"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

“A hegemonia dos EUA tem os dias contados”, afirma um dos mais influentes analistas de geoestratégia do império


Zbigniew Brzezinski, um dos mais influentes analistas de política exterior dos Estados Unidos, considerado, ademais, como dos maiores intelectuais orgânicos do império, disse, numa conferência oferecida dias atrás na Escola de Estudos Internacionais Avançados [SAIS, por sua sigla em inglês] da Universidade Johns Hopkins, que a hegemonia mundial dos Estados Unidos tem os dias contados.



Segundo esse politicólogo polaco-estadunidense, que foi conselheiro de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter [1977-1981] e assessor da campanha de John F. Kennedy que o levou à Casa Branca, desde a implosão da União Soviética, os Estados Unidos “não ganhou nenhuma guerra”. Suas teses recentes implicam uma drástica revisão do otimismo que exalava seu livro anterior, El Gran Tablero Mundial [O Grande Tabuleiro Mundial], e coincidem com as análises daqueles que, desde a América Latina, faz já um bom tempo vêm formulando prognósticos em torno da declinação do poderio global norte-americano.


A dominação dos Estados Unidos, que, depois da Guerra Fria, determinava a agenda internacional, terminou e não poderá restabelecer-se durante a vida da próxima geração, precisou em sua conferência Brzezinski.


Nenhuma das potências pode alcançar a hegemonia mundial nas condições atuais, pelo que os Estados Unidos devem eleger melhor os conflitos nos quais vai participar, já que as consequências de um erro poderiam ser devastadoras, declarou o influente politicólogo, primeiro diretor da Comissão Trilateral, uma organização internacional privada fundada por iniciativa de David Rockfeller, para fomentar uma maior cooperação entre EUA, Europa e Japão.


É certo que nossa posição dominante [na política internacional] não é a mesma que a de há 20 anos”, declarou Brzezinski durante sua conferência, e destacou que, desde 1991, os Estados Unidos, em seu status de potência mundial, “não ganhou nem uma só guerra”.


O [politicólogo] considerado um dos mais influentes especialistas em política exterior, e que durante décadas configurou o curso geoestratégico de Washington, assinalou que aos Estados Unidos chegou a hora de entender que o mundo contemporâneo é muito mais complicado e mais anárquico que nos últimos anos depois da Guerra Fria, pelo que a “acentuação de nossos valores, assim como a convicção em nossa ‘excepcionalidade’ e nosso universalismo são, pelo menos, prematuros desde o ponto de vista histórico”.


28 de outubro de 2013.


Tradução: Joaquim Lisboa Neto


Suprema Corte da Argentina declara constitucional Lei de Meios Audiovisuais


 A Suprema Corte da Argentina declarou constitucional a Lei de Meios Audiovisuais. Aprovada em 2009 pelo Congresso, de maioria governista, a legislação foi questionada na Justiça pelo Grupo Clarín – o maior conglomerado de comunicação do país e principal crítico ao governo da presidenta Cristina Kirchner.

O governo argumenta que a lei democratiza a informação, porque limita os monopólios. Já os advogados do Grupo Clarín, representantes de outros meios de comunicação e da oposição alegam que o governo quer usar a legislação para impedir as críticas.
A Suprema Corte entendeu que a Lei 26.522 é constitucional, pois regula a multiplicidade de licenças de modo geral, o que é uma atribuição do Congresso e "cuja conveniência e oportunidade não se trata de matéria de análise dos juízes", informou a agência de notícias públicas Telam.
A Corte acrescentou “é legítima uma lei que fixe limites gerais a priori, porque dessa maneira se favorece a liberdade de expressão ao impedir a concentração de mercado".
Vinte e um grupos de comunicação foram comunicados de prazos para apresentar propostas e reduzir seus ativos, sendo que 20 aderiram à norma. O Clarín recorreu à Justica por considerar alguns artigos inconstitucionais. O grupo contestou os artigos que estabelecem que as licenças são intransferíveis, restringem a quantidade de licenças, retira o direito adquirido de empresas que têm licenças acima do permitido e o prazo de um ano para se adaptar à lei.
A Câmara Federal Civil e Comercial concedeu uma liminar até que a Suprema Corte se pronunciasse sobre o caso. A decisão foi anunciada hoje (29).
Foi uma grande notícia para a democracia”, disse Martin Sabatella, o presidente da Autoridade Federal de Serviços de Comunicacão Audiovisual (Afsca), responsável pela implementação da lei.
Advogados do Grupo Clarín informaram que irão examinar as 392 páginas da decisão da Suprema Corte, antes de se pronunciar.
Com a Lei de Meios, o Clarín terá que se desfazer de vários ativos. O grupo tem 237 licenças de TV a cabo, quantidade considerada dez vezes mais que o permitida pela lei; que abrangem 58% da população (o limite previsto pela lei é 35%).
*Com informações da Telam

terça-feira, 29 de outubro de 2013

As FARC entregam o militar estadunidense Kevin Scott Sutay à Cruz Vermelha Internacional e aos países facilitadores de Paz, Noruega y Cuba


Delegação de paz das FARC-EP informa:

1. Que o veterano de guerra estadunidense KEVIN SCOTT foi libertado unilateralmente pelas FARC num lugar do rio Inírida, nas selvas do Guaviare, Colômbia. O cidadão norte-americano foi entregue, na manhã de 27 de outubro, a uma missão humanitária integrada pelo CICV, pelos países garantidores na mesa dos diálogos de paz, Noruega e Cuba, e um representante do governo colombiano.


2. O gesto de paz da organização insurgente havia sido postergado pela intransigência do governo de Juan Manuel Santos ao não permitir, durante meses, a intermediação humanitária, primeiro, da ex-senadora Piedad Córdoba e, em seguida, do Reverendo Jesse Jackson. Sem dúvida, na concretização desta libertação, jogou papel decisivo a determinação do Departamento de Estado dos Estados Unidos.


3. Agradecemos ao CICV, aos governos de Cuba e da Noruega, seus bons ofícios para que Kevin Scott pudesse reencontrar-se com os seus em seu próprio país. Noruega e Cuba atuaram com a mesma eficácia e discrição que os distingue como garantidores nos diálogos de paz que se realizam em Havana entre o governo da Colômbia e as FARC-EP. Nosso reconhecimento também a Piedad Córdoba e a Jesse Jackson.


4. Aspiramos que esta decisão unilateral das FARC, que não exigiu nada emtroca, exerça influxos positivos no avanço dos acordos de paz.






DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

A luta mundial contra a Monsanto cresce e cresce



Tradução: Joaquim Lisboa Neto

Nas vésperas da celebração do Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro passado, em mais de 500 cidades de 52 países se realizaram manifestações contra a Monsanto, a tenebrosa transnacional da biotecnologia e dos alimentos geneticamente modificados. Os milhares e milhares de manifestantes pediram ao mundo boicotar a ação “depredadora” da Monsanto porque introduziu diferentes tipos de transgênicos no mercado globalizado, que, segundo expertos, são prejudiciais para a saúde humana, representando uma ameaça para “a saúde, a fertilidade e a longevidade”.


Na realidade, a Monsanto não é a única corporação que aspira conquistar o monopólio do fornecimento de alimentos em nosso planeta. São várias corporações biotecnológicas e agroquímicas que formam o poderoso grupo CropLife America e, entre elas, se destacam: Monsanto, DuPont, Dow AgroSciences LLC, Syngenta, Bayer, Basf, Río Tinto, Mendel, Ceres, Evogene. Foi precisamente este grupo que mandou a carta de protesto à esposa do presidente Obama, Michelle Obama, quando ela plantou seu jardim orgânico livre de pesticidas e organismos geneticamente modificados [OGMs]. Agora, podem estar tranquilos, porque a crise econômica e a recente paralisação temporária do governo norte-americano fez murchar o jardim da senhora Obama.


Neste conjunto, Monsanto, a multinacional de Biotecnologia Química e Agrícola com sede em Creve Coeur, Missouri, é a mais poderosa de todas em termos políticos, econômicos e financeiros. É a mais famosa por suas sementes transgênicas e herbicidas como Roundup Ready [RR], a base de glifosato para eliminação de ervas e arbustos. Atualmente, essa corporação, que começou como uma pequena companhia química em 1901, se transformou num gigante biotecnológico do século XXI, ganhando em 2012 13,5 bilhões de dólares. Está operando em 68 países do mundo, semeando sementes OGMs em mais de 114 milhões de hectares e, deles, 61 milhões nos Estados Unidos. Neste país, controla 40% das terras cultiváveis.


Foi precisamente a Monsanto um dos produtores do Agente Laranja, que foi borrifado massivamente durante a guerra do Vietnã numa operação Ranch Hand entre 1961 e 1971. Segundo a Cruz Vermelha vietnamita, um milhão de pessoas ficaram mutiladas e mais de 500.000 crianças nasceram com defeitos pelo uso desse desfolhante. O Agente Laranja, que foi aplicado com o pretexto de proteger vidas dos soldados norte-americanos, fez seus estragos em seus próprios soldados, os quais, em 1984, fizeram uma demanda coletiva no Tribunal do Distrito Leste de Nova Iorque. Apesar de que o Tribunal não tenha encontrado culpados, se acordou que as sete companhias produtoras do Agente Laranja [Monsanto, Diamond Shamrock Corporation, Dow Chemical Company, Hercules Inc., TH Agricultural y Nutrition Company, Thompson Chemical Corporation y Uniroyal Inc.] pagarão 180 milhões de dólares aos veteranos estadunidenses da guerra no Vietnã e a seus familiares. Se calcula que mais de 600.000 veteranos norte-americanos foram afetados por esse desfolhante e milhares de seus filhos nascerem com leucemia.


Porém, tudo isto pertence à história e já ninguém quer recordar-se da tragédia daquela guerra. Até o Tribunal Supremo norte-americano declarou em 2004 que as companhias produtoras não eram responsáveis do uso do Agente Laranja. No entanto, a realidade que o mundo vive atualmente é muito mais sinistra comparando com o passado, pois estamos frente a um processo quando uma corporação multinacional [Monsanto] aspira apoderar-se da produção e distribuição de alimentos no mundo inteiro, usando sua tecnologia do OGM. De acordo com recente estudo da Food and Water Watch, 93% dos produtos da soja no mercado norte-americano e 80% dos de milho contêm OGMs produzidos pela Monsanto, que tem mais de 1.676 patentes de sementes. Atualmente, essa multinacional controla mais de 90 por cento do mercado mundial de sementes transgênicas, o que constitui um monopólio industrial sem precedentes, e 60 por cento do mercado global de sementes comerciais.


O êxito da Monsanto não se deve somente a sua habilidade de criar produtos rentáveis, mas também a suas conexões políticas, midiáticas e a seu persistente trabalho de cooptação. Segundo o Center for Responsive Politics, a Monsanto gastou mais de 4 bilhões de dólares desde 1990 para as campanhas eleitorais, dando apoio aos políticos para promover seus interesses. A maioria de seus executivos, de acordo com a publicação Global Research, são ex-congressistas e altos ex-funcionários de diferentes departamentos do governo federal norte-americano. Tem à sua disposição incondicional os meios de comunicação que, dia a dia, estão tratando de convencer a opinião pública da vantagem do uso de produtos que contenham OGM. E, para dar solidez aos escribas a soldo, utiliza estudos favoráveis de seis universidades estadunidenses subvencionadas pela multinacional: Arizona State University, St. Louis University, University of Missouri, Cornell University, Washington University in St. Louis y South Dakota State University.


Agora, os professores à sua disposição criaram um novo pretexto para a promoção das sementes OGM. Um recente informe do ETC Group como Monsanto, Bayer, BASF, DuPont, Syngenta, Dow, Mendel, Ceres e Evogene estão patenteando as sementes com genes que resistem ao estresse do meio ambiente [seca, variações extremas de temperatura etc]. Segundo a campanha publicitária desses gigantes bioquímicos, “somente esta tecnologia de OGM é capaz de neutralizar os efeitos do aquecimento global e da fome no futuro não tão distante”. Na realidade, é um novo pretexto para aumentar o poder corporativo sobre a alimentação, controlar os preços, terminar com a pesquisa independente e acabar com a tradição milenar dos agricultores de intercambiar as sementes. Agora, a Monsanto e a BASF estão investindo 1,5 bilhão de dólares para criar este tipo de sementes.


Seu laboratório é a África, onde essas duas multinacionais se aliaram com a Fundação Bill e Melinda Gates para promover a suposta “Revolução Verde” no continente. O curioso é que o multimilionário Bill Gates, que é apresentado pela imprensa globalizada como um generoso filantropo, comprou 500.000 ações da Monsanto por 23 milhões de dólares. Os africanos deveriam estudar os “resultados” das “revoluções verdes” que a Fundação Rockfeller promoveu na América Latina nos anos 1960 e 1970. Porém, o processo já está em marcha com o consentimento e a participação dos governos de Quênia, Tanzânia, Uganda e África do Sul apoiado por 47 milhões de dólares doados pela Fundação de Bill Gates.


A América Latina também tem estado na mira da Monsanto desde os anos 1990. O modelo de agroindústria com o uso das sementes OGMs se impôs em todos os países do Mercosul e também na Bolívia para a produção de soja, milho e algodão transgênicos. Atualmente, 50 por cento da terra cultivável na província de Buenos Aires estão semeados com sementes OGMs e regados com glifosato desde um teco-teco. No Paraguai, depois do golpe de Estado em 2012 contra o presidente legitimamente eleito Fernando Lugo, a Monsanto junto com a Cargil encontraram um paraíso para suas sementes transgênicas. Atualmente, estão construindo uma fábrica de sementes transgênicas, convertendo-se esse país no terceiro laboratório da Monsanto, depois de Argentina e Brasil.


Atualmente, na Argentina, de acordo com o jornalista Federico Larsen, 97 por cento da soja produzida é transgênica e também o país liberou o uso do hormônio recombinante bobina BST Posilac, produzido pela Monsanto, que aumenta a produção leiteira nas vacas em 25 por cento, porém que está proibido na maioria dos países do mundo por demonstrar-se cientificamente que Posilac favorece o desenvolvimento do câncer de mama nas mulheres. No entanto, a própria presidenta Cristina Fernández declarou, há pouco, que “O investimento da Monsanto é importantíssimo e vai ajudar na concretização de nosso plano, tanto agroalimentar 2020 como nosso plano também industrial”. Parece que ninguém está prestando atenção aos estudos de vários especialistas que chegaram à conclusão de que, neste ritmo, as terras na Argentina e no Brasil deixariam de ser produtivas em aproximadamente 50 anos.


Parece que às transnacionais ou a muitos governos de turno não lhes interessa o futuro. Por isso, firmam as leis, como a recente Lei de Proteção da Monsanto nos Estados Unidos, que protege a transnacional de todos os julgamentos relacionados à produção e venda de sementes OGMs, ou a Lei Monsanto no México, aprovada em 2005 pela maioria dos congressistas, sem nem sequer ser lida, dando luz verde à corporação biotecnológica em seu país. O mesmo caminho está tomando a Ucrânia, tendo as terras mais férteis da Europa. Felizmente, existem raras exceções, como a iniciativa do presidente do Peru, Ollanta Humala, que conseguiu que o congresso aprovasse em 2011 uma moratória de 10 anos ao cultivo e a importação de transgênicos no país, com a “finalidade de proteger a biodiversidade, a agricultura nacional e a saúde pública”.


Também a multinacional Monsanto decidiu retirar as solicitações para o cultivo de novos transgênicos na União Europeia ante os protestos e resistência de vários governos e grupos ecológicos de usar essas sementes que impactam negativamente sobre a saúde. No entanto, as plantações de cultivos transgênicos continuam em Espanha, Portugal, República Checa e Polônia. Na Rússia, o presidente Putin deu um grito de alerta pelas intenções de Monsanto de instalar-se em seu país. Porém, terá que lutar contra os oligarcas russos, para os quais a pátria não é um lugar onde alguém nasce, mas sim onde se ganha dinheiro, igualmente contra as leis russas aprovadas na época de Yeltsin e que impedem a proibição dos produtos transgênicos.


Há uns dez anos, a Monsanto tratou de ingressar em Cuba, porém eles anunciaram que seriam o laboratório mundial para os produtos orgânicos e não chegaram a nenhum acordo. Agora, a Rússia tem melhor oportunidade e as condições para converter-se no centro de cultivos orgânicos por não estar contaminada sua agricultura com as sementes OGM e por ter 40 milhões de hectares de terra não exposta durante muitos anos ao uso dos químicos. De acordo com os expertos, para 2020 a Rússia poderia abastecer o mercado mundial com 15 por cento dos produtos orgânicos, se é que os agricultores recebem o apoio do governo.


As possibilidades de pôr freio às intenções das multinacionais biotecnológicas de estabelecer o controle corporativo sobre a alimentação existem. Só se necessita a vontade dos povos de despojarem-se do individualismo implantado pelo neoliberalismo, e retornar à premissa de Aristóteles, segundo a qual os humanos somos homens sociais e políticos e não podemos viver fora da sociedade. Porém, viver na sociedade necessariamente implica ações coletivas através das quais poderíamos impor-nos a qualquer transnacional, como o estão fazendo atualmente os habitantes de Malvinas Argentinas, a 14 quilômetros de Córdoba, Argentina, opondo a Assembleia de Vizinhos Luta pela Vida à Monsanto. Em 2012, as Mães de Ituzaingó, um bairro de Córdoba, ganharam pela primeira vez um julgamento contra a Monsanto.


Isto demonstra que a união, a solidariedade e a vontade coletiva são armas poderosas do povo que luta por seu bem-estar e seus ideais.

elclarin.cl


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

“Nossa vontade é de reconciliação, não de rendição”: FARC-EP


O país deve saber que já são mais de 30 as páginas que reúnem os convênios construídos entre o governo da Colômbia e as FARC-EP na mesa de Havana, e este avanço certo nos preenche de otimismo para continuar.

 Com a paciência e a tranquilidade se consegue tudo..., e algo mais.
Benjamin Franklin
 
AOS ABUTRES QUE VIVEM DA MORTE, aos senhores do medo e da guerra, como chamou o Presidente Santos no dia de ontem em Viotá, aos que se opõem à paz, os exortamos, desde Havana, em nome dos 30 milhões de pobres da Colômbia, vítimas da política neoliberal, que deixem assentar as bases de uma paz estável e duradoura, com transformações estruturais no político, econômico e social.
 
A injustiça social, a ausência de democracia, de soberania, essa é a verdadeira mula morta atravessada no caminho da paz. Sim, compatriotas de Colômbia e de Nossa América, essa é o obstáculo que devemos afastar do caminho se queremos chegar à reconciliação.
 
Porém, preste atenção Presidente Santos!, é uma necessidade moderar a linguagem perigosa que ordena sem reflexão às Forças Militares e de Polícia continuar a ofensiva militar até exterminar a contraparte insurgente. A história tem demonstrado que isso não é fácil, que com ordens e palavras sonoras dirigidas à galeria não se pode subjugar o crescente inconformismo social que desperta e mobiliza povos na Colômbia.
 
Como afirma o comandante das FARC, Timoleón Jiménez, é uma mensagem contraditória dizer que se busca a paz exibindo, ao mesmo tempo, em cada mão, com sorriso exultante, as cabeças dos líderes da insurgência com quem se dialoga de paz. Para que esfregar sal em feridas que não cicatrizam facilmente? Dessa maneira não se impulsiona nenhum processo de paz, não se gera confiança entre as partes.
O governo não deve cair no erro de sempre, de pretender fazer do processo de paz uma farsa de submissão. Nossa vontade é de reconciliação, não de rendição.
 
DO OVINHO DA SEGURANÇA DEMOCRÁTICA da qual fala o Presidente, está renascendo o abutre do guerreirismo uribista; de nada serve disfarçá-lo de galo. De longe se nota que, como bom carniceiro, quer ver morta a paz para devorá-la. Muito olho, senhor Presidente, com semelhante criação.
 
Sempre estivemos de acordo em meter o acelerador para seguir avançando nos acordos, porém o caráter expedito de um processo não é um problema somente de velocidade no tempo. Se requer, ademais, que não se sigam colocando obstáculos desnecessários a cada proposta que fazemos para conquistar as transformações sociais das quais você mesmo falou em seus discursos do sábado, porém que os milhares e milhares de homens e mulheres que saíram para protestar durante as semanas anteriores não veem por nenhum lado.
 
É difícil crer que as brechas estão se fechando com supostas obras de infraestrutura, emprego, moradia e educação gratuitas, subsídios a famílias em ação, bolsas de créditos para os secundaristas etc, etc. A tendência de crescimento da desigualdade entre os ricos que se fazem cada vez mais ricos e os pobres que se tornam mais pobres; essa enorme brecha não se fechará enquanto se sigam executando absurdos como esse de aumentar em 8 milhões de pesos [cerca de 4.000 dólares] as previdências de parlamentares, ministros e magistrados, num país onde 12 milhões de compatriotas sobrevivem com menos de um dólar diário, tratando de resolver suas necessidades fundamentais.
Será uma empreitada impossível arrancar o povo da pobreza enquanto se sigam queimando mais de 6 pontos de nosso Produto Interno Bruto no fogo da guerra.
 
AO NOSSO MODO DE VER, muito foi construído até o momento em matéria de acordos ao longo deste ano de conversações em meio à confrontação. Quanto mais haveríamos conquistado se o governo houvesse aceito brindar aos colombianos a tranquilidade que pode derivar de uma trégua bilateral de fogos e um cessar de hostilidades?

O país deve saber que já são mais de 30 as páginas que reúnem os convênios construídos entre o governo da Colômbia e as FARC-EP na mesa de Havana, e este avanço certo nos preenche de otimismo para continuar. Por isso, acreditamos que agora, mais que nunca, todos os colombianos e a comunidade internacional em geral devem dar um decidido apoio aos esforços de paz.


Apêndice: Não é nada prudente para um processo sério e transcendental como o que adiantamos impor mecanismos unilaterais de referenda ou tergiversar propostas como a constituinte que ainda não sustentamos.

Delegação de Paz das FARC-EP





Simón Rodríguez: plantador de uma nova América


“Professor é o que ensina a aprender e ajuda a compreender”

Por elaine tavares

Findava o século 18 quando nesse continente dominado pela ocupação espanhola uma voz solitária propõe outra forma de educar as crianças, para além do simplesmente escrever o nome e soletrar algumas palavras. Era o jovem Simón Rodríguez, professor numa pequena escola da cidade de Caracas, Venezuela. Num documento que entra para a história, ele faz uma ácida crítica ao sistema educacional da época e expõe suas ideias. Segundo ele, o estado tinha de investir na formação de professores e a educação não podia mais ficar restrita aos jovens brancos bem nascidos. Era necessária uma educação popular capaz de formar meninos, meninas, negros e índios. Essa proposta, revolucionária para aquele então, o colocaria para fora da escola, mas começava aí a incrível trajetória desse educador sem igual na América Latina.

O começo

Simón Rodríguez nasce em Caracas no ano de 1771. Ele mesmo contava que fora um menino exposto, daqueles que são colocados nas portas dos conventos. Foi criado por Caetano e Rosália Rodríguez, embora sua educação estivesse a cargo do tio, que era sacerdote. Naqueles dias, a cidade de Caracas era um lugar aprazível, de grandes solares onde viviam os espanhóis e os criollos, servidos por escravos. Para essa sociedade, o trabalho era basicamente uma desonra e aos filhos da classe dominante se permitia unicamente a carreira militar além dos postos de mando da vida cotidiana. Havia apenas três estabelecimentos de educação na cidade: o convento dos Franciscanos, uma escola pública e a Universidade. Simón foi alfabetizado em casa, pelo tio, mas era um garoto aplicado e observador. Amava ler e devorou cada livro que encontrou na biblioteca do tio, que era bem servida. Na Caracas daqueles dias chegavam os franceses da ilustração (Montesquieu, Voltaire, Rousseau) e Simón os conhecia. Também tinha acesso aos escritos que chegavam dos Estados Unidos e acompanhou o processo de independência daquele país, bem como o da Revolução Francesa. Forjava-se nele o espírito da rebelião.

Em 1791, com apenas 20 anos, consegue o cargo de professor na escola pública e tem sob seu comando 114 alunos. Simón não tem experiência, mas observa que o ensino ministrado não tem um método e começa a matutar sobre essa deficiência. Amante de Rousseau, quer estabelecer outra relação com os alunos, mas fica prisioneiro das regras. Então, decide ensinar alguns dos alunos em sua própria casa, que gradativamente torna-se uma escola. A cidade olha curiosa para aquele garoto de aparência séria que dedica sua vida ao ensino. E é essa pequena “fama” que faz com que o tutor de Simón Bolívar peça ao educador que assuma a educação do garoto, então com nove anos. Começa aí a relação dos dois Simóns que mudará a face da colônia.

No começo Simón atende o garoto Bolívar na casa da família e passa a usar com ele as ideias de Rousseau. Uma educação ao ar livre, repleta de brincadeiras e exercícios físicos. O ensino das letras vai devagar. Com o passar do tempo, a família de Bolívar percebe que não há muito avanço e exige mais. Então, Simón propõe que o garoto fique na escola que mantém em sua casa, junto com os demais alunos. Já naqueles dias a escola de Simón era bem diferente. Recebia, além de filhos da aristocracia, crianças de famílias pobres, uma coisa praticamente inédita para a época. E lá se vai Bolívar estudar com negros e índios, além de dividir o quarto, coisa até então impensável para um herdeiro criollo. Há quem diga que foi aí que aquele que seria o “libertador” forjou seu amor pelas gentes da América. Mas, isso são especulações.

O certo é que Simón não se conformava em ver a educação das crianças colocada nas mãos de gente sem formação e sem método. Então se dispõe a registrar uma crítica avassaladora do sistema. Escreve o texto: “Reflexões sobre os defeitos que viciam a Escola de Primeiras Letras de Caracas e os meios para uma reforma por um novo estabelecimento”. Nele, o jovem professor arrasa com o sistema vigente, critica o fato de só ser oferecida educação às crianças brancas e aponta a necessidade de educar as crianças pobres, aos agricultores, aos artesãos. “O regime deve ser de igualdade”, diz. Mostra também que o sistema não se preocupa com a formação dos professores e insiste que esse deve ser o principal fator de mudança. Como proposta exige o aumento do número de escolas, capaz de atender todas as crianças em idade escolar, a formação de professores profissionais, salários dignos para os educadores, jornada de seis horas, móveis adequados para o ensino e finalizava exigindo que se tomasse a sério a escola de primeiras letras. “Uma escola até pode ser superficial, mas não inútil. O aluno não pode esquecer o que aprendeu. Há que ter cuidado e delicadeza para dar às crianças a primeira ideia de uma coisa”. Dizia isso porque havia a tradição de ensinarem até nas barbearias, enquanto afeitavam os clientes. Simón abominava isso. Defendia que como nessa idade a criança se distrai com qualquer coisa, era necessário um ambiente adequado e que o professor também prestasse atenção nas brincadeiras. “É necessário saber ler em todos os sentidos e dar a cada expressão o seu próprio valor”.

As reflexões de Simón não são bem vindas, nem na escola nem na administração. Ele se indigna e deixa o cargo, seguindo apenas com sua escola, em casa. Nesse meio tempo se engaja num movimento conspiratório pela independência que já existia em Caracas. O grupo é descoberto e Simón acaba fugindo para a Jamaica, visando escapar da justiça colonial. No dia do embarque recebe a visita de seu aluno, Bolívar, do qual se despede. Chegando à Jamaica Simón troca de nome, passa a chamar-se Samuel Robinson. Não quer nenhuma ligação com a vida antiga e jura nunca mais voltar à Venezuela. Pouco tempo depois vai para os estados Unidos onde fica por três anos trabalhando numa gráfica. Lá, ele aprende a editar e inventa uma nova forma de montar os textos, usando letras maiúsculas para destacar bem como criando manchetes.

Tem 30 anos (1801) quando embarca finalmente para a França. Lá abre escolas, ensina espanhol e inglês, lê como um louco e vai consolidando seu pensamento educativo. Três anos depois encontra, em Viena, seu antigo aluno, Bolívar, que passa a conviver com o mestre. Eles lêem, estudam e viajam juntos. No ano de 1805 os dois seguem à pé até a Itália, aproveitando para  discutir a realidade do mundo e da velha pátria colonizada. E é justamente no Monte Sacro que os dois fazem seu histórico juramento: libertar a pátria ou morrer. A partir daí, Bolívar retorna para a Venezuela, onde nos anos seguintes vai dar consequência a essa promessa. Simón segue no velho mundo criando escolas por todo o lugar onde passa: Itália, Alemanha, Prússia, Polônia e Rússia. O educador acompanha as façanhas de seu aluno na colônia e percebe que a vida por ali está prestes a sofrer uma grande transformação. Decide então, voltar para casa.

O retorno para a América

Simón tem 52 anos quando desembarca em Cartagena em 1823, disposto a dar todo o seu conhecimento para construir a Pátria Grande, liberta do jugo espanhol. Vinha honrar o juramento que fizera com Bolívar há quase 20 anos. As guerras de independência já estavam quase consolidadas. Bolívar era o grande libertador e comandava os destinos de toda a Gran Colômbia. Simón então viaja até Bogotá onde começa a pôr em prática a sua proposta pedagógica, amadurecida por longos anos de estudo e prática. Todos ali já sabem que ele é o grande mestre de Bolívar e todos os recursos são colocados à sua disposição para a criação da Casa de Indústria Pública, o que vem a ser o inovador método educativo de Simón. Nessa casa as crianças teriam ensino por tempo integral e além de estudarem as matérias clássicas aprenderiam também um ofício, aprendendo artes mecânicas. Seu foco eram as crianças mais pobres, que precisariam enfrentar o mundo que nascia com uma formação adequada. O educador entendia que o que estava nascendo era uma forma nova de ser nação e por conta disso era necessária também uma nova educação. “Formar o povo deve ser a única ocupação dos que se ligam a uma causa social”, dizia e, para ele, as novas repúblicas eram essa causa social.

Toda a sua linha de agir pedagógico já tinha sido eternizada num escrito chamado: “Sociedades Americanas”, que ele só conseguirá editar em 1828. Nele, Simón defendia que o aluno dessa nova forma de ser nação tinha de ser um sujeito pensante. “O que pensa, procede segundo sua consciência. O que não pensa, só imita”. Sua preocupação não era formar letrados e sim cidadãos, pessoas capazes de compreenderem seu espaço geográfico e político. Por isso insistia que em vez de papagaiar sobre os persas e os egípcios era necessário entender os índios. Simón queria tomar para si a tarefa de educar os jovens pobres que estavam pelas ruas, os abandonados, os ilegítimos, fazendo com eles se tornassem homens cientes de seus direitos na nova sociedade. “Deixemos a França e vejamos a América”, bradava. Sua proposta era de educação popular para que todos pudessem viver sem amos. “Na educação popular o filho do sapateiro se educa como o filho de um negociante. Ambos aprendem a faculdade do pensar. A instrução é para o espírito assim como o pão é para o corpo”. Simón tinha plena certeza de que se todos fossem instruídos, os ignorantes de então poderiam vira a ser conselheiros e os ladrões, companheiros de viagem. Certo de que a ignorância era a causa de todos os males, seu remédio era a educação.  “A América é original, original hão de ser suas instituições e seus governos, e originais os meios de fundar um e outro. Ou inventamos ou erramos”.

Simón Rodriguez não podia conceber que a nova nação se erguesse sob bases antigas, sob imitações da Europa. Queria saídas originais e sabia que isso era possível. Queria homens e mulheres capazes de gerir sua própria história sem precisar de heróis ou mitos. Um homem que pensa é um homem livre, afirmava. E, para isso, era preciso investir tudo na formação de professores. Depois, com eles, criar as condições para que o ensino fosse um fazer-se compreender e não o velho estilo de trabalhar a memória. A proposta era formar homens úteis à República. Também insistia que era necessário educar e ensinar as mulheres “para que elas não se prostituíssem por necessidade, nem buscassem o casamento para garantir sobrevivência”. Toda a base de sua pedagogia era mesclar o ensino social, corporal e científico. “O fundamento do sistema republicano está na opinião do povo. Ninguém faz bem o que não sabe, então não se pode fazer uma república com gente ignorante”.

Seu conceito original de escola, a escola social, é o que ele tenta pôr em prática na Colômbia, mas não encontra eco. Ele queria formar pessoas que atendessem a uma autoridade social e não pessoal. Foi o precursor da Escola de Artes e Ofícios, da Universidade Popular. Na época, comandava a Colômbia aquele que viria a trair toda a proposta de Bolívar: Santander. E obviamente esse tipo de ensino não lhe era favorável.

De novo com Bolívar

Quando Simón finalmente encontra Bolívar, depois de mais de ano de sua chegada, decide que não é mais possível ficar na Colômbia e segue com seu antigo aluno rumo ao Peru. Bolívar quer que o velho mestre se incorpore ao esforço de construir a grande pátria americana e não mede esforços nem recursos para que ele consiga colocar em prática suas ideias educativas. Simón segue então para a cidade de Cuzco onde cria um colégio já dentro do seu padrão: para crianças pobres, com ensino de ciências, arte e trabalho. Para isso usa os espaços e o dinheiro das congregações religiosas, o que também já coloca uma boa parte do clero contra ele. Mas, como está com Bolíviar, tudo vai se fazendo conforme as regras ditadas por Simón. Em várias cidades peruanas surgem colégios desse tipo. Logo em seguida eles partem para a Bolívia aonde vão se encontrar com Sucre. Na cidade de La Paz Simón estrutura uma biblioteca e Bolívar decide nomear o professor para comandar todo o processo de Educação no nascente país. Assim, no ano de 1825, Simón é nomeado Diretor de Ensino e prepara um Plano Educativo para o governo de Sucre. Entendia ele que o primeiro dever de um governo é dar educação ao povo e, assim, monta uma proposta semelhante a que tinha tentado trabalhar na Colômbia: uma escola social. Para isso buscou recolher todos os órfãos que andavam vagando pelas ruas e os colocou em ambiente adequado para o ensino das artes, da ciência e do ofício. Também procurou acolher as meninas, as quais acreditava mereceriam também receber educação. Da mesma forma que no Peru, também usou propriedades da igreja.

Bolívar segue seu caminho e deixa Simón na Bolívia. Sem a proteção do libertador, Simón vai perdendo apoio no seu projeto. As autoridades locais, os padres e até mesmo Sucre não conseguem entender os métodos de caraquenho. É que ele insistia em proporcionar aos alunos aquilo que havia de melhor. Os melhores móveis, as melhores máquinas para o trabalho, os melhores professores. Tudo isso custava dinheiro e, no meio da guerra, os que estavam no comando acreditavam que havia coisas mais urgentes para investir. Seis meses depois de estar no cargo de Diretor Geral, ele sai de Chuquisaca e vai para Cochabamba criar mais uma escola. Aproveitando a ausência, o prefeito da cidade fecha a sua Escola Modelo que abrigava mais de 200 crianças. “Essa é uma escola para cholas e filhos de putas”, dizia o prefeito, e pregava a necessidade de ter uma escola apenas para “gente decente”. Intrigado com os padres que não queriam ver os bens da igreja sendo dispensados aos garotos pobres e aos índios, Simón vai sendo derrotado. Até mesmo Sucre o repreende pelo alto valor dos gastos e Simón se sente insultado. Então, renuncia ao cargo e sai da Bolívia. “Por querer ensinar mais do que todos sabem, não me entenderam, muitos me depreciaram, e alguns me ofenderam. Entretanto, para fazer republicanos é preciso gente nova”. 

Derrotado na Bolívia ele volta ao Peru, vai para a cidade de Arequipa onde escreve seu livro “Sobre o Projeto Popular” que é a sistematização das experiências que ele havia dado início na Colômbia e na Bolívia. Ali orienta, mais uma vez, o ensino da ciência, das letras e de ofício, defende a educação das meninas, dos índios e dos pobres. “Todos devem ser bem alojados, bem vestidos e alimentados”. Sua proposta era de educação integral. Além disso, preocupava-se com a situação dos pais das crianças. Acreditava que era preciso garantir trabalho a eles, e socorro se fossem inválidos. “Há que formar homens úteis, dar-lhes terras e auxiliar nos seus negócios”. Não é sem razão que o método de Simón é visto como assustador pelos novos dirigentes criollos. Sua proposta educativa era também uma revolução social e econômica.

Educação colonizada

Naqueles dias em que a independência se consolidava não eram poucos os educadores europeus que vinham oferecer seus serviços a Bolívar e aos outros dirigentes das repúblicas. Um deles foi Lancaster. Seu método aparecia como muito mais interessante para os novos governadores porque era bem mais barato do que o de Simón. Lancaster propunha que os alunos mais adiantados fossem os professores dos menores, o que para Simón era uma vilania. Afinal, o pilar de sustentação do seu método era justamente a formação dos professores, a qualificação dos mesmos. “Instruir não é educar, nem instrução pode ser equivalente à educação, ainda que instruindo se eduque”, dizia, mostrando que aluno não podia educar aluno. Acreditava que na primeira escola as crianças, mais do que aprender a pintar as palavras, precisavam aprender a pensar e a raciocinar. E isso era tarefa para gente capacitada a educar. Simón trabalha com uma pedagogia prática: expõe como ensinar lógica, o idioma, o cálculo, a história, sempre por princípios e “como os princípios estão nas coisas, se ensinará a pensar”. Esse era seu mantra. “Ler não será estropear palavras para ganhar tempo, mas sim dar sentido aos conceitos. Assim, quem não entende o que está lendo, não deve ler”. E assim esgrimia sua crítica ao método lancasteriano. “O que pode ler aquele que não tem ideias?” Simón acreditava que ensinar mal era um crime que se cometia contra aqueles que deveriam ser os novos dirigentes na nova América.

Morre Bolívar

O ano de 1830 é particularmente triste para todo o continente sul-americano. A proposta de Bolívar de criar uma grande pátria, compostas por províncias interdependentes, fracassa. Traído pelos velhos companheiros, doente, Bolívar vê seu sonho desmoronar como um castelo de cartas. Certos de que a enfermidade vencerá o libertador, os novos dirigentes vão dando fim a qualquer rastro da Pátria Grande idealizada por ele. Sucre, que seria o braço direito do libertador e seu natural sucessor, é assassinado em uma emboscada. Pouco depois, Bolívar morre, abandonado e degredado. Para Simón, tudo aquilo também significaria a derrota de seu projeto de educação. Sem seu velho amigo e marcado como um dos homens de Bolívar, Simón terá seu caminho sistematicamente travado a partir daí.

Abandona Arequipa e segue para Lima, onde recomeça a dar aulas. Mas, não consegue avançar no seu método. As famílias “de bem” o chamam de louco e imoral, porque ele insiste em educar as meninas e os índios. Ainda assim, insiste na crítica à educação da época, escrevendo num jornal local: “Para ser uma república há que se investir em educação popular. Com homens já formados só se pode fazer o que se faz hoje: desacreditar a causa social”.

Simón permanece em Lima até o ano de 1834, quando completa 60 anos. Recebe o convite de um amigo para ir ao Chile ser reitor de um Colégio Provincial. Apesar de todos os ataques que sofre, ainda restam muitos seguidores de Bolívar, muitos homens dispostos a dar outra cara para as repúblicas nascentes e é aí que ele se ampara. Che ao Chile e prefere dirigir uma pequena escola, onde seu método pode vingar. Lá, ele ensina a partir de quatro quadros, que desenha na lousa. O primeiro era o fisionômico, no qual repassava as noções acerca das matérias e dos ofícios. O segundo era o fisiográfico, no qual repassava o conhecimento mais aprofundado sobre os temas. O terceiro era o fisiológico, no qual ensinava as ciências e o quarto era o econômico, no qual ensinava filosofia. Sua maneira de ensinar era expositiva. Não usava textos, apenas os quadros sinópticos, sempre apontando explicações que estivessem ao alcance dos alunos. “Encontrem vocês as suas ideias, para fixa-las e retê-las na memória. Procurem armazenar as ideias e se perguntem sobre o que fazer”.

Um homem sem raiz

Quando tudo parecia caminhar bem, alguma coisa acontecia e obrigava o velho educador a se mover. Era como se ele fosse predestinado a não encontrar guarida. Um ano depois de estar no Chile, um grande terremoto destrói a escola e faz com que Simón mude-se outra vez. Segue agora para Santiago onde abre uma escola e uma fábrica de velas, para dar aos alunos a possibilidade de aprender um ofício. Continua tentando imprimir uma educação transformadora, ainda acredita na possibilidade de um mundo novo. “A educação pública no século XIX pede muita filosofia. O interesse geral está chamando por uma reforma e a América está chamada pelas circunstâncias para empreendê-la. A América não deve imitar servilmente e sim ser original. Ideia, ideias, primeiro que letras”.

Naqueles dias, apesar de todos os infortúnios, Simón era muito procurado por educadores de todo o mundo. Vinha gente da Europa para conhecê-lo e aprender seu método. Mas, na América mesmo, sua voz era como pérolas aos porcos. Tanto que as escolas que criava acabam se fechando por falta de recursos. Não havia quem bancasse. E os que bancavam exigiam mudanças, queriam baixar os custos. Simón não aceitava. Foi o que se passou em Valparaíso, onde foi também obrigado a desistir da escola, embora seguisse com a fábrica de velas. Com sua fina ironia, dizia: “A liberdade me é mais querida que o bem estar. Vou continuar iluminando a América, sigo fazendo velas”.

A experiência chilena logo se desfaz e Simón volta para Lima onde permanece até o ano de 1843. Lá, aproveita o tempo para escrever seus livros. Tem 72 anos quando desde o Equador, um velho amigo o chama para ensinar na cidade de Latagunga. Atravessa os Andes no lombo de uma mula, mas não fica por lá muito tempo, em função da instabilidade política. O chamam da Venezuela, mas ele se nega a voltar. Segue então para a Colômbia outra vez. Apesar da idade, está forte e continua abrindo escolas por onde passa. Quando completa 80 anos de vida retorna para o Equador onde permanece por três anos ainda ensinando no Colégio São Vicente.

No final do ano de 1853 decide voltar para o Peru com o filho José e um amigo. Leva com ele tudo o que tem. Uma muda de roupa e duas caixas de livros. Sem recursos, eles decidem ir por mar, numa balsa. O mar encapelado, tempestades e eles se perdem. Quase naufragam. Acabam batendo numa pequena comunidade de pescadores. Simón está muito fraco e tem problemas de intestino. Os pescadores temem que seja doença contagiosa e expulsam os viajantes. O amigo vai até a aldeia, buscar ajuda junto ao padre. Explica quem é Simón, sua situação e o padre decide ajudar. Mas, depois, informado de quem era Simón, chamado de louco e imoral, não deixa que o velho venha para a aldeia. O confina numa propriedade fora do povoado. Simón vai definhando. Apenas uma caridosa mulher leva comida, apesar de ter sido proibida. Dois dias antes de morrer, manda chamar o padre. Ele vai, achando que o velho vai se confessar. Não o faz. Segundo o amigo, Camilo Gomez, ele apenas disserta uma arenga materialista e diz que a única religião que teve na vida foi o juramento que fez, junto com Bolívar, no Monte Sacro, de libertar a América. No dia seguinte, morreu. Foram 83 anos de caminhada pelo mundo, incompreendido, amaldiçoado. Mas nunca traiu seus princípios.          
 
O legado

Simón foi, em tudo, um homem original. Casou-se cedo, teve um filho, mas não viveu para ser um pai de família tradicional. Seu destino era o de ser um plantador de escolas por todo o lugar onde passou. E não foram poucos. Saiu da Venezuela, por conspirador, e nunca mais voltou. Mas nunca deixou de mandar dinheiro para a esposa, apesar de nunca mais vê-la. Forjou seu pensamento acerca de educação na crítica sistemática e seu maior legado foi ter pensado a América desde a América. Não foi capaz de se oportunizar das novas possibilidades do mundo novo que se abria. Insistiu no seu método de ensinar a pensar os meninos, as meninas, os negros e os índios, a quem chamada de “os donos do país”.  Queria formar gente capaz de ser sujeito de sua própria vida. “Dos brancos não espere nada. Mais vale entender os índios que a Ovídio”. Acreditava que a escola devia ser um lugar de acolhimento, com espaço para a educação e a brincadeira, tirando as crianças da rua. Queria seres pensantes: “Que aprendam as crianças a serem perguntadoras, para que pedindo o porquê se acostumem a obedecer a razão, não à autoridade como os limitados, nem aos costumes como os estúpidos”.

Simón também ensinava a partir da realidade local, da observação da realidade da criança. “Se ensinamos ciências exatas e de observação, os jovens aprenderão a apreciar o que pisam”. Ministrava uma educação social, não individual. Propunha-se a tirar o pobre da ignorância. “O homem não é ignorante porque é pobre, senão o contrário. Ensinem e terão quem saiba, eduquem, e terão quem faça. A América não deve imitar servilmente, deve ser original”.

Aquele que forjou Bolívar par a libertação tinha tanto amor pela educação que, apesar de toda a sisudez, foi capaz de produzir poesia. “Ler é ressuscitar ideias sepultadas no papel. Cada palavra é um epitáfio. Chamá-las à vida é uma espécie de milagre e, para fazê-lo, é necessário conhecer o espírito das palavras”. Tratado como louco ele ficou esquecido por longo tempo. Agora, tal qual as palavras que amava, ele também ressuscita, para assumir seu lugar no panteão dos grandes sábios dessa Abya Yala.

Simón Rodriguez, Samuel Robinson, presente!                       
Referências
Obras completas de Simón Rodríguez – Tomos I e II. Presidencia de la República. Venezuela, 1999

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Diana Morales, defensora dos Direitos Humanos foi assassinada na Colômbia


Diana foi assassinada na zona rural da vereda Batea Seca na última terça-feira (23). Ela era delegada da Mesa de Participação e de Angostura no comitê territorial de justiça transicional.
 

Em carta, os representantes desse movimento convocam aos colombianos à defesa permanente dos direitos humanos e a proteger as vítimas do conflito armado. E exigem da Promotoria Geral da Nação que seja feita uma pesquisa imediata os fatos para impedir a impunidade.

Nos últimos 10 meses vários defensores de direitos humanos e ativistas sociais, muitas delas mulheres, têm sido assassinados no país. Só no Cauca foram 15 pessoas.

Há menos de duas semanas o Movimento de Vítimas de Crimes de Estado denunciou a morte de outro líder social, o advogado Ricardo Rodríguez no central departamento de Meta.

Segundo cifras divulgadas pelo programa Somos defensores, em 2013 foram assassinados mais de 35 ativistas e defensores de direitos humanos, outros 86 estão sendo ameaçados, 21 sofreram atentados e 153 foram vítimas de agressões individuais.

Fonte: Prensa Latina

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

SAUDAÇÃO DA DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP À CÚPULA NACIONAL DE MULHERES E PAZ.


LA HABANA, CUBA, SEDE DOS DÍALOGOS DE PAZ, 23 DE OUTUBRO DE 2013



CÚPULA NACIONAL DE MULHERES E PAZ. 23-25 de outubro. Bogotá-Colômbia.


A Delegação de Paz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo, saúda com sentimento de pátria e de paz as organizações, participantes e assistentes que se congregam na Cúpula Nacional de Mulheres e Paz, para compartilhar experiências locais, nacionais e internacionais que contribuam na construção da paz a partir da formulação de propostas concretas.


Quiséramos iniciar expressando nosso pleno contentamento pela realização desse evento, que toma como marco referencial de desenvolvimento o ponto sexto da Agenda do Acordo Geral de Havana. Não obstante, cremos pertinente que saibam que é nosso maior desejo que a participação de tod@s vocês, do conjunto da sociedade, e em especial da mulher no processo de Diálogo se dê não delimitando a presença num ou noutro ponto em específico, senão que seu desenvolvimento, seu protagonismo, seja parte de todo o conjunto do desenvolvimento das conversações; isto é, que consideramos desde as FARC-EP que o papel das comunidades e de suas organizações e movimentos sociais e políticos deve ser o de construtores do Acordo de Paz e não somente o de atores do epílogo da mencionada Agenda.


Ao nosso modo de ver, se a paz é um assunto de todos e todas sem exceção, é apenas justo e natural que o conjunto das comunidades e organizações ou movimentos sociais se manifestem na construção do Acordo em toda sua extensão, que se discute em HAVANA e está composto pelo preâmbulo e 6 pontos.


Assim as coisas, nosso primeiro chamado seria a exigir desde este cenário que se abram as comportas da discussão de todos os pontos da Agenda, de frente para o país e o mundo, tal como o temos proposto como insurgência desde os inícios das aproximações com o governo.


De nossa parte, temos feito um grande esforço para que as vozes do povo cheguem até a Mesa de conversações, incluindo-as em nossas propostas mínimas; temos ressaltado em cada uma delas a necessidade de colocar em primeiro plano as reivindicações e direitos dos setores sociais mais excluídos, especialmente o das mulheres. Assim ocorreu durante as discussões do primeiro ponto referido à problemática agrária e assim ocorre agora em desenvolvimento do segundo ponto referido à participação política.


O mesmo compromisso com tais reivindicações temos para o desenvolvimento dos pontos que seguem, e no dia a dia de seu desenvolvimento incluímos sentidas iniciativas que guardam objetivos de muito peso ético e de humanidade como o de pôr como tema central de discussão a luta contra a guerra em geral.


Uma sociedade deve viver em paz e essa paz deve ter como base de sua existência a justiça em condições de igualdade e liberdade; isto é, contando com terra para trabalhar, com moradia, com agasalho, com saúde, com educação, com plena participação política em condições de dignidade e liberdade.


Não podemos cair na armadilha de deixar-nos enredar por concepções que, montando-se às vezes em erros ou faltas que se cometem no desenvolvimento de tão longa confrontação, argumentando uma suposta defesa dos direitos da mulher, se usa como instrumento para estigmatizar e desqualificar a existência da insurgência.


Muitas vezes, por exemplo, para definir as formas mais generalizadas de violência contra as mulheres, no contexto do conflito armado, se tomam categorias que se definem com redação incriminatória absoluta na inclusão das guerrilhas como sujeito delinquente; induzindo a pensar em que se trata de uma prática própria de nossa concepção revolucionária assumir que as mulheres podem ser objetos usáveis, prescindíveis, maltratáveis e descartáveis.


Estas generalizações mal-intencionadas não são construções casuais, mas sim de propaganda dirigida à desqualificação da luta armada como método legítimo dos pobres para resistir e lutar por seus direitos. Obviamente, para nada consideram que precisamente os homens e mulheres insurgentes na Colômbia levantamos a bandeira do rechaço contra todas estas patologias geradas pela guerra que nos impõem as oligarquias e que, precisamente na guerrilha, de maneira voluntária, a mulher assume um lugar digno de combate para libertar a sociedade toda da privação ou da restrição de seus direitos.


A violência contra a mulher faz parte da violência estrutural que, geralmente, as classes exploradoras exercem contra o conjunto da sociedade; em tal sentido, reivindicar os direitos da mulher no ideário fariano implica descartar toda visão reducionista do sentido da paz, assumindo-a como a ausência da guerra ou como o resultado da deixação das armas, o qual se lhe costuma exigir à insurgência, sem levar em conta as causas que levaram ao alçamento que hoje protagonizam homens e mulheres desde a guerrilha em função de, antes de tudo, forjar as bases da justiça social, incluindo nisso a reivindicação dos direitos da mulher.


Reiteramos, então, que a paz implica uma luta de todos e todas por erradicar as causas sociais e política que geraram a confrontação; implica acabar com as causas da pobreza e da desigualdade; implica a desmilitarização da sociedade e do Estado, de tal maneira que se abra caminho ao exercício pleno de uma verdadeira democracia.


Urge que o processo de paz em Havana abra as portas da participação ao conjunto da sociedade, e em especial à mulher desde já, em todos os pontos, sem ter que esperar até o ponto seis para fazê-lo.


DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

As outras vítimas do conflito colombiano


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A Anistia Internacional (AI) denunciou o governo colombiano pela violência exercida contra os manifestantes indígenas que protestam por seus direitos. Também insistiu às autoridades para que investiguem as ameaças de morte que estes recebem por parte de grupos paramilitares. A organização afirmou que existem graves e recorrentes preocupações em relação à segurança dos manifestantes, depois que seus líderes receberam ameaças de morte por parte de um grupo paramilitar de direita vinculado ao narcotráfico. Dezenas de índios, incluindo crianças, ficaram feridos quando o exército usou de força excessiva contra os protestos, que ocorrem em várias regiões do país. De sua parte, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) anunciou a realização de uma audiência para analisar a suposta repressão e criminalização dos movimentos sociais no país. “Este é um tema extremamente delicado e preocupante”, disse o secretário executivo da CIDH, Emilio Alvarez.

A reportagem é de Patricio Porta, publicada no jornal Página/12, 23-10-2013. A tradução é do Cepat.

A maior parte das evidências recolhidas pela Anistia Internacional, em várias partes da Colômbia, aponta para o uso de violência por parte da polícia e das forças armadas, profundamente desproporcional contra os manifestantes indígenas, afirmou Marcelo Pollack, pesquisador  da AI para a Colômbia. “Os responsáveis devem ser levados à Justiça em tribunais civis, não militares”, considerou a AI, que pontuou que, caso contrário, abriria caminho para que haja mais vítimas enquanto os protestos continuam.

Desde o dia 12 de outubro, milhares de indígenas se manifestam em várias regiões colombianas pedindo que se respeitem seus direitos, cada vez mais ameaçados pela interferência em suas terras por interesse de mineradores, petroleiros e outros atores econômicos. A Anistia lembrou que, no sábado passado, o Comitê Regional Indígena de Cauca (CRIC) denunciou que em Augustina, município de Santander, em Cauca, as forças de seguranças abriram fogo contra a marcha, ferindo a quinze manifestantes, incluindo várias crianças. “Os povos indígenas vêm sofrendo pressão das guerrilhas, do exército e dos paramilitares. Suas reclamações têm muitos anos, mas os sucessivos governos tem feito muito pouco”, disse Peter Drury, pesquisador do AI na Colômbia, ao jornal Página/12.

O conselheiro sênior da Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), Luis Fernando Arias, já havia denunciado o uso excessivo da força por parte do Esquadrão Móvel Antimotins (Esmad) da polícia, que deixou 33 indígenas feridos durante as marchas da semana passada.  Após esta queixa, o exército e a polícia justificaram suas operações de despejo das estradas bloqueadas devido à impossibilidade observada em negociar para que as abandonassem e, asseguraram ter recebido pedradas por parte dos manifestantes.

Aqueles que são qualificados como subversivos ou colaboradores da guerrilha se convertem, com frequência, em vítimas de graves violações dos direitos humanos, cometidas pelas forças de segurança ou pelos paramilitares que, certas vezes, atuam em conjunto”, afirmou a AI. De fato, os paramilitares ameaçaram declarar como alvo militar vários dirigentes e organizações indígenas, caso os protestos continuassem.

Neste sentido, Alvarez expressou preocupação pela morte de quatro pessoas durante os protestos campesinos no último mês de julho, em Catatumbo, e outras denúncias de indígenas que relataram o ataque com helicópteros na semana passada. A audiência foi solicitada por um conjunto de organizações colombianas, entre elas a Corporação Reiniciar e o Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos. “Os protestos têm tido como resposta do governo um conjunto de ações que afetam ou põem em risco os direitos humanos reconhecidos pela Convenção Americana de Direitos Humanos” expressaram as ONGs na carta através da qual solicitaram a audiência.

A AI também mostrou sua preocupação pela recente reforma do sistema de Justiça militar, que fará com que seja quase impossível processar os membros das forças de segurança envolvidos nas violações dos direitos humanos. “As forças de segurança têm reagido com muita violência. Contatou-se o uso de armas de fogo. E isto se dá em um momento em que a jurisdição militar se reforçou”, assegurou Drury, em relação ao comportamento do exército e a impunidade que pode significar um julgamento por fora da Justiça Civil.

Desde janeiro deste ano, foram registradas pelo menos 40 mortes violentas de indígenas em Cauca. O aumento destes assassinatos começou há três meses quando os indígenas adotaram medidas destinadas ao “controle territorial”, uma ação orientada para expulsar de suas terras todos os grupos armados, segundo a ONG colombiana Terra de Paz. Como parte destas ações, as comunidades originárias chegaram a desocupar, pela força, uma base do exército colombiano. Mas os esforços para reafirmar sua autonomia territorial também foram enfrentados pelas FARC que, no momento, iniciam as conversações de paz para por fim a um conflito que já dura mais de 48 anos.
Os povos indígenas têm reivindicado seus direitos enquanto tais. Há uma inquietude frente à expansão de projetos de mineração e petróleo”, afirmou Drury. A Anistia assegurou que todas as partes envolvidas no conflito armado colombiano violaram reiteradamente seu dever de respeitar o direito da população civil por não tomar parte no confronto e por serem responsáveis por graves abusos contra os direitos humanos e violações ao direito internacional humanitário.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ex-senadora Piedad Córdoba questiona sua "morte política" na Colômbia


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Em entrevista concedida ao jornal colombiano El Espectador, Piedad afirmou que a sentença representa “a perda da democracia no país, enquanto a independência do caráter legislativo”.

"Seguirei na política até que me enterrem. Tenho totalmente claro que sou uma liderança política, que não devo nada e estou disposta a dar a cara e responder por todos e cada um dos meus atos. Amo o meu país e por ele estou disposta a dar a vida”, disse a ex-senadora.

Piedad defendeu que seus contatos com as Farc se deram com objetivo de facilitar o retorno dos sequestrados e disse que as provas apresentadas contra ela são inválidas. Ela afirmou ainda que a decisão da Procuradoria se sustentou com base nestas provas inexistentes e que teve seus direitos violados no devido processo.

Ela, que é porta-voz do movimento Colombianos e Colombianas pela Paz, anunciou em seu perfil no Twitter: “Acredito no direito, no coração e na razão, por isso irei recorrer ao Sistema de Proteção dos Direitos Humanos”. A ex-congressista afirmou ainda que não está morta politicamente.

Segundo Piedad, o procurador Geral não tinha autoridade para decretar a morte política de um senador, poder que só poder ser exercido pelo Conselho de Estado, uma vez que são os parlamentares que elegem o Procurador-Geral.

Da redação do Vermelho,
Com informações do jornal El Espectador

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Uribe, paramilitarismo y edifício desabado: Os fantasmas do passado.


Por Alberto Pinzón Sánchez

Com o desabamento de um dos edifícios mais luxuosos de Medellín, neste 12 de outubro, o que fora construído, “combinando todas as formas de fazer trapaça”, pelo ultra poderoso casa-tenente e construtor antioquenho Villegas Moreno, o “Padrinho” real de Uribe Vélez, aumentou entre a classe dominante colombiana a sensação de abatimento. Sensação que está sendo acrescentada pela combativa mobilização social [que não cede] e pela última pesquisa de Datexco de 10 de setembro de 2013[1], onde se estabelece nada menos que 78% dos colombianos não votariam pela reeleição de JM Santos. 

Várias coisas determinaram a “barrigada” do Presidente colombiano contra a realidade: Em primeiro lugar, seu tardio reconhecimento [depois da sublevação do Catatumbo, da Paralisação Agrária e Popular de agosto e do atual levantamento Indígena] de que não bastava com reconhecer simplesmente que na Colômbia havia um centenário conflito armado, senão que lhe faltou o miolo para ter entendido que este também era social.

Quantas vezes, nos últimos 12 anos, não escrevemos quase de forma ritual e semanalmente sobre “o histórico conflito social e armado da Colômbia e sua Solução Política”? Bem, pois aí está o histórico conflito social e armado em sua plenitude em toda Colômbia e, como diria Marx, “trazendo os fantasmas do Passado”. 

Em segundo lugar, derivada da anterior incompreensão e pela inércia de muitíssimos anos de militarismo crioulo e de seus abastecedores estadunidenses com grandes interesses geoestratégicos e financeiros sobre a esquina Colômbia, se seguiu o sambenito de crer que tudo se resolvia a tiros e bombaços; sem entender que a Insurgência estava fazendo uma adequação adaptativa para emagrecer militarmente e não dando alvo às bombas ultra tecnológicas, e para dedicar-se às atividades políticas e organizativas clandestinas do Partido Comunista Clandestino [o mesmo que obcecou e enlouqueceu ao meu-general Mantilla e, a propósito, que se fez?

Porém, não. Puderam mais a mentalidade Ianque do “body counter” e os litros de sangue para medir o êxito oficial da guerra. E aí está: como se fosse um informe de guerra das FARC, porém desta vez dado pela revista do mesmo sobrinho do presidente Santos, num artigo da revista Semana intitulado “Sobe a guerra de Baixa intensidade com a guerrilha”[2[, onde se dá conta da entrada plena desta organização político-militar no manejo atualizado e de resistência sem riscos à guerra assimétrica travada pelo Imperialismo contra o Mundo e concretamente contra o povo colombiano através de 9 grandes bases militares de que dispõe.

Com semelhantes erros de apreciação e cálculo, tanto políticos como militares, JM Santos, como bom jogador de naipe, acreditou [ou os deformados como Padilla lhe fizeram crer] que a Insurgência, em especial as FARC, estavam [como dizemos na Colômbia “a tiro de Ás” e que não era senão fazer um pouquinho de pressão militar para conseguir sua rendição. Por isso, impôs desenvolver o processo de paz de Havana sob a norma deletéria e absurda de “negociar em meio à guerra” e por isso calculou com seus marechais um ano para ter no bolso de trás o acordo de Havana firmado de uma paz Express. 

Porém, ademais, montou sobre essa base falsa, tal e como se o demonstrou a vida, seu projeto para a reeleição presidencial. Não lhe resultaram as coisas assim, senão que ao contrário:
1 – Uma grande mobilização popular em marcha deixou limpas as três caras do conflito colombiano: a) que é histórico; b) que é social; e c) que ainda é armado.
2 – A Insurgência não está derrotada, senão que está se preparando, como insinua a revista Semana, para o caso de que se aborte o processo de paz de Havana, enfrentar e resistir num longo prazo, a arremetida militarista oligárquico-imperial que JM Santos e seu ministro de guerra Pinzón anunciam todos os dias.
3 – Que o processo de Havana, como se está dizendo toda a Comunidade Internacional, tem necessariamente uma Solução Política, não Jurídica e menos militar.
4 – Apesar dos avanços e acordos alcançados em Havana entre as Partes, segundo o próprio Santos tem reconhecido, não se poderá cumprir o prazo máximo de um ano estipulado por ele. Possivelmente leve mais tempo, porém já sob o lema guerrilheiro de que “uma paz mal pactuada na Colômbia é pior que a própria guerra”.
5 – E o mais provável é que, se o presidente Santos sabe ler suas próprias pesquisas [e sobretudo a realidade externa], terá que evitar o triunfo de seu rival Uribe Vélez, opondo-lhe um candidato com opção real de triunfo que lhe permita como a Moisés ver a terra prometida. Se me ocorre pensar que talvez poderia ser como o máximo responsável da Paz de Vargas Lleras, porém [não se sabe] com um pouco mais de vontade de mudança social.
Enquanto isso, a Gente do Comum que já encontrou a mudança seguirá sua mobilização até alcançar uma paz com justiça social, democracia e soberania.
Notas:
Fonte:  www.pacocol.org