"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 29 de dezembro de 2012

Colômbia: Aberta a participação da sociedade civil nos diálogos de Havana.




Depois de três dias de trabalho, terminou na quarta-feira, dia 19 de dezembro, em Bogotá, o «Fórum Política de Desenvolvimento Agrário Integral – Enfoque Territorial», cujo objetivo é fornecer subsídios dos setores sociais à mesa de diálogo da qual participa, atualmente, a organização guerrilheira Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-EP) e o governo nacional, em Cuba.

Este exercício de participação avançou a partir da petição feita pelas partes da mesa de diálogo de Havana às Nações Unidas e à Universidade Nacional da Colômbia, em 25 de novembro passado. A ONU da Colômbia e o Centro de Pensamento e Continuidade ao Processo de Paz da universidade organizaram o evento, definindo a metodologia e os convidados.

Além das propostas e das relatorias resultantes do fórum, a metodologia teve uma função determinante quanto à necessidade de construção de um espaço real de participação e que este seja legitimado pelo público. Assim, a equipe que elaborou a metodologia entregou ao auditório as estatísticas dos presentes: participaram 435 mulheres e 879 homens, em um total de 1.314 pessoas. Os participantes eram oriundos de 33 Estados do país, representando 522 organizações e setores, como afrodescendentes, ambientalistas, camponeses, centros de investigação, comunidades, igrejas, iniciativas de paz, jovens, movimentos sociais, mulheres, organizações de direitos humanos, partidos políticos, setor empresarial, sindicatos, universidades e vítimas.

As conclusões das 20 mesas de trabalho que se reuniram durante um dia e meio foram sintetizadas em dois momentos. No primeiro momento, foram criadas novas mesas e ali se fez a socialização das relatorias, assim como os ajustes por parte dos participantes. O segundo momento foi a plenária, em que foram lidas as 10 geradas no exercício anterior.

Nestas mesas se apresentaram propostas escritas e se fizeram exposições orais. Seus conteúdos giraram em torno de seis subtemas concordantes com os que estão sendo debatidos em Cuba:

1. Acesso e uso da terra. Terras improdutivas. Formalização da propriedade. Fronteira agrícola e proteção das zonas de reserva.
2. Programas de desenvolvimento com enfoque territorial.
3. Infraestrutura e adequação das terras.
4. Desenvolvimento social: saúde, educação, habitação, erradicação da pobreza.
5. Estímulo à produção agropecuária e à economia solidária e cooperativa. Assistência técnica. Subsídios. Créditos. Geração de empregos. Mercado. Formalização trabalhista.
6. Sistemas de segurança alimentar.

A plenária começou com o canto espontâneo de um camponês do Estado de Tolima e continuou com as palavras do representante da ONU, que apresentou a metodologia da apresentação das relatorias. Terminada a leitura, se fez o encerramento com a palavra de várias pessoas, que se centraram na necessidade de dar continuidade a estes espaços de participação da sociedade civil na busca e concretização da paz.

Também foi feita uma proposta conjunta de unidade, originada no fórum, assinada por organizações indígenas, negras, camponesas e pelos movimentos Ríos Vivos e de afetados pelo projeto hidroelétrico El Quimbo. Ela foi lida pelas vozes do indígena Feliciano Valencia, pela representante das comunidades negras María Gines Quiñones e pelo camponês Julio Armando Puentes.

Assim, aproveitou-se para denunciar o assassinato, nesse mesmo dia 19 de dezembro, em Medellín, de Ismael Hurtado Bomba, governador do município de Chicaraguac e convocaram a unidade de todos os setores para “articularem as diferentes iniciativas, como Congresso pela Paz, Congresso Indígena e Popular, Encontro Nacional de Comunidades Afro, II Congresso Nacional Agrário e as Constituintes Regionais e Setoriais pela Paz com Justiça Social, para um grande encontro pelo território e pela reforma agrária integral e para uma grande mobilização nacional pela exigibilidade de direitos, defesa e posicionamento de nossas propostas”. Nesse mesmo sentido, interveio Ricardo Herrera, da Coordenação Nacional Agrária.

Também no ânimo de fortalecer esta participação da sociedade na busca pela paz, Piedad Córdoba, dirigente do Colombianas e Colombianos pela Paz e da organização Marcha Patriótica, propôs, para o primeiro semestre de 2013, organizar um novo fórum em que participem mais pessoas e organizações e que, igualmente, seja um espaço onde se encontrem empresários e comunidades.

Rafael Mejía, representante empresarial e presidente da Sociedade de Agricultores da Colômbia (SAC), saudou o fórum como um espaço tolerante com as diferenças, no qual, de maneira respeitosa, permitiram-lhe falar e igualmente escutar com respeito. Indicou que isso abriu a possibilidade de aprofundar no conhecimento de uma realidade que afeta a todos.


Josefina Háfinton, proveniente do arquipélago de San Andrés, Providencia e Santa Catalina, mostrou os graves impactos territoriais que vivem as comunidades oriundas destas ilhas e os efeitos da decisão da Corte Internacional de Justiça de Haya, na qual se dividiu o mar da terra, assim como as consequências que isto traz para a vida dos habitantes. Destacou que não querem mais investidores no arquipélago e que exigem a suspensão da pesca industrial.

As palavras finais do Fórum foram do padre jesuíta Francisco De Roux, que ressaltou o fato deste encontro confirmar que o que está em jogo neste processo de paz é a discussão sobre o modelo de desenvolvimento do país, contradizendo a ênfase governamental de que este tema não está em discussão nos diálogos. Ainda afirmou De Roux, “a única mensagem das minhas palavras que eu quero que chegue à Havana é o grito das vítimas: parem essa guerra”. Também declarou seu apoio às chamadas Zonas de Reserva Camponesa, argumentando que “ali se protege as comunidades da voracidade do mercado, que monopoliza as terras no latifúndio e expulsa os moradores do campo”.

Os organizadores deste Fórum encerraram o evento com a satisfação de dever cumprido e com a missão de levar à Havana, em 8 de janeiro de 2013, cada uma das ideias que foram elencadas neste espaço.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Uma paz mal construída é pior que uma guerra


Conferência de imprensa
Essas conversações que começam como desdobramento do Acordo Geral para o término do conflito e construção de uma paz estável e duradoura estão claramente vinculadas ao que diz a parte preambular e os desenvolvimentos do mencionado documento, que deixa nitidamente estabelecido que o propósito subjacente a este esforço é a busca da justiça social. Essa é a base para alcançar entre todos os colombianos a reconciliação e a reconstrução do país.

A essência da questão não leva em conta que as FARC se convertam ou não em uma organização política legalizada para começar a percorrer o mesmo calvário em que caiu a União Patriótica a partir da tomada do caminho das promessas retóricas. O fundamento da nossa presença em Havana é levantar a nossa voz para que seja a vontade do povo a se expressar, de modo que o governo empreenda as mudanças necessárias para que as maiorias nacionais não continuem a sofrer com a miséria, expulsões, desapropriações, com o terror e a morte a que foram submetidos por décadas pelas elites no poder.

Sobre o fim do conflito, então, que haja uma visão conjunta do assunto. São necessárias, naturalmente, mudanças no modelo de sociedade e no sistema político antidemocrático que é, em última instância, responsável pela vergonhosa desigualdade e exclusão que caracterizam o regime colombiano.
As FARC não estão em processo de negociação, pois nada temos que entregar e muito temos para exigir, como parte dessa enorme massa de despossuídos clamando por terra, moradia, saúde, educação, pão, liberdade e democracia verdadeira.

Neste processo, as partes acordamos sobre alguns mecanismos iniciais para abrir caminho à participação cidadã; mas, na visão das FARC, esses mecanismos são apenas catalisadores para novas, múltiplas e enriquecedoras iniciativas, que estão surgindo e deverão continuar surgindo no seio da população, de modo que o protagonismo do constituinte primário seja o artesão dessa construção patriótica que é a paz. O povo da Colômbia deve ter, do início ao fim, um voz direta e decisiva nas negociações. De maneira nenhuma firmaremos acordos nas sombras, muito menos virando as costas para o país.

Todas as iniciativas de colombianos que chegam à mesa terão a nossa contribuição diligente para serem analisadas e tomadas em consideração como parte de um mandato popular, e não como meras opiniões a serem tratadas como itens descartáveis.

Da mesma forma, o que foi dito pelo conjunto dos convidados à mesa para esclarecer o desenvolvimento do primeiro ponto da agenda, a política de desenvolvimento agrícola integral, será material de consulta permanente, pois são argumentos que desvendam as causas da ordem social e explicam a permanência do confronto que está fazendo sangrar a pátria.

Temos identificado nestes, e nas abordagens do Foro Agrário, do qual já chegaram notícias de sucesso, que o problema refere-se ao latifúndio, construído a partir da apropriação violenta de terras por parte das elites no poder, germe fundamental do confronto, devendo ser atacado a fim de que se construam caminhos para democratizar a propriedade.

Esta mesma idéia está latente nas conclusões que vieram das mesas regionais de trabalho que impulsionaram as comissões de paz do Senado e da Câmara, bem como no Encontro Internacional de Povos Construindo a Paz. E a este respeito, as propostas das organizações sociais dos marginalizados, dos indígenas, das comunidades afro, dos camponeses, e de toda cidadania, clamam majoritariamente em defesa das pequenas e médias economias rurais, pelo fortalecimento das pequenas e médias propriedades agrícolas, pela defesa das Unidades Agrícolas Familiares, das reservas indígenas, das terras comunitárias de negros e das Zonas de Reserva Campesinas; clamam para que se reordene o território, fazendo cessar a pradarização do país, estabelecendo limites sensatos à desaforada pecuária extensiva; clamam para que se priorize a produção agrícola para garantir a soberania alimentar, e não a produção predatória, extrativista, favorecendo projetos agroindustriais para a produção de biocombustíveis e minério que, além de entregar o território e pisotear a soberania pátria, estão criando mais pobreza, mais desigualdade e um perigoso desequilíbrio ambiental.

Este processo que irá abordar seis blocos temáticos em que estão incorporados os problemas econômicos, de desenvolvimento político e social da Colômbia, será reiniciado em meados de janeiro, provavelmente com propostas audaciosas que tomem o objetivo principal de construir a justiça social desde já, sem promessas adiadas e sem intervalos que ameacem o diálogo.

Entendemos que o encerramento do conflito é uma necessidade vital para a nação, e por isso exigimos soluções para as causas que lhe deram origem, e contribuímos para criar a melhor atmosfera possível para o desenvolvimento das negociações, com a cessação unilateral de ações ofensivas, tendo em mente que quando ocorrer a desmilitarização da sociedade e do Estado, a construção da Nova Colômbia já terá percorrido um bom caminho. Para que então já não reine a impunidade que se pretende com a aprovação do foro militar e que todos os tiros disparados pelo Estado, com as medidas neoliberais que sufocam os colombianos, cessem totalmente e só se possa escutar a alegria de um povo que saiu da miséria.

Com a verdade pura e clara, seguiremos trabalhando de forma digna, séria, realista e eficaz, em função da justiça social e da manutenção em alta conta dos interesses mais sensíveis do povo colombiano. Nesta dinâmica, esperamos que o país avance até a fundação de uma democracia popular, ou seja, verdadeira e cheia de povo.

Delegação de paz das FARC-EP

Tradução: PCB- Partido Comunista Brasileiro

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Obama dá sinais de quatro anos mais de más relações com América Latina


Mark Weisbrot
Tradução: Joaquim Lisboa Neto

ALAI AMLATINA, 19/12/2012.- Na sexta-feira passada [14.12], numa entrevista[1] em Miami, o presidente Obama foi muito longe ao lançar insultos gratuitos para o presidente Hugo Chávez. Fazendo isto, ele não só ofendeu a maioria dos venezuelanos, os quais votaram pare reeleger seu presidente em 7 de outubro, senão que ofendeu inclusive a muitos que não votaram por ele. Chávez está lutando por sua vida, recuperando-se de uma complicada operação de câncer. Na América Latina, como na maioria do mundo, esta desnecessária difamação de Chávez por parte de Obama constitui uma violação não só do protocolo diplomático, como também de padrões comuns de cortesia.
Talvez algo inclusive mais importante é que as inapropriadas calúnias de Obama enviaram uma desagradável mensagem ao resto da região. Enquanto Obama pode sair-se com a sua com qualquer coisa na maioria dos meios de comunicação, se pode estar certo de que seus comentários foram notados pelos presidentes e Ministérios de Relações Exteriores de Brasil, Argentina, Equador, Bolívia e outros. A mensagem foi clara: podemos esperar quatro anos mais com as mesmas políticas falidas, políticas de Guerra Fria para América Latina, as que o presidente George W. Bush defendeu e Obama continuou em seu primeiro mandato[2].
Estes presidentes veem a Chávez como um amigo próximo e um aliado; alguém que os tem ajudado e ajudado a região. Como milhões de venezuelanos, eles estão orando por sua recuperação. Ao mesmo tempo, veem a Washington como responsável pelas más relações entre Estados Unidos e Venezuela [igual que com o hemisfério em geral], e estes desafortunados comentários são uma confirmação adicional disso. Em 2012, durante a Cúpula das Américas, Obama se encontrou tão isolado[3] como esteve George W. Bush durante a notória Cúpula de 2005. Aquela foi uma mudança radical no que diz respeito à Cúpula de 2009, onde todos – inclusive Chávez – saudaram calorosamente a Obama e viram nele a possibilidade de uma nova era nas relações EEUU-América Latina.
Para estes governos, as invectivas de Obama sobre as “políticas autoritárias” de Chávez e a “repressão dos dissidentes” cheiram mal; inclusive, ignorando o momento da ofensiva. Venezuela acaba de ter umas eleições nas quais a oposição, a que detém a maioria das rendas e da riqueza do país, assim como o controle da maioria dos meios de comunicação, mobilizou a milhões de votantes. A participação eleitoral foi de 81 por cento dos votantes registrados, com ao redor de 97 por cento de registro dos votantes em idade de votar. O governo não “reprimiu aos dissidentes”, não o fez assim em outras eleições, ou inclusive quando os dissidentes fecharam a indústria do petróleo e paralisaram a economia em 2002-2003; ações que haveriam sido ilegais e bloqueadas pelas forças do Estado nos Estados Unidos. Os manifestantes pacíficos em Venezuela são muito menos propensos a ser golpeados, atacados com gases lacrimogêneos ou disparados com balas de borracha pelas forças de segurança do que o são em Espanha[4] e, provavelmente, na maioria de outras democracias.
Sim, tem havido abusos de autoridade em Venezuela, como em todo o mundo, tal como o presidente Obama deve saber. Foi Obama quem defendeu[5] o encarceramento sem julgamento por mais de dois anos e meio, e o abuso de Bradley Manning durante sua detenção; que foi condenado pelo Relator especial das Nações Unidas contra a tortura. É Obama quem tem se recusado a conceder a liberdade ao ativista da população indígena estadunidense Leonard Peltier,[6] amplamente conhecido no mundo como um prisioneiro político, agora numa prisão dos Estados Unidos por 37 anos. É Obama quem reclama o direito, e o tem usado, para matar a cidadãos estadunidenses[7] sem detenção nem julgamento.
Venezuela é um país de renda média, onde o Estado de Direito é relativamente frágil, como o é o Estado em geral [daí o absurdo de rotulá-lo de “autoritário”]. No entanto, ao contrastá-lo com outros países de similar nível de rendas, este não se destaca por nada no âmbito dos abusos dos direitos humanos. Certamente, não existe nada em Venezuela comparável aos abusos perpetrados pelos aliados de Washington, tais como México; ou Honduras – onde candidatos a cargos políticos, ativistas da oposição e jornalistas são amiúde assassinados[8]. E grande parte das pesquisas acadêmicas elaboradas acerca da Venezuela sob [o comando de] Chávez mostram que esta é mais democrática e com mais liberdades civis que nunca antes em sua história.
Pelo contrário, nós, nos Estados Unidos não o estamos fazendo tão bem em comparação com nossa própria história e nosso nível de renda. Sofremos uma séria perda de liberdades civis[9] sob as administrações de George W. Bush e do presidente Obama. E, evidentemente, se contamos as vítimas dos crimes dos EEUU no estrangeiro – os civis e crianças assassinados por ataques com drones [aviões não tripulados] em Afeganistão e Paquistão, por exemplo – é o presidente Obama que tem uma “lista de pessoas a assassinar”, tem pouca margem[10] para criticar quase a nenhum presidente de outro país.
“Quiséramos ver uma relação sólida entre nossos dois países, porém não vamos mudar as políticas que têm como prioridade que haja liberdade em Venezuela”, disse Obama, de acordo com a Associated Press.
Não posso pensar em ninguém que acredite que a política dos Estados Unidos em Venezuela, desde o golpe militar de 2002 no qual Washington esteve implicado, à continuação de financiamento hoje em dia aos grupos venezuelanos da oposição, tenha algo que ver com a promoção da “liberdade”. Isto foi somente outro insulto público a mais.
O governo venezuelano respondeu com raiva ante os comentários. Porém, talvez seriam mais indulgentes se soubessem o pouco que sabe o presidente Obama – quem nunca pôs um pé na América Latina antes de ser presidente – acerca de Venezuela ou da região.
Quando o presidente Obama se reuniu com a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, disse[11]:
“Isto me dá a oportunidade para remarcar o extraordinário progresso que o Brasil tem levado a cabo sob a liderança da presidenta Rousseff e de seu predecessor, o presidente Lula, ao passar da ditadura para a democracia...”
Portanto, se Obama [e sua equipe] nem sequer sabia que a ditadura brasileira chegou ao seu fim mais de uma década antes que Lula fosse eleito em 2002, como pode esperar-se que ele saiba algo de Venezuela? Quero dizer, o Brasil é um país grande, maior que os Estados Unidos continental, e a sexta maior economia do mundo.
Obama despediu o seu conselheiro de Segurança Nacional para América Latina depois da debacle da Cúpula de 2012. Ele deveria despedir ao inepto que o alimentou com esses insultos que proferiu na entrevista em Miami, assim como ao incompetente que o fez passar vergonha frente à presidenta do Brasil. E assim poderia limpar seu gabinete dos guerreiristas da Guerra Fria dos anos 1950, que seguem no Departamento de Estado. Está bem se a ele não lhe interessa a América Latina – é melhor para a região e o mundo –, porém, ele e sua administração estão criando um montão de hostilidade desnecessária.


- Mark Weisbrot es codirector del Center for Economic and Policy
Research (CEPR), en Washington, D.C. Obtuvo un doctorado en economía por la Universidad de Michigan. Es también presidente de la organización Just Foreign Policy.
http://www.cepr.net/index.php/other-languages/spanish-op-eds/obama-da-senales-de-cuatro-anos-mas-de-malas-relaciones-con-america-latina

Notas:
(1)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=4&url=http%3A%2F%2Ffeeds.univision.com%2Ffeeds%2Farticle%2F2012-12-14%2Fobama-evita-especular-con-salud%3FrefPath%3D%2Funivision23
(2)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=5&url=http%3A%2F%2Fwww.cepr.net%2Findex.php%2Fother-languages%2Fspanish-reports%2Fla-politica-de-obama-hacia-america-latina-continuidad-sin-cambio
(3)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=6&url=http%3A%2F%2Flta.reuters.com%2Farticle%2FdomesticNews%2FidLTASIE83F09M20120416
(4)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=7&url=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3Dksm7f3ey1bc
(5)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=8&url=http%3A%2F%2Fwww.elespectador.com%2Fnoticias%2Felmundo%2Farticulo-256638-caso-wikileaks-renuncio-portavoz-del-departamento-de-estado
(6)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=9&url=http%3A%2F%2Fwww.rnw.nl%2Fespanol%2Farticle%2Fprimer-premio-benedetti-es-para-leonard-peltier
(7)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=10&url=http%3A%2F%2Fwww.elmundo.es%2Felmundo%2F2011%2F10%2F01%2Finternacional%2F1317452156.html
(8)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=11&url=http%3A%2F%2Fwww.elheraldo.hn%2FSecciones-Principales%2FSucesos%2FAsesinan-a-precandidato-de-Libre-en-el-norte-de-Honduras
(9)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=12&url=http%3A%2F%2Fwww.javierortiz.net%2Fvoz%2Fsamuel%2F10-razones-por-las-que-estados-unidos-ya-no-es-la-tierra-de-la-libertad
(10)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=13&url=http%3A%2F%2Fwww.cepr.net%2Findex.php%2Fother-languages%2Fspanish-op-eds%2Fecuador-da-asilo-a-julian-assange-respetando-los-ddhh-a-pesar-de-amenzas-por-parte-del-reino-unido
(11)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=14&url=http%3A%2F%2Finternacional.elpais.com%2Finternacional%2F2012%2F04%2F09%2Factualidad%2F1334000723_182529.html

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Direitos humanos, uma verdade desconfortável


por elaine tavares

Pode parecer um paradoxo, mas o fato é que o mundo precisou, há 64 anos, criar uma declaração de direitos humanos. Isso porque, ao final da segunda grande guerra na Europa, as pessoas perceberam, estarrecidas, que havia seres humanos capazes das coisas mais atrozes contra outros seres humanos. Foi o caso do holocausto judeu imposto pelo nazismo. Mas, não só isso, houve também o massacre de Hiroshima e Nagasaki, com a bomba atômica lançada pelos estadunidenses, num momento em que o Japão já estava praticamente rendido. E, em vários outros pontos do mundo também havia gente capaz de torturas e outras violências indizíveis. Então, todo esse terror fez com que a nascente Organização das Nações Unidas, criada em 1945, estabelecesse uma norma para evitar que as gentes no planeta seguissem sendo vítimas da violência e da dor. Assim, no 10 de dezembro de 1948, a ONU lança a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Ali, os países membros assumiam o compromisso de garantir à família humana o direito de viver com dignidade, liberdade e paz. Também declaravam que esses direitos deveriam ser protegidos pelo Estado  sob pena de as pessoas serem compelidas, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão.

Assim, nos 30 artigos que conformam a declaração estão elencados os direitos que devem ser gozados por qualquer ser humano, seja ele branco, negro, amarelo, azul ou vermelho. Seja bom ou seja mau, pobre ou rico, ou de qualquer religião. A cada um deve ser assegurada a igualdade de direitos, a fraternidade, liberdade, segurança pessoal, igual proteção da lei, proteção contra a discriminação, garantia de um tribunal independente e imparcial quando responder qualquer acusação criminal, ser considerado inocente até que seja provado o contrário, proteção contra qualquer interferência na vida pessoal que signifique ataque à honra, direito de locomoção, à nacionalidade, a buscar exílio se perseguido, direito à liberdade de pensamento, opinião e expressão, direito à livre associação,  à segurança social,  ao trabalho, ao salário justo, repouso, lazer, alimentação, vestuário, educação, cultura.

A declaração também garante que ninguém pode ser mantido em escravidão ou servidão, ninguém pode ser submetido à tortura nem tratamento cruel, e ninguém poderá ser arbitrariamente preso. O texto, de certa forma, ampara a pessoa em praticamente tudo o que é essencial á vida. E mais, garante o direito de receber dos tributos nacionais o remédio efetivo para os atos que violem esses direitos fundamentais.

É com base nisso, portanto, que as famílias dos desaparecidos da ditadura militar  seguem exigindo do governo os corpos de seus entes queridos, entendendo, inclusive que eles não cometeram crime algum. Pelo contrário, aqueles que se levantaram contra a ruptura da ordem provocada pelos militares em 1964, estavam exercitando o seu direito inalienável de rebelião contra a tirania, como a própria declaração dos direitos humanos assegura. Naqueles dias em que o poder militar rasgava a Constituição e a própria Declaração dos Direitos Humanos, meninos e meninas, professores, camponeses, sindicalistas, militantes sociais foram presos, torturados, mortos ou desaparecidos. Sofreram as violências mais vis e muitas famílias sequer tiveram o direito de chorar os seus mortos. Os corpos nunca foram encontrados, não há sepultura, não há certezas. Só a dor profunda que, hoje, segue exigindo o direito humano de exigir do estado "o remédio efetivo para os atos que violaram esses direitos".

Aqueles que compactuaram com a violência e a tortura da ditadura militar, ou os que são capazes de desejar todas essas crueldades aos "outros" seguem disseminando o discurso de que os que padeceram sob o jugo do estado na ditadura militar eram bandidos. E se fossem, mereceriam a tortura? Cabe a um homem infligir dor a outro? Já não foi superada a lei do talião, do olho por olho, dente por dente? Pois parece que não, uma vez que a tortura e a violência seguem sendo praticadas nas prisões, nas guerras, e nas periferias.

É, porque também pode ser torturante não ter casa para morar, não ter comida, segurança ou um trapo para cobrir o corpo. Tudo isso é violência, da mais atroz. Mas, ao que parece, muitos dos que gozam da possibilidade de ter um trabalho, um salário, uma casa e vida digna, preferem imputar ao outro, ao que nada tem, a etiqueta de "vagabundo", "bandido" , "baderneiro", "terrorista" e, assim sendo, estaria liberado a ele toda a sorte de sevícias.

Mas, para os que militam pelos direitos humanos, mesmo o bandido, o vagabundo, o caído, ainda segue sendo humano e, portanto, merece ser tratado como tal. Seus crimes, se houverem, serão punidos. A violência, a tortura, a sevícia não trará de volta os que morreram, não mudará os fatos, não aplacará a dor. É certo que ainda é longo o caminho para a beleza, para um mundo onde não seja necessário que exista uma lei que puna aqueles que violentam seus irmãos. Só que enquanto esse tempo não chega, as famílias de desaparecidos, os sem casa, sem terra, sem trabalho, sem espaço no mundo capitalista, seguirão lutando, esgrimindo a lei, que é o que se pode ter agora.

E àqueles que insistem em achincalhar a luta pelos direitos humanos, dizendo que só se defende bandido, que fiquem alertas, porque como diz a canção do Chico, uma belo dia podem se ver na condição daqueles que tanto discriminam. A vida é uma roda, que gira sem parar, ora estamos aqui, ora ali, ora em cima, ora em baixo. Por isso, o melhor é defender a vida, seja de quem for, homens, mulheres, animais, plantas. Porque só vale a pena viver se todos a nossa volta têm vida plena. É bom para nós e para eles. Então, ainda que tantos não queiram, seguiremos em caravana no deserto dos amores humanos...
Existe vida no Jornalismo
Blog da Elaine: www.eteia.blogspot.com
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Desacato - www.desacato.info
Pobres & Nojentas - www.pobresenojentas.blogspot.com
Agencia Contestado de Noticias Populares - www.agecon.org.br

Carlos Lozano, ativista de paz, responde: “A paz, há que impô-la aos cavaleiros da inércia”


Entrevista com Carlos Lozano Guillén, diretor de Voz e destacado membro de Colombianas e Colombianos pela Paz, movimento que a ex-senadora colombiana Piedad Córdoba lidera. Conversação com jornalistas de redes alternativas.
Que percepção tem, depois de fazer seu próprio balanço, desta primeira etapa dos diálogos de Havana entre o Governo do presidente Juan Manuel Santos e a guerrilha das FARC-EP?
“É um balanço positivo, sem exagerações. Está demonstrado que, sim, é possível sentar-se a dialogar numa mesa pela paz, apesar das diferenças e escassas coincidências das duas partes. Ainda que, todavia, não há resultados concretos conhecidos do primeiro ponto em debate [o tema agrário], se ganhou com a participação cidadã. Ainda que o Governo Nacional era relutante a ela, ao final se deu como uma conquista democrática e o resultado é bom, grêmios e organizações populares debateram e fizeram propostas que não poderão ser ignoradas. Assim que o balanço é positivo, ainda que há fixações e obstáculos.”
Como, quais?
“Segue sendo um erro dialogar em meio de conflito. Se requer um cessar bilateral de fogos para evitar que os atos da guerra alterem a boa marcha do processo. Porém, ademais, o Governo está fechado à participação popular, segue vendo-a como um ‘ruído’ na mesa e isso é negativo, porque a mesa há que legitimá-la com participação da sociedade, ao fim e ao cabo estão discutindo temas de interesse nacional e não particular. Também o governo tem um conceito estreito da agenda. Fez um Acordo Geral e agora quer desconhecê-lo, porque crê que o modelo não pode ser mudado e que a democracia é perfeita. São fixações que dificultam avançar em bom ritmo e correta direção.”
O doutor De La Calle disse ao término das sessões deste ano, no dia de hoje, que não haverá mudança do modelo econômico nem do sistema democrático.
“Aí está a fixação. Que é o que querem mudar então? No tema agrário, creem com arrogância que estão fazendo uma revolução agrária e que as FARC e o povo têm que apoiar a lei de terras e suas políticas agrárias que não vão ao fundo de problemas substanciais como a posse da terra, o latifúndio, o uso do solo e até de situações que afetam o território e as regiões agrárias como a exploração mineira energética em mãos de transnacionais inescrupulosas. E creem que a democracia é plena. Nos querem obrigar a viver com a parapolítica, a violência desde as alturas do poder, a exclusão, o clientelismo e o vantajismo dominante”.
Porém, em Colômbia há eleições, sufrágio universal aceitável...
“Aceitável para quem? Para a classe dominante, para a política tradicional que detém o poder ao longo da história republicana depois de Simón Bolívar. São eleições à la colombiana, sob as condições e as vantagens da oligarquia dominante. Por isso temem as reformas, não aceitam modificar as regras da política, porque são suas regras.”
Segundo você, por que temem a democracia?
“Porque no dia em que neste país haja democracia plena e garantias para todos, igualdade ante a Constituição e a lei, cambaleará este poder. É um problema de classe. A classe dominante prefere a violência porque lhe permite impor a ‘sangue e fogo’ seus desígnios. [Eles] o têm dito de maneira aberta e pública. Por isso, não consideram conveniente mudar o sistema político imposto à força. É decepcionante ouvir a gente da burguesia, que a pessoa acredita decente, por exemplo, defender até à morte o governo de Álvaro Uribe Vélez e até o qualificam de segundo libertador de Colômbia, fazendo caso omisso dos ‘falsos positivos’, das chuçadas, a proteção ao narcoparamilitarismo, a parapolítica, a corrupção e outros atos vergonhosos de corrupção. Lhes parece um grande personagem porque defendeu a sangue e fogo seus interesses econômicos. O modelo econômico, aliás em crise no mundo, consideram-no inalterável, lhes permite enormes utilidades e lucros às expensas do sacrifício do povo.”
No entanto, há ex-guerrilheiros na política e em administrações...
“Sim, são gestos pluralistas e democráticos na aparência. Porém, na realidade, propaga a intolerância para os movimentos e partidos que eles representam, os cooptam no melhor dos casos ou os perseguem com furor, como está ocorrendo com Gustavo Petro, prefeito de Bogotá. Apenas este tocou calos nos negócios dos poderosos, colocou como fundamental o interesse público e afetou o lucrativo negócio particular dos lixos, partiram para cima dele e de que maneira. Querem arrancá-lo. A campanha midiática é grosseira e antidemocrática. Veja a ‘grande imprensa’ como o ataca e o agride sem nenhum respeito. É um problema de classe, algo que a classe trabalhadora deve entender, que se divide estimulada pela mesma oligarquia quando ela, sim, se une para defender o seu. Isto deve mudar se se quer a paz. Do contrário, será difícil conquistá-la”.
Porém, voltamos aos foros. Com a experiência do foro agrário, são estes válidos como mecanismo de participação?
“São válidos, claro que sim. Devem repetir-se nos pontos seguintes. Como também são úteis as mesas regionais promovidas pelas comissões de paz do senado e da Câmara de Representantes. É que sem a participação cidadã e popular não é possível chegar à paz. Esta se constrói com o concurso de todos e todas. De alguma maneira, a paz, há que impô-la a seus inimigos e aos cavaleiros da inércia que interpõem as fixações.”
No foro agrário participaram os grêmios. Como lhe pareceu?
Bem e foi positivo. Entre outras coisas, em seus enfoques os porta-vozes da Andi e da Sac, por exemplo, demonstraram mais realismo e amplitude que o Governo Nacional. Escutaram com atenção as propostas e análises das organizações sociais e populares. Ficaram isoladas as posições ultra direitistas e guerreiristas de Fedegan, que representam o setor mais comprometido com o latifúndio e a violência. Sabemos muito bem por que se opõem à paz.”
Por quê?
“Porque representam ao uribismo recalcitrante que é o setor mais apodrecido da classe dominante; se apoiam no terror, na guerra. Na carta de Fedegan que publicaram nos meios escritos há uns dias, há umas assinaturas que produzem terror, são os que promoveram o paramilitarismo, representam associações ligadas à violência contra os campesinos e a esquerda. Não há que esquecer que o anterior presidente de Fedegan está julgado por paramilitarismo; e o atual é investigado. Que se pode esperar desse tipo de gente?”
Como vê as duas delegações?
“Bem, cada um apropriado de seu papel. Cada um faz seu trabalho. O importante é que tenha suficiente sensatez e criatividade para encontrar os pontos de convergência não para satisfazer ao ‘outro’ mas sim ao país, ao povo colombiano, que será o maior usufrutuário da paz estável e duradoura. Ainda que é indispensável que o Governo tenha uma só linha. A atitude do ministro Pinzón é provocadora, guerreirista. É um ministro dinamite. Alguns porta-vozes do Governo dizem que se sai do libreto, porém ambas partes devem ter um só libreto, o que seja, porém um só, coerente e comprometido com o Acordo. Pinzón faz tempo que sobra no Governo. A não ser que seja a velha e desgastada tática em que uns se fazem de ‘bom’ e outro de ‘mau’. Isso, o Governo deve aclarar bem.
Crê que, ao final, se conquiste a paz?
“É possível, se há vontade política de ambas partes e o apoio da sociedade. No entendido que deve ser uma paz digna, com democracia e justiça social. O Governo deve baixar-se da nuvem da vitória, abandonar o conto de que a guerrilha está derrotada. Não parece que a insurgência esteja derrotada; ao contrário, o fracasso da segurança democrática é o fracasso da linha militar. Só os uribistas a defendem com teimosia. É importante o critério de mudança. O conflito obedece a causas e enquanto elas subsistam não haverá paz. A democracia e a justiça são essenciais para levar a cabo o ‘Acordo Geral para a terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura’. Para a esquerda, a paz é indispensável, porque obrigará à unidade dos setores democráticos e populares para que surja uma opção de poder do povo com a capacidade de transformar a Colômbia. A paz é uma bandeira dos revolucionários na medida em que está estreitamente ligada à construção da Nova Colômbia.”
Bogotá, 21 de dezembro de 2012




terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A DESIGUALDADE SOCIAL NA COLÔMBIA: ALGUMAS IDÉIAS E REFLEXÕES




FONTE: farc-ep.co

Por Pablo Catatumbo – Integrante do secretariado das FARC EP



Que esta seja a oportunidade para fazer chegar a toda a comunidade do Serviço Nacional de Aprendizagem, SENA, a saudação cálida do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia: adiante com essa luta! Que se funde com as demais expressões e manifestações do movimento de massas colombiano e, sem duvida, a vitória será o nosso horizonte seguro.

O SENA tem sido um bastião da resistência contra as medidas neoliberais que buscam acabar com tal instituição desde o inicio da ofensiva neoliberal na Colômbia. A atual conjuntura de luta se inscreve na oposição à reforma tributária de Santos, que implica no fim dos impostos parafiscais que sustentam o SENA, colocando-o de fato em situação insustentável e de desfinanciamento.

Tal reforma tem despertado numerosas criticas em diversos espaços: acadêmicos, políticos, de opinião, etc. Entretanto, destaca-se a oposição que contra está tem manifestado os estudantes, professores, funcionários públicos e comunidade acadêmica em geral do Serviço Nacional de Aprendizagem, SENA, não somente pela solidez dos seus argumentos e a justeza da sua mobilização; mas porque, além disso, permitem-nos adentrarmos na reflexão sobre uma temática grave: A DA DESIGUALDADE SOCIAL NA COLÔMBIA.

O governo coloca em duvida a viabilidade futura de um centro de estudos que foi criado durante a ditadura de Rojas Pinilla com a finalidade de permitir o acesso à educação superior dos setores populares, e ao mesmo tempo, a consolidação de uma classe operária especializada na múltiplas terefas geradas por uma industrialização que se deslumbrava próxima.

O modelo de SENA adotado na Colômbia é o modelo brasileiro do SENAI. Estas nasciam como instituições educativas que procuravam melhorar o grau de escolaridade da força de trabalho dos trabalhadores de países em vias de desenvolvimento sob o horizonte da consolidação de uma industrialização garantida pela substituição das importações.

Como todas as instituições públicas de educação criadas sob o capitalismo (sejam estas técnicas ou universitárias), seu papel é o de ser garantidoras de uma pretendida mobilidade social.

Isto é, da garantia da contingência de que um individuo de um setor social determinado possa evoluir dentro da hierarquia social. O já quase esquecido Althusser denominou isto de um aparelho ideológico do Estado. Diga-se de passagem, isto não desvirtua nem relega a um segundo plano a luta da comunidade do SENA, nem do grosso do movimento estudantil.

A trama da mobilidade social é uma das expressões discursivas mais importantes do capitalismo desde a sua própria alvorada.

Lembro que, na minha mocidade, os frequentes artigos no Time e Seleções sobre os casos de multimilionários norteamericanos que, a base de sacrifício e inovação, levantavam-se desde as miseráveis catacumbas de uma infância cheia de necessidades, para se converter no super homem da modernidade do capital: o self – mademan, o cavaleiro da industria construído pelo seu próprio esforço.

Era a continua repetição de uma história que todos os da minha geração ouvimos: o jovem e pobre Henry Ford trabalhou duro até que, paulatinamente, pode estampar seu nome no pára-choque dos automóveis mais vendidos no mundo. Anos depois, me surpreendi ao saber que a revista Seleções se esqueceu de nos contar que Ford era um furioso reacionário que perseguiu sindicatos e que patrocinou pogroms antisemitas e até ajudou Hitler. Baita coincidência!  

Posteriormente, a academia foi sacudida com a mudança do paradigma das cátedras de economia. O marxismo, supostamente superado, era substituído pelas vertentes neoclássicas e neoliberais das ciências econômicas. Um importante setor de economistas – funcionários – empresários começou a divulgar o famoso “empreendimento” (espécie de mutante do entre preneurship de J.A. Schum Peter) como a nova verdade do mundo empresarial. O relato de vida de Ford agora é reconvertido e adornado com infindáveis cálculos e estatísticas de alta complexidade para assim fazer o discurso mais crível ao lhe fornecer uma suposta base cientifica.

A mobilidade social parecia ser essa válvula de escape estatística com a que o sistema argumenta sua pretendida justeza. A exceção numérica passa a ser a norma. Por sorte, a crise sistêmica do capitalismo tem desbaratado essas fábulas e remetem-nos à crua realidade: Atualmente, a radicalização da contradição entre capital e trabalho é o sinal dos tempos e não o triunfo destes empreendimentos de ficção cientifica.  

Um sistema em crise e um país em crise: hoje na Colômbia, ninguém sensato acredita no mito da mobilidade social. Sendo o terceiro país no mundo em estatísticas de desigualdade, com o avanço de uma rampante e acelerada desindustrialização e a consolidação do acumulo da terra, o país coloca-se hoje num estado de coisas onde a única mobilidade social é a dos grandes parasitas ligados à corrupção, o setor financeiro ou o narcotráfico a quem o Estado dá garantias cada vez com melhores condições.

Enquanto os telejornais de Caracol e RCN gastam quase a totalidade do seu sinal em mostra os “horrores” dos buracos das passarelas para pedestres, ou crônicas intermináveis sobre ganhadores da loteria em longínquos municípios; a miséria colombiana parece não existir na televisão. No nosso recorrido pelas regiões camponesas e indígenas encontramo-nos, dia-a-dia, com a falta de assistência médica, fome e pobreza generalizas; as milícias urbanas reportam a proliferação de quadrilhas ao serviço do narcoparamilitarismo em todos os bairros populares de Bogotá, Medellín, Cali y Barranquilla. O horizonte de oportunidades leva a juventude às mais desesperadas opções. E tudo, ao mesmo tempo de conhecimento público, é silenciado, oculto.

A aplicação de um rasgo característico do modelo capitalista contemporâneo que implica a  transferência dos chamados “bens e serviços sociais” (saúde, educação, ciência e tecnologia) para as mãos do setor privado; significa, na prática, o desmonte definitivo do Estado de Bem Estar com o qual a socialdemocracia sonhou por um longo tempo (e que o presidente Santos defendia quando era o tradutor de Tony Blair).

Por isso, as apostas políticas dos poderosos da Colômbia incluem a batalha de morte contra todas as instituições, coletivos humanos e personalidades que defendem o acesso aos direitos sociais, econômicos e aos valores de redistribuição e de igualdade que resolveram chamar de justiça social.

Em fevereiro passado, Armando Montenegro referenciava a existência de uma curva estatística – a “curva de Gatsby” – que relaciona os dois fatores dos que temos falado – mobilidade e desigualdade social – em um dado momento. Tal curva, proposta pelo economista assessor do presidente Barak Obama, Alan B. Krueger, que representaria uma ferramenta de analise sem par para determinar a realidade de um país qualquer.

Agora, quando os funcionários do governo insistem na alegada inviabilidade das propostas farianas na mesa de conversações: Submeter-se-iam a um exame sobre a desigualdade da sua gestão? Prestar-se-iam para a determinação pública da curva de Gatsby para a Colômbia de hoje?

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Adendo: A curva de Gatsby tem esse nome devido à novela clássica de Scott Fitzgeral, O Grande Gatsby, em que um jovem empreendedor realiza o sonho americano da ascensão social chegando a ser milionário, mas através de várias intrigas e jogadas ilegais, melhor dizendo, pelo atalho do “vale tudo”. Por conclusão: uma novela que ironiza um arquétipo social.

Agora, na Colômbia, temos que sofrer com uma autobiografia que leva a esse arquétipo ao seu nível mais patético, trata-se do último livro de Álvaro Uribe Vélez, onde este relata o entre preneurship (empreendedorismo) que o levou do gerenciamento do restaurante O Grande Banano às consultorias pró-sionistas da ONU, passando – nem precisa de detalhes – por sua administração presidencial criminosa.



domingo, 23 de dezembro de 2012

A Arábia Saudita envia para a Síria os seus condenados à morte a fim de travarem a "jihad"

Fonte: resistir.info

Um documento oficial inquietante, com o carimbo de "muito confidencial", datado de Abril de 2012, que seria proveniente do Ministério do Interior da Arábia Saudita, confirma o envio de condenados à morte para combater na Síria. 

O ofício do Ministério do Interior saudita.Muito confidencial [*] 

Reino da Arábia Saudita

Ministério do Interior

Sua excelência o general Seoud al Thounayane

Gabinete secreto do Ministério do Interior

25/05/1433 hégira

Saudação e benção de Alá

Sequência do telegrama do gabinete real nº 112 com data de 19/04/1433 hégira.

Nas prisões do reino detidos (105 iemenitas, 21 palestinos, 212 sauditas, 96 sudaneses, 254 sírios, 82 jordanos, 68 somalis, 32 afegãos, 194 egípcios, 203 paquistaneses, 23 iraquianos e 44 kuwaitianos) acusados de tráfico de droga, de assassínio, de violação, merecendo o castigo da charia islâmica e da execução pela espada serão – em acordo com eles – agraciados com a contrapartida de irem combater pela jihad na Síria após treino e equipamento. Um salário mensal será pago aos seus familiares e seus próximos que se verão proibidos de viajar para fora da Arábia Saudita.

Queira receber as minhas saudações.

Abdallah ben Ali al Rmeizan
Director do gabinete de acompanhamento no Ministério do Interior

- Cópia ao director do Comité para ordenar o Bem e proibir os actos ímpios.
- Cópia às informações gerais

[Fim]
11/Dezembro/2012

O original encontra-se em http://www.silviacattori.net/article4033.html 

Este texto encontra-se em http://resistir.info/ .