lutar por alguns pontos comuns, que são: não ao retrocesso, não ao ajuste fiscal, e para exigir mais direito para os trabalhadores e mais conquistas sociais”, finaliza João Vicente, que também é diretor do Instituto João Goulart, no Rio de Janeiro.



Expandamos a desescalada


Prossegue, em meio a imensos riscos, a difícil missão de limpeza e descontaminação de artefatos explosivos de guerra numa importante zona rural do município de Briceño, muito próximo do megaprojeto hidrelétrico de Ituango [Antioquia].
Lamentamos profundamente o acidente que no último dia 15 de julho, às 15:00 horas, ceifou a vida do desminador do BIDES Wilson Martínez Jaraba, e causou problemas auditivos a dois operadores mais, na localidade de Alto Capitán.
Realmente, a tarefa de descontaminação de territórios constitui uma atividade de vida ou morte, que exige máxima concentração, apego estrito aos protocolos de segurança, consulta permanente entre operadores de explosores e desminadores das FARC e do BIDES, respectivamente, intercâmbio e balanço com a Ajuda Popular Noruega [APN], para evitar novas situações dolorosas.
Apesar do acidente na vereda El Orejón, as partes nos comprometemos, pensando no bem para as comunidades campesinas, a seguir implementando o “acordo sobre limpeza e descontaminação de território da presença de Minas Antipessoal [MAP], Artefatos Explosivos Improvisados [AEI] e Munições Sem Explodir [MUSE] ou Restos Explosivos de Guerra [REG] em geral”, firmado a 7 de março de 2015.
Quiséramos converter o experimento que tem lugar em El Orejón num plano piloto que sinalize o caminho para a atenção por parte do Estado de comunidades mergulhadas no abandono, esquecidas dos programas sociais.
Os habitantes desta comarca, muitos deles, foram deslocados dos vales férteis de onde obtinham seu sustento trabalhando a terra, ou bamburrando no rio em busca do sol de ouro para o sustento de seus filhos, e empurrados pelo mega projeto de represa do rio Cauca para as ásperas encostas improdutivas, gerando pobreza. O despojo de terras se deu por via violenta através de paramilitares ou pela via administrativa dos decretos.
Estas comunidades esperam hoje que a descontaminação de seu território de artefatos explosivos venha acompanhada de programas de redenção social. Que se aproveite a circunstância para iniciar a implementação em pequena escala da substituição de cultivos de folha de coca, acordado em Havana, com planos de desenvolvimento alternativo, vias transitáveis, energia elétrica, comercialização de café, conectividade, escolas, postos de saúde e espaços para o esporte e o lazer.
O fenômeno do paramilitarismo continua vivo, intimidador e brutal na martirizada região. Seus integrantes se movem livremente no município de Briceño sob a cumplicidade e permissividade das autoridades, e ameaçam com estender sua presença e terror à La Vereda El Orejón, uma vez se produza a limpeza do território.
Ante esta circunstância, pensamos que o governo deve atuar, investigar e estabelecer responsabilidades, e não ficar com os braços cruzados. O que os campesinos puseram a redobrar é a campanha de um alerta imediato. As comunidades devem ter certeza de que não vão ficar vulneráveis nem desprotegidas.
Descontaminar e limpar o território de artefatos explosivos, eliminar a ameaça paramilitar que aponta contra campesinos inermes, é desescalar o conflito. O cessar-fogo unilateral declarado pelas FARC e a imediata correspondência do governo decretando o cessar dos bombardeios deve se estender com outros gestos recíprocos de desescalada pelas partes, para que a Colômbia inteira seja coberta pela mais benéfica atmosfera de tranquilidade, agora que se transita com maior confiança para o acordo final.
Necessitamos continuar trabalhando na vereda do Orejón, sem pausa, porém obsessões que causem desenlaces fatais, para poder entregar à Colômbia a primeira zona livre de artefatos explosivos.
Reconhecemos os esforços da população, do BIDES, do DAICMA, dos guerrilheiros das FARC, e de APN, seu trabalho em equipe e coordenação para levar adiante esta importante missão humanitária que o país lhes destinou.
La Habana, sede dos Diálogos de Paz, 28 de julho de 2015

Delegação de Paz das FARC-EP
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Equipe ANNCOL - Brasil

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Na Venezuela, parece renascer a conveniente convivência


Há boas notícias na Venezuela: no dia 6 de dezembro haverá eleições legislativas e o clima de total intolerância parece dar lugar a uma convivência conveniente para chavistas e opositores. Hoje, sem abandonar a luta política e muito menos a eleitoral, o inimigo que deveria ser destruído, destroçado, agora parece ter de transformado num adversário com quem competir, articular, ate mesmo entrar em acordo.

Situação levada por situações externas e internas – independente da permanente guerra de microfones – que podem causar surpresa, como a unanimidade entre oficialistas e opositores para aprovar um acordo em defesa do Essequibo venezuelano (territórios em conflito com a Guiana) na Assembleia Nacional, e o chamado da perigosa organização empresarial FedeCámaras a iniciar um diálogo com o Governo, propondo “três consensos que permitiriam traçar um horizonte produtivo para o país”.

Finalmente, os partidos e organizações opositoras aglutinadas na Mesa de Unidade Democrática (MUD), cerca de trinta entidades diferentes, decidiram disputar as eleições legislativas “com uma lista única” de candidatos. O acordo pôs fim – por enquanto – às diferenças internas admitidas por dirigentes opositores, entre eles o duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles, que advertiu que “sem lista única” haveria o risco de perder uma “adesão majoritária”.

Mas tudo aponta para uma crise de liderança na “unitária” força antichavista. Uma pesquisa da Hinterlaces (divulgada no dia 11 de julho) mostra que 85% dos consultados acha que falta gente nova para dirigir a oposição, 77% que está muito dividida, 52% opina que a MUD não tem um projeto de país, 61% disse que os opositores mais jovens são manipulados pelos velhos políticos e 67% acha que o partido tem votos por descontentamento, mas não um respaldo popular real.

E, novamente, a oposição começa a falar de fraude – desculpa usual há cerca de uma década –, antes mesmo de começar a campanha eleitoral. O ex-funcionário da OEA, Rubén Perina, disse aos meios estrangeiros que, com o passar das semanas, se o Conselho Nacional Eleitoral não enviar o convite formal à OEA, ou negar sua participação, o secretário-geral deveria propor (a partir do Artigo 20 da Carta Democrática Interamericana) a supervisão coletiva da crítica situação política venezuelana.

Desde já, a imprensa cartelizada quer impor no continente a ideia de que existe o perigo de uma alteração da ordem democrática, uma possível fraude eleitoral. A resposta foi dada pelo próprio presidente Nicolás Maduro, que considerou que a OEA “não serve para nada”, é “um traste velho e caduco”, que já aprovou invasões e golpes de Estado em seus 67 anos. E questionou se o novo secretário-geral, o uruguaio Luis Almagro, vai trabalhar para América Latina ou para os Estados Unidos. “Quantas missões de saúde têm (…) ou vão continuar com sua burocracia intervencionista”, apontou o mandatário venezuelano.

Não está previsto, obviamente, a participação da OEA. Quiçá seja convidada a presenciar as eleições. Mas a Unasul, prevendo essas “operações”, e quem está preparando a missão eleitoral na Venezuela, com o apoio de todos os países da região, sem a necessidade do monitoramento e da previsível manipulação que podem fazer, entre outros, os Estados Unidos e o Canadá.

A economia e a segurança

Quem surpreendeu com uma dura frase, foi o governador de Anzoátegui e dirigente do PSUV, Aristóbulo Istúriz: “se eliminarem o controle de câmbio derrubam o governo”, criando no imaginário coletivo a ideia de que não é possível modificar a atual política cambiária, que, na verdade, não tem sido eficaz em fomentar o impulso à produção, e tampouco tem servido para evitar a fuga de divisas. A direita e os meios de comunicação hegemônicos continuam com suas exigências: liberalização cambiária ou dolarização.

Essa carência de um valor real dos produtos (com base na brecha entre o dólar oficial e o paralelo, que chega a dois zeros), junto com a inflação, têm diminuído claramente o poder adquisitivo real.

Há quem insista na necessidade de pensar mais seriamente numa transferência direta, por meio de um cartão ou ticket de alimentação e medicamentos, sobretudo para os mais pobres, que não podem aumentar sua renda com o simples aumento de preços, como os comerciantes.

No dia 13 de julho, o governo ativou a Operação de Liberação e Proteção do Povo (OLP), para resguardar a segurança diante das crescentes ações do paramilitarismo (importado da Colômbia e assentado até mesmo nas grandes cidades venezuelanas), com a finalidade de quebrantar a estabilidade e a paz no país. O presidente Nicolás Maduro informou que só no estado de Miranda, se recuperaram 905 armas, 14 de grande porte, provavelmente manejadas por franco-atiradores especialistas, 32 veículos roubados recentemente e 200 apartamentos que permaneciam sequestrados por grupos paramilitares.

E um ingrediente a mais, Maduro assegurou que o governador desse estado, justamente Henrique Capriles, está vinculado com o paramilitarismo e com líderes colombianos. “A ultra-direita colombiana encheu a Venezuela de droga e de caos para colocar as garras no país”, afirmou.

Divisionismo contra integração

Cada vez que avançam as possibilidades de fortalecer a integração na América Latina, de mudanças que visam a separação progressiva do império, surgem no continente conflitos fronteiriços, geralmente herdados da colônia, para colocar um freio nos processos.

Na Venezuela, até há pouco tempo atrás, a oposição pedia ao governo que se tomasse medidas a respeito do território de Essequibo. Agora que o governo decidiu fazê-lo, alguns opositores se colocaram do lado do governo da Guiana e em defesa da multinacional petroleira ExxonMobil. Mas o importante é que todos os parlamentares – chavistas e antichavistas – votaram juntos na Assembleia Nacional.

Os conflitos fronteiriços são temas que devem ser discutidos em seu contexto, e vendo sempre uma perspectiva interna e externa o mais ampla possível, para melhor entender a questão.

De tempos em tempos, a República Cooperativa da Guiana pretende discutir o tema do território de Essequibo, e explorar suas riquezas. Então, essa não pode ser a causa das recentes tensões. O fato novo é que o governo da Guiana deixou de seguir a via diplomática e jurídica – pois existe um acordo internacional para se usar essa opção prioritariamente – e passou a tomar medidas unilaterais, como a instalação de uma plataforma de exploração petroleira, em parceria com a multinacional Exxon e seus associados.

A presença da Exxon no meio do conflito não é estranha, como tampouco é estranho que o representante diplomático dos Estados Unidos em Georgetown tenha atuado para garantir o resguardo da embarcação dessa empresa. Estratégias e interesses que se cruzam.

Essas circunstâncias, junto com as divisões políticas na Venezuela, são as que explicam, segundo o analista político Leopoldo Puchi, porque a Guiana passou do ambiente diplomático para a ação, violando o acordo de Genebra, e iniciou a exploração das águas em disputa, com a concorrência de uma empresa multinacional e a ameaça do braço armado do império.

A divisão dos fracos sempre foi a fortaleza dos poderosos.

Tradução: Victor Farinelli




São necessárias novas medidas de desescalada.


As FARC-EP registramos como positiva a decisão presidencial de suspender os bombardeios contra nossos acampamentos, num gesto que se corresponde com a ordem ministrada pelo Secretariado das FARC-EP de cessar todo tipo de ações ofensivas contra a Força Pública e a infraestrutura pública e privada em todo o país a partir do último 20 de julho. Sem dúvida, a determinação do senhor presidente é uma medida que contribui para gerar um clima de confiança propício para avançar na discussão dos temas pendentes do Acordo Geral de Havana.
Em meio a um novo ambiente que se começa a gerar, depois do acordo firmado pelas partes no último 22 de julho, conhecido sob o título “Agilizar em Havana e desescalar em Colômbia”, se faz necessário acordar novas medidas que aprofundem e consolidem este processo de desescalada, para que cada vez seja mais remota a possibilidade de que este esforço possa se lançar a perder.
Tal como ficou consignado em nossa ordem de cessar-fogo ministrada a todas as unidades: “Nenhuma unidade das FARC-EP está obrigada a se deixar golpear por forças inimigas e terá todo o direito ao exercício de sua legítima defesa em caso de ataque”.
A propósito, queremos chamar a atenção sobre fatos recentes que sucederam nos estados do Cauca e Nariño, onde o avanço das operações terrestres contra as posições insurgentes pôs em risco o cessar-fogo unilateral das FARC-EP. Somente a prudência das unidades guerrilheiras tem evitado que se apresentem fatos lamentáveis nestes casos.
La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 28 de julho de 2015
DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC EP.

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Equipe ANNCOL - Brasil


terça-feira, 28 de julho de 2015

Dirigentes ecumênicos de todo o Mundo apoiam cessar fogo bilateral na Colômbia



Em uma carta enviada de Bogotá, Colômbia, dirigentes cristãos locais e internacionais exigem o cessar fogo bilateral entre o Governo da Colômbia e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Na carta, insistem em que sejam retomadas as conversações de paz. "Os 52 anos de conflito armado na Colômbia cobraram muitas vidas, e causaram deslocamentos nas comunidades locais”, assinalam.

A carta é dirigida ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, ao chefe negociador do governo em Havana, Humberto de la Calle, ao comandante das FARC, Timoleón Jiménez, e ao chefe negociador das FARC, Luciano Marín (Iván Márquez). Vem precedida pelos recentes ataques mútuos das FARC e do governo, que levaram a uma situação crítica as conversações de paz em Havana.
Entre os signatários do documento figuram dirigentes de organizações ecumênicas mundiais, como o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), ACT Aliança, a Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas e a Federação Luterana Mundial. Assim como representantes de 40 igrejas locais e organizações ecumênicas, e mais de uma centena de associados internacionais.
"Não podemos deixar de expressar nossa dor de humanidade, de cristãs e cristãos ante as mortes que continuam acontecendo na Colômbia, que poderiam ter sido evitadas com um acordo de um cessar fogo bilateral”, diz a carta.
"O governo deve mudar sua posição de se negar a um acordo entre as duas partes para o cessar fogo, em prol da vida e em prol de uma maior legitimidade dos diálogos que vêm sendo adiantados, e as FARC devem voltar à sua vontade e decisão de manter-se no cessar fogo”.
Georges Lemopoulos, secretário geral interino do CMI, afirma que "as conversações de paz entre o governo e as FARC devem alcançar uma paz duradoura, com justiça social para os colombianos e as colombianas, algo que merecem em grande medida”.
Na carta, são reconhecidos os progressos realizados para reduzir a intensidade do conflito, como o acordo sobre a retirada das minas terrestres e outros explosivos, o acordo sobre a formação de uma Comissão da Verdade, e o informe publicado pela Comissão Histórica do Conflito.
"Unimo-nos e apoiamos o chamado que fizeram semanas atrás os Governos de Cuba e da Noruega, na sua qualidade de garantidores da Mesa de Conversações, para que se pactue o cessar fogo bilateral e o fim das hostilidades, como também para preservar os acordos até agora alcançados e para avançar na discussão dos temas que ainda estão pendentes na agenda”, afirma a carta.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

A VARIÁVEL LULA

Por Emir Sader
Lula foi situado no centro da vida política brasileira. Todos os holofotes se concentram sobre ele: ou será abatido no voo pela direita, tirando-o, no tapetão, da vida política, ou exercerá seu papel de eixo da recomposição da esquerda brasileira e conseguirá dar continuidade ao processo iniciado em 2002, com todas as adequações necessárias.


Em um marco de crise de credibilidade das instituições, das forças políticas e sociais, das lideranças, a exceção fica com Lula. Não fosse assim, ele não seria alvo dos ataques concentrados da direita. Se acreditasse nas suas pesquisas, bastaria a direita esperar até 2018 e derrota-lo com qualquer um dos seus candidatos.


O destino da direita depende de conseguir inviabilizar juridicamente a candidatura do Lula e ter assim o caminho aberto para reconquistar a presidência da república. Caso contrario, teria que se consolar com um novo mandato do Lula, limitando-o pela revogação da reeleição.


Do lado do campo popular, Lula também é a referência, é o grande patrimônio, com ele pode contar. O maior líder popular da história do Brasil, Lula mantém vínculos profundos com a massa da população, seus governos ficaram marcados na consciência e na memoria das pessoas, Lula representa a auto estima dos brasileiros. Por tudo isso, apesar da brutal campanha contra sua imagem, ela permanece arraigada no seio do povo.



Mas ele não se limita a estar na memória do povo, ele representa também sua esperança. Ninguém tem o carisma e a mística que a liderança de Lula possui.


Desde a crise de 2005, quando a imagem do PT passou a ser afetada negativamente, a imagem do Lula foi se descolando do partido, conforme o governo foi ganhando prestigio, com o sucesso das politicas sociais. Mesmo quando a imagem do governo de Dilma e a do PT sofrem com a mais dura das campanhas da oposição, a imagem de Lula resiste e as próprias pesquisas que dão resultados muito ruins para o PT e Dilma, tem que revelar que Lula teria pelo menos 33% de apoio.


Mas o Lula de agora precisa propor ao país novas utopias, novos objetivos, continuidade e aprofundamento do que foi feito a partir do seu governo, precisa diálogo com novos setores sociais, especialmente os jovens, tanto os da periferia quanto os da classe média, precisa surgir como quem reivindica não só a visibilização desses setores, como os espaços das mulheres, rejeitadas nas suas reivindicações. Em suma, Lula tem que representar, ao mesmo tempo, a retomada do que foram seus governos, da forma de fazer política que unifique as forças que apoiem os programas propostos nos seus governos, como também renovador. Nas reivindicações, na linguagem, na interpelação e integração de setores até aqui marginalizados.


É Lula que pode ser o eixo da recomposição das forças de esquerda, das forças democráticas e populares, recomposição que tem que ser feita com novas plataformas, novos programas, que deem vida a um amplo movimento social, político, econômico, cultural, que consolide os avanços, altere profundamente as relações de poder que resistem a esses avanços e aponte para o Brasil a que Lula abriu o caminho com seus governos e sua liderança.
 

Qualquer especulação política sobre o futuro do Brasil que não leve em consideração a variável Lula, está equivocada, está fora da realidade, não considera o fator determinante do futuro político do país. Candidatos tucanos já conhecidos, nomes sem nenhuma viabilidade popular do PMDB ou outros nomes que aventuras políticas apontam, se chocam com essa realidade incontornável. Uma vez mais, quem não decifra o enigma Lula é devorado por ele, como tem acontecido reiteradamente.



Venezuela quer ampliar a Operação Milagre


O jornal Últimas Notícias publica palavras do presidente sobre a missão ditas no Quartel da Montanha, em Caracas, durante uma homenagem ao falecido presidente Hugo Chávez.


A publicação assinala as intenções expressas por Maduro sobre a extensão do programa para a nação vizinha.

Segundo o presidente venezuelano, solicitará a seu homólogo colombiano, Juan Manuel Santos, para trabalharem juntos na expansão da missão, para benefício de mais estudantes, camponeses e trabalhadores.

Maduro assinalou que em 11 anos este programa médico ajudou a quase quatro milhões de pessoas, das quais apenas 7.700 são da Colômbia.

De acordo com o chefe de Estado, essa cifra de colombianos pode ser ampliada a um milhão, pois existe a capacidade técnica e de especialistas para consegui-lo.

Considerou, também, que estender a missão ajudará a continuar o trabalho face às relações de paz, bem como a neutralizar tentativas da ultradireita de colocar os dois países em conflito.

Por sua vez, o site da chancelaria venezuelana realçou também uma proposta feita pelo Governo bolivariano à Santa Sede para estender a Missão Milagre aos povos do mundo.

Desde seu surgimento, este projeto criado por Chávez e pelo líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, favoreceu 35 países da América Latina e do Caribe.

Dados oferecidos pela direção da missão indicam que os venezuelanos representam cerca de 58 por cento dos atendidos até a data.

Fonte: Prensa Latina

Em torno do Estado se dão os grandes debates atuais. É o alvo do golpe


 Por Emir Sader

Desde que Ronald Reagan disse que o Estado deixava de ser solução para ser o problema, o Estado passou a estar no centro dos debates e das lutas políticas. Reagan apontava-o como ineficiente, corrupto, expropriador de recursos das pessoas, produtor de inflação, desperdiçador, burocrático – em resumo, fonte dos problemas da humanidade.
No seu lugar, se passou a promover a centralidade do mercado e das empresas, identificados como eficientes, dinâmicos, baratos. Quanto menos Estado, melhor (para eles). Estado mínimo significa mercado máximo. Menos regulação estatal, menos direitos, menos proteção, menos políticas de inclusão social.
Alguns dos que fizeram a crítica de uma chamada "Estadolatria" da esquerda no período histórico anterior, buscaram refúgio na "sociedade civil", que mal podia mascarar o mercado, na versão dominante do neoliberalismo, entre eles ONGs e alguns intelectuais, pela rejeição comum do mercado. Sem o que dizer do ponto de vista do poder do Estado, essa forças desapareceram da cena política.
Superar o neoliberalismo é assumir funções que foram anuladas no Estado mínimo. Estado mínimo não significa mais cidadania, porém menos, porque cidadão é o sujeito de direitos e o que mais faz o neoliberalismo é expropriar direitos, em favor do consumidor e do mercado. Quem pode garantir direitos, promover políticas sociais, participar de processos de integração regional e de alianças Sul-Sul, induzir políticas de expansão econômica com distribuição de renda, programa de desenvolvimento tecnológico e científico, entre outras obrigações civilizatórias, é o Estado.
Por tudo isso, o alvo central da direita, das suas tentativas de restauração conservadora, é o Estado. É em torno do Estado que se dão os grandes debates atuais – sejam econômicos, sociais, culturais ou diretamente políticos.
No Brasil, não por acaso os alvos centrais da direita têm sido sempre o Estado – Petrobras, Correios, Fundos de Pensão, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica – tentando desarticular a capacidade de ação do Estado.
Diga-me o que você tem a dizer sobre o Estado e eu te direi onde você se situa política e ideologicamente. Não é a polarização que encanta ao neoliberalismo, entre um Estado que ele mesmo maltratou, desfeito, e uma suposta em esfera privada, a que vige no mundo contemporâneo. Porque a esfera do neoliberalismo não é uma esfera meramente privada, é esfera mercantil, em que tudo se vende, tudo se compra, tudo tem preço, tudo é mercadoria. E a esfera da esquerda é a esfera pública, a esfera dos direitos e da cidadania. O Estado é um espaço de disputa hegemônica entre as duas esferas – a pública e a mercantil –, frequentemente as duas se representam e se disputam dentro do próprio Estado.
Muita razão têm os países que decidiram refundar o Estado, para adequá-lo à nova base social que sustenta o poder político, o novo bloco social que leva adiante as políticas de superação do neoliberalismo. Os que não o fizeram, sofrem com um aparato burocrático incapaz de incorporar a participação popular que os novos governos requerem.
Não se trata de que todo debate possa ser reduzido ao Estado, mas cada proposta de modelo e de política econômica reserva um lugar para o Estado, supõe uma forma de Estado. Um Estado de subordinação às forças do mercado ou um Estado capaz de implementar políticas soberanas, democráticas, populares.
Como o mercado anda com pouco prestígio, não apenas pelos danos que causaram as políticas neoliberais, mas também pela profunda e prolongada crise internacional do capitalismo, a direita se concentra em atacar o Estado e os governos que se valeriam do Estado para praticar políticas "populistas", "corruptas", inflacionárias. Mas atacam o Estado para voltar a impor políticas centradas no mercado.
Nunca como agora o pensamento crítico tem teve que se voltar para o tema do Estado, das formas que deve assumir o poder político para corresponder aos governos e ao processo que busca a construção de modelos de superação do neoliberalismo. Do tipo de poder popular que se necessita para deitar raízes definitivas nas formas novas formas de Estado que precisamos.


Não se pode pactuar um modelo de justiça em que o Estado e os determinadores fiquem impunes.



La Habana, Cuba, sede dos Diálogos de Paz, 25 de julho de 20015
O debate sobre a paz, realizado nesta semana no Congresso da República, não somente foi oportuno e necessário como também refletiu uma vez mais que o atual intento por colocar ponto final a mais de 50 anos de guerra ocupa o interesse prioritário da agenda nacional, ao mesmo tempo em que refletiu um leque variado de posições dos distintos partidos políticos, deixando em evidência que –exceto as forças da extrema-direita comandadas pelo senador Uribe Vélez- todos apoiam os esforços feitos em Havana para conseguir um grande acordo de paz.
Que o ex-presidente Uribe e sua bancada tenham disparatado contra o processo de Paz com o desgastado sofisma de que em Colômbia não há um conflito armado interno não nos surpreendeu, nem nos desvelou: sabemos muito bem que ele e seus alfis fazem e farão até o impossível para evitar que as futuras gerações de colombianos e colombianas vivam e desfrutem de um país em paz.
No entanto, depois de ouvir com atenção as intervenções da maioria dos porta-vozes de cada bancada, nos assalta uma preocupação que hoje queremos compartilhar a partir desta tribuna: apesar de apostar na paz, muitos deles falaram com um grande desconhecimento das origens, da natureza e da história do conflito. Boa parte deu como um fato que não se firmará um acordo final de paz se não há cárcere para a guerrilha, cujos máximos dirigentes –segundo se afirmou- deverão pagar algum tipo de penalidade.
Pensamos que estas são versões recicladas da leitura unilateral e equivocada que o governo vem fazendo sobre a origem e os propósitos do processo que se empreendeu desde o ano de 2012 em Havana.
Na afirmação de que os chefes guerrilheiros deverão pagar algum tipo de condenação se esconde a tese segundo a qual as FARC são as responsáveis por estas décadas de conflito armado e que a verdade sobre o mesmo só se conhecerá uma vez seja firmado o acordo de paz e se produza o desarmamento da guerrilha.
Segundo essa tese, devemos entender que,
Os falsos positivos foram culpa das FARC-EP?
Os 6 milhões de deslocados foram culpa das FARC-EP?
Os mais de 6.500 massacres cometidos pelo paramilitarismo são culpa das FARC-EP?
As milhares de pessoas torturadas e desaparecidas foram responsabilidade das FARC-EP?
Toda a violência de gênero ocorrida durante o conflito é culpa das FARC-EP?
Toda a participação de menores no conflito é culpa das FARC-EP?
O despojo de terras em Urabá, Chocó, Sul de Bolívar, Córdoba Cesar, Magdalena meio, a Altillanura, Cauca, Vale do Cauca, que soma mais de seis milhões de hectares, é culpa das FARC-EP?
Então, devemos crer que os paramilitares já pagaram suas culpas e que em Colômbia não há paramilitares?
Só bandos criminosos narcotraficantes, um dos quais é as FARC-EP?
Os representantes da classe dirigente, os partidos políticos, o empresariado, os terra-tenentes e as multinacionais não assumirão nenhuma responsabilidade?
Devemos assinalar que para falar de justiça é necessário conhecer toda a verdade. Não se pode pactuar um modelo de justiça em que o Estado e os determinadores fiquem impunes.
À presente legislatura corresponde a responsabilidade de tratar temáticas de indiscutível importância, em momentos de particular dificuldade para o país. Ao debate do fim do conflito e das políticas públicas originadas dele, há que somar a iminência de uma crise econômica sem precedentes, com o barril de petróleo a menos de 60 dólares, o ouro a 1.200 dólares a onça, as exportações em descenso ou estancadas, os hospitais fechados ou quebrados e uma crise econômica internacional cada vez mais aguda.
Nessas condições, um governo debilitado, que descumpre com as organizações sociais e se nega a verdadeiras mudanças, deverá enfrentar-se não só com um parlamento dividido como também com a resposta popular nas ruas.
É por isso que hoje, quando estamos mais perto do que nunca da possibilidade de um encerramento da expressão armada do conflito, pensamos que desde o parlamento se deve atuar com suma responsabilidade, sem apelar para velhos truques midiáticos para distorcer o sentido do processo de paz, vendendo a velha ideia de que a guerra tem sido protagonizada por uns bons, muito bons, que foram atacados por uns maus, muito maus, sobre os quais deve recair todo o peso da lei.
Nesta hora transcendental se necessitará de partidos políticos e lideranças parlamentares à altura dos desafios do momento, plenamente conscientes da transcendência de suas decisões e comprometidos com o supremo objetivo da paz.
Poderíamos coincidir com o Dr. Humberto de la Calle em que hoje é mais possível vislumbrar cenários de paz certa do que antes.
Não obstante, o chefe negociador do governo pouco ajuda a concretizá-los ao insistir em interpretações que já se tornaram costume na delegação do governo e que em nada correspondem com a realidade, a saber:
- O primeiro, que o tema da agilidade das conversações é assunto que incumbe somente à guerrilha. Isto, o sabe muito bem quem conheça de perto o que acontece na Mesa, não é certo. No transcurso das conversações temos dado conta de presteza e interesse por conseguir rápidos avanços. Tem sido precisamente o governo quem tem adiado debates urgentes, atuando com displicência em numerosas ocasiões e tornando complexos pontos que seriam de fácil consenso, com um pouco de sentido comum.
- O segundo, havendo expressado nitidamente nossa posição acerca do tema da deixação de armas, a insistência em equiparar essa deixação com a entrega destas à contraparte não é mais que uma falácia. Sabe muito bem o chefe negociador do governo da Colômbia que o firmado no Acordo Geral de Havana não é a entrega das armas à contraparte. Não se consegue um acordo definitivo simplesmente repetindo milhares de vezes suas próprias teses ante as câmeras.
- O terceiro, denominar “pendentes ilegítimos” ou “pendentes fictícios” as ressalvas e temas pendentes que as FARC-EP mantemos frente aos acordos dos pontos 1, 2 e 4.
Estigmatizando as questões que a contraparte considera determinantes nos pontos referidos, o governo não consegue que as abandonemos, pelo contrário: ratifica nossa convicção em que sua discussão é vital para a firma de um Acordo Final.
O país pode ter a certeza de que nas FARC-EP já tomamos a decisão de buscar o fim do conflito. Em Cuba e em Colômbia nossa luta é pela paz.
Porém, nossa determinação, que tem sido consultada com com toda a base guerrilheira, não se debe confundir com um sinal de rendição ou de sometimento. Se o estabelecimento segue pensando que se trata disso, a paz continuará sendo uma quimera.
DELEGACIÓN DE PAZ DE LAS FARC - EP.

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Equipe ANNCOL - Brasil