"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 31 de julho de 2012

Rafael Correa põe fim à publicidade na mídia comercial do Equador

Agência ANDES- Segunda-feira, 30 de julho
Quito, julho, 30O governo não colocará mais publicidade nos meios mercantis COM FINS LUCRATIVOS do país. Esse foi o anúncio que o presidente Rafael Correa fez durante o Enlace Ciudadano 282.


O presidente recordou que faz seis semanas instou os meios de comunicação que fazem oposição ao governo a rejeitar voluntariamente  a publicidade que este divulga em seus espaços e páginas.


Nessa ocasião, pediu aos canais de televisão, rádios e jornais que constantemente questionam, sem fundamento, coisas como a suposta falta de liberdade de expressão no país, que enviassem uma comunicação manifestando sua vontade de não receber publicidade oficial.


Apesar do tempo transcorrido, essa comunicação não chegou e representantes dos meios como El Comercio ou Ecuadoradio (Radio Quito), afirmaram que não conheciam oficialmente o assunto.
Inclusive o presidente da Associação Equatoriana de Editores de Periódicos, Diego Cornejo, numa entrevista radiofônica, disse que os meios não enviarão nenhuma carta renunciando à publicidade oficial porque “vai contra a lógica do negócio" e acrescentou que em todo caso o governo pode fazer uso da opção de retirar seus anúncios.


O presidente se mostrou satisfeito de que Cornejo tenha reconhecido publicamente que os meios de comunicação são um negócio e sua lógica é fazer dinheiro e aceitou a opção do governo de retirar a publicidade oficial dos meios mercantilistas para ver se o fazem por convicção ou pelo negócio da comunicação.

"Para quê vamos seguir enchendo os bolsos de meia dúzia de famílias quando claramente nos dizem que antepõem seus negócios ao direito do público de estar bem informado. Então, por quê com o dinheiro do povo equatoriano vamos estar beneficiando esses negócios?”, insistiu Correa.



Diante disso, o governante indicou que efetivamente o Executivo fará uso dessa opção e que nesse contexto determina ao Secretário Nacional de Comunicação, Fernando Alvarado, que de agora em diante não se envie publicidade oficial aos meios mercantilistas pois não temos por quê, com o dinheiro dos equatorianos, beneficiar o negócio de seis famílias deste país.

Para as guerrilheiras que se encontram nas prisões do regime


 Julho de 2012
Fonte: www.abpnoticias.com

Por Alexandra “La Holandesa”

Recebam uma saudação muito especial e um abraço revolucionário desde as selvas da Colômbia, lembrando que aqui, pensamos em vocês, nos momentos culturais, quando analisamos as notícias, com freqüência aparece o tema de superlotação e maltrato nos cárceres da Colômbia e todos nos desconfiamos (e alguns com certeza) que a situação de vocês não é fácil. Enorme é a admiração que despertam de vocês em mim e em todos os guerrilheiros das FARC-EP.
            O inimigo de classe desenrola uma grande ofensiva contra-insurgente e reacionária em todo o país, e temos sentido. É cada vez mais evidente que a luta das FARC-EP é uma luta contra o império ianque, com sua tecnologia de ponta e seus dólares, porém, sei que hoje em dia já nenhum colombiano, nem sequer a classe governante pode negar que não foi apanhada desprevenida. É uma luta de David contra Golias e as FARC-EP podem sentir orgulho de ter feito resistência a ofensiva mais longa na história da Colômbia: o Plano Colômbia e o Plano Patriota.
            Vocês, desde seus focos de resistência, que são as prisões da Colômbia, não se deixaram intimidar nem amedrontar com o inimigo, mesmo que estejam nas mãos deles, e isso é de admirar. O ânimo nunca é constante, cada um tem seus altos e baixos, que são próprios do ser humano. O importante é não deixar que ninguém nos manipule a moral. Penso que a moral deve ser nutrida diariamente, algo assim como dar água a uma planta para que não morra. O inimigo trata de bombardear a moral por todos os lados, oferecendo benefícios, planos de reinserção, buscando sempre os lados mais fracos das guerrilheiras: a família, os filhos, etc. (me lembrei de uma propaganda de rádio que escutei recentemente insinuando que as guerrilheiras que aceitasse a reinserção, ficariam mais bonitas, pois receberiam cosméticos para o rosto, ou algo assim. Até aonde chega o absurdo, não?
Alimentemos nossa moral sempre com as lembranças que teremos de cada um de nossos inesquecíveis chefes, do camarada Manuel, o Mono, o camarada Alfonso... e muito mais. Mas também com os documentos que eles deixaram, que representam nossa linha político-militar que faz que todos, onde quer que estejamos, marchemos na mesma direção: até a tomada do poder para o povo. Aqui sentimos a ausência deles. Eram verdadeiramente homens singulares que só podem ser substituídos pelo esforço coletivo e redobrado de todos os guerrilheiros e guerrilheiras das FARC-EP.
            Recordo que minha querida Mariana Paez, em ocasiões, me dizia que a mulher guerrilheira é feita de uma madeira muito fina, especial. Nós devemos honrar a memória dela e de outras muitas guerrilheiras caídas em combate e ser umas lutadoras incansáveis, um exemplo para milhões de mulheres no mundo que são exploradas e humilhadas pelo sistema. Com altura e decisão vamos enfrentar qualquer situação, por mais difícil que seja.
            Camaradas: Adiante! Para trás nem para pegar impulso!

Um abraço fariano,
Aelxandra

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Mercosul na sua segunda geração

A entrada da Venezuela coloca o Mercosul em um novo estágio. O bloco fica ampliado nas dimensões econômicas, comerciais, culturais e demográficas. Territorialmente, incorpora mais de 900 mil quilômetros quadrados, que é praticamente as superfícies de França e Alemanha somadas. Consolida o domínio sobre as maiores reservas energéticas, minerais, naturais e de recursos hídricos do planeta. A partir de agora, o Mercosul passa a ser a região com a maior reserva mundial de petróleo. O artigo é de Jeferson Miola.

Jeferson Miola (*)

No último 13 de julho o Governo da Venezuela formalizou na Secretaria do Mercosul o Instrumento de Ratificação do Protocolo de Adesão da República Bolivariana da Venezuela ao Mercosul, assinado em 04 de julho de 2006. Dessa forma, o país cumpre as formalidades para seu ingresso pleno no bloco, passando da condição de Membro Associado à qualidade de Estado Parte.
O ingresso da Venezuela foi aprovado pelas Presidentas Cristina Kirchner, da Argentina, Dilma Rousseff, do Brasil e pelo Presidente José Mujica, do Uruguai, na Cúpula Presidencial de 29 de junho de 2012, na cidade argentina de Mendoza.

O Mercosul nasceu num contexto histórico e político muito diferente do atual. Menem governava a Argentina, Collor o Brasil, Andrés Rodriguez o Paraguai e Alberto Lacalle presidia o Uruguai. Era o auge da fanfarra neoliberal e das promessas da globalização financeira que supostamente levariam a humanidade a um nirvana que, na verdade, se converteu num tremendo pesadelo. Em 1991, a constituição do “Mercado Comum do Sul” visava coordenar políticas macroeconômicas e de liberalização comercial no marco de uma inserção desfavorável à globalização neoliberal.

O epicentro daquele Mercosul idealizado em 1991 eram as relações comerciais e a coordenação dos interesses das mega-empresas transnacionais e dos monopólios econômicos na maximização dos lucros auferidos regionalmente para a transferência às suas matrizes, radicadas sobretudo na Europa e nos Estados Unidos.

Em 2012 este projeto de integração completou 21 anos, marcado por limites e contradições; mas, também, exibindo avanços em diversos campos. Desde 2003, a partir da assunção de governos de esquerda e progressistas na região, notadamente sob a liderança inicial de Kirchner e Lula, a fisionomia do Mercosul vem sendo transformada.

O comércio intra-bloco passou de 4,5 para 50 bilhões de dólares anuais; foi criado um Parlamento próprio; 100 milhões de dólares ao ano são aplicados pelo FOCEM [Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul] a fundo perdido na execução de investimentos sociais e de infra-estrutura para diminuir as assimetrias e disparidades entre os países; está sendo implementado um Estatuto da Cidadania, e a “integração anti-Condor” converteu as políticas de direitos humanos adotadas no MERCOSUL em paradigma mundial.

A entrada da Venezuela significa o aprofundamento desta transformação, e coloca o Mercosul em um novo estágio. O bloco fica ampliado nas dimensões econômicas, comerciais, culturais e demográficas. Territorialmente, incorpora mais de 900 mil quilômetros quadrados, que é praticamente as superfícies de França e Alemanha somadas. Consolida a jurisdição e o domínio sobre as maiores reservas energéticas, minerais, naturais e de recursos hídricos do planeta. Seguramente deverá ter maior protagonismo no jogo geopolítico internacional.

A ampliação do Mercosul naturalmente será acompanhada de dificuldades, mas também de inúmeras conveniências. Contribui para maior coesão da região, para a estabilidade democrática, para a diminuição de conflitos e aumenta a segurança e a capacidade de defesa. A maior integração também conforma um ambiente comunitário mais favorável à adoção de estratégias comuns de desenvolvimento, aproveitando o mercado regional de massas incrementado em 29 milhões de pessoas e um comércio intraregional de produtos manufaturados com maior valor agregado. A partir de agora, o Mercosul passa a ser a região do globo com a maior reserva mundial de petróleo, adquirindo maior poder de influência na definição das políticas energéticas no mundo.

Desde a assinatura do Tratado de Assunção em 1991, dois acontecimentos marcaram uma inflexão geopolítica e estratégica do Mercosul numa perspectiva pós-neoliberal. O primeiro deles foi o sepultamento, em 2005, da Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA, que representava uma perigosa ameaça à soberania, ao desenvolvimento e à independência dos países do hemisfério. O segundo acontecimento marcante está se dando justo neste momento, com o ingresso pleno da Venezuela no Bloco, inaugurando o que se poderia considerar como a segunda geração do MERCOSUL e do processo de integração regional.

A América do Sul foi historicamente prejudicada pelas grandes potências - especialmente pelos Estados Unidos - que preferem nosso rico e promissor continente dividido – ou desunido – a um continente integrado e capaz de construir soberanamente seu destino. Esta realidade faz compreender as razões do conservadorismo que combate - por vezes de forma irascível - o ingresso da Venezuela no Mercosul e o fortalecimento dos laços regionais de amizade, de harmonia e de integração.

O crescimento do Mercosul poderá ser fator de estímulo para o ingresso de outros países nesta comunidade, que já examina com o Equador as condições para sua adesão. A unidade regional, que já é física devido à contiguidade territorial, poderá assumir características de uma integração mais avançada, abrangendo tanto aspectos comerciais e econômicos, como sociais, culturais e políticos. Isto propiciará um melhor posicionamento estratégico e geopolítico da região no mundo, o que será benéfico para cada país individualmente e para o conjunto das nações no enfrentamento dos problemas e na defesa de interesses que são comuns a elas.

O Mercosul altivo e motorizando o fortalecimento da América do Sul é a melhor contribuição que o continente pode dar à paz e à igualdade no mundo. Constitui uma resposta eficiente à prolongada crise do capitalismo mundial, protegendo as conquistas sociais e econômicas logradas na última década pelos atuais Governos da região dos avanços da sanha neoliberal que na Europa trata do desmonte do Estado de Bem-Estar social em nome da austeridade fiscal e da proteção dos interesses da especulação financeira.

(*) Exerce a função de Diretor da Secretaria do MERCOSUL em Montevidéu. Este texto expressa opiniões de caráter pessoal que não devem ser consideradas como sendo da Instituição.

domingo, 29 de julho de 2012

Carta em resposta a ACIN – por Timoleón Jiménez do Secretariado das FARC-EP


Companheiros:

ASSOCIAÇÃO DE COMUNIDADES INDÍGENAS CXHABWA LA KIWE [DO NORTE DO CAUCA]
Montanhas do estado do Cauca.

Estimados compatriotas:

Tivemos conhecimento da comunicação recentemente dirigida por vocês, a qual cuidei de ler com grande respeito e atenção. Com a mesma clareza e franqueza com que sua Associação expressa seu pensamento e propósitos, procedo a responder suas inquietudes em minha condição de Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP, organização que, como vocês conhecem, nasceu em 1964 à vida política colombiana como expressão da resistência popular à guerra de agressão contra o povo, e se aproxima de cumprir cinquenta anos de luta indeclinável pela paz.
Que vocês expressem com tanto fervor sua aspiração pela paz, conforma nossa convicção de que as grandes maiorias colombianas clamam nos quatro cantos do país por esse prezado bem. A guerra civil colombiana não tem sido uma decisão do povo deste país, mas sim uma imposição das classes abastadas dominantes. É natural que o povo que a sofre a rechace com afinco. Nós somos os primeiros. Por isso, a combatemos em todas as formas possíveis.
É um fato reconhecido por numerosos estudiosos da realidade colombiana que a guerra em nosso país responde a um modelo de acumulação de capital. O esbulho da propriedade rural e sua concentração em, cada vez mais, poucas mãos tem coincidido de maneira assombrosa com as sucessivas agressões contra as zonas agrárias por parte das forças oficiais e paraoficiais. Pretextos para elas nunca faltaram. As FARC não estamos integradas por soldados pagos nem recrutados, mas sim por gente simples do povo da Colômbia, que se levantou à resistência. Campesinos, indígenas, negros e mestiços que decidimos enfrentar com as armas a agressão.
É absolutamente certo que o esbulho contra os indígenas americanos leva mais de cinco séculos. Razão de mais para lutar por sua justa reivindicação. Compartilhamos completamente todas as aspirações das comunidades indígenas e, de fato, as estamos apoiando com o risco de nossa própria vida. Porém, a força dos fatos históricos impõe também que os indígenas não são as únicas comunidades violentadas e perseguidas em Colômbia.
Às vezes, parece depreender-se de suas sinceras alegações que as comunidades indígenas só olham por elas mesmas, desconhecendo a sorte dos demais despossuídos e perseguidos da Colômbia, que somam pelo menos trinta milhões de compatriotas. O grave conflito colombiano não pode ser solucionado somente para as comunidades indígenas, simplesmente porque vocês fazem parte da Colômbia, habitam em territórios cobiçados pelos mesmos latifundiários e inversionistas que despojam a colonos, mineiros, trabalhadores e demais setores explorados.
Com todo o respeito e a consideração que merecem, me permito expressar-lhes que não é isolando-se do resto de colombianos que clamam fervorosamente pela paz e justiça social que vão conquistar seus velhos anseios. O Exército colombiano não só ocupa redutos indígenas, senão que cumpre seu trabalho predador por todo o território nacional. Sua missão é prestar segurança a inversionistas, empresários e terra-tenentes nacionais ou do estrangeiro, ao preço de esmagar qualquer oposição ao modelo de saqueio e empobrecimento que defendem.
Nós não só acreditamos que o Exército deve sair das comunidades indígenas, mas sim de todo o campo colombiano. Sua missão natural é guarnecer as fronteiras em defesa da soberania nacional, porém as classes dominantes o converteram numa máquina a serviço de poderosos interesses estrangeiros, dirigida diretamente por generais norte-americanos.
O reconhecimento da autonomia e autoridade das comunidades indígenas não nos fazem cegos ante a soma de interesses que chegam a elas. Se os conquistadores espanhóis se valeram da Igreja, das bajulações pessoais e até da corrupção de muitos caciques como mecanismos avançados para sua presença espoliadora, sabemos que igualmente se sucede hoje com diversas organizações de rosto humanitário, benfeitor ou clientelista. Fenômenos assim minam a credibilidade de muitas lideranças na própria base indígena e desintegram sua organização.
Sentimos sincero respeito por sua oposição ao emprego da violência como mecanismo de luta. Numa humanidade civilizada, alheia aos interesses de classe, certamente que tal pretensão será generalizada. Por isso lutamos. Porém, não é menos certo que as realidades da Colômbia, governada secularmente por uma casta violenta e agressora, terminaram por produzir a resposta digna dos de baixo. E essa também é uma forma respeitável de luta, que não pode ser condenada por princípio sem apagar de uma canetada a história e roçar os limites da utopia.
Como se conclui de sua aspiração de poder desenvolver um projeto de vida, sem que mudem as condições econômicas, políticas, sociais e culturais que dominam o resto do país. O problema de vocês não pode ser examinado à simples luz da não presença do Exército ou da guerrilha nos redutos, porque, como diz Santos, o Exército jamais vai abandonar suas bases. Porque sua presença encarna um modelo de dominação nacional, continental, de aspirações mundiais. O que há que derrotar é esse modelo, e para isso há que começar pela mudança do regime.
Essa é nossa luta e a de milhões de colombianos que, estamos certos, os apoiam neste momento, os quais veriam fortalecidas suas aspirações se vocês também apoiassem suas reivindicações. O assunto na hora é de unir forças, não separá-las. As guerras são sanguinolentas, mais [ainda] as que afrontam aos povos com regimes terroristas a serviço de potências imperiais. Toda a maquinaria militar, econômica, ideológica e política é posta em jogo por estes últimos anos em prol de sua vitória. Ela inclui a propaganda negra, as mentiras e provocações mais grosseiras. Nós, mais que ninguém, somos vítimas de tudo isso junto.
Se a nossa gente chegam rapazes indígenas sadios, desesperados pela miséria em que cresceram, ansiosos por lutar para melhorar a sorte de seu povo, não os rechaçamos. Não podemos, assim é a luta. Da mesma forma sucede com campesinos, mineiros, operários, estudantes e toda a juventude colombiana que decide unir-se à luta. As normas do Direito Humanitário que vocês citam proíbem situar bases e quartéis de guerra no meio da população. Nós jamais o fazemos, vocês sabem que a tropa sim, e de maneira permanente e pérfida.
Vocês exigem que não empreguemos nossas armas com risco para a população civil. Nós somos população civil, a qual a violência estatal e paramilitar obrigou a alçar-se. Jamais poderíamos ter na mente a ideia de afetar gente inocente. Nisso compartilhamos por completo sua reclamação com plena disposição a evitar que ocorra. Porém, que fazer com as forças terroristas de ocupação? Consideramos válidos e legítimos os heroicos esforços que vocês cumprem hoje.
Se na Colômbia cessam as operações militares, os bombardeios e metralhamentos forçados, os deslocamentos forçados, o esbulho da terra, os crimes contra o povo e a impunidade, com toda segurança que não terá sentido a existência das guerrilhas. Se o Exército, a Polícia e os paramilitares saem do Cauca, se termina sua guerra contra indígenas, campesinos, mineiros e o povo em geral, nós não teremos problemas para sair também.
Em toda a Colômbia cresce um estrondoso clamor pela paz. Por uma saída política à confrontação. Essa tem sido, entre todas, a mais velha de nossas bandeiras. É o regime o que jamais se prestou a por fim à sua predileção pela violência. É a ele que há que obrigar a abrir um diálogo. Vocês, que hoje, mais do que nunca, sofrem o estilo característico de responder na Colômbia as aspirações de paz, são bem-vindos, sem dúvida, ao trabalho por ela. Com sua presença combativa estaremos muito mais perto dela.
Recebam todos o meu afetuoso abraço, que é o de todas as FARC-EP, o de todo o povo colombiano que os admira, aplaude e respalda.
Timoleón Jiménez,
Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 20 de Julho de 2012.
Tomado de: http://www.mbsuroccidentedecolombia.org/inicio/acin.html


sábado, 28 de julho de 2012

Uma “democracia digital” é a última invenção anticubana

Servicio Informativo "Alai-amlatina"

Tradução do espanhol: Joaquim Lisboa Neto
Hernán Uribe


ALAI AMLATINA, 24/07/2012. – Os Estados Unidos inventaram agora o que, sem base conceitual alguma, chamam de democracia digital, denominação que oculta outra manobra ilegal contra Cuba, segundo denunciaram recentemente os órgãos informativos havaneses Radio Rebelde e o portal Cuba Debate.

Em breve, a entidade usamericana Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional [sigla em inglês, USAID], subordinada ao Departamento de Estado, oferece entregar até três milhões de dólares a cubanos que se “convertam em dissidentes digitais” para que, segundo, Washington, colaborem para uma “mudança de regime” na ilha.

A própria Casa Branca reconhece que desde 1997 gastou mais de 200 milhões de dólares em tentativas de subversão, cifra que não inclui os desembolsos dos aparelhos estritamente de espionagem e, ademais, referem-se unicamente a um curto período da extensa política agressiva para Cuba.

Atendidas as mudanças político-sociais na América Latina, Washington tem buscado também o fomento e a criação de ações conspirativas em Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela, e a isso se referiu o presidente Rafael Correa quando denunciou a interferência direta de grupos externos nos países da ALBA e assinalou que “os governos progressistas não agachamos a cabeça ante nenhum império”.

O propósito de “comprar” ciberdissidentes é reconhecido numa comunicação do Departamento de Estado dirigida ao Congresso dos EEUU e que foi publicada em 24 de junho passado pelo diário El Nuevo Herald. [Estados Unidos]. É nesse escrito onde se fala, confusamente, da “democracia digital” e sugestivamente se fez público 48 horas depois do acordo das nações da ALBA de expulsar de seus territórios a USAID.

A mensagem em questão revela que a tentativa de intromissão digital em Cuba é financiada por três entidades do Departamento de Estado: o Escritório de América Latina e Caribe [da USAID], o Escritório da Democracia, dos Direitos Humanos e do Trabalho [DRL] e a de Assuntos do Hemisfério Ocidental [WHA].
Conscientes da ilegalidade de seus projetos em Cuba, não entregam detalhes acerca dos destinatários dos dólares, porém, sim, apontam que seis de nove programas ianques para Cuba se centram na tecnologia.

O tosco invento de uma “democracia digital” em 2012 marca um episódio mais na agressão permanente de Washington contra Cuba desde 1959, ano do triunfo da Revolução após a fuga de Batista desde Havana. Uma documentação norte-americana confirmatória dessas ações criminosas foi revelada no texto “La oposición fabricada” [A oposição fabricada], editada em 2001 pela Editora Política [Havana].

Nos fatos, a intromissão contra Cuba transcorre por mais de meio século, possui muitas facetas, viola descaradamente a Carta das Nações Unidas [ONU] e outras normas básicas das relações internacionais.
Se inicia com força em 1959 e se acentua em 1961, após o fracasso da invasão por Playa Girón e da decisão cubana de estabelecer-se como nação de regime socialista e culmina no período com o bloqueio econômico surgido em 1964 e vigente até hoje.

Em 1998 se desclassificou um documento da Agência Central de Inteligência [CIA] emitido em 1961 e no qual podem ser lidas confissões do general Lyman Kirpatrick, que era Inspetor Geral dessa entidade e refere-se a Cuba. (1) No início, aclara que a história do projeto cubano começa em 1959 e assinala seus aspectos básicos:

a)Formar uma organização de exilados cubanos para dirigir atividades opositoras e dar cobertura às operações da Agência;
b)Realizar uma ofensiva de propaganda em nome da oposição;
c)Criar dentro de Cuba um aparelho clandestino para a recopilação de inteligência;
d)Desenvolver fora de Cuba uma pequena força militar para ser introduzida dentro da ilha.

Advertia Kirpatrick que “a mão do governo norte-americano não apareceria”. Porém, suas “obras”, sim, emergiram com a instalação da Radio Swan, a emergência em Cuba de bandidos armados e a desastrosa aventura de Bahía Cochinos.

A ingerência e os desmandos estadunidenses se remontam, nos fatos, a datas anteriores à vitória da Revolução Cubana. Leiamos: no dia 23 [dezembro 1958], quando o regime de Batista estava à beira do colapso, os dirigentes norte-americanos buscavam fórmulas que frustrassem o iminente triunfo popular. O então diretor da CIA resumiu a discussão no Conselho de Segurança Nacional dos EEUU com uma frase imperativa: “Devemos impedir a vitória de Castro”. (2)

Ao comemorar-se, neste julho de 2012 sessenta anos do ataque ao Quartel Moncada, 56 anos do desembarque do Granma e 53 do triunfo da Revolução, se constata o fracasso daqueles confusos objetivos imperiais. A guerrilha primeiro e, em seguida, o Exército Rebelde não foram surpreendidos. Em 1958 e em Sierra Maestra o atual presidente cubano, Raúl Castro, teve a missão de organizar o Serviço de Inteligência Rebelde [SIR] e, em janeiro de 1959, por proposta de Fidel Castro, se fundou o Departamento de Investigações do Exército, enquanto que, em março, surge o Departamento de Informação de Inteligência das Forças Armadas Revolucionárias [DIIFAR]. Em junho de 1961 os órgãos antes mencionados se fundiram para estabelecer o Departamento de Segurança do Estado.

O desempenho dessa área era imprescindível ante a agressão econômica e o banditismo, pois os EEUU haviam terminado com a cota açucareira, se negou a refinar petróleo soviético e simultaneamente introduzia armas sob a falsa percepção de que triunfariam os fracassados invasores de Girón. 
Emergiram bandos de mercenários e os bárbaros atentados como o caso do mercante francês Le Coubre, afundado por uma explosão de terroristas dirigidos pela CIA.

A base naval ianque instalada no usurpado território cubano de Guantánamo serviu de sustentação a grupos terroristas que foram liquidados em 1963, ainda que os últimos bandidos tenham sido capturados entre 1964/65 no Escambray.
As manobras ilegais de diverso caráter e alimentadas por Washington estão, paralelamente, acompanhadas de uma abundante propaganda que caracteriza o socialismo cubano como carente de liberdade e democracia.
Acerca desse tópico, há palavras esclarecedores de Raúl Castro:

“Quando um Estado, como o nosso, representa os interesses dos trabalhadores, qualquer que seja sua forma e estrutura, resulta num tipo de Estado mais democrático que nenhum outro tipo que tenha existido na história, porque o Estado dos trabalhadores que constrói o socialismo é, sob qualquer forma, um Estado das maiorias, enquanto que todos os estados anteriores foram estados das minorias exploradoras. A propriedade dos meios de produção se converteu de propriedade privada de uns poucos em propriedade comum de todos”. (3)
A história não só absolveu a Fidel Castro, líder primeiro do 26 de Julho e, na sequência, ator principal nas batalhas que criaram o primeiro e único território socialista da América.

Em janeiro passado escreveu em sua Reflexão intitulada “A fruta que não caiu”:
“Cuba demonstrou que – a partir de sua condição de feitoria ianque, unida ao analfabetismo e à pobreza generalizada de seu povo, era possível enfrentar ao país que ameaçava com a absorção definitiva da nação cubana”. Em alusão ao episódio de Girón, acrescentou: “A derrota e a captura de quase a totalidade dos mercenários em menos de 72 horas e a destruição de seus aviões que operavam desde bases na Nicarágua e de seus meios de transporte naval, constituiu uma derrota humilhante para o império e seus aliados latino-americanos que subestimaram a capacidade de luta do povo cubano”.
Grandes verdades em escassas palavras.

- Hernán Uribe es Periodista/escritor chileno

Notas:
(1)Ver: Inspector General, Survey of the Cuban Operation, octubre 1961.
National Archive, The New Press, New York, 1998.
(2) Foreign Relations of The United States 1958-1960, Volume Cuba,
Washington, 1991.
(3) Harnecker, Marta et al.”Cuba y la Democracia”, México, Siglo
Veintiuno, 1975.

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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Comunicado do Comando Conjunto do Sul Ocidente das FARC-EP

Por  Comando Conjunto do Sul Ocidente das FARC- EP

 
A população do estado do Cauca historicamente tem sido vítima de injustiças e seu território cenário de confrontação. Nossos ancestrais, além do extermínio, sofreram e resistiram aos cruéis métodos de trabalho impostos pela coroa espanhola, e posterior à independência a população rural tem encarado a expropriação do território perpetrada por caciques locais e latifundiários. Na mal chamada época da violência os latifundiários, no afã por apoderar-se das melhores terras, assassinavam os nativos e os expulsavam para lugares remotos das cordilheiras.
Já na história recente de nosso país, o Estado excluiu os setores populares da participação política e os manteve à margem do usufruto de seus direitos econômicos, sociais e culturais, empregando a violência sistemática e o terror de Estado. Frente à resposta do povo ao organizar-se em guerrilhas, promoveu um sem número de estratégias de aniquilamento: Plan Laso, Plan Consolidación e o atual Espada de Honor. Não obstante, todos fracassaram porque, ao tempo que tem sido indiferente ante as petições populares, sua única finalidade tem sido a derrota militar das guerrilhas, desconhecendo que um povo com dignidade, quando se lhe negam as vias democráticas de participação, acorre à violência revolucionária como meio para fazer valer seus direitos.
O papel das Forças Armadas tem sido sustentar um regime ilegítimo, totalmente fragmentado e em grave situação de ingovernabilidade, a fim de assegurar polpudos lucros aos grandes empresários nativos e às transnacionais, à custa dos recursos naturais extraídos do solo pátrio. Os métodos empregados em sua guerra total contra o povo não variaram nos últimos tempos: recompensas e rede de delatores, detenções e julgamentos arbitrários de civis, desaparições, assassinatos seletivos e massacres cuja autoria é dirigida a supostos paramilitares.
Para limpar a imagem desacreditada pelos desmandos próprios de um exército de ocupação, os militares tentam ganhar o apoio da população executando insignificantes obras e projetos de investimento social que competem a outros ministérios e fazem parte da obrigação que tem o Estado de garantir bem-estar a seus cidadãos. Isto, além de constituir um reconhecimento de que em nosso país a guerra tem causas sociais, também se converte em uma forma sutil de envolver civis na confrontação.
Entendemos o sofrimento da população caucana e, em geral, do povo colombiano e lamentamos as vítimas produto do conflito armado que estamos sofrendo desde a agressão aos campesinos de Marquetalia em 1964. Hoje, mais do que nunca, nos unimos ao povo em seu clamor de paz, de uma paz democrática, na qual desapareçam as mortes, a desolação e o sofrimento que produz esta guerra entre irmãos. Ansiamos por uma paz que garanta de que tampouco morrerão mais pobres nas portas dos hospitais por desatenção médica; uma paz que assegure teto digno para todos os nossos compatriotas; uma paz que gere as condições para que nunca mais pereçam na Colômbia crianças por desnutrição, para que se tenha emprego decente e se erradique a fome. Uma paz que engrandeça a pátria, onde se trate com amor a Mãe Terra e o fruto de seu ventre seja para alimentar a seus filhos, em vez de entregue às multinacionais, como faz o regime apátrida de Santos. É a paz com justiça social, a qual estamos dispostos a conquistar junto ao povo.
Condenamos o governo oligarca encabeçado por Juan Manuel Santos e a degradada Força Pública que o sustenta por seu vil proceder ao utilizar os habitantes dos centros urbanos como escudos humanos para sua proteção, em clara violação ao Protocolo Adicional aos Convênios de Genebra, Artigo 58, que trata sobre as precauções contra os efeitos dos ataques nos conflitos armados.
Neste contexto, não deixa de ser preocupante para a população do norte do Cauca o fato de que, como se dá em Toribio, alguns habitantes se manifestaram a favor da presença da força pública nos perímetros urbanos. Presença que, ademais de favorecer a entrada das transnacionais nos territórios indígenas e campesinos, constitui o alvo das ações guerrilheiras, pelo que também a eles lhes assiste responsabilidade sobre as consequências que no futuro possa ocasionar o desenvolvimento da confrontação.
Aos meios de comunicação, instamos a que deem uma versão objetiva da realidade do conflito nesta região sem alinhar-se cegamente com as versões oficiais.
E ao povo colombiano, em seu conjunto, o convocamos a trabalhar unido por forjar uma alternativa popular de governo que encarne a vontade de encontrar saídas políticas a esta guerra que tem suas raízes na injustiça social, na entrega do patrimônio e da soberania nacional aos impérios, no terrorismo de Estado e na concentração do poder em poucas mãos.
 
POR SOLUÇÃO POLÍTICA AO CONFLITO SOCIAL E ARMADO.
FARC  -Exército do Povo
COMANDO CONJUNTO DE OCIDENTE

Montanhas do Cauca, 17 de julho de 2012

Intervenção do Partido Comunista Brasileiro no Congresso do Partido Comunista Colombiano

O camarada Edmilson Costa, Secretário de Relações Internacionais do PCB, esteve presente neste fim de semana no Congresso do Partido Comunista Colombiano, quando, em nome do PCB, fez a seguinte intervenção política:


Queridos camaradas do
Partido Comunista Colombiano

Recebam do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB) uma saudação fraterna, combativa, internacionalista e revolucionária por ocasião de seu Congresso. Desde o Brasil, nós esperamos que as discussões que serão realizadas neste Congresso resultem numa elaboração teórica que reforce a linha tática e estratégica da intervenção política dos comunistas colombianos, de forma a fortalecer a luta dos trabalhadores urbanos e camponeses, dos indígenas, da juventude e das mulheres na Colômbia, que é condição fundamental para a luta de todos os trabalhadores da América Latina.
Somos solidários a todas as expressões, formas e espaços de luta contra o estado terrorista colombiano: o Partido Comunista Colombiano, o Polo Democrático Alternativo, as organizações políticas insurgentes, Colombianas e Colombianos pela Paz, a Marcha Patriótica, o Congresso dos Povos e todos os movimentos políticos e sociais populares. Todas estas lutas convergem para a busca de uma solução política para o conflito colombiano, com mudanças políticas, sociais e econômicas a favor do povo. Aqui no Brasil, privilegiamos a solidariedade com a luta do povo colombiano, através da Agenda Colômbia Brasil, para cuja ampliação contribuímos.
Queridos camaradas!

Este Congresso se realiza num momento complexo e difícil para todos os povos mundo, pois exatamente neste momento o sistema capitalista vive a sua maior crise desde 1929, uma crise profunda e devastadora que vai se arrastar ainda por muitos anos. Como todos sabem, o grande capital vem procurando, de todas as formas, jogar todo o peso da crise na conta dos trabalhadores. Como também todos sabem que os trabalhadores não têm nenhuma responsabilidade por esta crise, uma vez que a própria burguesia e seu sistema desumano são os responsáveis por todos os problemas sociais e econômicos da atualidade. Estamos assistindo a uma verdadeira ofensiva mundial do capital contra os trabalhadores em todo mundo,  mediante a imposição de políticas predatórias que visam reduzir os gastos sociais, os salários dos trabalhadores, as pensões dos aposentados, bem como os direitos e garantias sociais conquistados a duras penas há mais de meio século.

Nesta conjuntura, os trabalhadores estão aprendendo a ver claramente o papel do Estado capitalista a favor das classes dominantes, não só colocando vários trilhões de dólares para salvar o sistema financeiro especulativo, mas também lançando todo o aparato repressivo do Estado contra os trabalhadores e suas entidades, bem como utilizando os meios de comunicação, que têm se comportado como um quarto poder a serviço do grande capital, para manipular as informações e satanizar os dirigentes políticos que não se dobram ao imperialismo, tudo isso com o objetivo de manipular a opinião pública para as intervenções imperialistas.

Queridos camaradas!

A crise também tem demonstrado  que o imperialismo está cada vez mais agressivo. Quanto mais a crise se agrava, mais aumenta a sua agressividade, pois é da sua origem buscar sair da crise mediante as guerras de rapina e fortalecimento do complexo industrial militar. Somos todos testemunhas das invasões de países soberanos, como o Iraque, o Afeganistão e, mais recentemente a Líbia, onde assassinaram o principal dirigente do País, coronel Mohamar Kadafi. Nesta mesma linha, estão armando mercenários para invadir várias regiões da Síria, atacar as populações, explodir bombas, enquanto os meios de comunicação cumprem o papel de manipular as imagens e colocar a culpa no governo sírio. O objetivo do imperialismo é não só ocupar a Síria, mas também o Irã, e com isso, dominar as imensas reservas de petróleo do Oriente Médio.

Aqui também na América Latina o imperialismo vem realizando uma intensa ofensiva para reverter as derrotas que sofreu com a emergência dos governos progressistas da Venezuela, do Equador e da Bolívia, além do fortalecimento dos movimentos populares na região. A primeira tentativa de quebrar o movimento popular foi o golpe de 2002 na Venezuela, que não obteve êxito em função da resistência do movimento popular. Posteriormente, as forças imperialistas, apoiadas pelas oligarquias locais, realizaram o golpe em Honduras, que retirou do poder o presidente Zelaya e, mais recentemente, conseguiram, via um golpe institucional, derrubar o presidente Lugo no Paraguai. Além disso, tentaram sem sucesso derrubar o presidente do Equador e da Bolívia, mediante revoltas orquestradas pela CIA, que também diariamente conspira contra o governo Chávez. Há algum tempo o imperialismo também reativou a Sexta Frota da Marinha norte-americana, o que significa uma ameaça direta a todos os povos da região.  São todos movimentos de uma só política: transformar a América latina numa região sob o controle dos Estados Unidos e de seus monopólios.

Queridos camaradas!

Um capítulo especial dessa ofensiva imperialista se dá em relação à Colômbia, país onde as lutas populares contra o imperialismo têm longa tradição e a insurgência armada resiste há mais de cinco décadas. O governo norte-americano, em aliança com o governo narcoterrorista de Uribe e agora de Santos, tem procurado transformar a Colômbia numa grande base militar dos Estados Unidos na região, o que vem transformando este País numa espécie de Israel da América Latina. Mediante a construção de bases militares e da instalação de sofisticados sistemas de vigilância e inteligência militar, os norte-americanos vêm monitorando diariamente todas as ações dos países da região.

Além disso, a oligarquia local e seus governos têm utilizado todos os métodos bárbaros para conter o avanço da luta popular, como a organização e financiamento de paramilitares para assassinar líderes sindicais e camponeses, dirigentes da juventude e dos movimentos indígenas e democráticos, num verdadeiro terrorismo de Estado. Da mesma forma como vem acontecendo há mais de cinco décadas, essas brutalidades não serão capazes de dobrar o movimento popular nem a resistência do povo colombiano. Mais dia menos dia os trabalhadores ajustarão contas com essa oligarquia apodrecida.

Queridos camaradas!

Apesar de a conjuntura ser complexa e difícil, há um avanço da luta popular em todo o mundo. Por toda a Europa os trabalhadores realizam greves, manifestações e mobilizações contra os ajustes predatórios que o capital vem buscando impor naquela região. Também há greves gerais na Índia e em vários países asiáticos. Até mesmo nos Estados Unidos, a juventude e os trabalhadores já começam a despertar para a luta, como o movimento Occupy Wall Street e os trabalhadores Wiscossin. Em toda a América Latina o movimento popular realiza memoráveis jornadas de lutas contra o imperialismo.

Nós entendemos, camaradas, que a luta de classe está mudando de patamar no mundo. Quanto mais a crise se agravar, mais se abrirão as janelas de oportunidades, através das quais os trabalhadores poderão colocar na ordem do dia seu projeto de sociedade, em busca de uma nova sociabilidade e da emancipação humana. Hoje, há uma contradição profunda entre o sistema capitalista e a humanidade. O capitalismo só pode se desenvolver se ameaçar a existência da espécie humana. Nesse sentido, se a espécie humana quiser sobreviver terá que superar o capitalismo!

Viva o internacionalismo proletário!

Viva a luta dos comunistas da América Latina e de todo o mundo!

Todo êxito ao Congresso do Partido Comunista Colombiano!

terça-feira, 24 de julho de 2012

Declaracao Pública das FARC-EP


Recentes acontecimentos de profunda repercussão nacional põem em evidência que a imagem dessa Colômbia paradisíaca, que os dois últimos governos se encarregaram de difundir ante próprios e estranhos, não passa de uma criação midiática e virtual, inventada com o objetivo de atrair o capital inversionista transnacional em crise em outras latitudes, e animada pelo deliberado propósito de enriquecer a uma elite local privilegiada, em grave prejuízo dos interesses das grandes maiorias colombianas e de nossa própria existência como nação soberana.

O estado da economia

Sérios analistas independentes e oficiais registram com alarme a vaidade incrustada na afirmação de que a economia nacional desfrutava de suficientes blindagens ante a crise mundial. O suposto crescimento econômico transbordante e incontrolável, que uribistas e santistas difundiram presunçosa e repetidamente, começa a dar mostras palpáveis de desaceleração e retrocesso, alertando, ademais, sobre o perigo iminente que significa ter apostado num projeto de desenvolvimento fundado no setor primário exportador mineiro e agroindustrial, quando o que se avista é a queda na demanda e dos preços internacionais.

Aprofundando-se essa tendência, a economia colombiana, já de por si golpeada por mais de vinte anos de abertura econômica e direcionada à desindustrialização por causa da agudização das políticas neoliberais, arrisca ser enrolada totalmente com a vigência plena dos tratados de livre comércio com os Estados Unidos, a União Europeia, Coréia do Sul, e demais pactos ansiosamente buscados e subscritos. O benefício dos setores ligados ao comércio de produtos terminados e serviços do primeiro mundo, não vai compensar a ruína do empresariado nacional, a agricultura e a pecuária, e menos ainda vai melhorar a sorte dos milhões de desempregados e informais que pulularão por todo o país.

O regime impositivo de escandalosos privilégios e as extremas facilidades competitivas que os últimos governos estabeleceram a favor do grande capital inversionista, unido à crescente debilidade da produção nacional, aponta para o esvaziamento das arcas do fisco em aumento da perniciosa dependência do crédito externo. Está visto com os exemplos das nações europeias afundadas até o pescoço na crise financeira, que a banca internacional carece por completo de decência. Aqui também serão os trabalhadores e o povo despojados da prestação de pensões, subsídios, bem-estar social, serviços como saúde e educação, os que terão que pôr a grana para pagar a dívida. Suficientes evidências impedem ignorar essa dolorosa realidade.

A Colômbia real é um país governado pelas imposições das entidades multilaterais de crédito, com um modelo de economia totalmente a serviço dos capitais transnacionais, um governo obcecado pelo rápido crescimento dos grupos econômicos que representa, umas forças militares subordinadas ao mando do Exército dos Estados Unidos e uma população majoritariamente afundada na desesperança. Não só representamos o país com a maior desigualdade do continente, como também com os índices de pobreza e miséria, de desemprego e informalidade, de corrupção política e violência nos envergonham ante o mundo.

A conjuntura política

Por outra parte, os vergonhosos episódios postos a descoberto com a frustrada reforma à justiça, a judiciliazação na América do Norte do general Santoyo, a detenção com fins de extradição do narcotraficante Camilo Torres, as eleições do Valle, as acusações e captura contra Sigifredo López, a possessão do general Naranjo como assessor no México, a publicação do vídeo de Romeo Langlois, a rebelião indígena e campesina do Cauca contra a ocupação militar e até a derrubada do avião Supertucano ao tempo que Santos celebrava seu conselho de segurança em Toribío, somam alguns dos fatos de maior impacto político com os quais a Colômbia inteira aterrissa do mundo de ilusões forjado longamente pela propaganda oficial.  

Nada de exemplar e respeitável ficou em pé das chamadas instituições democráticas colombianas após o episódio da reforma à justiça. Congresso da República, o Poder Executivo e  o Poder Judiciário mostraram sua mesquinharia, hipocrisia e corruptibilidade. Como se não houvera sido suficiente com o mercado de interesses pessoais que torceu pela impunidade total à narcoparapolítica, o saqueio das arcas do Estado e a arbitrariedade da burocracia uribista, o Presidente Santos, derrubado em suas próprias porcarias, optou, finalmente, por violentar uma vez mais a Constituição do ano 1991 em seu afã de sustentar um duvidoso prestígio com vistas à reeleição.

A Colômbia real se debate em meio ao drama de seu derrocamento econômico, institucional e político, atada de pés e mãos por um impressionante aparato militar, paramilitar e policial ao qual se soma o mais descarado divertimento midiático que pretende ocultar a gravidade do que ocorre. Nossa nação nem sequer conta com uma Constituição Política, acabam de desfolhá-la e pisoteá-la nas narinas de todos. Os grandes centros do poder mundial nos condenam a ser um país atrasado e dependente, fornecedor barato de recursos naturais, enquanto a oligarquia encarregada de cumprir fielmente tal propósito se enreda a dentadas pela melhor fatia.

A briga de Uribe e Santos

Não se pode entender de outro modo a disputa entre o ex-presidente Uribe e o atual governo. Nenhuma diferença ideológica os separa. Tampouco, como fica visto, nenhuma prática política. O recurso excessivo à violência cega que caracteriza abertamente ao primeiro e que o segundo modera tão só no discurso tem sua origem em seus tradicionais nexos com a máfia narco paramilitar da qual o Presidente Santos tentou, em vão, deslindar-se. Ali nasceu a fúria uribista contra a lei de vítimas e restituição. Assim como sua frenética oposição a qualquer tipo de conversação com as FARC. Em sua concepção não cabe uma ideia política diferente das suas.

A contratação pública e uma maior cota de poder alimentam o fanatismo de Uribe, do qual Santos foi seu melhor mentor no passado. A guerra declarada nem sequer chega a uma renúncia formal de sua participação ministerial ou a outras altas posições do Estado. Uribe, que em seus mandatos teceu a rede de privilégios ao capital transnacional, teme que Santos a rasgue um pouco após seu anúncio de fazer berrar os ricos com sua reforma tributária. Por isso, sua ruptura resulta propícia a estas alturas. Tudo seguirá como está. Ademais, Uribe necessita blindar-se com um governo incondicional contra qualquer atuação judicial futura. Santos já não lhe inspira confiança.

Aqui salta o outro aspecto da farsa publicitária sobre os êxitos da segurança democrática. A suposta derrota ao narcotráfico obtida com o Plano Colômbia. Os últimos governos venderam essa ideia ante o mundo e agora vem a descobrir-se a escandalosa verdade. Só se conseguiu uma sucessiva filmagem do negócio entre uns e outros capos, ao tempo em que a Polícia Nacional aparece envolvida no mais alto nível hierárquico em vínculos com a rede narco paramilitar. Santoyo, o inseparável chefe de segurança de Álvaro Uribe Vélez, e o ex-chefe antinarcóticos e da Dijín general Cesar Pinzón, são apenas os primeiros nomes da longa lista.

A que vai Naranjo ao México? Acaso a servir desde mais próximo aos cartéis mexicanos? A DEA pretende cumprir nesse país uma experiência semelhante à fracassada na Colômbia. E, pelo visto, leva os homens ideais para isso. Ao fim e ao cabo aos USA jamais lhes interessou pôr fim ao negócio, mas sim usá-lo como pretexto para suas intervenções políticas. A recente tentativa por investir de impunidade ao parlamento e altos funcionários públicos que todo o Estabelecimento apoiou na reforma judiciária desnuda o grau de decomposição da classe no poder, que agora acaba de entregar o Valle à Unidade Nacional, contra o repúdio ignorado de sua população.

Álvaro Uribe Vélez teme que seus vínculos mafiosos não possam seguir sendo dissimulados como no passado. Passos de animal grande o rondam, pelo que anseia com desespero voltar a repetir a bruxaria mediante a qual conseguiu importantes apoios em 2002 para acessar a Presidência. Por isso, sua obsessão fundamentalista contra as FARC e tudo o que em sua ótica possam representá-las. A ressurreição da velha farsa da farcpolítica que o Administrador de sua confiança empreendeu contra Sigifredo López, assim como seu renovado ódio contra a Venezuela bolivariana e revolucionária, fazem parte disso. Sua cegueira lhe impede compreender que o país mudou, e que cada dia mais consciente do engano de que foi vítima, só espera sua dura queda.

As realidades do conflito armado

A força reveladora das imagens captadas pela câmara de Romeo Langlois antes de ser apreendido pelas FARC em abril passado desnudam a outra grande mentira da segurança democrática. A da derrota das FARC-EP. A insurgência permanece presente, combativa e invencível ali onde a militarização por parte do Estado é completa, enquanto as poderosas forças militares e policiais configuradas e financiadas pelos gringos luzem nervosas, arrogantes, sim, contra a população civil de campesinos inertes, mulheres e crianças. Por sua vez, os grandes laboratórios que informam resultam ser, na verdade, pequenos tugúrios de miséria.

Se não houvesse ocorrido o combate que filmou o jornalista francês, o Exército regular haveria difundido mundialmente sua propaganda difamatória e caluniosa. A que serve aos interesses norte-americanos de intervenção militar na América do Sul, a que se presta para encobrir os negociados que se celebram ao redor do mercado da guerra, a que permite que generais da República encham suas arcas a serviço dos grandes capos do narcotráfico, enquanto disparatam em público contra as máfias e acusam as FARC de ser o verdadeiro cartel. A guerra que permite aos apoios uribistas concentrar mais terras e esbulhar mais campesinos.

Da mesma maneira, o acionar militar das FARC na Guajira, Norte de Santander, Meta, Antioquia, Guaviare, Nariño, Putumayo, Huila, Tolima e, em geral, em todo o território nacional, atrai especialmente a atenção sobre o estado [departamento] do Cauca, pois naquele cenário confluem de modo particular as incidências da luta armada guerrilheira com as do movimento campesino, indígena, negro e popular contra o modelo neoliberal de Santos e suas locomotivas. Ninguém que se preze de ser medianamente objetivo pode desconhecer na Colômbia de hoje a simbiose fundamental que existe entre os grandes projetos mineiros, energéticos ou agroindustriais e a ofensiva militar que se cumpre contra os territórios ocupados por colonos, pequenos mineiros, comunidades negras e indígenas.

O que a gente do Cauca e grande parte da Colômbia está exigindo é que cesse a guerra contra ela. A guerra das operações militares e paramilitares, dos bombardeios e metralhamentos, das invasões e capturas massivas, a guerra do despojo e do abandono. O que Santos e toda a oligarquia rendida de joelhos ante o grande capital sustentam em seus discursos e meios de comunicação é que são as FARC, a quem não vacilam em qualificar com os mais grosseiros adjetivos, os quais chegaram ao Cauca a perturbar a vida de seus habitantes. Por isso proclamam que todo mundo deve abraçar a arremetida contra nós, ao tempo em que rotulam como furiosos aos que se lhes oponham.

A verdade é muito diferente, são eles os agressores, são eles os ladrões e violentos. Assim tem sido desde quando em 1965 um aristocrata Presidente nascido em Popayán e falecido recentemente em Rochester, Nova Iorque, desatou a nefasta Operação Riochiquito contra os indígenas e campesinos caucanos. Que não venham agora com contos chineses. A história da Colômbia não mente, ainda que se tente borrá-la e até se exclua seu ensinamento das aulas de nível médio.

O que Santos busca no Cauca ou na Sierra Nevada de Santa Marta, como fiel herdeiro dos conquistadores e encomendeiros espanhóis, é comprar com espelhinhos e pequenas migalhas que louvem a recém fomentada ambição de alguns caciques indígenas, a passividade e a submissão de suas gentes ingênuas. E a ler o bando em que anuncia que aqueles que se oponham a sua religião de prosperidade democrática vão conhecer o peso de sua força militar ou judicial. Por isso obtém zombarias e repúdio. Por isso as comunidades se negam a escutá-lo. Por isso lhes grita irritado desde longe que o Exército e a Polícia não abandonarão jamais suas posições.

O estimulante despertar da luta de massas

Acima das políticas e politiqueiras, acima das campanhas midiáticas de embrutecimento, acima da ofensiva terrorista do Estado com seus aviões bombardeiros que já começam a ser derrubados, são cada dia mais os colombianos que despertam da traição à qual estiveram tanto tempo submetidos, são cada vez maiores as fileiras da gente decente indignada com o que a casta governante está fazendo com a Colômbia. Por todas as esquinas da pátria se levantam as vozes e os braços dos afetados com as políticas do regime, das mulheres e homens que compreendem a necessidade da luta, das cidadãs e cidadãos que sonham viver num país democrático, em paz, justo, soberano e livre de tanta imundície.

O decoro generalizado e furioso que obrigou Santos a recuar com sua reforma judicial, do mesmo modo que a dignidade contundente e massiva do estudantado que o obrigou a descartar sua reforma da educação superior, requerem multiplicar-se de modo organizado e consciente na atual e decisiva conjuntura. Para a reconstrução da Colômbia não resultam suficientes o inconformismo, o desprezo de sua classe política, a repugnância para seu projeto de país. É necessário pronunciar-se energicamente contra isso, com a força da expressão multitudinária. Resulta urgente, por tanto, recorrer à unificação de forças com todos os setores indignados, conformar uma irreprimível torrente popular contra a indecência oficial.

Com o movimento operário, campesino, indígena, de negritudes, de mulheres, de desempregados, de pequenos e médios mineiros, de estudantes, de profissionais empobrecidos, pequenos e médios empresários, industriais e comerciantes, a academia, a intelectualidade, o professorado, os informais e trabalhadores independentes, os partidos e organizações de esquerda ou de clara definição democrática. Com os liberais e conservadores aterrorizados com tanta podridão, até com os policiais e militares jubilados e esquecidos pelo regime que os usou, com os crentes, os cristãos, os ateus, os jovens, os anciãos e todas as minorias discriminadas. Conscientização, organização, protesto, resistência e mobilização ativas. Eis aí a tarefa prioritária. Somar e unificar a rebeldia do povo colombiano pelas mudanças.

A bandeira da paz envolve a luta pelo poder

Sendo claros de que a guerra civil colombiana enfrenta a arrogância brutal do capital e seu modelo de dominação contra as massas populares alçadas em armas contra sua violência, e conscientes de que com ela como pretexto o poder tem imposto o despojo como tradicional meio de acumulação da propriedade, e a repressão como sua forma natural de governo, a primeira missão desse poderoso movimento popular unificado tem que ser a de lutar por colocar fim ao conflito armado, por pressionar o executivo nacional, a sua classe política corrupta e a suas forças militares, a aceitar o caminho de uma solução dialogada, pacífica e democrática.

Sem imposições que a façam impossível. E com todo o país tomando parte nela. Basta já do continho da chave oculta no bolso. A paz não pertence à oligarquia militarista e violenta, pertence ao povo, que a reclama para poder viver melhor. Uma solução política necessariamente entranha profundas reformas no campo institucional, em matéria de distribuição da terra e das riquezas, em questão do projeto econômico de país, do papel a desempenhar pelas forças armadas, da atenção social dos colombianos. Por isso as vozes destes devem ser ouvidas, respeitadas e atendidas em qualquer processo para a reconciliação. E se isto não for possível com o atual governo, haverá que levar ao poder a outro que, sim, tenha essa disposição.

O qual implica o desafio para o palpitante movimento pela dignificação da pátria, de pensar com seriedade na possibilidade de trabalhar numa campanha política de claro caráter renovador. É de importância cardeal plantar uma alternativa limpa, nova, democrática, ampla, capaz de arrebatar das mãos o domínio do Estado a corrupta classe dirigente atual. Um movimento de colombianos honestos pelo poder, que abra a esperança no obscuro panorama que depara o país continuar sob a égide de uma ou outra das seguras alternativas que projetará a oligarquia em 2014. Massas organizadas, unidas, com propósitos claros, são capazes de impor finalmente seus propósitos. É fundamental crer nisso.

Um novo governo democrático, amplo e pluralista poderá, por fim, soltar as amarras que nos atam, aos colombianos, à horrível noite da violência. Possibilitar acordos de paz, construir umas forças armadas que defendam o interesse de todos os nacionais e não os de uma casta antipatriótica, materializar uma existência democrática na qual a voz das maiorias seja quem determine o caminho a empreender, encaminhar o país por um desenvolvimento econômico baseado na produção e no trabalho de todos os colombianos, zelar pela saúde, educação, o emprego e o bem-estar geral, sem favoritismos, entregar a terra aos que queiram e possam trabalhá-la, e assisti-los em sua atividade e crescimento, usar as riquezas naturais para o bem de todos, resgatar nossas culturas e solucionar em justiça os mais graves problemas sociais.

Se fala agora de outras possíveis vias, como a convocatória a um referendo que revogue os atuais poderes, ou a promoção de uma Assembleia Nacional Constituinte que tenha a potestade de recompor por completo o país. Todos os recursos da luta popular contam para unificar contra o regime. Sem perder de vista que o caminho de submeter em algum momento o desejo pelas mudanças à decisão dos mesmos poderes estabelecidos pode terminar numa simples maquiagem que relegitime a ordem de coisas vigente. A Constituinte de 1991 dissolveu o parlamento e, apesar disso, a mesma classe política contaminada voltou a controlar tudo. O poder constituinte não pode deixar-se enredar em considerações legalistas. Ele cria, ele faz, ele pode.

A vigência de nossa luta

Está claro que as FARC-EP não vamos trair o legado de nossos fundadores e mártires. Nem a voltar as costas à gente humilde de nosso país que conhece diariamente o peso da arrogância, o despojo e o terror que parte do Estado. Assim como numa manhã de maio 48 anos atrás, os heroicos campesinos de Marquetalia decidiram empunhar as armas e sonhar com a tomada do poder para o povo, os combatentes de hoje ratificamos de novo que jamais entregaremos nossos sonhos após uma humilhante rendição e desarme. Só uma transformação profunda das condições vigentes em nossa pátria pode possibilitar e garantir a paz, que é a paz na qual temos acreditado desde nosso nascimento.

Queríamos e sonhávamos com uma mudança por vias pacíficas e democráticas, porém nos foram fechadas violentamente uma e outra vez desde o governo de Guillermo León Valencia. Hoje podemos assegurar que um diálogo distante e à revelia do país, como o pretende Santos, só terminará por intensificar mais a confrontação. Nossos sentidos permanecem atentos ao avanço da rebeldia e da organização dos de baixo. Com eles, sim, estaremos em todos os cenários aos quais os conduza seu acionar pela paz e pelas mudanças. Sejam quais sejam os rumos que o destino depare ao esforço por democratizar a Colômbia, tão imensamente renovado e latente hoje, as FARC-EP estaremos sempre ao lado de nosso povo. E venceremos com ele, juramos.


SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 22 de julho de 2012
Tomado de http://www.mbsuroccidentedecolombia.org

Diretor de ANNCOL: “Minha saída da Colômbia obedeceu a essa perseguição asfixiante das forças militares y sicários no norte do Cauca”

Por  ANNCOL

 Joaquín Pérez, ex-vereador da União Patriótica em dois períodos no município de Corinto, do departamento [estado] do Cauca. São centenas de vereadores, prefeitos e congressistas da UP que foram assassinados pelo Terrorismo de Estado que não permitiu a então nova alternativa política ao bipartidarismo que ganhava terreno em todo o país.

“Minha saída da Colômbia obedeceu a essa perseguição asfixiante das forças militares e sicários no norte do Cauca”.

Entrevista com Joaquín Pérez Becerra, diretor de ANNCOL, encarcerado no cárcere Picota.

A seguinte entrevista é realizada por ATHEMAY STERLING ACOSTA, diretor da Rádio e Televisão Palenque, RTVPalenque, do estado do Valle.

1 – RTVPalenque: Companheiro Joaquín, por que razões você teve que se deslocar da Colômbia para a Suécia há 21 anos?

·         Foi no ano de 1993, ou seja, há 19 longos anos. Em 1995, num ato na Plaza de Bolívar, convidado pela UP expressei meu rechaço ao extermínio desta organização política nascida dos acordos de La Uribe do ano 1984 e, também, uma saudação dos exilados radicados na Suécia – recordo que nos degraus desse lugar estavam situadas, simbolicamente, centenas de cruzes. Desde esse ano – 1995 – não tenho pisado território colombiano. Minha saída da Colômbia obedeceu a essa perseguição asfixiante das forças militares e sicários no norte do Cauca. Como vereador da União Patriótica nos períodos de 88-90, 90-92 e deputado neste último período também, só esse motivo significava carregar uma lápide nas costas, a intolerância política do regime oligárquico desse período impediu ter-nos poupado milhares de mortos, milhares de desaparecidos, milhares de deslocados e desterrados ao exterior. Desafortunadamente, nada mudou, Santos continua na mesma direção “chumbo e mais chumbo”.

2 – RTVPalenque: Que era você na Colômbia antes de converter-se em Refugiado e Nacional nesse País Escandinavo?

·         Egresso como graduado da Escola Naval de Cadetes/Cartagena e depois, em fins da década dos 80’ estudante de engenharia industrial com título da CUAO de Cali. Membro do Partido Comunista Colombiano em inícios de 1983 e, evidentemente, da UP quando o partido faz parte dessa coalizão histórica, chegando a ser vereador e deputado no Cauca por eleição popular.

3 – RTVPalenque: Que fazia e como vivia na Suécia?

·         No início, a pessoa deve estudar o idioma para poder se vincular à sociedade sueca, enquanto estuda recebe um salário do estado para sobreviver. Ou seja, passa pela escola municipal em estudo do sueco e outras matérias, entre elas, manejo de computadores. Logo após, Cooperativismo e uma tecnológica em IT na Runö Folkhögskola, instituição da social-democracia sueca. Gradualmente, comecei a trabalhar em geriatria – manejo de anciãos e incapacitados. Já em 2005, me dediquei plenamente a esta atividade laboral, e em meus momentos livres a seguir detidamente o conflito colombiano e a escrever artigos, notas e demais textos na agência ANNCOL.

4 – RTVP: Como cidadão Sueco e, ademais, Comunitário, foi alguma vez requerido pela justiça dos Países Comunitários?

·         Para nada, em absoluto. Sempre me movi na legalidade constitucional da Suécia. Tenho vigentes todos os meus direitos, portanto, isso dá fé de que sou um cidadão de bem. Meu passaporte e cédula em regra com meu nome: Joaquín Pérez Becerra. No escritório de impostos em dias com minhas obrigações tributárias.

5 – RTVP: Em Caracas, quem o deteve e que razões jurídicas argumentaram para privá-lo de sua Liberdade?

·         Não recordo o nome do general que dirigiu essa operação, sim que era requerido pela Interpol e que, portanto, ficava privado da liberdade.

A solidariedade australiana exige LIBERDADE PARA JOAQUÍN!

6 – RTVP: Como se levou a cabo sua deportação ou extradição da Venezuela para a Colômbia?

·         Enganosamente me deportaram para não enredar-se na “incômoda extradição” por sugestão de Vargas Lleras. Me montaram num carro da SEBIN [Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional] – se não me falha a memória – e pela rota que levava me dei conta que me entregavam ao governo colombiano.

Vergonhoso incidente para um governo bolivariano.

7 – RTVP: Como Diretor da Agência de Notícias Nova Colômbia, atuava pública e legalmente na Suécia?

·         O uso da internet está imerso na livre expressão liberdade de imprensa e liberdade para informar. É uma ferramenta de fácil acesso para qualquer pessoa, empresa, banco ou qualquer organização social no mundo. Por isso decidimos, Dick Emanuelsson e eu, constituir a Agência de Notícias Nova Colômbia [por suas siglas em espanhol, ANNCOL]. Os dois foram também co-fundadores da Associação Jaime Pardo Leal, núcleo de exilados da UP e do Partido Comunista Colombiano fundamentalmente.

8 – RTVP: A você, que o conheci desde que era quase um menino, logo após militante comigo do Partido Comunista Colombiano e da União Patriótica, dos quais foi Vereador Municipal no marco de nossa Constituição Política, crê que lhe estejam cobrando com retroatividade, mediante montagens judiciais, estas atividades políticas legais suas e de toda a Oposição Política ao Regime de Democracia Limitada na Colômbia?

·         Correto. Uma conta de cobrança dos donos do poder. Acrescente-se o êxito alcançado pelo nosso trabalho na agência ANNCOL, milhares de leitores nos consultam diariamente. Quem pode afirmar que o publicado na ANNCOL era e é falso? Ninguém, em absoluto. A ira do estabelecimento é que fomos líderes em abordar o conflito desde uma margem racional – impossível de tocar, diziam alguns – o tema da guerrilha parte e solução do conflito social e armado. Fomos capazes de mostrar ao mundo essa outra realidade e, ainda mais, rachar o muro midiático no qual ainda se mantém na Colômbia, desafortunadamente.

Solidariedade desde Venezuela com Joaquín Pérez.

9 – RTVP: Em que consistem estas montagens que vêm alguns, desde a própria Embaixada Colombiana na Suécia, quando o Governo Colombiano, de maneira ilegal, espia não só aos Governos e Países onde tem suas Sedes Consulares, como também a pessoas como você que expressam, como eu, opiniões críticas, no marco de nossa consciência, à vulnerabilidade dos Direitos à população e à oposição política por parte do Terrorismo de Estado Colombiano?

·         Desde o nascimento da ANNCOL sentimos a perseguição e pressão do Estado colombiano. Não toleram que chamemos as coisas por seus nomes. Colômbia é um estado terrorista que pratica a violência para perpetuar-se no poder. E que há outros setores populares e revolucionários que o que fazem é resistir – entre eles, a guerrilha – até que à classe dominante se lhe dê o desejo de concluir sua sangrenta tirania, disfarçada de eleições, numa mesa de diálogos ampla que nos conduza a uma verdadeira paz.

10 – RTVP: Quem é o “fabulista de Estocolmo” a que se dedica este indivíduo que todo mundo o considera um policial político que persegue a oposição política ao regime pró-fascista colombiano?

·         Eu diria, melhor, que um “louco fabulista”, desejoso de dádivas e benefícios da promotoria. É a modalidade deste ente fiscal. Busca suas testemunhas nos esgotos das cidades, o mais decomposto mentalmente que se aproxime a suas possibilidades de manipular e conduzir um processo induzido. Esse sujeito, Miguel Antolinez, entrevistado pelo intendente Pidiachi em maio de 2011 em Estocolmo, é um desocupado, segundo informações da solidariedade sueca.
·         Ao cúmulo de dizer na audiência que me havia conhecido na Colômbia, quando a esse indivíduo o vi duas ou três vezes em Estocolmo. Que o havia recrutado para as FARC quando eu pertencia à JUCO. Nunca fui dessa organização e uma série de mentiras próprias de débeis mentais. Finalmente, uma pessoa em seus cabais não se presta a testemunhar em favor da promotoria colombiana.

11 – RTVP: De que se lhe acusa na Colômbia? Tem sido respeitado em seus Direitos enquanto está arbitrariamente privado de sua Liberdade na Picota do Patio 10 da ERON?

·         Se me acusam de Concerto para delinquir agravado com administração e financiamento do terrorismo. É um absurdo pensar que escrever sobre um conflito automaticamente se converte alguém em terrorista. Devo dizer que tenho duas cirurgias pendentes, isso corresponde a Caprecom.

14 – RTVP: Que palavras envia, companheiro, colega e amigo Joaquín Pérez Becerra à cidadania nacional e internacional, agora que sofre os rigores do terrorismo de Estado Colombiano como Preso Político de Consciência?

·         A Colômbia não suporta mais ultrajes nem abusos por parte do governante de turno. A única saída é o diálogo para superar este derramamento de sangue desnecessário. Juntos, podemos construir um país melhor.

Radio Televisión Palenque agradece e é solidário com o Colega, amigo e camarada Joaquín Pérez Becerra, Preso Político de Consciência, junto a quase dez mil colombianas e colombianos pelos quais advogamos e exigimos sua libertação imediata.

Athemay Sterling Acosta
Diretor de Radio y Televisión Palenque1

Repressão ao pensamento crítico e à reivindicação social: na Colômbia existem 9.500 presos políticos e no mundo o número cresce com os golpes do Capital.

  Imagem: Areito,/ Texto: Azalea Robles


A depredação do meio ambiente e da humanidade é inerente ao mesmo sistema. O capitalismo é um sistema baseado no monopólio das riquezas em poucas mãos, em detrimento das maiorias cada vez mais empobrecidas. Por isso, o capitalismo precisa de forças repressivas cada vez mais agressivas e as prisões se agigantam da mesma maneira que os bolsos dos exploradores. As leis repressivas se ajustam às necessidades da espoliação do grande capital e o uso do exército, da polícia ou, inclusive, do paramilitarismo vai de encontro ao aumento da exploração. ‘É preciso reprimir os descontentes e expulsar de suas terras os que habitam áreas cobiçadas pelas multinacionais’ é a máxima que rege a máquina repressiva.

Na atualidade, num mundo sem contraposição aos gigantes imperialistas, a voracidade capitalista renova suas expedições coloniais, com a única finalidade de aprofundar a extorsão contra os povos e o planeta. Seu cinismo é tal que apelida suas invasões de ‘bombardeios humanitários’ e batiza os mercenários pagos por suas agências como ‘os rebeldes’. Ao mesmo tempo, os verdadeiros rebeldes de outros países são chamados de “terroristas”.

A mesma ganância capitalista promove cortes e transforma em pedaços o ‘estado de bem estar’ dos países capitalistas europeus para beneficiar os bancos privados, aumentando a miséria das maiorias excluídas, despossuídas, exploradas, pisoteadas. Já não há ‘necessidade’ de salvaguardar uma máscara de ‘estado de bem estar capitalista’ ou de ‘democracia’, dado que já não existe a alternativa da URSS como exemplo tangível para os povos. O grande capital e seus governos levam vários anos desmontando o ‘estado de bem estar’, enquanto enganam os povos com urnas nas quais não se elege o essencial. Agora, o golpe final. 

Nos países do mundo que ainda sofrem o neocolonialismo, os povos se levantam contra a voracidade capitalista. Eles lutam diariamente contra o monstro e seus bombardeios, contra o monstro e suas leis, contra o monstro e seus tanques de pensamento, contra o monstro e sua exclusão social... Os povos se armam de esperança.


Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Colômbia: índios expulsam soldados


Destroem trincheiras, antenas de comunicação e, nessa terça-feira, expulsaram uma centena de militares da base de Berlín. "O principal objetivo é consolidar um território autônomo", assinalou o dirigente aborígine James Yatafué.


A reportagem é de Katalina Vásquez Guzmán, publicada no jornal Página/12, 18-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ao Sul da Colômbia está o Cauca: montanha, coca, guerra, guerrilha, exército, explosivos, "paras" e pessoas, índios e mestiços que sobrevivem a um dos momentos mais duros do conflito armado nessa região, uma das mais abandonadas da país. Depois de algumas semanas de sangue e de cruéis enfrentamentos entre forças públicas e insurgentes, os aborígines tentam, com paus e fúria, expulsar os soldados do seu território. Também os rebeldes, mas não os encontram, explicam suas autoridades.

Destroem trincheiras, antenas de comunicação e nessa terça-feira expulsaram uma centena de militares da base de Berlín. Estão com os guerrilheiros, acusou uma líder indígena local no início do dia. Essa é dos paramilitares, disseram os membros do conselho indígena ao cair da tarde. À noite, quando o sol se escondia por trás dessa cordilheira ocidental, a montanha continuava ardendo.

"Tudo tem um limite. As forças públicas têm a ordem peremptória de não ceder um só centímetro nem no Cauca nem no território nacional", disse, incomodado, nessa terça-feira à noite o chefe de Estado, Juan Manuel Santos, para quem Cauca é assunto prioritário nestes dias. Ele chegou fortemente escoltado a essa província na semana passada, em meio a ataques guerrilheiros a povoados urbanos, a explosão de uma moto-bomba, o sequestro de um helicóptero e vários civis, bombardeios diários, o desaparecimento de um avião da Força Aérea, dezenas de reféns ilegais e o homicídio de uma criança.

A reação da organização indígena, exigindo a retirada dos grupos ilegais e legais pela força é, segundo Santos, "inaceitável (...) acarretam condutas penais que serão investigadas", comentou ele à imprensa, mostrando a sua ira, esclarecendo que as forças militares têm a ordem de permanecer em Cauca. Segundo os índios, o prazo para desocupar as suas terras expirou nessa segunda-feira.

James Yatafué, conselheiro da Associação dos Conselhos Indígenas do Norte de Cauca (ACIN), explica que "o principal objetivo desse processo de resistência indígena é consolidar um território autônomo, com governo próprio e implementar uma proposta de paz". Por sua posição geográfica estratégica – saída para o mar Pacífico, fronteira com o Equador, saída para as planícies orientais e via central para o Andes colombianos – esse foi um território disputado por grupos armados e narcotraficantes. Inclusive se diz que o conflito atual tem a ver com um carregamento de cocaína que não consegue sair da região.

Lá, nos últimos 18 meses, ocorreram 600 incidentes violentos que deixaram cerca de 2.500 vítimas da população civil, e cerca de cem assassinadas, segundo o Conselho Regional Indígena de Cauca (CRIC), o principal promotor das ações para desmilitarizar que ainda não deixam saldos mortais. Esse conselho foi acusado de estar infiltrado pela guerrilha, como afirmou Ana Silvia Secué, dirigente da OPIC. "A OPIC é uma organização paralela (ao CRIC), criada pelo presidente Uribe com paramilitares de Ortega, Cauca, e é ultradireitista. Eles recebem, sim, ajuda das Forças Armadas", afirmou Yatafué à jornalista local Sonia Godoy.

O testemunho de Secué foi divulgado no jornal El Colombiano que, durante a presidência de Uribe, foi um meio abertamente propagandístico desse governo, cuja diretoria recebeu subsídios milionários do Estado nesses anos de forma ilegal. Por isso, as acusações de Secué não tiveram credibilidade. Apesar de tudo, os habitantes de Cauca, os que não são puramente indígenas e habitam cidades como Popayán, manifestaram a sua rejeição aos atos do CRIC. Centenas realizaram uma marcha de protesto em frente à sede do CRIC na capital do Cauca para exigir o fim dos ataques na montanha, pois, além disso, muitos de seus familiares são membros do Exército.

Alguns moradores se manifestaram em desacordo com a saída forçada das forças públicas, porque, explicam, ficariam à mercê da guerrilha, principal grupo ilegal em Cauca. Teme-se que na província vizinha de Putumayo ocorra o mesmo, pois as autoridades do CRIC anunciaram que seu protesto irá continuar pelos povos do Cauca e também de Putumayo. Os governantes pediram a presença do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, da ONU e de agências de cooperação internacional para prevenir eventos fatais, caso o Exército responde com a força aos ataques indígenas.

sábado, 14 de julho de 2012

Entrevista a Rafael Correa, presidente do Equador


JULIAN ASSANGE: Com Chávez e Lula já deixando os principais holofotes, vai surgindo uma nova geração de governantes na América Latina.


Esta semana, está comigo o presidente do Equador, Rafael Correa. Correa é líder popular de esquerda, que mudou a cara do Equador. Mas, diferente dos presidentes que o antecederam, é doutor em Economia. Segundo os telegramas diplomáticos dos EUA que WikiLeaks divulgou, Correa é o presidente mais popular na história democrática do Equador.

Mesmo assim, em 2010, foi preso e feito refém, numa tentativa de golpe de Estado. A culpa pela tentativa de depô-lo, segundo Correa, foram os meios de comunicação corruptos. Correa pôs em marcha uma polêmica contraofensiva. Na avaliação de Correa, os meios de comunicação definem as reformas que seriam as únicas possíveis... para os próprios meios.

Quero saber se essa conclusão está correta e como vê a América Latina.


RAFAEL CORREA: Está me ouvindo?
JULIAN ASSANGE: Sim, presidente Correa.

RAFAEL CORREA: Prazer em conhecê-lo. Você está na Inglaterra?
JULIAN ASSANGE: Sim, na Inglaterra, numa casa de campo, em prisão domiciliar já há 500 dias. E sem nenhuma acusação formal contra mim.

RAFAEL CORREA: 500 dias... OK. [Para alguém ao lado] Melhor traduzir. [Em ing. "Prefiro o espanhol, ok?"].
JULIAN ASSANGE: [para a equipe] Acho que é possível. Todos prontos? Ação!

JULIAN ASSANGE: O que pensa o Equador, dos EUA, sobre o envolvimento dos EUA? Não lhe peço que faça alguma caricatura dos EUA. Mas... O que pensam os equatorianos sobre os EUA e o envolvimento dos EUA no Equador e na América?


RAFAEL CORREA: Como disse Evo Morales [presidente da Bolívia], os EUA são o único país que pode ter certeza de que lá jamais haverá golpes de Estado – porque não há embaixada dos EUA nos EUA. [Assange e equipe riem.]

Seja como for, quero dizer que uma das razões do mal-estar é que nós cortamos todo o financiamento que a Embaixada dos EUA pagava à polícia no Equador. Era assim, antes do nosso governo e continuou ainda, por um ano e pouco. Demoramos a corrigir isso. Havia unidades inteiras, setores chaves da Polícia, que eram completamente financiadas pela Embaixada dos EUA. Os chefes policiais eram selecionados pelo Embaixador dos EUA e pagos pelos EUA. A tal ponto, que aumentamos muitíssimo os soldos dos policiais, mas quase ninguém percebeu, porque recebiam soldos do outro lado. Acabamos com tudo isso. E há alguns que sentem saudades daqueles tempos. Mas são tempos que não voltarão ao nosso país e aos nossos países.

Quanto aos EUA, nossa relação sempre foi de muita amizade e carinho, mas sob um marco de respeito mútuo e de soberania. Eu, pessoalmente, vivi quatro anos nos EUA, estudei e graduei-me lá, tenho dois títulos acadêmicos norte-americanos, amo e respeito muito, muito, o povo norte-americano. Acredite que eu, de modo algum, jamais seria antiamericano. Mas sempre chamarei as coisas pelo nome. E se há políticas norte-americanas que são perniciosas para o Equador e para nossa América Latina, sempre as denunciarei abertamente e não permitirei que agridam a soberania do meu país.
JULIAN ASSANGE: Seu Governo fechou a base militar dos EUA em Manta. Pode dizer-me por que decidiu fechar aquela base?

RAFAEL CORREA: Ora... Você aceitaria uma base militar estrangeira no seu país? Como eu disse naquela época. Se é assunto tão simples, se não há problema algum em os EUA manterem uma base militar no Equador, ok, tudo bem: permitiremos que a base de inteligência permaneça no Equador, se os EUA permitirem que estabeleçamos uma base militar do Equador em Miami. Nessas condições, ok, sem problema. [Assange ouve a tradução e ri]. Fico feliz que você esteja se divertindo com essa entrevista. Também estou me divertindo.
JULIAN ASSANGE: Achei engraçadas as suas frases, presidente Correa [os dois riem]. Presidente Correa, por que o senhor pediu que revelássemos [que WikiLeaks revelasse] todos os telegramas diplomáticos?

RAFAEL CORREA: Porque quem nada deve nada teme. Nós nada temos a ocultar. De fato, os [telegramas divulgados por] WikiLeaks nos fortaleceram. A Embaixada dos EUA nos acusava [como se fosse crime] de sermos excessivamente nacionalistas e defendermos a soberania do governo equatoriano [os dois riem]. E é claro que somos nacionalistas! E é claro que defendemos a soberania do Equador! E os WikiLeaks, como mostrei há pouco [exibe um livro], falavam de todos os interesses que os EUA haviam investido nos meios de comunicação no Equador, dos grupos de poder que pediam ajuda, que marcavam hora para pedir ajuda em embaixadas estrangeiras.

Nós não tememos nada. Que publiquem tudo o que tenham a publicar sobre o governo do Equador. Não se encontrará nada contra nós. E veremos aparecer muitas informações sobre entreguismos, traições, acertos, feitos por muitos supostos opositores da revolução cidadã no Equador…
JULIAN ASSANGE: Posteriormente, o senhor expulsou do Equador a embaixadora dos EUA, como consequência da publicação dos telegramas de WikiLeaks. Por que a expulsou? Sempre acho mais interessante dizer ao embaixador... "Tenho esses telegramas desse embaixador. Já sei o que você pensa." Não seria melhor manter lá o diabo que o senhor já conhecia?

RAFAEL CORREA: Ora, mas dissemos tudo isso à embaixadora. E ela respondeu – e com que arrogância! – que não nos devia explicações. Era inimiga absoluta de nosso governo, mulher de extrema-direita, que permaneceu estacionada no marco da Guerra Fria dos anos 60. A gota d'água que fez transbordar o jarro foi WikiLeaks, que provava que o contato dela no Equador havia dito que o Chefe de Polícia era corrupto completo. E que eu, diziam os telegramas, o teria nomeado, mesmo sabendo que era corrupto, para controlá-lo.

Intimamos a embaixadora, para que prestasse explicações. E ela, arrogante, cheia de soberba e prepotência, com os ares imperiais que a caracterizavam, respondeu que não nos devia explicações. Como aqui no Equador, nós nos respeitamos e respeitamos nosso país, expulsamos imediatamente a referida senhora.

Quero dizer que há um mês, poucos meses, depois de quase um ano de investigações, o Comandante Hurtado, que foi falsamente acusado nesse telegrama de WikiLeaks pela embaixadora, foi declarado inocente de todas aquelas acusações daquela embaixadora, saiu limpo de todas as investigações de que foi objeto, e que fizemos. É uma prova a mais de como funcionários incompetentes ou mal intencionados, do governo dos EUA, porque absolutamente não admitem e manifestam a mais flagrante má vontade contra governos progressistas, informam qualquer coisa ao governo dos EUA, sem procurar qualquer comprovação, sem qualquer investigação, sem qualquer prova, baseados, só, em boatos, intrigas dos seus 'contatos', muitas vezes, mentiras interessadas, que ouvem dos seus contatos, todos adversários de nosso governo. E esses contatos são, normalmente, escolhidos entre os opositores dos nossos governos.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, como foi, para o senhor, tratar com os chineses? É um país grande e poderoso. Ao negociar com os chineses, o senhor não estaria trocando um demônio, por outro?

RAFAEL CORREA: Para começar, não trabalhamos com demônios. Se nos aparece algum demônio, agradecemos e despachamos: não, muito obrigado. [Assange ri] Em segundo lugar, você tem de ver aí um pouco do entreguismo, do snobismo, e até do neocolonialismo que anima as elites, por aqui, e alguns veículos de comunicação.

Quando 60% de nosso comércio e grande parte de nossos investimentos estavam concentrados nos EUA, e não nos davam 20 centavos para financiar o desenvolvimento do país, ninguém reclamou de demônio algum, era como se não houvesse problema. Agora, quando somos o país que mais recebe investimentos chineses na região – e talvez porque os chineses não são altos, louros, de olhos azuis, viram demônios e tudo é problema. Chega disso!

Se a China já está financiando até os EUA! Que bom que financie o Equador! Que bom que nos ajude para fazer aqui uma extração responsável, de petróleo! Minas, hidroelétricas. Mas não recebemos financiamentos só da China. Recebemos financiamento russo, brasileiro, diversificamos nossos mercados e nossas fontes de financiamento. Mas há gente que nasceu acabrestado, com sela e rédea, e quer continuar com a dependência de sempre. É só isso.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, como o senhor sabe, luto, há muitos anos, a favor da liberdade de expressão, pelo direito de as pessoas se comunicarem, pelo dever de publicar e dar aos públicos informação verdadeira. O que o senhor fará, para que suas reformas não acabem com a liberdade de expressão?

RAFAEL CORREA: Bem... Você mesmo é ótimo amostra, Julian, de como é a imprensa, essas associações como a Sociedade Interamericana de Imprensa, que nada é além de um clube de donos de jornais na América Latina. Sobre seu WikiLeaks, publicaram-se muitos livros, o mais recente dos quais é de dois autores argentinos, no qual analisam país por país, Wiki Midia Leaks.
[1]

No caso do Equador, demonstra como, desavergonhadamente, os veículos não publicaram os telegramas que os prejudicavam. Por exemplo, disputas entre empresas de comunicações. E todos, afinal, decidiram não publicar suas próprias sujeiras, para não prejudicar nenhum deles. Leio para você a tradução, em espanhol, de um dos telegramas WikiLeaks que a imprensa nunca publicou no Equador.

RAFAEL CORREA: [lendo] "…o fato de que a imprensa sinta-se livre para criticar o governo, mas não um banqueiro fugitivo e os negócios da família do banqueiro, mostra muito sobre onde está o poder no Equador…" [Mostra as páginas do livro] E esses são os telegramas que WikiLeaks divulgou e jamais foram publicados na imprensa do Equador. Para que você entenda um pouco o que enfrentamos no Equador e na América Latina.

Nós acreditamos, que os únicos limites que devem pesar sobre a informação e a liberdade de expressão são os que já existam nos tratados internacionais, na Convenção Interamericana de Direitos Humanos: a honra e a reputação das pessoas; e a segurança das pessoas e do estado. Quanto a todo o resto, quanto mais gente saiba de tudo, melhor.

Você manifestou seu temor – o mesmo que sentem todos os jornalistas, de boa fé –, mas que não passam de estereótipos do medo de que o poder do estado limite a liberdade de expressão. Isso praticamente não existe na América Latina, praticamente não há aqui nenhuma liberdade de expressão. Fala-se só de idealizações, de mitos.

Vocês precisam entender que, por aqui, o poder 'midiático' foi, e provavelmente ainda é, muito maior que o poder político. De fato, o poder 'midiático' tem imenso poder político, em função de seus interesses, poder econômico, poder social. E, sobretudo, têm poder monopolístico para informar.

Os veículos têm sido, aqui, os maiores eleitores, os maiores legisladores, os maiores juízes, os que criam a alimentam a 'agenda' da discussão social, os que sempre submeteram governos, presidentes, cortes de justiça, tribunais.

Temos de tirar da cabeça essa ideia de que, de um lado, só haveria jornalistas pobres e perseguidos, empresas jornalísticas angelicais, empresas e veículos dedicados a informar a verdade dos fatos; e, de outro lado, só haveria ditadores, autocratas, tiranos que vivem para tentar impedir que a verdade chegue ao povo.

Os governos que trabalhamos para fazer algo pelas maiorias, somos – nós – violentamente perseguidos por jornalistas que entendem que, por ter uma pena ou um microfone, ganhariam algum direito de vingar-se dos desafetos pessoais. Porque, muitas vezes, caluniam, mentem, injuriam exclusivamente por alguma inimizade pessoal. Os veículos de comunicação são, aqui, instrumentos dedicados a defender interesses privados.

É importante, por favor, que o mundo todo entenda o que se passa na América Latina.

Quando tomei posse na presidência, havia aqui sete canais de televisão nacionais. Nenhum público; todos privados. Cinco pertenciam a banqueiros. Imagine a situação: eu queria tomar uma medida contra os bancos, para evitar, por exemplo, a crise e os abusos que, hoje, todos estão vendo acontecer na Europa, sobretudo na Espanha. E houve uma campanha violentíssima, pela televisão, para defender os interesses dos banqueiros empresários donos das empresas, dos proprietários dessas cadeias de televisão, todos banqueiros.

Que ninguém se engane mais. Temos de esquecer essas mentiras e estereótipos de governos 'do mal', que vivem a perseguir valentes e angelicais jornalistas e empresas e veículos de comunicação. Com muita frequência, Julian, acontece exatamente o contrário.
Essa gente travestida de jornalista vive de fazer política, só se interessa em desestabilizar nossos governos democráticos, para impedir qualquer mudança na nossa região. Porque, com mudança democrática, eles perdem o poder que sempre tiveram e ostentaram.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, estou de acordo com o que o senhor diz do mercado dos veículos e meios. Já aconteceu exatamente assim, também conosco, mais de uma vez: grandes organizações jornalísticas, com as quais trabalhamos – Guardian, El País, o New York Times e Der Spiegel – censuraram o nosso material ao publicar, por motivos políticos, ou para proteger oligarcas como Tymoshenko da Ucrânia (que escondia sua fortuna em Londres); ou grandes empresas petroleiras italianas corruptas, que operavam no Cazaquistão. Temos provas disso tudo, porque sabemos o que há no documento original e o que publicaram, e o que foi omitido. Mas entendo que o melhor modo para enfrentar os monopólios e os duopólios e os cartéis num mercado é separá-los; ou criando melhores condições para que novas empresas entrem no mercado.

O senhor não tem interesse em criar um sistema que permita o fácil acesso ao mercado editorial, de modo a que empresas jornalísticas editoriais pequenas e indivíduos sejam protegidos (não regulados) e as grandes empresas editorais e grupos 'midiáticos' sejam separadas e reguladas?


RAFAEL CORREA: Julian, estamos tentando fazer exatamente isso. Há mais de dois anos discute-se uma nova lei de comunicação, para dividir o espectro radioelétrico, quer dizer, o espectro para TV e rádio, para que só 1/3 seja privado com finalidades comerciais; 1/3 para propriedade comunitária, sem finalidades comerciais; e 1/3 de propriedade do Estado – não só o governo nacional; também os governos locais, municipais, departamentais.

Mas a lei não avança. Há dois anos, apesar de haver ordem constitucional aprovada nas urnas em 2008, ratificada pelo povo equatoriano por consulta popular ano passado. Pois, apesar de tudo isso, a nova lei foi e continua a ser sistematicamente bloqueada pelas grandes empresas, nos grandes veículos. Para eles, é "lei da mordaça". Para eles e pelos deputados e senadores assalariados que as empresas mantêm, a soldo, na Assembleia Nacional, e que lá estão para defender aqueles interesses.

O que estamos fazendo é claro: democratizar a informação, a comunicação social, a propriedade dos veículos e meios de comunicação. Por isso mesmo, obviamente, enfrentamos a acérrima oposição que nos fazem os proprietários dos veículos e meios de comunicação e dos seus corifeus alugados, que atuam em todo o espectro político no Equador.
JULIAN ASSANGE: Recentemente, nesse programa, entrevistei o presidente da Tunísia, e perguntei a ele, se o surpreendera o pouco poder que os presidentes têm, para mudar as coisas. O senhor também observou isso?

RAFAEL CORREA: Olhe... Muitos trabalham para satanizar os líderes políticos, porque uma das grandes crises pelas quais a América Latina passou nos anos 90, até o começo desse século, durante a longa e triste noite neoliberal, foi a crise de lideranças políticas.

Afinal, o que significa "ter liderança", "ser líder"? Significa capacidade para influir sobre os demais. É claro que pode haver boas lideranças políticas, pessoas que usam a capacidade que têm para liderar, para servir a causa dos outros. E claro que também há maus líderes – dos quais, lamentavelmente, houve muitos na América Latina –, que utilizam a capacidade que têm, mas apenas para servir-se dos demais.

Entendo que os líderes são importantes sempre, mais ainda em processos de mudança.

É possível imaginar a independência dos EUA, sem os comandantes que houve lá? Sem aqueles líderes? É possível imaginar a reconstrução da Europa depois da II Guerra Mundial, sem os grandes líderes que houve lá? Contudo... Quando se trata de fazer oposição às mudanças na América Latina, onde há líderes fortes, mas líderes democráticos e democratizantes, inventam logo que a liderança é caudilhista, populista, sempre má liderança, nunca boa liderança.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa…

RAFAEL CORREA: Essa liderança é ainda mais importante... (Julian, permita-me concluir a ideia, por favor)... quando não se está administrando um sistema.

Na América Latina, no Equador, hoje, não estamos administrando um sistema: estamos mudando um sistema. Porque o sistema que nos acompanhou ao longo de séculos foi fracasso total. Fez de nós a região de maior desigualdade no mundo, onde só a miséria é muita, a pobreza, e numa região que tem tudo para ser a região mais próspera do mundo. As coisas aqui não são como nos EUA.

Que diferença há entre Republicanos e Democratas, nos EUA? Há mais diferença entre o que eu penso pela manhã e o que eu penso à noite, do que entre um Republicano e um Democrata norte-americano [Assange ri]. Isso acontece porque, lá, estão administrando um sistema.

Nós, aqui, estamos mudando um sistema. Aqui as lideranças são necessárias e importantes. Aqui, é indispensável o poder ser legítimo e democrático, para que a mudança seja legítima e democrática, para que se mudem as estruturas e a instituições e a institucionalidade nos nossos países, agora em função das grandes maiorias.
JULIAN ASSANGE: Minha impressão é que o presidente Obama não é capaz de controlar as enormes forças que se movem à volta dele. Será sempre assim, com todos os tipos de líderes? Como o senhor conseguiu introduzir tantas mudanças no Equador? Será sinal dos tempos que vivemos? Será resultado de sua liderança pessoal? Da força de seu partido? Que força, afinal – é o que quero saber – é essa, que permite que o senhor faça algo, no Equador, que Obama não consegue fazer, nos EUA?

RAFAEL CORREA: Permita-me começar pelo fim. O compromisso, as concessões, o consenso é desejável, mas não é um fim em si. Para mim, mais fácil seria conseguir algum consenso; chegaria mancando, cedendo, e satisfaria muita gente. Mas não mudaria coisa alguma. Satisfaria, principalmente, os poderes de fato nesse país. E tudo continuaria como antes. Há momentos em que o consenso é impossível. Às vezes, é necessário o confronto. Com a corrupção, por exemplo, não há consenso possível. A corrupção tem de ser enfrentada. O abuso do poder? Tem de ser enfrentando. Não há consenso possível, com a mentira; a mentira tem de ser desmascarada. Absolutamente não se pode fazer concessões a esses vícios sociais, tão graves para nossos países.

É erro imaginar que o que está sendo feito no Equador esteja sendo feito por mim. É erro. Os povos mudam, os países mudam. Não precisam de liderança para mudar. Talvez precisem de algum tipo de líder para coordenar. Mas se o país muda, é por vontade de todo o povo. Nosso governo foi levado ao poder pela indignação de todo o povo equatoriano.

Talvez aí esteja o que ainda falta, um pouquinho, ao povo norte-americano, para que o presidente Obama obtenha capacidade para promover mudanças reais no país. Que a indignação que já está nas ruas, esse 'Occupy Wall Street", esse protesto de cidadãos comuns, normais, contra o sistema, que ganhe impulso, que se torne mais orgânico, mais permanente. E que, nesse caso, dê forças ao presidente Obama para que possa fazer as mudanças pelas quais o sistema terá de passar, nos EUA.
JULIAN ASSANGE: Quero saber até que ponto o senhor acredita que o Equador irá, no longo prazo, até onde irá a América Latina. Acho que, até certo ponto, há boas coisas, como se sabe, a integração continental na América Latina, a melhoria nas condições de vida, e o fato de que os EUA e outros países têm, a cada dia, menos influência na América Latina. Mas... Onde o senhor acredita que estará, dentro de dez, vinte anos?

RAFAEL CORREA: Você disse bem: a influência dos EUA na América Latina está diminuindo – isso é bom. Por isso, precisamente, dizemos que a América Latina está passando, do "consenso de Washington", para o consenso sem Washington.
JULIAN ASSANGE: [ri] Talvez venha a ser o Consenso de São Paulo.

RAFAEL CORREA: Um consenso sem Washington. Exatamente. E é bom, porque essas políticas que nos mandavam do norte não eram feitas em função das necessidades da nossa América, mas em função dos interesses daqueles países, e, sobretudo, dos capitais daqueles países. Se você analisa a política econômica – e, modéstia à parte, disso entendo um pouco –, até talvez tenham sido boas, em algum momento. Mas, tenham sido boas ou más, em certos momentos, todas tiveram o mesmo denominador comum: interessavam, primeiro de tudo, ao grande capital, e, sobretudo, ao capital financeiro. E isso, finalmente, está mudando.

Tenho muitas esperanças. Sou muito realista. Sei que avançamos muito, mas muito ainda temos de andar. Sei que o que já andamos não é irreversível, que podemos perder tudo, se os mesmos de sempre voltarem a dominar nossos países. Mas estamos muito otimistas.

Acreditamos que a América Latina está mudando e, se continuarmos por essa rota de mudança, a mudança será definitiva. Nossa América não está passando por uma época de mudança, mas por uma mudança de época. Se mantivermos nossas políticas de defesa da soberania, com políticas econômicas nas quais a sociedade controla o mercado, não que o mercado domina a sociedade e converte a própria sociedade, as pessoas, a vida, em mercadoria. Se mantivermos essas políticas de justiça e igualdade social, superando imensas injustiças, de séculos, sobretudo no que tenham a ver com os grupos nativos, os afrodescendentes, etc, a América Latina terá um grande futuro. É a região do futuro. Temos tudo para sermos a região mais próspera do mundo. Se temos conseguido pouco, foi pelas políticas más, pelos maus dirigentes, maus governos. E isso está mudando nessa nossa América.
JULIAN ASSANGE: Obrigado, presidente Correa

RAFAEL CORREA: Foi um prazer conhecê-lo, Julian, pelo menos por esse meio. E Ânimo! Ânimo! Seja bem-vindo ao clube dos perseguidos.
JULIAN ASSANGE: Obrigado. [risos] E cuide-se. Não deixe que o matem.

RAFAEL CORREA: Ah, sim. [risos] Evitar isso é trabalho de todos os dias. Gracias.