"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 31 de março de 2010

Com ajuda do Brasil, FARC vão entregar restos mortais de major que estava em cativeiro

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Com o apoio do Brasil, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia(FARC) devem liberar amanhã (1º) os restos mortais do major da Polícia Militar Julián Guevara. Os dois helicópteros do Exército brasileiro seguem ainda hoje (31) para Villavicencio, no Sul da Colômbia, à espera do sinal vermelho dos guerrilheiros para resgatar os restos mortais do militar morto em cativeiro e em poder das FARC.

Na semana passada, as FARC informaram que não liberariam os restos mortais do militar porque não dispunham de garantias do governo do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Os guerrilheiros exigiam a suspensão de todas as ações na suposta área onde estaria enterrado o corpo do major. Ontem (30) houve a sinalização de que os restos mortais seriam entregues.

A expectativa, segundo a Cruz Vermelha Internacional, é que os restos mortais de Guevara sejam entregues à família do major na presença de autoridades policiais, como determinam leis colombianas.

O representante da Cruz Vermelha Internacional – nas áreas do Brasil, da Argentina, do Chile, Paraguai e Uruguai –, Felipe Donoso, disse à Agência Brasil que a expectativa é que o resgaste ocorra na manhã de quinta-feira (1º). “Contamos que o tempo colabore e a operação seja realizada. Se isso ocorrer poderemos dizer que houve 100% de sucesso entre as negociações e o fim da ação”, afirmou ele.

Ontem (30) à tarde o sargento do Exército colombiano Pablo Emilio Moncayo, que estava em poder dos guerrilheiros há 12 anos, foi libertado. No último domingo (28), foi iniciada a operação de resgate de outro refém – o soldado profissional Josué Daniel Calvo Sánchez, que há 11 meses estava em cativeiro.

As negociações foram intermediadas pela senadora Piedad Córdoba. Mas houve a colaboração do governo da Colômbia, que suspendeu as ações do Exército nas áreas especificadas pelas FARC, da Cruz Vermelha Internacional, do Alto Comissariado pela Paz, de entidades civis organizadas e dos parentes das vítimas.

O apoio brasileiro à operação, segundo fontes do governo, está limitada à ação de uma equipe de 20 militares do Exército que estão na Colômbia e ao uso dos helicópteros. A colaboração do Brasil é técnica e operacional.

Edição: Juliana Andrade

FARC: “o caminho fica aberto para a imediata troca de prisioneiros de guerra..”

COMUNICADO

1.As FARC-EP para beneplácito dos colombianos, sobre tudo para os familiares têm cumprido sua palavra empenhada a princípios do ano 2009, de liberar de maneira unilateral os prisioneiros de guerra Cabo Pablo Emilio Moncayo e o soldado profissional Josué Daniel Calvo, assim como a entrega dos restos mortais do Capitão Guevara, que, por enquanto, não poderão ser entregues a sua mãe, dona Emperatriz de Guevara.

2.Esse feito poderia ter acontecido dez meses atrás, mas a permanente fabricação de pretextos artificiais pelo governo de Uribe, obsessionado por um absurdo e fatal resgate militar prolongou de maneira torturante e injustificada a entrega.

3. A entrega se faz de forma pessoal à Senadora Córdoba, representante dos Colombianos e Colombianas pela Paz e ao Professor Moncayo, quem contarão com o acompanhamento humanitário do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e da Igreja.

4.Com esse gesto unilateral, as FARC-EP consideram que o caminho fica aberto para a imediata troca de prisioneiros de guerra como única forma viável, para que, sem menoscabo da integridade física regressem à liberdade os prisioneiros que estão na selva, o mesmo que os guerrilheiros presos nas masmorras de Colômbia e dos Estados Unidos.

5.Fazemos um chamamento a todos os países interessados em uma solução política do conflito social e armado colombiano, o mesmo que a Colombianos e Colombianas pela Paz para que somem vontades e dirijam seus esforços concêntricos encaminhados a alcançar a troca de prisioneiros de guerra.

6.As FARC-EP agradecem mais uma vez pelo seu reiterado apoio logístico ao povo brasileiro e a seu presidente Luis Ignacio Lula, sem cujo concurso houvesse sido impossível a realização de essa empresa humanitária; agradecem, igualmente, aos pilotos por sua destreza e seu alto nível profissional

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP.
Montanhas de Colômbia
Março 30 de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

Brasil ajuda na libertação de mais um refém das Farc

Foi liberado na tarde desta terça-feira (31) o sargento do Exército colombiano Pablo Emilio Moncayo. Ele esperou 12 anos para ficar em liberdade. Neste período, permaneceu sob poder dos guerrilheiros. A libertação do refém foi confirmada pelo pai do militar, Gustavo Moncayo, segundo a BBC Brasil. A operação de resgaste contou com o apoio de militares brasileiros, da ajuda humanitária e do Alto Comissariado pela Paz.

“A emoção é muito grande, graças a meu Deus”, afirmou o pai do militar, em tom de desabafo. “Bem-vindo à liberdade Pablo Emilio. Vamos romper essas correntes e lutar pela liberdade dos demais companheiros [reféns]', disse Gustavo Moncayo ao mostrar as correntes que traz presas às mãos, símbolo de sua luta pela libertação do filho.

Emocionado, Moncayo pediu a ajuda dos presidentes do Brasil, da Venezuela, do Equador e da Argentina para que façam a interlocução nas negociações em favor de um acordo humanitário para a libertação de 22 reféns. Em troca, o governo da Colômbia se comprometeria a soltar os guerrilheiros presos.

“Podemos formar uma equipe de trabalho para que se estabeleça diálogo entre o governo e a guerrilha”, disse Gustavo Moncayo. “Há uma necessidade de dizer não à violência, aos sequestros e à violação aos direitos humanos. Queremos a paz, é isso o que estamos pedindo.”

O porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Adolfo Beteta, afirmou que o sargento seria levado para o encontro com a família no aeroporto de Florência, no Sul da Colômbia.

Em protesto pelo sequestro do filho, Gustavo Moncayo chamou a atenção da comunidade internacional quando em junho de 2007 fez uma caminhada de 46 dias – saindo do departamento (estado) colombiano de Nariño à capital Bogotá.

Ao chegar na capital, ele apelou ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, para apressar as negociações para a libertação do filho e dos demais reféns da guerrilha. Por causa da manifestação, Gustavo Moncayo foi apelidado como o "Caminhante pela Paz".

No último domingo (28), a operação de resgate de outro refém foi iniciada. No começo da tarde, o soldado profissional Josué Daniel Calvo Sánchez foi libertado. As negociações foram intermediadas pela senadora Piedad Córdoba.

"Temos que trabalhar governo, Farc e [o movimento] Colombianos pela Paz [que tenta mediar um acordo humanitário] para que o intercâmbio ocorra antes de 7 de agosto”, informou a senadora, em sua página do Twitter. Segundo a parlamentar, as Farc já têm uma proposta que deve ser entregue pelo movimento Colombianos pela Paz ao presidente colombiano

Fonte: vermelho.org.br

Carlo Sommaruga, conselheiro nacional suíço: “La situação na Colômbia é chocante”

Fonte: www.anncol.eu

A tragédia na Colômbia deixa totalmente exposto ante o mundo o hipócrita e falso discurso oficial sobre a suposta desmobilização de paramilitares, sobre a negação permanente dos inegáveis laços entre o regime de Uribe Vélez e os narcoparamilitares e, sobre o libreto da diplomacia oficial, porque se trata realmente da construção de uma Colômbia virtual e portanto inexistente.

Eis a missão de um aparato de des-informação que trabalha para ajudar a manter o regime mafioso, regime que pode ter sua continuidade em alguns dos candidatos atuais à Presidência da República. Essa foi a impressão geral que ficou no povo suíço, após de escutar a testemunha de um de seus parlamentares.

Uma comissão composta por parlamentares, ongs, e internacionalistas suíços viajou a Colômbia verificar no terreno a situação dos Diretos Humanos e a evolução de alguns projetos financiados pela ong suíça Swissaid.

Os visitantes viajaram a Barrancabermeja, a regiões onde moram, tanto camponeses atingidos pela maldita palma para fabricar aceite, quanto artesãos que mexem a terra à procura de ouro; reuniram-se com advogados e defensores dos Direitos Humanos e, por fim, tiveram a oportunidade de estar presentes no julgamento do “bom moço” de Uribe Vélez, Jorge Noguera, hoje, ex-diretor do DAS (Departamento Administrativo de Segurança).

De início, a embaixada suíça em Bogotá, dadas as condições de insegurança, “impus” aos visitantes viajar em veículo blindado. Esse foi o primeiro choque para eles que tinham escutado o discurso dos representantes do governo colombiano nas seções de Direitos Humanos em Genebra.

Em Barrancabermeja a comissão constatou a presença ativa dos paramilitares e sua violência sistemática, mas sobre tudo, a vigência do temor ao qual são submetidas as comunidades.

Para os visitantes ficou claro que o conflito colombiano gira em torno da desapropriação injusta e violenta da terra, em torno da conquista de novos territórios por parte de paramilitares e multinacionais da palma para fazer aceite, gerando, como consequência nefasta o deslocamento forçado dos camponeses. De igual forma procedem as mineradoras multinacionais, com os trabalhadores artesanais à procura de ouro.

A comissão constatou que os narcotraficantes continuam se apropriando indevidamente das melhores terras; que em algumas regiões o povo tem medo de dar sua testemunha, de falar publicamente, e se falar, deve ser para elogiar o governo. As testemunhas recolhidas pela Comissão, foram obtidas a porta fechada, porque na Colômbia se vive sob estado de terror.

As comunidades solicitaram à Comunidade Internacional a solidariedade com o povo colombiano, na esperança de que sua tragédia ultrapasse as fronteiras mediante a denuncia internacional do regime violento existente na Colômbia.

Em encontros com advogados, sindicalistas, com comunidades indígenas e afro-descendentes, a Comissão constatou, sobre tudo, a grave situação dos dirigentes sindicais, cujos escritórios são blindados e seu deslocamento deve ser em veículos blindados e com guarda-costas.

Comprovou a necessidade da solidariedade internacional para denunciar os crimes do Terrorismo do Estado colombiano. O conselheiro Sommaruga tornou público o pedido dos advogados defensores dos Direitos Humanos na Colômbia, que solicitam a solidariedade internacional de advogados internacionalistas para levar a Álvaro Uribe Vélez à Corte Penal Internacional. Para a comissão ficou claro que Uribe Vélez dever ser julgado internacionalmente pela máquina de matar que instaurou no regime que ele dirige.

Para a comissão foi importante constatar os testemunhas de alguns paramilitares que têm começado a falar, confirmando fortes laços com políticos e com as altas instâncias do Estado. Confirma isso o fato de haver mais de cem parlamentares com laços comprovados com os paramilitares.

Ao ter a oportunidade de estar presente no julgamento de Noguera, “o moço bom”, a comissão constatou que efetivamente o DAS, aparato de investigação que depende diretamente do presidente Uribe, elaborou listas de sindicalistas que foram posteriormente assassinados.

O discurso oficial ficou desmascarado totalmente. Para nada tem servido o lobby que desde a embaixada colombiana em Berna é feito, com os parlamentares que votaram a aprovação do livre comércio entre Colômbia e Suíça. Desde estas linhas denunciamos que a embaixada colombiana, comete um delito na Suíça procedendo a fazer Lobby com os parlamentares suíços, porque o Lobby está estritamente proibido pelas leis suíças.

Parlamentares suíços nos comentam como a embaixada colombiana lhes envia permanentemente dossiers sobre as bondades da segurança democrática e como altera a realidade nacional para apresentar a Colômbia como se fosse a Suíça latino-americana.

Todas as atividades de solidariedade com Colômbia desde Suíça têm permitido estabelecer como, desde a embaixada colombiana se espia os efugiados e opositores políticos colombianos, aos fins de amedrontar e impedir a labor de sensibilização e de denuncia que desde Europa em geral e desde Suíça em particular e feita em favor do povo colombiano. A esse trabalho da embaixada se têm somado certos cadáveres políticos, supostos refugiados políticos e alguns uribistas que serão seguramente parte do programa, 'um milhão de amigos da segurança democrática.

Constatamos que a pesar de todos os esforços da embaixada e seus colaboradores por evitar a denuncia, esta continua sendo feita e consolidada, porque a magnitude do Terrorismo de Estado é tal, que o lobby da embaixada em Berna não consegue eclipsa-la.

Esperamos que essa comissão de suíços, integrada por mais de vinte pessoas possa somar seus esforços aos daqueles que no mundo realizam em pró, tanto da solução política do conflito quanto da campanha: ÁLVARO URIBE VÉLEZ À CORTE PENAL INTERNACIONAL. Como a comissão constatou ao vivo, o povo colombiano precisa urgentemente da solidariedade internacional.

Esperamos que los três parlamentarios suíços integrantes da comissão que visitou Colômbia, possam levar uma mensagem concreta ao Parlamento e ao governo suíço sobre a imoralidade de assinar um acordo comercial com um país, cujo regime é muito mais brutal e selvagem do que todas as ditaduras do Cone Sul.

Solidariedade com o povo colombiano, JÁ!

segunda-feira, 29 de março de 2010

CARTA DE UM PEÑI PARA PIÑEIRA



Por: PEDRO CAYUQUEO


Senhor Presidente:


Perguntar-se-á quem sou e por que lhe escrevo. Também, certamente, a quem represento. Entrando na matéria, sou um jornalista mapuche, originário de um reduto do setor de Entre Rios, nas proximidades de Temuco. Há sete anos dirijo um jornal que trata de dar conta dos acontecimentos mapuches no sul do Chile e Argentina. Nisso trabalhamos e nisso persistiremos durante o seu mandato. Saiba que lhe escrevo para rememorar uma antiga tradição epistolar que nossos avós mantiveram com seus antecessores do Palácio de La Moneda. O senhor, desde 11 de março, é o 40º presidente do Chile, iniciando a contagem a partir de Blanco Encalada e deixando de lado – a nobreza obriga – a diretores supremos e ditadores. Creia-me que até o presidente Aníbal Pinto, nossos ancestrais trocaram correspondência com frequência com os primeiros mandatários. Na verdade nada raro. Tratava-se, naquele então, de dois países distintos e a diplomacia prevalecia com seus códigos. Deixe-me contar-lhe que ditas cartas serviram para algo mais do que saudações protocolares e o mero anuncio do envio ou retirada de algum embaixador nosso na capital. Serviram também para relembrar, aos nossos e aos seus, da vigência de antigos pactos: o principal deles o respeito do rio Bio-Bio como fronteira. É que, sem a Internet e menos ainda o supervalorizado Twitter, tais cartas constituíram uma valorosa ferramenta de comunicação. Foram, como suspeitava neste ponto, um verdadeiro canal de diálogo político e de abordagem de controvérsias.

“Senhor Presidente Montt. Tive uma reunião com meus caciques e também com meus outros aliados e me facultaram escrever nossas palavras neste papel... Seu intendente Villalón voltou a atravessar o rio Bio-Bio para roubar, outra vez, animais com canhões e muitos aparatos para a guerra, trazendo, dizem, mil e quinhentos homens, e tudo o que fez foi queimar casas, plantações, aprisionar famílias, arrancando os filhos dos peitos das mães que corriam para se esconder nas montanhas, mandar cavar as sepulturas para roubar jóias de prata, matando até mulheres cristãs... Digo-lhe isto para que saibas que é verdade... Se este intendente voltar a atravessar o rio Bio-Bio com gente armada, já não poderei conter os índios e não sei qual dos campos ficará mais ensanguentado... Presidente, abra o seu peito e consulte as minhas razões. Eu sei que o senhor tem muita gente e cavaleiros. Pode mandar um deles para falar de paz... Minha nação nunca fará a paz com Villalón... Espero sua resposta”. Magñil Bueno, Cacique Geral. 21 de Setembro de 1860.

Senhor Sebastián, esse era o conteúdo de muitas das cartas que aqueles que o antecederam no mando da República recebiam desde o sul. Se tiver alguma duvida da autenticidade, rogo-lhe verificar a edição do jornal El Mercúrio, de Valparaiso, de 13 de maio de 1861. Não a encontrará em nenhuma banca de jornal de esquina, mas na Biblioteca Nacional, para ser mais exato, na seção “Jornais”, sala de Microfilmagens. Saiba que o último a receber uma delas foi seu colega Aníbal Pinto. Tal seria sua má compreensão da leitura que onde se dizia “deter os abusos” ele entendeu “cargas os obuses”. E assim ele o fez Senhor Sebastián. Mal terminou a guerra do Pacifico, invadiu com seu exército vencedor o nosso território, arrasando literalmente com tudo que estava a sua frente. O Senhor Viu “Avatar”, o último filme de James Cameron? Pelo atribulada que é a campanha eleitoral, provavelmente não. Mas certamente mais de um dos seus netos deve ter falado dele. Se não, eu o recomendo. Dizem que o Presidente Evo Morales gostou muito. Num destes dias tire uma folga e vá ao cinema mais próximo. Sugiro que o veja com os óculos 3D, um tanto inapropriados para o seu alto cargo, mas efetivos na hora de apreciar em toda sua dimensão o alcance da crueldade e da cobiça.

O Senhor perguntar-se-á, o quê tem a ver os mapuches com um filme de Hollywood? Pois saiba que muito. E não somente os mapuches, mas também os aymaras, quéchuas, shuar, sarayakus, maias, mixtecos, cheyennes e um longo etc. É que qualquer história de invasão e despojo de território, desde “Pocahontas” até o sofisticado “Avatar”, não faz mais do que relembrar-nos a magnitude de nossa própria tragédia histórica, o roteiro de nossas próprias existências como povos. Foi o que aconteceu com os mapuches após aquela carta mal lida pelo Presidente Pinto: invasão, assassinatos, roubos e pilhagem. Táticas de terra arrasada, chegada de colonos estrangeiros e confinamento dos sobreviventes em campos de refugiados. Tais lugares foram batizados de “redutos”. Entretanto, numa arremetida de originalidade, a Lei Indígena os rebatizou, nos anos 90’, como “comunidades”. Haja amostra de humor negro! Não lhe parece? São aqueles lugares cheios de pinheiros e eucaliptos que, certamente, o Senhor visitou durante a sua campanha por Lumako, Angol, Collipulli ou Los Sauces. Está lembrado? Tente relembrar; os índios lonkos octogenários com quem tomou um copo de bebida Cola; os garotos com penas e descalços que dançaram simpáticos ritmos na sua frente; as mocinhas com suas jóias de prata e cintos coloridos que o atenderam sob o sol escaldante; aquele molho de pimenta típico (pebre), as sopaipillas (massa frita redondinha e achatada feita com abobora), o churrasco de cordeiro...

Está lembrando? Pois devia Senhor Sebastián. Segundo as estatísticas, grande parte dos seus membros o favoreceram com o voto no segundo turno da eleição. E é que, para além da demagogia essencialista de alguns, o esquerdismo de outros e o indigenismo de uns quantos, os mapuches – especialmente na zona rural – no final das contas são bastante conservadores. Assim era uma tia, que em paz descanse, e também grande parte dos meus tios, filhos de prósperos comerciantes de gado que por obra e graça do colonialismo acabaram como pequenos agricultores de subsistência. Minha tia, se estivesse viva, teria votado no senhor, tenho certeza. Lembro do dia em que faleceu Pinochet e sua infinita tristeza por “aquele cavaleiro”. “Matou gente, mas puxa como era generoso”, comentava naquele dia, relembrando sem duvida as pensões assistenciais, os títulos individuais de domínio e um ou outro ladrão de gado boiando pelo rio Cautin abaixo. Meu tio, orgulhoso e obstinado como poucos, certamente o teria enxotado com os cachorros caso o senhor tentasse se aproximar dele meio metro. Longe do conservadorismo da minha tia, o velho sempre foi atraído pelas idéias socialistas. Virou comunista lendo livros, como costumava dizer. Mas não na Universidade, mas roubando horas ao sono depois de longas jornadas carregando sacos nas fazendas da região do Maule. Tal vez por isso admirava a Allende. Tal vez por isso, no dia em que Pinochet morreu, bebeu sozinho e muito contente, uma garrafa de vinho tinto sob as estrelas.

Acontece que existem mapuches para todos os gostos, Senhor Sebastián. Alguns mais à direita, outros à esquerda e um ou outro vagando pelo centro. Como em toda sociedade, como em todos os povos, pois isso é o que somos e não como um regimento. Um povo senhor Sebastián, um coletivo com história, que carrega – às vezes humildes, às vezes orgulhosos – com seus heróis e suas vitórias, com seus vilões e suas derrotas. Somos um povo senhor Sebastián, por mais que a bendita Constituição nos negue tal caráter e que a bancada parlamentaria da sua coligação somente nos tolere como folclore ou atrativo de feiras de costumes. É tão difícil reconhecer que somos uma nação? Não deveria sê-lo, em absoluto. Somos um dos povos indígenas mais numerosos do continente, compartilhamos padrões culturais, uma determinada forma de ver o mundo, um território que sentimos como nosso lar e, como se fosse pouco, uma língua que mesmo ameaçada, está longe de desaparecer. “O que é o nacional? Quando ninguém entende uma palavra do idioma que falas”, sentenciou o dramaturgo Johann Nestroy. Se o senhor e eu somos chilenos, ramtueyu kimnieymi ñi nütram, fewla? chem pieyu, chem pimi? tami tuwün ka inche trawüniekelayngün, wingkangeymi ka mapuchengen, ka mollfüng nieyiñ. Feley kam Felelay? Em grandes rasgos é disto que trata o conflito. De falar e não entendermos. De dialogar e não poder (ou querer) escutar o outro. De observar-nos e de vocês não nos reconhecerem como iguais em nossa diferença.

Existem jovens do meu povo que tampouco o querem escutar nem reconhecer o senhor, Senhor Sebastián. Cansados de atropelos, cansados de falsas promessas, optaram pelo caminho da rebeldia. Em média, não passam dos 25 anos. E muitos deles já cumprem longas condenas de cadeia em diversas prisões do sul. Se os acusa de terrorismo em base a uma singular legislação, herdada da ditadura militar e que homologa no Chile a derrubada de um avião comercial em Manhattan, a explosão de um carro bomba em Bagdá e a queima de um galpão com fardos em Ercilla. Surrealismo puro, deve concordar comigo. Todos eles sonham com o País Mapuche dos nosso avós. Sentem falta dele, sentem saudades, o reivindicam e escrevem nos muros. Três jovens pagaram com sua vida este atrevimento. Balas policiais perfuraram pelas costas a dois deles, agentes do Estado, cujos salários são pagos pelos impostos de todos os chilenos, foram os responsáveis. Todos gozam não só de absoluta impunidade, mas também dos aplausos cúmplices dos seus superiores civis e militares. Será que o senhor pode evitar que outros jovens derramem seu sangue nos campos do sul? Não os minimize, não os ignore, não os estigmatize. Tente dialogar com eles. Suas idéias, por minoritárias que sejam, segundo as pesquisas de Liberdade e Desenvolvimento, constituem parte da argila com que hoje modelamos nosso futuro. Não desencadeie a turba sobre eles.

Pode ficar tranquilo, pois não será o senhor o primeiro governante a afrontar tal desafio. Há muitos exemplos em outras latitudes. Em seu momento, o fascismo espanhol diante das reivindicações vascas, galegas e catalães, optou pela incongruente lógica dos calabouços. Na outra fronteira ideológica, o mesmo caminho seguiram os hierarcas soviéticos ao esmagar com as pás mecânicas da integração as reclamações nacionais de chechenos, armênios e ossetios, dentre outros. Saiba o senhor que ambos os extremos fracassaram na sua tentativa. Espanha, sacudida por Franco, encontrou finalmente, nas “Autonomias Regionais”, um caminho para pacificar os espíritos e dar saída política a uma reclamação que interpelava diariamente sua democracia. Nostálgicos do ditador prognosticavam com isso o fim do Estado espanhol. Nada disso ocorreu, é claro. É verdade também que há aqueles que nunca aprendem. Os mandatários russos, por exemplo. E é que, após a queda da URSS, a histórica abordagem militar do chamado “problema das nacionalidades” continuou intacto. Os tanques e a força bruta continuaram marcando nos anos 90 a agenda do dia em muitas das paupérrimas repúblicas do Caucaso. Acontece, senhor Sebastián, até os nossos dias. Basta sintonizar, de tarde, Telesur ou CNN. Ou ainda, Chilevisión depois do programa Yingo, se assim o preferir.

Reconheço que uma pergunta permanece no ar. A quem represento? Na verdade a ninguém Senhor Sebastián. Nem ao meu reduto, nem ao partido mapuche em que milito, nem ao jornal que dirijo. Muito menos ao meu povo. Não represento a ninguém e, por isso mesmo, a todos. A todos aqueles que lendo estas linhas sintam que se faz necessário uma abordagem distinta do mal chamado “conflito mapuche”, estranha denominação criada pelo jornal El Mercurio e que deixa de fora, olimpicamente, o componente chileno de toda esta injuria. A todos aqueles que acreditam ser possível construir um novo tipo de relação entre vocês e nós, em que a diversidade de línguas, conhecimentos e culturas não seja sinônimo de ameaças ou antessala de pancadarias. Não represento a ninguém, senhor Sebastián, mas acredite que são muitos aqueles que compartem comigo o conteúdo desta missiva, que não é outro que dar uma oportunidade à palavra. Ou às letras. Consultado de por que os mapuches jamais tinhamos construído grandes pirâmides ou grandiosos templos, um grande poeta do meu povo respondeu que o nosso principal monumento era a palavra. Pode ser que também o sejam as letras, que é a forma em que as palavras dos nossos antepassados se transformaram em cartas para continuar existindo. Letras alheias, Senhor Sebastián, mas incorporadas pela necessidade dos seus em colonizar e dos meus em resistir.

Neste ponto me despeço do Senhor. Tome cuidado, não espero resposta oficial nenhuma da sua parte. Certamente estará ocupado em inumeráveis assuntos do Estado. Tampouco fantasio com alguma noticia de recebimento desta. Ficaria satisfeito com que algum dos seus assessores, algum dia, a mencione, mesmo que fosse como uma anedota passageira.


Atentamente

Pedro CAYUQUEO

*PEÑI: Irmão de um varão

Popularidade de Lula continua em alta e bate recorde

O índice de aprovação alcançou 76%. É o melhor desempenho de um presidente desde que a pesquisa começou a ser realizada, em 1990.

A nove meses de deixar o cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu no final de março a sua melhor avaliação desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2003: 76% da população consideram seu governo ótimo ou bom. É um índice recorde na avaliação positiva para um presidente no Brasil desde que o Datafolha iniciou esses levantamentos, em 1990.

Foi a terceira pesquisa consecutiva, agora realizada entre 25 e 26 de março, em que o Datafolha registrou oscilação positiva nos índices de ótimo e bom concedidos pela população ao presidente Lula.


Indicadores econômicos


Ao longo dos últimos sete anos, os resultados positivos na avaliação do presidente vêm coincidindo, ano a ano, com a melhora nos indicadores econômicos e sociais do país.

Mesmo entre os mais escolarizados e ricos, que no início do governo tinham grandes doses de prevenção contra o governo Lula, a popularidade do presidente avançou.


Só entre agosto de 2009 e agora, a avaliação positiva de Lula saltou nove pontos, de 67% para os 76% atuais.


Já nos últimos três anos, Lula aumentou em 26 pontos a sua popularidade. Hoje, apenas 20% consideram seu governo regular e 4%, ruim ou péssimo. Tendo Dilma como candidata, Lula manteve a tendência de crescimento na popularidade entre as mulheres. Também pela terceira vez seguida, a aprovação a seu governo cresceu nesse segmento da população, passando de 71% para 75%.


Idosos


Além de ter avançado no segmento feminino da população, a avaliação do presidente cresceu também entre as pessoas com mais de 60 anos. Subiu seis pontos, de 67% para 73%. Mas um dos maiores saltos na avaliação positiva de Lula captado pela pesquisa se deu entre as famílias que têm renda superior a dez salários mínimos (R$ 5.100,00). Foram 12 pontos percentuais de aumento, de 56% para 68%.


No início do governo Lula, nesse mesmo segmento da população apenas 36% consideravam a gestão do petista como ótima ou boa. De lá para cá, o aumento é de expressivos 32 pontos percentuais.


Entre os mais pobres, 77%


O salto é ainda maior, de 34 pontos, entre os que ganham menos, até cinco salários mínimos (R$ 2.550,00). A aprovação ao presidente nessa parcela da população alcança hoje 77%. Mas, apesar do crescimento também entre os brasileiros com ensino superior (de 65% para 70%) e entre os que ganham mais de dez salários mínimos, (56% para 68%) é nesses segmentos que o governo Lula continua tendo as suas piores taxas de aprovação.


O mesmo ocorre nas regiões Sul e Sudeste, onde 69% das pessoas consideram o governo ótimo ou bom. Esse percentual sobe a 87% no Nordeste. Na região, não somente a renda da população aumenta a um ritmo maior do que na média do país como é para onde se dirige grande parcela dos benefícios do programa Bolsa Família.


A pesquisa também ajudar a explicar porque Lula ainda não conseguiu transferir todo o seu prestígio para a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. De acordo com o Datafolha, apesar de 87% dos eleitores dizerem conhecer Dilma, só 58% sabem que ela é a candidata de Lula. Conhecido por 97%, Serra lidera com folga entre quem julga o governo regular, ruim ou péssimo.


Fonte: www.vermelho.org.br

domingo, 28 de março de 2010

01- Papel de mediador do Brasil leva Exército Brasileiro a receber prisioneiros libertos pelas FARC

Um helicóptero do Exército Brasileiro decolou na manhã de hoje de Villavicencio, no centro-leste da Colômbia, para recolher em algum ponto da selva o soldado colombiano Josué Calvo, que será libertado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Em um gesto unilateral, em 16 de abril do ano passado, a guerrilha colombiana decediu libertar dois prisioneiros. O saldo Josué Calvo devido à problemas de saúde, e o cabo Pablo Emilio Moncayo é o mais antigo prisioneiro.

As Farc exigiram do governo colombiano o cumprimento de protocolos de segurança para possibilitar o resgate, de forma a não usarem operações humanitárias de paz como alvos de ataques militares.

A logística brasileira é um dos elementos que ajudam a vencer as desconfianças mútuas entre exército e guerrilha, ainda mais em um momento de acirramento do conflito armado, a dois meses da eleição presidencial.

A bordo do helicóptero com tripulação do Exército Brasileiro, viajarão representantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e do grupo Colombianos pela Paz, encabeçado pela senadora Piedad Córdoba.

Dois helicópteros brasileiros foram colocados à disposição da Cruz Vermelha Internacional para a ação. As aeronaves partiram na manhã de sábado (27) de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e chegaram por volta das 15h30 em Villavicencio.

As negociações são conduzidas pela senadora Piedad Córdoba, que faz oposição ao governo de Álvaro Uribe, e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Do lado brasileiro, participam diretamente da operação apenas militares. Mas as negociações foram orientadas pelo assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

02- FARC ENTREGAM REFÉM JOSUÉ CALVO A COMISSÃO HUMANITÁRIA

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia entregaram hoje o soldado Josué Daniel Calvo, o primeiro dos dois reféns que a guerrilha pretende libertar de forma unilateral durante esta semana.

De acordo com fontes oficiais de Bogotá, o militar foi solto em um ponto não especificado da selva colombiana, tendo sido recebido pela comissão humanitária comandada pela senadora oposicionista Piedad Córdoba.

Depois de mais de dois anos de cativeiro, o ex-refém chegou ao aeroporto da cidade de Villavicencio às 13h locais (15h no horário de Brasília).

Calvo estava vestido com uma camiseta azul clara e uma calça esportiva e desceu do avião apoiado em um pequeno bastão. Ele foi recebido por seus pais na pista de aterrissagem. O militar então se dirigiu a uma sala reservada, onde se reuniu com outros parentes e foi saudado pelo comissário do governo colombiano para a Paz, Frank Pearl.

O Exército do país determinou que Calvo fosse levado ainda na tarde de hoje a um hospital, para ser submetido a exames médicos

Também fizeram parte do grupo de resgate representantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e da Igreja Católica. Além deles havia um médico, que tinha a função de avaliar o estado de saúde de Calvo.

"No dia de hoje, em meados da tarde, em uma zona rural do departamento [estado] de Meta, o soldado Josué Daniel Calvo foi entregue pelas Farc", relatou um comunicado divulgado pelo CICV.
A organização agradeceu ao Brasil pelo apoio logístico no resgate -- os dois helicópteros usados pela comissão foram disponibilizados pelas Forças Armadas nacionais --, bem como ao governo colombiano, à força pública deste país e a pessoas que contribuíram para facilitar a operação.
Na próxima terça-feira, a mesma comissão humanitária partirá para a cidade de Florencia, 586 quilômetros ao sul de Bogotá, para recolher o sargento Pablo Emilio Moncayo, sequestrado há 12 anos e que também será libertado pelas Farc.


Fontes: ANSA e www.osamigosdopresidentelula.blogspot.com

Reflexões de Fidel Castro

A reforma sanitária dos Estados Unidos

BARACK Obama é um fanático crente do sistema capitalista imperialista imposto pelos Estados Unidos ao mundo. "Deus abençoa os Estados Unidos", conclui seus discursos.

Alguns de seus fatos feriram a sensibilidade da opinião mundial, que viu com simpatias a vitória do cidadão afro-americano frente ao candidato de extrema direita desse país. Apoiando-se numa das mais profundas crises econômicas que conheceu o mundo, e na dor causada pelos jovens norte-americanos que morreram ou foram feridos ou mutilados nas guerras genocidas de conquistas de seu predecessor, obteve os votos da maioria de 50% dos norte-americanos que acodem às urnas nesse democrático país.

Por elementar sentido ético, Obama deveu abster-se de aceitar o Prêmio Nobel da Paz, quando já tinha decidido o envio de 40 mil soldados a uma guerra absurda no coração da Ásia.

A política militarista, o saque dos recursos naturais, o intercâmbio desigual da atual administração com os países pobres do Terceiro Mundo, em nada se diferencia da de seus antecessores, quase todos da extrema direita, com algumas exceções, ao longo do século passado.

O documento antidemocrático imposto na Cúpula de Copenhague à comunidade internacional — que acreditara na sua promessa de cooperar na luta contra a mudança climática — foi outro dos fatos que desenganaram muitas pessoas no mundo. Os Estados Unidos, o país maior emissor de gases de efeito estufa, não estavam dispostos a realizar os sacrifícios necessários, apesar das palavras lisonjeiras prévias de seu presidente.

Seria interminável a lista de contradições entre as ideias que a nação cubana defende com grandes sacrifícios durante medio século e a política egoísta desse império colossal.

Apesar disso, não sentimos nenhuma animadversão por Obama, e muito menos pelo povo dos Estados Unidos. Consideramos que a Reforma da Saúde constitui uma importante batalha e um sucesso de seu governo. Não obstante, parece algo realmente insólito que 234 anos depois da Declaração de Independência, na Filadélfia, em 1776, inspirada nas ideias enciclopedistas francesas, o governo desse país aprovasse o atendimento médico para a imensa maioria de seus cidadãos, coisa que Cuba conseguiu para toda sua população há mais de meio século, apesar do cruel e desumano bloqueio imposto e ainda vigente por parte do país mais poderoso que jamais existiu. Antes, depois de quase um século de independência e sangrenta guerra, Abraham Lincoln conseguiu a liberdade legal dos escravos.

Não posso, por outro lado, deixar de pensar num mundo onde mais de um terço da população não tem atendimento médico e os medicamentos essenciais para garantir sua saúde, situação que se agravará na medida em que a mudança climática, a escassez de água e de alimentos sejam maiores, num mundo globalizado onde a população cresce, os bosques desaparecem, a terra agrícola diminui, o ar se torna irrespirável, e a espécie humana que o habita — que emergiu há menos de 200 mil anos, ou seja 3,5 bilhões de anos depois que surgiram as primeira formas de vida no planeta — corre o risco real de desaparecer como espécie.

Admitindo que a reforma sanitária significa um sucesso para o governo de Obama, o atual presidente dos Estados Unidos não pode ignorar que a mudança climática significa uma ameça para a saúde e, pior ainda, para a própria existência de todas as nações do mundo, quando o aumento da temperatura — além dos limites críticos que são visíveis— dilua as águas gélidas das calotas polares, e dezenas de milhões de quilômetros cúbicos armazenados nas enormes camadas de gelo acumuladas na Antártida, Groenlândia e Sibéria degelem numas poucas dezenas de anos, inundando todas as instalações portuárias do mundo e as terras onde hoje vive, se alimenta e trabalha grande parte da população mundial.

Obama, os líderes dos países ricos e seus aliados, seus cientistas e centros sofisticados de pesquisas sabem disso; é imposível que o ignorem.

Compreendo a satisfação com que se expressa e reconhece, no discurso presidencial, a contribuição dos membros do Congresso e da adminitração que tornaram possível o milagre da reforma sanitária, o qual fortalece a posição do governo face a lobistas e mercenários da política, que limitam as faculdades da adminitração. Seria pior se os que protagonizaram as torturas, os assassinatos por contrato e o genocídio ocupassem novamente o governo dos Estados Unidos. Como pessoa incontestavelmente inteligente e suficientemente bem informada, Obama sabe que não exagero nas minhas palavras. Espero que as tolices que, às vezes, expressa sobre Cuba não obnubilen sua inteligência.

Depois do sucesso nesta batalha pelo direito à saúde de todos os norte-americanos, 12 milhões de imigrantes, em sua imensa maioria latino-americanos, haitianos e de outros países do Caribe, reclaman a legalização de sua presença nos Estados Unidos, onde realizam os trabalhos mais duros e dos quais a sociedade norte-americana não pode prescindir, na qual são presos, afastados de suas famílias devoltos a seus países.

A imensa maioria emigrou para a América do Norte como consequência das tiranias impostas pelos Estados Unidos aos países da área e da brutal pobreza à qual foram submetidos como consequência do saque de seus recursos e do intercâmbio desigual. Suas remessas familiares constituem uma elevada porcentagem do PIB de suas economias. Esperam agora um ato de justiça elementar. Se ao povo cubano foi imposta uma Lei de Ajuste, que promove o roubo de cérebros e o despojo de seus jovens instruídos, por que são empregues métodos tão brutais com os imigrantes ilegais dos países latino-americanos e caribenhos?

O devastador terremoto que açoitou o Haiti — o país mais pobre da América Latina, que acaba de sofrer uma catástrofe natural sem precedentes que deixou um saldo de mais de 200 mil óbitos — e o terrível prejuízo econômico que outro fenômeno similar ocasionou no Chile, são provas eloquentes dos perigros que ameaçam a chamada civilização e a necessidade de drásticas medidas que outorguem à especie humana a esperança de sobreviver.

A Guerra Fria não trouxe nenhum benefício para a população mundial. O imenso poder econômico, tecnológico e científico dos Estados Unidos não pode sobeviver à tragédia que paira sobre o planeta. O presidente Obama deve procurar no seu computador os dados pertinentes e dialogar com seus cientistas mais eminetes; ele constatará quão longe está seu país de ser o modelo que apregoa para a humanidade.

Por ser afro-americano, ali sofreu as afrontas da discriminação, segundo narra em seu livro Os sonhos de meu pai; ali conheceu a pobreza em que vivem dezenas de milhões de norte-americanos; ali educou-se, mas ali também desfrutou como profissional bem-sucedido os privilégios da classe média rica, e terminou idealizando o sistema social, onde a crise econômica, as vidas dos norte-americanos inutilmente sacrificadas e seu indiscutível talento político lhe deram a vitória eleitoral.

Apesar disso, para a direita mais recalcitrante, Obama é um extremista, que ameaçam de continuar travando a batalha no Senado para neutralizar os efeitos da reforma e sabotá-la abertamente em vários Estados da União, declarando inconstitucional a Lei aprovada.

Os problemas da nossa epoca são ainda muito mais graves.

O Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e outros organismos internacionais de créditos, sob controle estrito dos Estados Unidos, permitem que os grandes bancos norte-americanos — criadores dos paraísos fiscais e responsáveis pelo caos financeiro no planeta — sejam trazidos à superfície pelos governos desse país em cada uma das frequentes e crescentes crises do sistema.

A Reserva Federal dos Estados Unidos emite à vontade as moedas conversíveis que finaciam as guerras de conquista, os lucros do Complexo Militar-Industrial, as bases militares espalhadas por todo o mundo e os grandes investimentos de multinacionais que controlam a economia em muitos países do mundo. Nixon suspendeu unilateralmente a conversão do dólar em ouro, enquanto nos Bancos de Nova Iorque se guardam sete mil toneladas de ouro, pouco mais do 25% das reservas mundiais desse metal, cifra que no fim da 2ª Guerra Mundial ultrapassava 80%. Argumenta-se que a dívida pública é de acima de US$10 trilhões, o que excede 70% do seu PIB, como uma carga que é transferida para as novas gerações. Isto afirma-se quando, na verdade, quem paga essa dívida é a economia mundial, com enormes gastos em bens e serviços que oferece para adquirir dólares norte-americanos, com os quais as grandes multinacionais desse país se apropriaram de uma parte considerável das riquezas do mundo e sustentam a sociedade de consumo dessa nação.

Qualquer um compreende que tal sistema é insustentável e por que os setores mais ricos nos Estados Unidos e seus aliados no mundo defendem um sistema apenas sustentável com a ignorância, as mentiras e os reflexos condicionados criados na opinião mundial através do monopólio da mídia, incluídas, as redes principais da internet.

Hoje tudo isto colapsa diante do avanço acelerado da mudança climática e suas funestas consequências, que colocam a humanidade ante um dilema excepcional.

As guerras entre as potências não parecem ser neste momento a solução possível para estas grandes contradições, como o foram até a segunda metade do século 20; mas, ao mesmo tempo, têm incidido de tal forma nos fatores que tornam possível a sobrevivência humana, que podem pôr fim prematuramente à existência da atual espécie inteligente que habita nosso planeta.

Há alguns dias, expressei minha convicção de que, à luz dos conhecimentos científicos que hoje se dominam, o ser humano deverá resolver seus problemas no planeta Terra, já que jamais poderá percorrer a distância entre o Sol e a estrela mais próxima, situada a quatro anos luz, velocidade que equivale a 300 mil quilômetros por segundo — como sabem nossos alunos de ensino secundário — se ao redor desse Sol existisse um planeta parecido com nossa bela Terra.

Os Estados Unidos investem avultadas quantias para comprovar se no planeta Marte há água, e se existiu ou existe alguma forma elementar de vida. Ninguém sabe para quê, a não ser por curiosidade científica. Milhões de espécies desaparecem a ritmo crescente em nosso planeta e suas fabulosas quantidades de água constantemente são contaminadas.

As novas leis da ciência — a partir da fórmula de Einstein sobre a energia e a matéria, e a teoria da grande explosão como origem dos milhões de constelações e infinitas estrelas ou outras hipótese — deram lugar a profundas mudanças em conceitos fundamentais como o espaço e o tempo, que atraem a atenção e a análise dos teólogos. Um deles, nosso amigo brasileiro Frei Betto, trata do assunto no seu livro A obra do artista: Uma visão holística do Universo, lançado na última Feira Internacional do Livro de Havana.

Os avanços da ciência nos últimos cem anos impactaram os enfoques tradicionais que prevaleceram durante milhares de anos nas ciências sociais e, inclusive, na filosofia e na teologia.

Não é pouca a atenção que os mais honestos pensadores prestam aos novos conhecimentos, mas não sabemos absolutamente nada do que pensa o presidente Obama sobre a compatibilidade da sociedade de consumo e a ciência.

Entretanto, vale a pena meditar de quando em quando estes temas. Com certeza, não por isso o ser humano deixará de sonhar e de levar as coisas com calma e nervos de aço. Este é o dever, ao menos, daqueles que escolheram o ofício de políticos e o nobre e irrenunciável propósito de uma sociedade humana solidária e justa.

Fidel Castro

Helicópteros brasileiros chegam a Villacencio para resgate

Já estão em Villavicencio, na Colômbia, os dois helicópteros brasileiros colocados à disposição da Cruz Vermelha Internacional para a ação humanitária de resgate do sargento Pablo Emilio Moncayo e do cabo Josué Daniel Calvo que estão há 12 anos como reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).


As aeronaves partiram no início da manhã de hoje (27) de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e chegaram por volta das 15h30 em Villavicencio. De acordo com informações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil, os militares brasileiros aguardarão até amanhã (28) quando deve ser realizada a primeira das duas ações de resgate dos reféns.


A ideia é de que a libertação dos reféns sejam realizadas em dois locais diferentes - um para cada refém. A operação deve ser realizada em etapas e horários distintos. Observadores que acompanham as articulações informam que, inicialmente, seria resgatado Moncayo e depois, Calvo.


As negociações são conduzidas pela senadora Piedad Córdoba, que faz oposição ao governo de Álvaro Uribe, e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Do lado brasileiro, participam diretamente da operação apenas militares. Mas as negociações foram orientadas pelo assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.


Moncayo está em poder das Farc há 12 anos e Calvo, há 11 meses. Os militares brasileiros também vão ajudar no traslado dos restos mortais do major Julián Ernesto Guevara, que foi morto em cativeiro. Pelos dados de especialistas brasileiros, ainda restam 20 militares em poder das Farc.


Ivan Richard, da Agência Brasil

TIROFIJO

Ontem à tardinha saí a caminhar pelo frio da minha cidade, e fiquei a observar no céu quase todo azul, uns fiapos de nuvens brancas que se esgarçavam em fios, cada vez mais finos, cada vez mais esvoaçantes no vento gelado, e me passou uma idéia pela cabeça: não seria Tirofijo quem estaria por aí a espiar as coisas, e na primeira folga da sua vida tenha vindo nos fazer uma visita, e quando viu tanta pobreza e tanta injustiça nos entornos desta minha Blumenau que as autoridades costumam chamar de “Europa Brasileira”, tenha resolvido fazer uma alegria para este povo que carrega tantos problemas nos ombros encurvados, e resolveu transformar em brincadeira e arte aqueles poucos fiapos de nuvens?

Bem pode ser – já são mais de dois meses que ele dorme no abrigo de uma montanha colombiana, e eu conheço aquelas montanhas, e sei como elas são lindas e férteis, com seus muitos campos de muitos cereais de muitos tons de amarelos e verdes, campos plantados até lá em cima, onde começam as neves eternas – embora a maior parte da vida de Tirofijo não tenha sido como teria gostado que fosse, dentre os campos de cereais, mas lá longe, nas montanhas ainda não cultivadas, onde é o único lugar que um ser humano ainda tem para se abrigar, quando resolve que já não é mais possível mesmo compactuar com o deus Capital.

Nos últimos dias, os mais abalizados escritores e jornalistas do mundo escreveram sobre ele, contaram tudo o que puderam sobre a sua vida, e então a mim, pequena escritora de província, restou contar, talvez, sobre os seus sonhos, a sua alma.

Ele viveu 78 anos, 60 dos quais em combate revolucionário armado ininterrupto. Quem era? Era um menino colombiano chamado Pedro Antonio Marín, que fez coisas simples na sua infância, como vender queijo e trabalhar na terra – e que sempre teve a clarividência de ver onde a Injustiça estava e onde oprimia, e foi por isto que tão cedo pegou sua carabina e seu cachorro e tratou de defender seu povo. Mais adiante vai assumir um codinome, o que foi nome de um outro lutador colombiano, Manuel Marulanda Vélez, um jovem que foi assassinado porque também acreditava na Justiça. É com este codinome que ele acaba ficando conhecido – ou também como Tirofijo, pois se dizia que sua pontaria era uma coisa impressionante.

Os que o conheceram de perto dizem como era profundamente sábio e amoroso, de uma grande simplicidade por toda a vida, sem nenhum laivo daquele fascismo tão comum a grande parte das lideranças, que tem dentro de si a sede insaciável de mandar – sua sabedoria não vinha do garrote vil das Academias (pois eu vi, e faz pouco tempo, uma prova de mestrado onde as únicas respostas possíveis para as questões era que o neo-liberalismo chegara, resolvera todos os problemas do mundo e colocara um ponto final na História – e tem gente que leva tais mestrados a sério e depois pensa que seu pequeno saber garroteado é algo que se compara ao grande saber de quem teve a clareza de ler no povo e a ousadia de defendê-lo de arma na mão!).

Líder dos oprimidos, creio que foi em 1964 (portanto, há 44 anos) que, juntamente com outros 47 homens e mulheres que defendiam seu direito à terra, enfrentando numeroso exército de milhares de soldados, fundou as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.)

Eu andei pela Colômbia e vi bem como aquele país vive uma longa guerra civil, e vi também a beleza daquela terra e da sua gente, e do seu Caribe que parece de cristal, e das suas montanhas andinas por onde se viaja em largas rodovias, e soube tantas coisas, tantas coisas... A situação da Colômbia é muito mais complexa do que nos dizem: entre as forças de Esquerda e de Direita (as FARC e o Exército) há as AUC, uma horrorosa guerrilha de direita, onde estão incorporados os piores assassinos egressos do submundo do crime, que não titubeiam em usar moto-serras para despedaçar vivas as suas vítimas, e que quando assaltam um pueblito, matam todas as pessoas lá existentes, homens, mulheres e crianças – na verdade, não é bem assim – deixam vivas duas ou três crianças, para contar suas atrocidades mais tarde – mas a tais crianças deixam marcas indeléveis: a facão, cortam-lhe um braço, às vezes uma perna... As AUC já conseguiram enxotar das suas terras 3.000.000 camponeses colombianos – não é preciso ser-se adivinho para se entender quem almeja tantas terras vazias!

Alguém vai dizer: por que a esquerda não funda um partido, não muda as coisas através de eleições? Na Colômbia não dá para fazer tal coisa não, meu amigo: pensou em fundar um partido, um sindicato, sei lá, já morreu. Procure saber as estatísticas dos assassinatos naquele país.

Não vim aqui, hoje, porém, para falar da Colômbia – vim para falar de Manuel Marulanda, o Tirofijo, o homem que passou 60 anos andando pelas montanhas, acompanhado por um cachorro, uma carabina e uma mulher que o amava, um dos maiores revolucionários da América dita Latina. Segundo se sabe, não chegou sequer a conhecer Bogotá, a linda capital do seu país – mas com certeza conhecia cada vereda de cada montanha, cada sentimento escondido no coração de cada oprimido, e quando espiava pelas frestas dos seus olhos de mestiço de índio, podia ver, lá adiante, um tempo ao qual dedicou a vida, o tempo em que o deus do mundo já não seria o deus Capital, um tempo de mais Justiça, mais alegria, mais liberdade...

Tirofijo teve a oportunidade de sonhar seu sonho até o fim, pois partiu como partem tantos justos: junto aos seus companheiros e à sua amada, o cachorro por perto, beirando os 80 anos, no refúgio que sempre lhe foi inexpugnável de uma montanha. Decerto, o grande coração da América parou de bater por um pouco, naquele dia, tamanha a mágoa sentida – nós não sabíamos, não percebemos. Os companheiros interpretaram aquela parada, no entanto – souberam fazer o respeitoso silêncio necessário, entregaram Tirofijo à montanha e se quedaram silenciosos por dois meses inteiros.

Quando soubemos, o grande guerrilheiro talvez já estivesse por aí, descansado e leve, a observar tantas coisas que não tivera tempo durante a vida! Foi por isto que pensei, ontem, que poderia ser ele a esgarçar fios de nuvens lindos como fios de seda sobre esta minha cidade, como um presente de esperança para os tantos injustiçadas. Por via das dúvidas, fiquei a espiar o céu, imaginando que de repente poderia ver a sua barba de prata, e disse baixinho:

- Bem-vindo, Tirofijo! A gente, aqui, também, precisa tanto de ti!

Urda Alice Klueger
Escritora

sábado, 27 de março de 2010

Helicópteros brasileiros partem de São Gabriel da Cachoeira para operação de resgate de reféns das Farc

Enviado por Aécio Rodrigues..., sab, 27/03/2010 - 11:35

Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Dois helicópteros do Exército Brasileiro partiram no início da manhã de hoje (27) de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, para a cidade colombiana de Villavicencio. Eles vão ajudar na operação de resgate de dois reféns que estão em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A operação humanitária é composta pela delegada do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na Colômbia, Roberta Falciola; senadora Piedad Córdoba; Hernando Gomez, do Movimento Colombianos pela Paz; e o monsenhor Leonardo Gomez Serna, Bispo de Magangue e representante da Igreja. Também fazem parte da operação humanitária Felipe Donoso, representante do CICV para Brasil e países do Cone Sul.

As aeronaves brasileiras foram identificadas com o emblema da Cruz Vermelha. De acordo com informações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil, os 20 militares brasileiros que darão apoio à operação aguardarão até amanhã (28) quando deve ser realizada a primeira das duas ações de resgate do sargento Pablo Emilio Moncayo e do cabo Josué Daniel Calvo.

A ideia é de que a libertação dos reféns sejam realizadas em dois locais diferentes – um para cada refém. A operação deve ser realizada em etapas e horários distintos. Observadores que acompanham as articulações informam que, inicialmente, seria resgatado Moncayo e depois, Calvo.
As negociações são conduzidas pela senadora Piedad Córdoba, que faz oposição ao governo de Álvaro Uribe, e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Do lado brasileiro, participam diretamente da operação apenas militares. Mas as negociações foram orientadas pelo assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

Moncayo está em poder das Farc há 12 anos e Calvo, há 11 meses. Os militares brasileiros também vão ajudar no traslado dos restos mortais do major Julián Ernesto Guevara, que foi morto em cativeiro. Pelos dados de especialistas brasileiros, ainda restam 20 militares em poder das Farc.

Colômbia: Um Estado Terrorista?

[ 24.03.10 ] em Instituto de Estudos Latino-Americanos / UFSC

Por Waldir José Rampinelli – professor do Departamento de História da UFSC

Na Colômbia, afirmava um líder comunitário, é mais fácil organizar uma guerrilha que um sindicato. Se alguém tem dúvidas, que o tente no seu local de trabalho. A Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), criada em 1987, contabilizava, doze anos depois, 2.500 filiados assassinados, sendo os empregados das plantações de banana os mais atingidos, seguidos dos professores e dos petroleiros. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) declarou que a Colômbia é o país do mundo onde qualquer atividade sindical representa um alto grau de risco. E usou a expressão “genocídio sindical” para caracterizar os constantes massacres da população organizada.

O livro “O Terrorismo de Estado na Colômbia” (Florianópolis: Editora Insular, 2010), do jornalista Hernando Calvo Ospina, é um importante estudo da política colombiana e de como um Estado classista se utiliza do terror contra sua população para que uma oligarquia se apodere do país.

O assassinato de Jorge Eliécer Gaitán, em abril de 1948, desencadeou a espiral de violência. Embora pertencesse ao Partido Liberal, ele era um líder popular com um discurso nacionalista e anti-imperialista, responsabilizando a oligarquia colombiana e as empresas estadunidenses pela superexploração da mão-de-obra de seu povo. Seguramente seria eleito presidente nas eleições de 1949, daí sua eliminação para que a classe dominante continuasse seu processo de acumulação. A revolta popular foi tão grande pela morte dele que, assim que tomou conhecimento pelo rádio, atacou e incendiou símbolos do poder em Bogotá, tais como o Palácio da Justiça, a Procuradoria da Nação, o Ministério do Interior e da Educação, a sede presidencial, a Nunciatura Apostólica e vários conventos, entidades estas responsabilizadas como autoras intelectuais do assassinato de Gaitán.

A partir de então, o Partido Liberal e o Conservador estabeleceram uma coalisão, denominada de Frente Nacional, destinada a garantir o poder à oligarquia, tornando quase impossível que uma força militar ou civil rompesse este sistema. Passaram a se revezar no poder, distribuindo os cargos entre si e funcionando como entidades do Estado. A diferença entre Liberais e Conservadores se reduziu a que, afirma Gabriel García Marquez, enquanto uns iam à missa das sete, outros frequentavam a das nove. Com o surgimento da Frente Nacional acabavam-se as lutas partidárias, mas nascia a luta de classes.

Os camponeses mais perseguidos foram os liberais gaitanistas. Acredita-se que entre 1946 e 1958 foram assassinados aproximadamente 300 mil deles. Deste modo, não restava a eles outra alternativa que a luta armada. A “Operação Marquetalia”, uma incursão militar assessorada pelos boinas verdes estadunidenses contra supostos “bandoleiros” que defendiam “repúblicas independentes”, serviu para massacrar vários “pueblos”. Em um deles vivia o “campesino” Manuel Marulanda Vélez, que se viu obrigado a adotar uma nova forma de resistência – guerra de guerrilhas – de unidades em movimento permanente, evitando a confrontação e atacando de surpresa. Nasciam, assim, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), de cunho comunista (1965).

Um ano antes já havia sido criado o Exército de Libertação Nacional (ELN), com forte influência ideológica da Revolução Cubana, tendo em vista que vários de seus dirigentes haviam estado na Ilha participando do processo de defesa das agressões imperialistas. A esta organização pertenceu o tão conhecido sacerdote Camilo Torres Restrepo, que dizia que “o dever de todo cristão é ser revolucionário e o dever de todo revolucionário é fazer a revolução”. Em 1967, foi fundado o Exército Popular de Libertação (EPL), tendo como bandeira a teoria da “guerra popular prolongada” e a criação de “embriões de poder alternativo”. Mais tarde, em 1974, apareceu também o Movimento 19 de Abril (M-19), que se definiria como nacionalista e que lutava pelo socialismo.

O Estado colombiano, suas classes dominantes e Washington, de tanto falar do “perigo comunista” e de massacrar camponeses indefesos, haviam ajudado a tornar realidade o aparecimento de quatro organizações político-militares, algumas delas atuantes até hoje.

Os Paramilitares

A Doutrina de Segurança Nacional, utilizada pela França nas guerras colonialistas da Indochina e da Argélia, como também pelos nazistas na resistência gálica, entrou na Colômbia, pelas mãos de Washington, com o objetivo de alinhá-la na Guerra Fria e com a finalidade de combater os grupos guerrilheiros e todos aqueles que lhes davam apoio. O inimigo passa a ser interno e é caracterizado de “bandoleiro”, “subversivo”, “guerrilheiro” e “terrorista”. Deste modo, a presença e a atuação das Forças Armadas da Colômbia “alcançariam um status de ideologia de Estado”.

No entanto, por pressão de organismos internacionais, o Estado colombiano foi denunciado com freqüência nas entidades de direitos humanos. Passou, então, inicialmente a estimular e posteriormente a criar grupos paramilitares que tivessem as mãos livres para perpetrar todos os crimes possíveis contra as organizações de esquerda. Os “para”, como são conhecidos, se autodenominaram de Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) e são financiados por empresários, latifundiários e narcotraficantes, cabendo ao Exército colombiano o suporte tático e estratégico. Tais grupos cresceram tanto no país que 1987 e 1988 são conhecidos como os “anos do paramilitarismo”. Eles chegaram a criar um partido político – o Movimento de Renovação Nacional (Morena) – pretendendo expandir a experiência paramilitar como ideologia política.

Hernando Calvo Ospina, neste trabalho, mapeia os nomes de generais, coronéis e demais pessoas que assumiram a direção e operação dos grupos paramilitares com o apoio das democracias capitalistas dos Estados Unidos, da Europa e da América Latina. Os paramilitares atacam principalmente as populações civis e desarmadas, alegando que, como não encontram os grupos guerrilheiros, dão cabo daqueles que lhes apóiam. Se não se pode pegar o peixe, tenta-se tirar-lhe a água. Daí que todos são suspeitos sem poder provar o contrário. Assassinam líderes comunitários, massacram povoados acusados de abastecer as guerrilhas, obrigam as pessoas a votar em seus candidatos, exigem que os camponeses vendam suas terras pelos preços que eles estabelecem e provocam um enorme êxodo rural com o conseqüente inchaço das cidades, dispondo para tudo isso da proteção do Exército colombiano. O jornal espanhol El País, na sua edição de 20 de abril de 2009, sob o título “Las tierras de sangre en Colômbia”, mostra a luta dos camponeses para reaver suas propriedades, pagando com a vida o simples gesto de reivindicar o que fora seu um dia.

Os paramilitares têm, igualmente, seus apoios internacionais, principalmente dentro de Israel e dos Estados Unidos. Empresas israelenses de segurança, contratadas por narcotraficantes e por uma companhia exportadora de banana, com o apoio do governo colombiano e de suas forças de segurança, trouxeram assessores daquele país para treinar os “para”. Os cursos eram tão caros (por três deles foram pagos 800.000 dólares) que, segundo confissão do paramilitar Baquero Agudelo “Vladimir” coube aos narcotraficantes Gonzalo Rodríguez Gacha, Victor Carranza e Pablo Escobar Gavíria o financiamento dos mesmos. Aliás, foi com Escobar Gavíria que os mercenários israelenses cresceram na Colômbia, já que o grande “capo” necessitava cada vez mais de segurança pessoal como também para suas plantações de coca.

Gravíssima, porém, é a relação dos paramilitares e narcotraficantes com a Agência Central de Inteligência (CIA). Enquanto os “para” atuavam dentro da lógica da Doutrina de Segurança Nacional contra as guerrilhas e seus apoiadores, já os “narco” abasteciam a CIA com cocaína, que, uma vez levada à América Central, e daí aos Estados Unidos, era vendida e o dinheiro revertido para financiar os “contra” que, na fronteira de Honduras com a Nicarágua, lutavam para derrubar o regime sandinista. Esta triangulação, feita para arrecadar fundos, driblava uma decisão do Congresso estadunidense que havia proibido o financiamento deste exército irregular. A sentença de morte de Pablo Escobar Gavíria se deveu, entre outras razões, segundo declarações de membros do Cartel de Medellín, ao fato de ele, em um de seus momentos de arranque nacionalista e anti-imperialista, se negar a fornecer mais cocaína à CIA para a guerra antissandinista.
Uribe e suas conexões perigosas

Fernando Garavito Pardo, colunista do jornal “El Espectador”, teve de se exilar, em março de 2002, depois que publicou uma série de trabalhos sobre os possíveis nexos do então candidato a presidente Álvaro Uribe Vélez com o narcotráfico e o paramilitarismo. O mesmo aconteceu com Ignácio E. Gómez Gómez, logo depois de receber o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa, do Comitê Mundial para a Proteção dos Jornalistas, ao fazer uma reportagem que relacionava Uribe com o Cartel de Medellín.

Quando o pai do presidente foi atacado pelas FARC em sua fazenda, Uribe se utilizou do helicóptero mais moderno do país, de propriedade de Pablo Escobar Gavíria, para chegar ao local do enfrentamento. Perguntado sobre o uso da aeronave, o presidente simplesmente respondeu que “embarquei quase de noite no primeiro helicóptero que conseguiram [...] O jornal “El Mundo” disse, no dia seguinte, que o helicóptero era do fazendeiro Pablo Escobar”.

Em 1984, quando a polícia chegou ao maior laboratório de cocaína do mundo, de Pablo Escobar – o Tranquilandia –, encontrou várias aeronaves, três das quais tinham licença de funcionamento expedida pela Aeronáutica Civil quando seu diretor fora Álvaro Uribe Vélez.

No entanto, o mais grave estaria por vir. Em 30 de julho de 2004, a presidência da Colômbia rechaçou um documento da Defense Intelligence Agency (DIA), um dos serviços de segurança mais secretos e poderosos dos Estados Unidos, que classificava Uribe “um político e senador colombiano dedicado a colaborar com o Cartel de Medellín nas altas esferas do governo”. E continuava: “Esteve vinculado com os negócios relacionados com as atividades dos narcóticos nos Estados Unidos. Seu pai foi assassinado na Colômbia por sua conexão com os traficantes de narcóticos. Uribe tem trabalhado para o Cartel de Medellín e é um próximo amigo pessoal de Pablo Escobar Gaviria (sic)”.
Esta é uma das causas que explicam o apego de Uribe ao poder. Teme que, uma vez terminado seu mandato presidencial, possa ser julgado por alguma corte internacional por conta de seus vínculos quer com o narcotráfico, quer com os paramilitares.

Tornou-se um defensor acérrimo do Plano Colômbia, cujo objetivo principal é a militarização, aumentando a guerra interna. Dos recursos aprovados pelo Congresso estadunidense para este plano, 85% estavam destinados ao fortalecimento do aparato bélico, enquanto para a repressão ao narcotráfico nada fora adjudicado. Apenas 8% eram investidos na substituição dos cultivos ilícitos. Além disso, Uribe cede a soberania de seu país aos Estados Unidos ao permitir que o Pentágono instale sete bases militares na Colômbia, sendo três aéreas, duas terrestres e duas navais. O almirante Stavridis, recentemente nomeado por Obama chefe supremo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), afirmou que “na América do Sul me concentrei em operações de insurgência na Colômbia, repercutindo em meu papel como comandante no Afeganistão”, e revelou à CBS que “os Estados Unidos estavam enviando ao Afeganistão comandos colombianos treinados pelos boinas verdes”. E completou: “quanto mais se pareça o Afeganistão à Colômbia, melhor”.

O resultado de todo este terrorismo de Estado, além dos milhares de assassinados que vai deixando pelo caminho, é a fuga das pessoas do campo para as periferias das cidades. Já há mais de quatro décadas a Colômbia vive um conflito interno com nítidas características de guerra civil. É, portanto, o país com “a mais grave crise humanitária do hemisfério ocidental”, catalogou o Alto Comissionado da ONU para os Refugiados (Acnur) no ano 2000. Três anos depois, a Colômbia era o segundo país do mundo em número de refugiados. Perdia apenas para o Sudão.

Os governos colombianos têm tornado as estatísticas horripilantes no que toca aos direitos humanos. Fazendo-se uma comparação macabra com as ditaduras de segurança nacional da América do Sul, chega-se a números espantosos: o terror de Estado na Colômbia, a partir de 1986, tem matado mais, a cada período presidencial de quatro anos, que todas as ditaduras militares regionais juntas no mesmo espaço de tempo. Por isso, a Colômbia não teve ditaduras militares porque vive uma “ditadura perfeita”, ou seja, aquela que faz tudo o que as demais fazem e, no entanto, parece ser democrática.
---
O colombiano Hernando Calvo Ospina, depois de escrever este livro, a partir de fontes primárias, não pode mais voltar para seu país. É jornalista refugiado do Le Monde Diplomatique em Paris.
1 – SAXE-FERNANDEZ, John. La gran traición. La Jornada, México, 13 ago. 2009. Seção Opinião.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Governo colombiano faz de todo para impedir a entrega unilateral de prisioneiros de guerra por parte das FARC-EP

Comunicado

01. Nossa decisão de liberar unilateralmente o Sargento Moncayo e o soldado Calvo é irreversível, assim como também a entrega dos restos mortais do Maior Guevara.

02. As dificuldades surgidas nestas últimas semanas e que têm ocasionado novas demoras são conseqüência dos acrescentados operativos militares, pois enquanto o governo afirma que facilitará as condições para o regresso dos prisioneiros, incrementa suas operações nas três áreas fazendo todo o possível para impedir a liberação.

03. Moncayo e Calvo estão prontos para sua liberação. A entrega dos restos mortais do Maior Guevara devemos posterga-la dado que o exército ocupa a área onde se encontram.

04. A liberação unilateral determinada pelas FARC-EP, é um demonstrativo gesto de paz, uma forma de confirmar a inequívoca vontade política pela troca de prisioneiros. O governo Uribe deve garantir sua culminação sim provocações, nem armadilhas, com respeito diáfano frente às famílias, o país e o mundo. Jamais tem-s visto um exército colocar tantos obstáculos no processo de libertação de seus próprios soldados.

05. É necessário tornar públicos os protocolos acordados.

Secretariado do Estado Maior Central -FARC-EP-
Montanhas de Colômbia, Março 23 de 2010

Manuel Marulanda Vélez a dois anos de sua desaparição física !Um Símbolo Vigente!

Para o jovem camponês Pedro Antonio Marín foram muitas as perguntas que surgiram-lhe quando naqueles anos terríveis de finais da década do 40 no século passado foi assassinado o líder Jorge Eliécer Gaitán e, a partir daí o Estado desata uma violência tão cruel em campos, povoados e cidades, que obrigou-no, igual que centenas de milhares de camponeses, a se refugiar no mato (“enmontarse”) para salvar sua vida.

Nesse ir e vir pelas veredas e montanhas a meio da barbárie desatada pelos donos do poder e, a meio da desolação, morte e destruição que encontrou a seu passo, obtive a resposta a suas perguntas, enxergando o panorama cada vez mais claro: era uma violência exercida diretamente pelos de arriba contra os de embaixo, uma barbárie contra o povo. E assim, se juntando com outros que como ele passavam pela mesma situação e se resistiam a se deixar matar em forma inerme, organiza os primeiros núcleos de resistência armada.

E é nesse batalhar inicial por conservar a vida onde afloram-lhe todas suas potencialidades de condutor e líder excepcional, qualidades essas que se elevam à máxima potência, quando acolhe as idéias revolucionárias e assume como guia a doutrina marxista leninista, reafirmando com ela o que a experiência já tinha-lhe demonstrado: a solução não podia ser individual, se está em frente de um problema social com um transfundo econômico que é o que deve ser transformado.

Desde esse momento mantive a consciência da necessidade de uma transformação radical e dedicou todas suas energias a criar a certeza dessa possibilidade, por isso, em um ato simbólico de profundo significado assumiu o nome do dirigente sindical Manuel Marulanda Vélez, vilmente assassinado pela ditadura.

Sonhou e acreditou na paz, sempre. Não na paz dos sepulcros que oferece a oligarquia, não, mas, na paz da reconciliação e reconstrução de nossa pátria sobre bases novas e sólidas, capazes de garantir uma distribuição mais eqüitativa da riqueza, que enalteça a dignidade e faça do homem como ser humano o centro fundamental da vida em sociedade.

A dois anos da desaparição física do Camarada Manuel Marulanda Vélez, sua imagem emblemática cresce como símbolo para os povos do mundo que buscam na rebelião armada o caminho de um futuro melhor.

O mito que rodeara a lenda em vida do mais antigo chefe de guerra de guerrilhas móveis se agiganta na proporção contrária à queda do papel jogado por seus inimigos de classe. Uribe Vélez a 5 meses de terminar seu segundo mandato, é uma cifra mais de quem passaram pela Casa de Nariño e juraram desde as alturas do poder burguês acabar com esse homem conhecido pelo alias de Tiro certeiro (Tirofijo) e seu mito. Os seres diminutos simplesmente passam, os grandes transcendem.

Hoje vemos que 46 anos de resistência iniciada em Marquetalia são a obra prática e teórica do Camarada Manuel Marulanda e Jacobo Arenas e, seus nomes como precursores da Segunda Independência crescerão com o tempo e, as novas vitórias que estão por vir. Em câmbio, tanto o regime oligárquico que eles combateram e suas figuras mais destacadas se retorcem no esterco da infâmia e o esquecimento.

Com o fracasso da pretensão reeleicionista do presidente paramilitar, se afundou em boa hora a horrível noite parauribista em Colômbia. A coragem do povo, a resistência armada guerrilheira, um contexto internacional de mudanças e a dignidade de alguns Magistrados conseguiram barrar ambições pessoais do presidente, vil ponta de lança do governo dos Estados Unidos que pretendem inutilmente acostumar os colombianos ao terror e à violência fascista paramilitar.

Aos aportes de estrategista, já incorporados ao acumulado da experiência universal da Guerra de Guerrilhas, ao Camarada Manuel tem que ser somado o ter sido capaz de construir e dirigir um movimento guerrilheiro em um país como Colômbia com condições políticas internas específicas e em épocas históricas mutantes. Ter sabido ler essas particularidades nacionais, é o que explica o prolongada resistência, a fortaleza e o crescimento das FARC-EP. Não aceitou esquemas nem dogmas na sua visão militar e política de mestre e condutor da guerra de guerrilhas. Conduz a nave da resistência com o fino tato que deram-lhe a experiência e a aplicação concreta e o estudo do marxismo leninismo.

A combinação de formas de luta simultânea e de massas, em um país cujas classes dirigentes não poupam recursos para destruir as lutas do povo são o desenho mais completo do aporte do Camarada Manuel à experiência mundial da guerra revolucionária de guerrilhas. A dois anos de sua morte, as FARC-EP continuam na sua luta preparando a nova alvorada a meio do despertar bolivariano de América Latina pela Nova Colômbia.

Este 26 de março, segundo aniversário do falecimento do Comandante Manuel Marulanda Vélez, no qual lembramos sua memória, é também, plataforma continental para todos aqueles que resistem de armas nas mãos a opressão do homem pelo homem e buscam a liberação nacional e o Socialismo. Daí que seja esta data a mais apropriada para reivindicar, com toda a força que aporta o legado do Comandante Manuel Marulanda Vélez, o Direito Universal dos Povos ao Levantamento Armado.

A guerra revolucionária de guerrilhas móveis segue vigente na Colômbia unindo as suas bandeiras novas verdades e razões. Os caminhos da libertação se fortalecem na luta contra o invasor estrangeiro e suas bases militares de ocupação.


Glória Eterna à memória do Comandante em Chefe Manuel Marulanda Vélez!

Temos jurado Vencer, e Venceremos!

Manuel Vive, A luta Segue!


Secretariado do Estado Maior Central FARC-EP
Montanhas da Colômbia, Março de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

Volvem as chacinas às vizinhanças da fazenda O Ubérrimo.

Por Camilo Raigozo

As mais recentes chacinas têm-se apresentado no estado de Córdoba, onde fica a fazenda O Ubérrimo, de Álvaro Uribe Vélez. Nesse estado, segundo analistas e defensores dos Direitos Humanos, como Iván Cepeda e Jorge Rojas, teve sua origem o modelo paramilitar que depois foi expandido pelo país todo.

Ao respeito, Cepeda e Rojas, contam no seu livro “Às portas do Ubérrimo”, como no coração desse estado não só se criou um modelo paramilitar, mas também, como a perversa estratégia foi aceita pela sociedade cordobesa e as figuras públicas.

O modelo paramilitar cordobés, estendido ou copiado posteriormente em todo o país, era o mesmo que queria para Bogotá, Francisco Santos, segundo manifestaram os chefes paramilitares Mancuso e Jorge 40.

Pois nesse estado de múltiplas covas comuns, deslocamento forçoso, de choro e muita dor, em menos de 24 horas foram assassinadas ao menos 17 pessoas, entre elas um jornalista que se atreveu a denunciar a corrupção, o paramilitarismo e as alianças desses assassinos com a classe política e a força pública.

O passado 19 de março, em Monteria, capital do estado de Córdoba, foi assassinado o jornalista Clodomiro Castilla Ospin, quem denunciava constantemente a corrupção e o paramilitarismo nesse estado.

Em 21 de março anterior, em horas da noite, no vilarejo de São João, do município de Porto Libertador, do estado Córdoba, paramilitares massacraram sete camponeses inermes em um estabelecimento público.

As vítimas foram os irmãos Francisco Javier e María Inés Pertuz de 14 e 16 anos de idade respectivamente, Hamilton José Herrera Ortiz de 17 anos, Edilberto Torres Palacio de 23 anos, Wilber Pantoja Sotelo de 20 anos, Francisco Emiro Rodríguez e Antonio Soto Santamaría de 26
anos.

No vilarejo de João José, do mesmo município, os ‘paras’ assassinaram três pessoas e desapareceram mais uma. No vilarejo Santa Rosita, município de La Apartada, paramilitares massacraram um pai, seu filho e um amigos que viajava com eles. O mesmo sucedeu em Montelíbano, onde foram assassinadas outras duas pessoas.

A comunidade se pergunta: ¿Essa é a aplicação ou é o fracasso da tão anunciada “segurança democrática?

Morto de medo o Doptor Varito.

Fonte: anncol.eu

O ministro de governo e altos funcionários do círculo mais próximo de Varito (assim era chamado pelo seu íntimo Pablo Escobar), não seduziram com seu papo de encantadores de cobras a inocente PATRIOTA para que votara, como efetivamente fiz, permitindo a reeleição de Uribe.

O que eles fizeram foi pegar dinheiro do erário público e escolher a dedo Cartórios para comprar o voto. Isso é um delito aqui e em qualquer parte do mundo. Assim que Varito poderá rasgar suas vestiduras, mas que houve delito, houve mesmo. Porque o governo Uribe pode ser acusado de formação de quadrilha, prevaricação agravada e de outras condutas que merecem punição, então, a justiça deve agir.

Esse caso, derruba o argumento dos defensores do governo, de que essas práticas mafiosas de colarinho branco ocorreram antes do governo uribista. A verdade é que ocorreram antes, desde que temos memória, durante o primeiro mandato, durante o segundo e ainda continuam a fazer isso com os consulados e as embaixadas usadas por Uribe para cobrir com a imunidade diplomática todos seus esbirros.

Sua secretária privada irá para Suíça, e seus mais próximos colaboradores irão para outros lugares tentando fugir da Justiça.

“Doptor varito”, o fantasma de Fujimori aparece cada vez mais nítido no Palácio de Nariño. O regime deve responder pela vida dessa outrora patriota, si lhe ocorre um só rascunho, Varito deve responder.