"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 29 de junho de 2010

O futuro do Brasil em jogo

A candidata governista Dilma Rousseff começa a se impor ao candidato da oposição José Serra na disputa pela sucessão presidencial de Lula

Cecilia Escudero
Revista Debate



De espírito ineludivelmente futebolístico, no Brasil respira-se certo o ar de intervalo político, onde suas eminentes figuras reúnem-se com os seus, pensam e planificam as próximas estratégias.

Uma situação consagrada pelo impasse causado pelo magnetismo da Copa do Mundo na África do Sul, quando os candidatos presidenciais preservam-se para aparições significativas, enquanto nos bastidores, refinam as suas respectivas táticas, sabendo que o jogo que adotarem no futuro será, simplesmente, determinante.

No entanto, oficializado o começo do que se prevê ser uma campanha eleitoral muito ativa, a disputa a ser resolvida não é menor: trata-se da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente que bate recordes de popularidade, dentro e fora do gigante sulamericano.

Segundo o cenário prognosticado pelas últimas pesquisas, para os comícios presidenciais de 03 de outubro, o duelo eleitoral já tem dois contendores garantidos.

Alguns pontos a mais ou a menos, as últimas pesquisas indicam que a candidata de Lula, a candidata do governista Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, começou a prevalecer sobre o adversário José Serra, do Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) (40 e 35 por cento de intenções de voto, respectivamente).

Desta forma, as duvidas geradas por uma terceira candidata na disputa, a ecologista Marina Silva, virtualmente desapareceram. Marina, dona de uma imagem de prestígio entre os brasileiros, mas que por ora, apenas arranha dez por cento das intenções de voto. Ainda assim, a representante dos verdes – ex-militante do PT , e ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula – tentará, no futuro próximo, quebrar a forte polarização, com a intenção de cooptar o voto da juventude, costurando suas preocupações sobre o meio ambiente.


Consagração

A escolha de Rousseff como candidata oficial, na última convenção do PT, não poderia ter chegado em melhor hora. Acontece que, até recentemente, a ministra da Casa Civil – Chefe de Gabinete – aparecia bem atrás do seu principal rival.

No mês de Abril, a candidata ainda estava com uma desvantagem de dez pontos, uma equação que não conseguia dissipar as vozes críticas de alguns papas do partido governante, aos quais a “escolhida” do presidente não agradava. Em contrapartida, o virtual empate entre os candidatos revigorou a figura de Rousseff e engrossou os apoios partidários através de todo o país.

O ponto de virada para a escalada da candidata foram as suculentas manobras do seu hábil mentor, alguns artifícios que valeram a Lula ser multado quatro vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral, por propaganda eleitoral antecipada.

Como se tratasse-se de uma poção infalível, Lula não sucumbiu em sua tentativa de acrescentar, cada vez mais, pequenas doses de seu grande carisma e popularidade para a candidata, mais bem famosa pela rigidez de seu caráter e um marcado perfil técnico.

Para explicar melhor a ligação entre eles, o líder brasileiro chegou a dizer, brincando: “Me chamarei Dilma Rousseff”, nos comícios futuros quando o nome de Lula da Silva não apareça nas cédulas eleitorais, pela primeira vez desde 1985. Sugestiva, a frase despertou uma maratona de comentários entre os principais analistas políticos do Brasil.

O influente blogueiro político Ricardo Noblat lembrou: “Lula não tinha outros nomes para substituí-lo, após a queda de José Dirceu, seu chefe de gabinete, e Antonio Palocci , Ministério da Fazenda”.

Certamente, há algum tempo atrás, ambos os políticos se apresentavam como os candidatos com mais chances de substituir o ex-torneiro mecânico. Mas o jornalista indicou que, tanto a então mão direita de Lula como “o mago das finanças” sofreram uma franca queda após os escândalos de corrupção que abalaram o governo em 2005. Implacável, o blogueiro continuou: “Além disso, havia outros potenciais candidatos, mas Lula escolheu Dilma, uma petista recente e sem experiência eleitoral. E a escolheu, em primeiro lugar, porque ela é uma mulher, o que poderia cair bem entre os brasileiros. Segundo, porque Dilma demonstrou lealdade irrestrita a Lula. Em terceiro lugar, porque se ela ganha, Deus e o mundo atribuirão a vitória ao presidente, somente a ele. Se Dilma perder... Bem, a culpa vai ser sua também. Mas uma derrota poderia facilitar o retorno de Lula em quatro anos”.


Prós e contras

Em relação à caça de votos, os especialistas concordam que Serra, pelo menos, está em uma encruzilhada muito mais complexa do que a da sua rival. Homem de vasta trajetória pública começou nas pesquisas com números muito altos, mas agora tenta se mover rapidamente para evitar uma relativa estagnação.

Ele sabe que conta com um elemento valoroso: um indiscutível capital político cultivado no sudeste do país, onde se encontram os estados mais ricos e industrializados, e as zonas eleitorais brasileiras mais poderosas, como é o caso de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

No entanto, a certeza de que esta eleição não será fácil para o candidato da oposição, apesar da ausência de Lula, é algo que ninguém se atreve a contestar. Por exemplo, Fernando Abrucio, cientista político de peso a nível local, opina sobre o candidato socialdemocrata: “Serra deve desmarcar sua posição da candidata governista. Embora devesse evitar criticas extremadas, que relembrem os piores momentos da oposição nos últimos anos. Cabe recordar que mais de setenta por cento da população está satisfeita com a gestão de Lula”. Ao mesmo tempo, o especialista marcou certos passos já dados pelo candidato socialdemocrata para a presidência ao afirmar que “a aposta de Serra é reforçar a idéia de que ele está disputando a presidência com Dilma e não com o presidente Lula. Como resultado, deve centrar a campanha olhando para o futuro e não para o passado”.

Para Serra, o núcleo de suas dificuldades está na forma como se posicionar na calçada do outro lado da um governo que alcançou objetivos muito valorizados em todo o país e que, naturalmente, incentivam a consolidação da sua adversária. Neste caso, uma provável “herdeira” que, como a própria Rousseff disse, continuará “com o Brasil de Lula, mas com alma e coração de mulher”.

Para citar apenas alguns dos cavalos de batalha que validam a administração do atual governo, cerca de cinqüenta milhões de pessoas melhoraram substancialmente a sua qualidade de vida nos últimos oito anos. A ampla gama de programas sociais – o mais famosa é o Bolsa Família – tirou da pobreza a cerca de vinte milhões de pessoas, enquanto outros 31 milhões subiram na escada social. O salto econômico, que fez do Brasil uma potência emergente chave, e o foco no eixo social, foram de grande impacto nas regiões mais pobres localizadas ao norte e nordeste. Por esta razão, o maior apoio para o governo vem de lá. É todo um legado político do qual Dilma participou ativamente durante a gestão Lula. Y é a sua melhor cartada. O intelectual brasileiro Emir Sader, disse em seu blog, que todos estes avanços sociais podem ser simplesmente “desmontados” com a ascensão do candidato da oposição.


Consenso e dissenso

No panorama assim colocado, Serra gesticula moderação, mesmo fazendo criticas a Lula, por enquanto não as faz com dureza. Ao contrário de Rousseff, ele se submeteu com sucesso o veredicto das eleições, com as quais conseguiu chegar ao Parlamento e em seguida ao governo do poderoso estado de São Paulo.

De qualquer forma, na hora da analise do trajeto que ainda falta para a entronização de um dos dois candidatos, há outros elementos que poderiam beneficiar Rousseff. Nesse sentido, o sociólogo Marcos Coimbra, um dos pesquisadores mais importantes do país, disse: “ Serra já é conhecido por oitenta por cento da população. Ele tem menos espaço para crescer. Ao contrário de Dilma que pode crescer mais de vinte por cento, pois cerca de quarenta por cento dos eleitores sabe pouco ou nada sobre ela. Assim, Dilma pode crescer mais de vinte pontos nesse segmento”.

Em outras leituras, ao mesmo tempo, observa-se, como uma excepcionalidade desta campanha, a convergência em várias das propostas dos candidatos, um dado de forte ligação com a bonança econômica e que mal foi afetado pela crise financeira mundial.

Estrategicamente inclinados para o centro, os candidatos não apresentam diferenças substanciais nos seus programas de governo segundo os especialistas. Pelo menos, no que diz respeito aos princípios fundamentais da dinâmica econômica dos últimos anos.

Além disso, entre os vários caciques do conglomerado econômico local, o candidato da socialdemocracia tem melhor aceitação, enquanto Rousseff provoca certos ressentimentos: muitas vezes, é colocada à esquerda do Lula, um mandatário que sempre enfatizou que, no exercício poder, é “multideológico”.

As desavenças entre os dois candidatos graduados em Economia, afloram quando o assunto é a competência do Estado. Dilma Rousseff é a representante de um Estado forte, mas Serra queixa-se da centralização e dos gastos. Com um forte tom liberal, Serra defende, no entanto, a austeridade. “Cortar desperdícios inúteis, reduzir gastos, de forma a melhor atender às necessidades sociais”, afirmou ele.

Assim, entre as diferenças, as que deixam uma profunda marca referem-se à política externa. Justamente num momento em que o Brasil desempenha um papel de destaque como promotor de uma nova geopolítica, questionadora do poder de “xerife” exercido pelos Estados Unidos.

E a discussão que se gerou em torno do novo peso do Brasil no cenário internacional não é menor. A revista Veja, pela mão do analista Diogo Mainardi, coincide com Serra em desaprovar a aproximação de Lula para com o polêmico regime iraniano de Mahmoud Ahmadinejad. “O apoio ao programa nuclear iraniano é o maior erro que o Brasil já cometeu no âmbito internacional. Só a vaidade de Lula ganha com este erro. Desafia os EUA e a Europa, tornando-se cúmplice do Irã”, escreveu Mainardi em sua coluna.

Por sua vez, Rousseff aprova cem por cento os passos do presidente brasileiro, ao defender o diálogo com o Irã e o seu direito de desenvolver um programa nuclear para uso civil. Também aposta na integração da América Latina. “Nós não podemos ser ricos cercados por pobres”, disse ela, enquanto Serra é abertamente crítico do Mercosul, ao qual chegou a chamar de “farsa”.

Os candidatos navegam por estas discussões, enquanto Lula aposta tudo para que a ex-militante da esquerda combativa, ainda pouco conhecida entre os setores de baixa renda, desponte nas pesquisas. O atual empate abre um jogo em que tudo está por vir. A certeza é que o primeiro dia de 2011 começará uma nova era no Brasil, desta vez sem Lula vestindo a faixa do presidente mais popular da história do Brasil.


Dilma e José, os potenciais presidentes

Desde muito jovens, ambos os candidatos dedicaram suas vidas à militância política. Economistas de gabarito, os dois têm uma formação e capacidade de gestão altamente respeitada.

Por sua vez, ambos gozam de apoios que podem ser cruciais: Luiz Inácio Lula da Silva (oito anos de governo) empurra a candidatura à presidência de sua sucessora Dilma Rousseff, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (também por oito anos no poder) da aval para a eleição geral do opositor socialdemocrata José Serra.

Mais uma coincidência: ambos os candidatos estão trabalhando para amenizar o caráter.

Serra, 68, acumula cargos públicos importantes, que tem cumprido com sucesso. Foi, entre outros, deputado, senador, prefeito e governador do estado de São Paulo. Conta com uma alta popularidade. Durante a ditadura, teve que se exilar e resistiu do estrangeiro.

Em vez disso Rousseff, 62, ficou no Brasil durante o governo militar. Quando ainda era apenas uma adolescente, juntou-se à luta armada contra os militares. Participou de diversas ações, até que foi capturada e viveu o inferno da tortura. Esteve presa por três anos. Sua abnegação e energia a tornaram famosa como a “Joana de Arco” do movimento guerrilheiro brasileiro.

Uma vez na democracia, tanto José Serra como Dilma Rousseff se incorporaram ao renascimento da vida política do país.

fonte original: http://www.revistadebate.com .ar/2010/06/25/2993.php

segunda-feira, 28 de junho de 2010

56% DOS COLOMBIANOS NÃO VOTARAM, ENTRE OS QUAIS ALFONSO CANO E OS GUERRILHEIROS DAS FARC-EP

Recentemente proclamada a espalhafatosa "vitória" eleitoral do homem cujo sorriso faz lembrar o palhaço publicitário da Mac Donald’s, os cerebrados magos intelectuais da análise política sairam para cultuar seu novo presidente Santos, que de "santo" só tem o sobrenome, já que pelo resto o diabo ficou pequeno diante das atrocidades criminosas na confraria narco-mafiosa, com Álvaro Uribe na cabeça.

O novo governo que chama à "Unidade Nacional" porque sabe que os votos fictícios resultados da política de "um milhão de sapos" (informantes), das moto-serras dos paramilitares das "Águias Negras", "Famílias em Ação" e dos guarda-bosques, dos "falsos positivos" (assassinatos de civis travestidos de guerrilheiros abatidos em combate), como sua cumplicidade com a justiça eleitoral para fazer aparecer números inflados, não foram atingidos como esperavam e cada vez mais está deslegitimada a "democracia" colombiana. Não restou outra alternativa a Santos a não ser convocar-se entre eles mesmos, algo parecido como uma Frente Nacional da época da ditadura do general Rojas Pinilla. Isto porque precisam de todo o aparato do Estado para combater cerca de 17 milhões de cidadãos que não estão de acordo com o Estado narcoparamilitar construído durante estes 8 anos de governo de Uribe.

O mais triste continua sendo o discurso guerreirista de Juan Manuelito. Como se sente apoiado pelas 7 bases ianques que trouxeram para defender sua administração e desestabilizar os governos verdadeiramente progressitas na América Latina, se jacta em dizer que "o tempo das FARC acabou", da mesma forma que disse Uribe há 8 anos e todos os governos em 46 anos.

Se não há diálogo, como ameaça quem vai ser presidente dos colombianos, a resistência se agudiza. Hoje os colombianos devemos empreender a rota emancipadora pela definitiva independência. Cada homem, mulher, criança, ancião devemos desempenhar um papel decisivo para encurralar o novo títere dos norte-americanos, Juan Manuel Santos, que já vemos desgastado com um discurso que não convence a não ser a sua família e aos traidores, como seu vice-presidente, o ex-esquerdista e oportunista Angelino Garzón.

Os quatro anos do período presidencial 2010-2014 acarretarão consigo uma forte ofensiva popular, boicotando as bases militares gringas, organizando as mobilizações, preparando a insurreição. Esta será uma administração nervosa porque das milhões de pessoas que não votaram, que votaram em branco ou anularam seus votos, aí estão os que se somarão à resistência. Santos se cuidará, inclusive, de quem lhe servir café porque este governo que culmina e do qual foi partícipe, deixou mais inimigos do que amigos.

Santos prometeu intensificar a guerra e a resposta será a guerra de todo o povo. Assim, deste modo, junto com o povo insurreto das FARC-EP se esboça a plataforma de 10 pontos que estabelece o Governo de Reconciliação Nacional que propôs as FARC durante anos, cuja proposta evidencia uma verdadeira vocação de paz.

A oligarquia vende-pátria santanderista (seguidora do general Santander, traidor de Bolívar) continua expressando sua condição fascista. As promessas de Santos são o manual elaborado em Washington para calar os magistrados do judiciário; são também a negociação entre cúpulas de partidos decadentes para acabar de se impor aos congressistas que, até a estas alturas, não se sabe qual é a formação do parlamento, graças aos malabarismos fraudulentos das eleições passadas. Para continuar apostando na impunidade perante os crimes de lesa-humanidade cometidos por agentes da força pública.

Santos é um delinquente procurado pela Justiça Equatoriana, que se fez presidente para obter imunidade. Este ser sádico cuja expressão facial reflete maldade (chucky, o brinquedo assassino), recorre ao agradecimento a Uribe porque este abriu a porta ao mundo das máfias que ele não havia conseguido por si mesmo, colocando-o como o segundo no comando de suas tropas paramilitares, inclusive acobertando-lhe a ação terrorista de Sucumbios (ataque ao Equador em 1 de março de 2008), que em seguida Uribe, como cachorro com o rabo entre as pernas, teve que dar a cara na República Dominicana.

Não restam dúvidas, o governo que se avizinha merece que o povo tome uma decisão para:

Enfrentar com audácia a continuidade do fascismo;
Retirar as bases militares gringas de nosso território;
Denunciar a ilegitimidade do Congresso e do Governo;
Fazer com que o governo Santos seja o mais curto da Colômbia, não o deixando governar.

Então, assim, com o pensamento e o exemplo de homens como Bolívar e Manuel Marulanda, vamos construindo o novo poder. Somente na luta decidida estamos abrindo caminhos para a nova alvorada. 200 anos desde a revolta comuneira passando pelo grito de independência, estamos fazendo história para fazer a Nova Colômbia.

Transcrito de El Samaritano/Partido Comunista Clandestino Colombiano - PCCC ABP 06/23/10

Com apoio do PCB

EUA conspiram ativamente na América Latina

Por Altarmiro Borges*

Para os que acham que a crítica às ações expansionistas dos EUA é coisa de "esquerdistas com mentalidade conspirativa", sugiro a leitura do livro "Legado de cinzas: uma história da CIA", publicado pelo jornalista estadunidense Tim Weiner em 2008. Já para os que se iludiram com a eleição de Barack Obama, sonhando que ela poderia aplacar a gula imperialista, indico a leitura dos artigos da escritora estadunidense-venezuelana Eva Golinger, uma atenta pesquisadora dos documentos desclassificados das várias "agências de ajuda" ianques.

No seu mais recente artigo, ela comprova que os EUA continuam bastante ativos na montagem de rede de conspiradores pelo mundo. "Durante o último ano, distintas agências de Washington têm financiado, promovido e organizado grupos de jovens e estudantes na Venezuela, Irã e Cuba, para criar movimentos de oposição contra seus governos. Os três países, considerados ‘inimigos’ pelo governo estadunidense, têm sido vítimas do incremento de agressões de Washington, que busca provocar mudanças de ‘regime’ favoráveis aos seus interesses".

Recursos milionários das "agências"

Na semana passada, um dos líderes da oposição anti-chavista, Roderick Navarro, presidente da Federação de Centros Universitários da Universidade Central da Venezuela, esteve em Miami para organizar "uma rede internacional, que inclua estudantes do Irã e Cuba, para que o mundo saiba das violações dos direitos humanos em nossos países", segundo confessou à imprensa. A sua principal visita foi o Diretório Democrático Cubano, organização de gusanos cubanos que é financiada pela USAID e pela NED, duas das mais ativas agências imperialistas dos EUA.

"Desde 2005, Washington está reorientando recursos através da NED e da USAID para o setor estudantil da Venezuela. Dos 15 milhões de dólares invertidos e canalizados por estas agências neste país, mais de 32% são dirigidos a organizações ‘juvenis’. Seu programa principal está direcionado à ‘capacitação no uso de novas tecnologias e de redes sociais para se organizar de maneira política’, segundo afirmam os próprios informes da USAID", denuncia Golinger.

Ingerência agressiva no continente

A escritora afirma que Barack Obama não só manteve estes planos ilegais de ingerência, como intensificou as ações. "Em agosto de 2009, Washington começou uma ofensiva mundial usando estudantes venezuelanos como porta-vozes da oposição. De agosto a setembro, o Departamento de Estado organizou a visita de oito jovens aos EUA para denunciar o governo Chávez e para estreitar os vínculos com jovens estadunidenses. Os oito foram selecionados pelo Departamento de Estado como parte do programa ‘A democracia para os jovens líderes políticos’".

"Os jovens venezuelanos, pagos e acompanhados pelo Departamento de Estado durante a visita, deram declarações à imprensa tentando desacreditar o governo Chávez. Justamente depois desta visita, foi organizada uma manifestação através do Facebook, intitulada "No más Chávez", que incitou o magnicídio [assassinato] de Chávez... Um mês depois, em outubro de 2009, a Cidade do México sediou o segundo encontro da Aliança de Movimentos Juvenis (AYM). Patrocinado pelo Departamento de Estado, o evento contou com a participação de Hillary Clinton" e de vários direitistas da América Latina – incluindo do Brasil, que não teve o seu nome revelado.

Investindo pesado na internet

Além dos debates políticos, com palestras de agentes do Instituto Republicano Internacional, do Banco Mundial e do Departamento Estado, os presentes tiveram vários cursos de "capacitação e formação" em Twitter, Facebook, MySpace, Flicker e Youtube. O império estadunidense tem investido pesado na utilização destas ferramentas da internet. Segundo a AYM, entidade criada em 2008, o uso destas "técnicas mais modernas tem resultado em coisas assombrosas". Ela se jacta de várias manifestações direitistas organizadas através da internet.

Como alerta Eva Golinger, "as novas tecnologias – Twitter, Facebook, Youtube e outros – são suas principais armas nesta nova estratégia, e os meios tradicionais, como a CNN e as afiliadas, exageram o impacto real destes movimentos, promovendo opiniões falsas e distorcidas". Para a escritora, o objetivo é criar uma "ciber-dissidência", que desestabilize governos progressistas, apropriando-se de bandeiras como as da "liberdade de expressão e dos direitos humanos".

*Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB.

sábado, 26 de junho de 2010

OLIVER STONE CONSIDERA A COLÔMBIA COMO UMA MARIONETE DOS EUA



Durante a apresentação do seu documentário “Ao Sul da Fronteira” (South of the Border), em Washington, o cineasta estadunidense Oliver Stone afirmou que a Colômbia é uma marionete dos EUA nos esforços do país do norte para controlar a América Latina. Também esclareceu que na Venezuela não há nenhum regime ditatorial ou qualquer situação de abuso dos direitos humanos, coisa que sim acontece em países como Guatemala, México e Colômbia.


Fonte: TeleSUR:

O cineasta estadunidense Oliver Stone anunciou nesta quarta-feira que a Colômbia, que tem uma história horrível de abusos paramilitares, era a marionete dos Estados Unidos em suas intenções de controlar a região da América Latina.

Stone, que se encontrava na cidade de Washington para a apresentação do seu documentário “Ao Sul da Fronteira”, considerou vergonhoso que a Colômbia tivesse sete bases militares dos EUA em seu território.

“É uma vergonha manter sete bases (militares dos EUA) na Colômbia”, ressaltou o cineasta na ocasião.

Ele acrescentou que se deveria manter uma estratégia de respeito mutuo na América Latina e não transformar a Colômbia em um Afeganistão ou um Vietnã, como pretendem os EUA.

Quanto à Venezuela, o diretor de cinema negou que seja governada por uma ditadura e explicou que não há evidência de qualquer tendência de violações dos direitos humanos, entretanto, essas violações podem se ver em países como Guatemala e México, assim como na Colômbia.

Stone disse que a mídia norteamericana não denunciar os atropelos aos direitos dos povos nos países aliados dos EUA, “mas se houve um assassinato na Venezuela, seria capa em todos os jornais”, comentou.

Em relação à suposta pressão sobre jornalistas venezuelanos naquele país latinoamericano, Stone decidiu ceder a palavra ao autor do documentário, Mark Weisbrot.

Weisbrot opinou que, na Venezuela, existe uma dura luta entre os meios de comunicação privados e os do governo, o que é comum em muitos países latinoamericanos.

Finalmente, Stone esclareceu que uma das conclusões que se pode extrair do seu documentário, formado especialmente por entrevistas com vários presidentes latinoamericanos, entre os quais o venezuelano Hugo Chávez, é que as agendas independentes dos líderes da América Latina entram em choque com a visão do país do norte.

Oliver Stone esteve na Venezuela no final do mês de maio apresentando seu documentário “Ao Sul da Fronteira”, e depois seguiu para o Equador e a Bolívia.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Estado colombiano é condenado por assassinato de político

Pelo caso Cepeda, o Estado deverá indenizar a sua família e pedir desculpas públicas, de acordo com determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O político foi assassinado por um grupo de sicários em 1994.

A reportagem é de María Laura Carpineta e está publicada no jornal argentino Página/12, 24-06-2010. A tradução é do Cepat.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos jogou água fria nos festejos pós-eleitorais de Álvaro Uribe. Nesta quarta-feira, os sorrisos ainda dominavam o humor no Palácio Presidencial de Nariño quando o tribunal da Costa Rica, associado à OEA, comunicou uma das sentenças mais esperadas pela esquerda colombiana e organizações de direitos humanos. A Corte condenou o Estado colombiano pelo assassinato do senador da União Patriótica (UP) Manuel Cepeda, em 9 de agosto de 1994. “O Estado não cumpriu sua obrigação de investigar de forma efetiva e completa as violações a direitos humanos”, determinou o tribunal, em um escrito inédito para o país andino.

O Estado colombiano já havia sido condenado pelos assassinatos individuais de camponeses, juízes e defensores dos direitos humanos, mas desta vez a Corte Interamericana adicionou um novo tempero ao acusá-lo por co-autoria em uma violência sistemática. Neste caso particular, contra os mais de quatro mil mortos que a campanha de extermínio contra a UP entre 1985 e 2002 deixou, quando o partido oficialmente desapareceu.

A sentença, que pode ser lida na página da Corte Interamericana, não é meramente declarativa. Obriga o Estado colombiano a indenizar as três vítimas vivas: os filhos do senador, Iván e María Cepeda, sua nora Claudia Girón Ortiz e sua irmã María Estela. Os quatro receberão 165 mil dólares, uma soma quase quatro vezes menor que a que lhes foi oferecida pelo Conselho de Estado colombiano em 2008 e que eles rechaçaram porque a resolução não incluía um reconhecimento explícito da responsabilidade das forças de segurança públicas.

Mas, não é o custo da indenização o que incomodará o presidente Uribe, mas as desculpas que a Corte associada à OEA pede ao Estado. “O tribunal pede uma solicitude de desculpas públicas no Congresso com as duas Câmaras presentes, mas eu pedi hoje [quarta-feira] que seja o próprio Uribe a dirigir a cerimônia. Depois de tudo, ele foi um dos dirigentes que fez política caluniando as vítimas da UP”, assegurou a este jornal Iván Cepeda, filho do senador assassinado e uma das vítimas reconhecidas pela Corte.

Desde a morte de seu pai, Iván se converteu em uma das vozes que pediam verdade e justiça na Colômbia. Durante anos foi uma das mais de cem vozes solitárias, ameaçadas pelos paramilitares e questionadas pelo poder político. Mas, na quarta-feira, a Corte Interamericana lhe deu razão. Na sentença recordou quando o mandatário acusou Iván Cepeda, hoje deputado eleito pelo Pólo Democrático, de “utilizar a proteção das vítimas das violações aos direitos humanos para pedir dinheiro no exterior” e quando, em um spot eleitoral há quatro anos, havia homologado os dirigentes da UP com os guerrilheiros das FARC.

Fazendo uso de seus dotes diplomáticos, os juízes não condenaram com nome e sobrenome o presidente Uribe, mas suas táticas: “A situação de estigmatização que recai sobre os familiares do senador Cepeda expuseram-no a continuar recebendo hostilidades e ameaças”. O caso de Cepeda se converteu com o passar dos anos em uma referência obrigatória à violência política das décadas de 80 e 90. O senador foi assassinado por um grupo de sicários em 1994 quando se dirigia ao Congresso para um debate.

Como recordou com detalhe a sentença da Corte Interamericana, Cepeda vinha recebendo ameaças de morte dos grupos paramilitares e as havia denunciado à polícia e à Fiscalia Nacional. Sabia muito bem que seus inimigos eram de temer. Há 10 anos seus companheiros de militância da UP estavam sendo assassinados um depois do outro, sob o olhar indiferente dos governos liberais de Virgilio Baro e César Gaviria. “A Corte considera que o senador Cepeda foi ostensivamente desprotegido diante da situação de risco que enfrentava, pelo contexto geral de violência contra a UP. Nesse contexto, agentes estatais se abstiveram de dar a proteção especial devida ao senador Cepeda”, garante a sentença.

Depois de anos de luta para limpar o nome de seu pai e encontrar os assassinos intelectuais, Iván Cepeda se permite iludir-se, mesmo que seja por um instante. “Agora, mais do que nunca, devemos continuar no caminho da justiça, porque até que não se desmantele o aparelho ilegal dentro do Estado, não haverá nem verdade nem justiça. Esta sentença é esperançadora porque abre um caminho e dá novos ares aos tribunais colombianos”, assinalou um dos fundadores do Movimento de Vítimas de Crimes de Estado.

A sentença tem também outro valor, acrescentou o filho do senador assassinado. “Mesmo que diga respeito a um caso de 1994, nos descreve uma Colômbia muito atual. Essas estruturas de poder ainda não desapareceram, seguem cometendo crimes de Estado e o poder político segue sendo administrado com a lógica de neutralizar e caluniar os seus opositores políticos”, advertiu, repassando os últimos escândalos que açoitaram o uribismo, como a trama de espionagem contra dirigentes, jornalistas e defensores dos direitos humanos e os assassinatos sistemáticos de líderes sociais.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

FARC: Triunfo ilegítimo do continuismo

Com o triunfo ilegítimo do continuismo repudiado pela abstenção cidadã, o país tem entrado em um processo de radicalição da luta política, no qual o povo será protagonista na primeira linha.

Toda a maquinaria do Estado, todos os recursos mafiosos do governo, suas armadilhas de fraude e corrupção, chantagem e intimidação, foram postos ao serviço da vitória do continuismo, buscando desesperadamente por essa via um escudo que proteja Uribe da iminente acusação do povo e da justiça, por sua gestão criminosa e de lesa pátria.

O regime de Uribe foi o mais sério intento de impor violentamente um projeto político de ultradireita neoliberal baseado no paramilitarismo. Seu governo passará à historia como o mais desavergonhado das últimas décadas, o mais assassino de sua população civil, o mais ajoelhado ante a política dos EUA e, por essa circunstância, o mais compulsivo provocador de instabilidade nas relações com os países vizinhos.

Durante seus oito anos governou a mentira, a falsidade, a manipulação e o engano. Uribe e o continuismo fizeram crer que sua política de segurança era de todos, quando em realidade, só protegia, mediante a repressão, o lucro de privilegiados setores inversionistas, que acrescentaram o desemprego e a pobreza. Fizeram crer que defender a soberania era entregar a pátria ao governo de Washington e converter a Colômbia em um país ocupado militarmente por uma potência estrangeira. Montaram toda uma farsa para possar de lutadores contra o narcotráfico quando o próprio presidente Uribe, o DAS e o general Naranjo, têm um largo historial que os vincula à máfia do narcotráfico. Dizem que no país não há guerra nem conflito armado, no entanto, há Plano Patriota e invasão ianque....

Segurança democrática são os falsos positivos e a impunidade. É poder eleger como Presidente ao ministro da defesa que mais estimulou esses crimes de lesa humanidade. É repartir terras para o agronegocio paramilitar, porque esse sim tem músculo financeiro, enquanto os camponeses pobres no. E é subsidiar ou doar de maneira segura dinheiros do Estado aos empresários do agro que financiaram as campanhas eleitorais. Segurança democrática são as covas comuns com mais de 2000 cadáveres como aquela que existe muito perto da base militar do Município de La Macarena, no estado de El Meta e, são os mais de 4 milhões de camponeses deslocados violentamente pelo Estado. É mentir sobre o fim do fim da guerrilha bolivariana das FARC-EP e se preocupar pela vitalidade de uma organização que combate sem descanso pela Nova Colômbia como fica demonstrado pelos seus boletins de guerra do mês de maio do presente ano. Segurança democrática é cambiar a Constituição para que possa garantir interesses particulares, quando necessário e é ter uma espúria maioria no Congresso e desprezar a autoridade das Altas Cortes, com o aplauso e de seus politiqueiros incondicionais. Também, é repartir cargos na burocracia, recursos públicos e contratos e, aproveitar o governo para se enriquecer sem nenhum questionamento moral...

A vergonhosa defesa do militarismo oficiada por Uribe e seu chamado a criar novas leis em favor da impunidade dos militares anunciam o que virá durante o período presidencial de Juan Manuel santos. Sua cínica queixa e seu lamento falso sobre-protegendo um torturador-assassino, como Plazas Vega, os altos comandos militares e o ex-presidente Belisario Bentacur, responsáveis do holocausto do Palácio da Justiça, são patética evidencia de seu esforço por se blindar desde já, para evitar futuras acusações em sua contra. E, por suposto, como forma de atrelar o narco-paramilitarismo à direção do Estado, com garantias legais para desaparecer, torturar e assassinar opositores. O "foro militar" que Urbe reclama é patente de impunidade criminosa como o demonstra a historia recente da Colômbia.

A veemente defesa presidencial do ex-diritor da DIAN e da UIAF, o senhor Mario Aranguren, que prevaricou a favor de Uribe e seguramente por ordem dele mesmo, evidencia a manobra vergonhosa de quem aspira transcender ocultando, não só seu passado criminoso, mas a sua abominável forma de agir como governante.

Estamos às portas de outros quatro anos de ofensiva oligárquica contra o povo em todas os aspectos, carregados de promessas oficiais enganosas sobre uma derrota militar da insurgencia, coisa que sempre foi dita durante já 46 anos, sem se preocupar nem se comprometer na superação das causas que geram o conflito.

A profunda crise estrutural que padece Colômbia não tem solução no continuismo. A ultra-direita neoliberal, acreditando que ainda pode resolver-la desde as alturas, tem convocado a uma união nacional sem povo, na qual só aparecem as ambições dos mesmos que lucram com a segurança inversionista: os grupos financeiros, o setor empresarial, os pecuaristas e latifundiários, os paramilitares, os partidos que como cães raivosos se disputam as mordomias do poder, os grandes meios de comunicação que aplaudem os êxitos em litros de sangue da política guerrerista... Ali não se vê o povo por parte alguma, porque a prosperidade de aqueles se sustenta na miséria e a exploração dos de pé no chão, nos excluídos.

Este bicentenário do Grito de Independência deve dar passo à luta do povo por seus direitos, pela pátria, pela soberania, a justiça social e a paz. A mudança das injustas estruturas é possível com a mobilização e a luta de todo o povo pela sua dignidade. Nada se pode esperar dos que geram a violência estatal e que se têm apoderado do poder do Estado. Só a luta unificada pode nos conduzir a uma Colômbia Nova. Como consignamos em Marquetalia (1964) quando iniciamos a guerra de guerrilhas móveis: "estamos dispostos a buscar saídas políticas ao conflito, reiterando ao mesmo tempo, que nossa decisão de dar todo pelas transformações e pelos interesses populares, é irredutível, sem importar as circunstâncias, obstáculos e dificuldades que nos imponham."

A justiça social espera triunfar na mobilização do povo.

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 21 de junho de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O assassinato do Cabo Carvajal

Outra vítima no sangrento currículo do "glorioso" exército colombiano

Carlos de Urabá
Rebelião



O exército colombiano, segundo a Constituição, tem a sagrada missão de defender a soberania e a ordem constitucional do país, embora na prática o seu verdadeiro papel é o de salvaguardar a propriedade privada e proteger os bens e interesses da oligarquia.

O regime civico-militar colombiano conta com uma força militar de quase quatrocentos mil soldados, divididos entre a polícia e forças armadas – a imensa maioria pertencentes aos estratos mais baixos da sociedade ou seja, filhos de camponeses, operários e trabalhadores – dispostos a oferecer as suas vidas pelo bem dos seus patrões.

Como controlar a 20 milhões de pobres e a oito milhões de indigentes? Não há outra alternativa do que usar a força pública para tentar conter a rebelião social.

O delinquência também deve ser considerada como uma guerra popular contra Estado corrupto e opressor.

Em certas épocas do ano, o exército colombiano realiza sua campanha de recrutamento pelas cidades e povoados do país. Procuram buchas de canhão, chegam de surpresa e detêm jovens para verificar a sua situação militar. Se não tiverem o documento, imediatamente são enviados de caminhão para os quartéis para cumprir as formalidades incorporação nas fileiras. Trata-se de um seqüestro legal e não há objeção possível, pois a pessoa pode ser rotulada como traidor da pátria. O Exército precisa de sangue novo que alimenta o fogo diabólico da sua máquina de guerra. Mas, o mais curioso é que as batidas de recrutamento jamais por bairros chiques, condomínios ou áreas residenciais habitadas pelas classes mais abastadas. Ou seja, a defesa da Pátria é uma tarefa exclusiva dos mais pobres.

A doutrinação dos futuros soldadinhos começa na escola, onde os professores lhes embutem o amor pelas armas e o espírito nacionalista. Sem esquecer a lição mais importante: o respeito pela hierarquia para entender diante de quem tem que abaixar a cabeça

Os meios de comunicação também desempenham um papel fundamental na formação do orgulho belicoso. Porque é necessário semear um sentimento de ódio e vingança; o bem contra o mal, o vermelho contra o azul. Precisamos escolher um inimigo contra o qual descarreguemos nossa ira. A arte de matar provoca um grande atrativo e muitos jovens sonham em pegar em armas e ser coroado como os seus heróis favoritos.

O cartão de recrutamento é um documento essencial para a obtenção de emprego, graduação, ainda que possam se adquiridas de forma fraudulenta por meio da compra a oficiais corruptos (os preços variam de 400 mil a 600 mil pesos) ou falsificando documentos que comprovem que a pessoa sofre de alguma doença grave ou está cursando o ensino superior. Como é o caso famoso de Tomás e Jerónimo, filhos do presidente Uribe, que não vão à guerra que o papai promove com tanto afinco.

Pelo serviço militar o soldado ganha 70 mil pesos por mês (aproximadamente 37 dólares americanos) que, tendo em conta o custo de vida, é um valor insignificante que não dá para nada. Assim, a tropa tem que pegar dinheiro do próprio bolso para se manter dignamente. Não se esqueça que os sacrifícios são poucos desde que se pertença ao glorioso exército nacional.

Para generais adoram brincar com seus soldadinhos de chumbo, planejar batalhas e para mover as peças no tabuleiro à vontade. Não lhes deixam um tempo livre, pois os obrigam, descaradamente, a realizar tarefas domésticas em suas residências e fazendas como jardineiros, cozinheiros, motoristas, mecânicos, eletricistas ou guarda-costas.

O soldado que, após 18 meses de serviço militar obrigatório, deseje continuar no exército ou na polícia deve assinar um compromisso como soldado profissional cujo salário base é de 900 mil pesos por mês (475 dólares), além de horas-extras, ajudas de custos, seguros de saúde da família, descontos em supermercados, comissões e uma ou outro subsídios significativos. Esta é uma opção altamente recomendável para uma juventude que está cada vez mais assolada pelo desemprego e pela falta de oportunidades.

Segundo analistas, as forças armadas colombianas são considerados uma das maiores da América Latina. Os EUA, através do Plano Colômbia, fornecem uma inestimável ajuda de 500 milhões de dólares anualmente. Embora o total geral do Ministério da Guerra atinja mais de 21 trilhões de pesos (11,057 bilhões de dólares), ou seja, valor maior do que os vinte trilhões de pesos (10,5 bilhões de dólares) recebidos pelo Ministério da Educação. Definitivamente, a paz não pode competir com os benefícios econômicos gerados pela guerra.

A política de “Segurança Democrática”, implementada por Uribe Vélez, é uma doutrina autoritária, cujo principal objetivo é defender os interesses da oligarquia, ou seja, tem de velar pelo patrimônio de fazendeiros, empresários, industriais ou investidores estrangeiros. A militarização do país é a única maneira de conduzi-lo pelo Sendero da prosperidade e do progresso.

Não interessa ao governo colombiano a prevenção do crime, mas sim o castigo. É um Estado repressor que necessita de mais policiais, mais militares, mais prisões, mais cemitérios clandestinos, mais armas, mais torturas, extermínio, morte e desaparecimentos.

O exército colombiano sempre simpatizou com os princípios ideológicos do fascismo. O Führer, Franco ou Mussolini, foram seus mais simpáticos inspiradores. Portanto, ninguém deve se surpreender que tenha se aliado aos paramilitares, provocando um dos mais abomináveis genocídios jamais conhecidos na nossa história contemporânea.

A violência na Colômbia deixou milhares de mortos, desaparecidos, feridos, desalojados, deficientes, viúvas, órfãos, números que disparam sem que o governo tenha o desejo de deter esta espantosa sangria.

Nos últimos anos, tem-se divulgado publicamente os maus tratos infligidos aos soldados nos quartéis. Durante o período de formação, os oficiais aplicam brutais castigos aos recrutas; são torturados, violentados com o cano das metralhadoras ou são queimados com ferros em brasas para verificar o seu grau de resistência. O objetivo principal é criar monstros dispostos a devorarem sem piedade os seus inimigos.

Nós não entendemos porque mães cuidadosas que criam carinhosamente seus filhos, esses pais que se desvelam e lhes dão todo o amor, quando completam dezoito anos os entregam num quartel para que um cabo ou sargento os domestique a chutes e socos. Bem, assim são as tradições de uma sociedade civilizada e devem ser respeitadas.

Este é apenas um prólogo para uma cruel e dolorosa história que agora vou contar, uma história que revela em toda sua magnitude o grau de perversão e de barbárie alcançado pelo glorioso exército colombiano.

No ano passado, enquanto caminhava pela praça Bolívar, em Bogotá, encontrei uma personagem envolta na bandeira da Colômbia com um cartaz pendurado no pescoço onde estava a fotografia de um soldado. O homem, ao me ver chegar, entregou-me um folheto em que explicava o motivo de seu protesto.

"O meu filho, o cabo Raúl Antonio Carvajal Londoño, foi assassinado, no Norte de Santander, por não querer criar falsos positivos. Aparentemente foram seus próprios comandantes"

Em seguida, se apresentou como Raúl Carvajal Pérez , transportador do mercado de Monteria , Departamento de Córdoba, e pai do sub-oficial do exército Raul Antonio Carvajal Londoño, assassinado por seus próprios comandantes, em circunstâncias obscuras.

"Assassinado por seus próprios comandantes? Isto é inédito", pensei comigo mesmo. Imediatamente iniciamos uma longa conversa sobre os detalhes desse evento tão trágico. ‘Seu’ Raúl carregava uma pasta volumosa, onde tinha classificados numerosos documentos, evidências de sua infrutífera luta por justiça. Na Colômbia, este é o pão de cada dia: os desaparecimentos forçados, as execuções extrajudiciais ou falso-positivos, para cobrar recompensas e ganhar promoções.

Por que executaram o cabo Raúl Carvajal Londoño? Por que criaram um complô para eliminá-lo e colocar a culpa na guerrilha?

Estas são perguntas que, gradualmente, vamos tentar elicidar. Sentados na sombra da estátua do Libertador Simón Bolívar, ‘Seu’ Raúl Carvajal foi me deixando ciente da sua odisséia, mostrando infindáveis documentos originais, as cartas que apresentou a diversas entidades e autoridades, como por exemplo, à Doutora Marisol Ariza Piñeros, Coordenadora de Atendimento às Vítimas da Unidade Nacional de Direitos Humanos; ao coronel Juan Carlos Gómez, do Ministério da Defesa; a Cybbele Haupert, do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos; à procuradora de Cúcuta, Catalina Estela Vega Rodriguez; à Doutora Catalina Sanchez, do Comitê da Cruz Vermelha Internacional; a Miisloz Kusz Berlutti e Paula Berlutti, do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas; a Marta López Bayón, da Missão de Apoio ao Processo de Paz na Colômbia da OEA, ao Movimento Nacional de Vítimas; ao advogado Juvenal Arevalo Quintero, do Ministério Público da Procuradoria, ao Gabinete do Procurador-Geral da Nação, Mario Iguarán, ao Presidente da República Álvaro Uribe Vélez; ao Ministro da Defesa, Juan Manuel Santos; ao Monsenhor Rubiano, da Conferência Episcopal, enfim, uma longa e cansativa lista.

Mas nada, tudo foi em vão e, apesar de ter movido o céu e a terra, ninguém se dignou a dar-lhe uma resposta. Em fim, para mitigar sua inquietude, tira da sua mochila muitos papéis que foi acumulando ao longo do tempo, letra morta e estéril que não serve nem para enxugar suas lágrimas. Simplesmente lhe transmitem condolências, dizem que o seu pedido já foi recebido e que volte na próxima semana. E assim o vão enrolando e passam os dias, os meses e os anos, aprisionado em um beco sem saída.

A burocracia judicial é muito lenta e existem toneladas e toneladas de expedientes que permanecem mofando nos porões dos tribunais á espera de que algum juiz se digne a abrir um inquérito. Quem são os culpados? Onde estão as provas periciais? E as testemunhas? Este é um assunto muito embaraçoso que necessita de um escritório de advocacia que assuma o caso. Isso significa desembolsar uma grande quantia em dinheiro, e ‘Seu’ Raúl ganha um salário mínimo com o qual mal sustenta a sua família. Além disso, se não se tem influência política e social as chances de sucesso são quase nulas.

Mas Don Raúl Carvajal Perez não dá o braço a torcer. Ele amava seu filho e esse amor é o que lhe dá a força de vontade para não desistir. Até o dia de hoje continua com a mesma determinação, marcando audiências e entrevistas com funcionários ou comandantes militares. Continua a escrever cartas ou fazendo seus protestos nas ruas e praças públicas, na esperança de esclarecer a verdade e punir os culpados. Acostumou-se a ficar em filas intermináveis para ser atendido por um funcionário com má vontade e que, em tom depreciativo, lhe digam que volte no outro dia. Um selo, outro selo, uma assinatura e mais certificados e papéis para a coleção. Se ele liga para uma repartição em busca de algum funcionário lhe informam que não se encontra e tente novamente mais tarde para ver se a pessoa regressou. Brincam com ele como uma se fosse uma bola de tênis, o mandam de um lado para outro, na vã tentativa de se esquivar dele.

De repente, um dia, mesmo sem ser notificado previamente, apareceu em sua casa uma estranha comitiva que veio fazer a entrega de um ataúde. Que surpresa macabra! Quando a abriu, encontrou no seu interior o cadáver de seu filho banhado em sangue com um tiro na testa. "O corpo vinha envolto com a gloriosa bandeira da Colômbia como mortalha – Foi como se tivessem me apunhalado no coração – comentou com tristeza. Como é possível que paguem dessa forma a quem deu os melhores anos de sua vida à instituição militar? Tão aberrante humilhação não admite adjetivos e reflete perfeitamente o grau de barbárie alcançado pelo exército nacional.

Muitos pais e mães na Colômbia se fazem as mesmas perguntas que ‘Seu’ Raúl. O que poderia ter acontecido com meu filho ou minha filha? Por que o mataram? Sejam guerrilheiros, militares, delinquentes, narcotraficantes... O fato é que, grande parte da nossa juventude está sendo sacrificada por causa da maldita violência.

Há tantos casos de assassinatos, torturas ou desaparecimentos, que o sistema judicial não dá conta, a impunidade predomina e com o passar do tempo os delitos, inevitavelmente, ficaram no limbo do esquecimento. Para as famílias das vitimas não há outra solução do que colocar uma vela no altar e rezar pela alma do defunto. Se a justiça humana falha, ao menos se pode reivindicar à justiça divina .

‘Seu’ Raúl, por causa desta tragédia, perdeu seu patrimônio, carece de recursos e são muito poucas as pessoas que se solidarizam com sua causa. O tratam pior do que a um pária, pois, como advertiu o coronel Juan Carlos Gomez, com sua atitude está “denegrindo o bom nome das forças armadas".

- Mas veja o que fizeram com meu filho! E mostrar uma foto de Raul Antonio banhado em sangue com um tiro na testa – Isto não se faz nem ao pior dos inimigos. E ainda por cima, sua esposa e filha desapareceram depois do funeral e não sabemos nada delas. Será que também as mataram?

O filho de ‘Seu’ Raul poderia ser o filho de qualquer família colombiana, apaixonado pela sua esposa e filha, com projetos para o futuro e apaixonado pela sua carreira militar. Mas um dia, teve que escolher entre ser cúmplice das execuções extrajudiciais para cobrar a recompensa ou manter-se fiel aos princípios éticos e morais que aprendeu desde criança. Então, sem pensar duas vezes, ele se recusou a seguir as ordens e participar desses crimes. Uma decisão corajosa que, infelizmente, seria a sua sentença de morte.

Assim foi como, no dia 08 de outubro de 2006, às 11h30, em um lugar conhecido como Alto da Virgem, localizado entre os municípios de Tibú e El Tarra, durante a Operação Serpente, na qual participava da unidade Destrutor Um, parte da 2ª Divisão do Exército, quando houve um enfrentamento com supostos guerrilheiros da coluna móvel Arturo Ruiz Ont, das Farc – Segundo a versão oficial dos acontecimentos – Como resultado desses combates, o cabo Raúl Carvajal Londoño e o soldado José Lopez Ardila foram vítimas das balas de um francoatirador. "Por acaso" ambos tinham sido transferidos para o Norte de Santander e pertencentes ao Batalhão de Infantaria Antonio Ricaurte de Bucaramanga. Os relatórios do Batalhão Nº.10 José Concha Tarra contradizem os fatos, certificando que naquele dia, nem nos posteriores, se registraram combates na área. Depois de ser levado para o necrotério, o corpo do cabo Carvajal foi examinado por um perito forense do CTI, que disse que o tiro que o matou foi feito a uma distância de menos de dois metros.

Até o fim da tarde desse domingo, ‘Seu’ Raúl continuava desabafando a sua impotência. Agora, por causa de suas denuncias e protestos, os juízes e os militares estão investigando a ele e sua família. "Será que os culpados seremos nós mesmos?", perguntava-se ele em tom irônico.

‘Seu’ Raúl me narrou com nostalgia essa época em que seu filho brincava de polícia e ladrão com seus amiguinhos na praça do bairro. " Desde criança, Raul queria ser aviador. Por isso, quando completou 18 anos, ingressou no exército como voluntário. Gostava de vestir o uniforme militar e passear com altivez pelas ruas despertando a inveja das pessoas".

Desde 2005, o cabo Raúl Carvajal Londoño estava lotado no Batalhão de Infantaria Nº.14 Antonio Ricaurte de Bucaramanga, sob o comando do tenente-coronel Álvaro Diego Tamayo Hoyos, contra quem a promotoria emitiu um mandado de prisão por causa do caso dos falsos positivos de Soacha. Mas, intempestivamente, para substituir uma baixa em serviço no mês de outubro de 2006, foi enviado para a 2ª Divisão do Exército no Norte de Santander, sob as ordens do comandante Pardo.

Naquele 8 de outubro de 2006, quando o pelotão que ele dirigia estava atravessando uma trilha na selva, o batedor, ou encarregado de abrir o caminho para a tropa pelo mato, o soldado Óscar Agudelo Ruiz, escondido por trás de alguns arbustos, disparou a sangue frio contra o cabo Raúl Carvajal e o soldado José Lopez Ardila causando-lhes a morte. (Esta versão foi confirmada por alguns dos seus colegas, que preferiram manter o anonimato). Como ninguém sabia de onde vinham os tiros e acreditando que se tratava de uma emboscada da guerrilha, começou o tiroteio.

Certamente o cabo Raúl Carvajal percebeu os acontecimentos obscuros que existia na unidade e se recusou a entrar no jogo diabólico das recompensas e alianças com narcotraficantes e grupos paramilitares da região. Assim, tornou-se uma testemunha incomoda que poderia delatá-los e seus comandantes não tiveram outra saída que desfazer-se dele.

Seus superiores inventaram um ataque guerrilheiro para assassinar-lo de forma vil. Todos os membros do pelotão confirmaram a versão oficial, embora oferecendo notáveis contradições que levantam a suspeitar de que algo estava sendo forjado. Os soldados declararam sob juramento que as mortes de seus companheiros foram causadas pela guerrilha. Temendo represálias, ninguém se atreve a falar a verdade nos tribunais. Inclusive, nenhum advogado quer assumir o caso, porque eles sabem que estão arriscando suas vidas. Os falsos positivos ou execuções extrajudiciais, a corrupção e alianças com os narcotraficantes tiveram um impacto especial no Norte de Santander, concretamente na região de Ocaña, a porta de entrada para o Catatumbo, uma área de selva na fronteira com a Venezuela, onde se cultiva e processa a coca.

Estes actos criminosos foram descobertos graças à investigação jornalística sobre a incrível história dos jovens de Soacha, executados pelo exército em Ocaña, Norte de Santander. O governo, para se contrapor ao escândalo internacional, apenas passou para a reserva os comandantes e generais responsáveis pelas unidades que cometeram os assassinatos. Até ao momento, a Procuradoria somente processou os militares de baixas patentes.

Don Raúl teve o peito e a coragem de ir protestar na mesmíssima porta da fazenda Ubérrimo, de propriedade do presidente Uribe e localizado muito perto de Montería. Lá, ele driblou as barreiras de segurança, disposto a deixar sentir toda sua indignação. Com o cartaz de seu filho no peito e acenando com a bandeira da Colômbia, encarou o presidente, que naquele momento estava domando um cavalo de montaria.

– "Presidente Uribe" – disse ‘Seu’ Raúl em voz alta – Me ajude, por favor, para saber o que aconteceu com meu filho, o cabo Raúl Carvajal Londoño! “Necessito que coloque um advogado para reabrir o caso”.

No mesmo instante, os seguranças o colocaram na mira de suas metralhadoras. ‘Seu’ Raúl ergueu os braços e o presidente ordenou ao chefe da guarda presidencial, General Buitrago, que ouvisse suas declarações e que se encarregasse da denúncia.

Uribe, como um bom fariseu sorriu, deu um tapinha nas costas, e lhe disse: “tranqüilo homem, que eu falo com o comandante das Forças Armadas para que investigue o caso do seu filho".

Que ingênuo! ‘Seu’ Raúl, em seu desespero, foi reivindicar ao sicário, ao capo que inventou o sistema de recompensas e incentivos para matar "inimigos".

Apenas neste ano, graças a uma testemunha protegida pela Procuradoria-Geral da Nação, comprovaram-se as ligações que os militares da 2ª Divisão do Exército no Norte de Santander mantinham com narcotraficantes, os numerosos atos de corrupção e execuções de inocentes ou "falsos positivos", eufemismo com o qual se quer maquiar estes terríveis crimes.

Entre os culpados cabe destacar ao general Paulino Coronado, comandante da Brigada 30 do Exército, ao general e ex-comandante da 2ª Divisão do Exército, José Joaquín Cortés , ao coronel Gabriel Rincon Amado, chefe de operações da Brigada Móvel Nº.15, ao coronel Álvaro Diego Tamayo Hoyos, do Batalhão Santander. Estes comandantes, diante dos pobres resultados que suas unidades apresentavam na luta contra a subversão, fizeram com que jovens, indigentes, camponeses ou doentes mentais, fossem considerados como guerrilheiros mortos em combate.

Ou seja, o cabo Raúl Carvajal, tal como seu pai o afirma, foi eliminado por seus superiores contando com a cumplicidade de seus companheiros. Tanta covardia, tanta podridão e tanta perversão são difíceis de imaginar. Mas os verdadeiros indutores de seu assassinato são nada menos que o presidente Uribe, o ministro da Defesa na época, Juan Manuel Santos, e o comandante das Forças Armadas, General Freddy Padilla de León, uma vez que foram eles os que exigiam de seus subordinados a quota semanal de morte e destruição. "Ataquem, matem e destruam!"

Apresentavam-se resultados "positivos", como se diz no jargão militar, eram premiados com promoções, férias e suculentas recompensas em espécie. Caso contrário podiam ser punidos com uma avaliação ruim no currículo e transferidos para os batalhões que operam na zona vermelha. Que coincidência a maioria dos rapazes desaparecidos em Soacha serem executados perto de Ocaña, onde a Brigada Móvel Nº.15, sob o comando da 2ª Divisão do Exército, estava baseada. E lá foi onde assassinaram ao cabo Raúl Carvajal Londoño.

A hierarquia militar tem que ser respeitada e não tem outro remédio do que calar e obedecer aos superiores. No Exército, há um juramento sagrado sob o qual se esconde o seu tenebroso prontuário. Mas de tempos em tempos surgem personagens como o cabo Raúl Carvajal Londoño, que se rebelam diante das injustiças e preferem dar suas vidas antes de tornarem-se assassinos e torturadores.

O presidente Uribe e a cúpula militar são diretamente responsáveis pela guerra suja, as torturas, os desaparecimentos, os bombardeios contra a população civil. Os líderes máximos, protegidos pela Constituição, não têm o menor constrangimento em fumigar a selva com glifosato, queimar as florestas, invadir países vizinhos, deslocar camponeses arrebatar suas terras e condená-los ao esquecimento.

No domingo 20 de junho, Juan Manuel Santos foi eleito presidente da Colômbia, que já foi ministro da Defesa e que foi acusado pela justiça equatoriana pelo assassinato de 25 pessoas no bombardeio da força aérea da Colômbia ao acampamento das Farc em Angostura, Sucumbíos.

Juan Manuel Santos é um prestigiado psicopata especializado em terrorismo de Estado e que, sem dúvida, continuará com a política de "Segurança Democrática" do seu antecessor, Uribe Vélez. A Colômbia é uma colônia vendida ao capital estrangeiro, a cabeça-de-ponte do imperialismo na América Latina, um grande latifúndio governado por dirigentes e mafiosos apoiados por uma esmagadora maioria parlamentar que lhes dá carta branca para fazer e desfazer à vontade.

Cai a noite na Praza de Bolívar e ‘Seu’ Raúl despede-se de mim com um forte aperto de mão. Com os olhos lacrimejando me implorou que não o esqueça e que o mantenha informado da minha pesquisa. Coberto com a bandeira da Colômbia e com o boné do seu filho na cabeça vai embora com passos lerdos pelas gélidas ruas bogotanas. Para ele as ameaças e intimidações que recebeu não têm a mínima importância, uma vez que não tem nada a perder. Desde aquele fatídico 08 de outubro de 2006, quando assassinaram seu filho, ele também, de alguma forma, foi morto.

‘Seu’ Raul se sente traído, perdeu a fé nas instituições da sua querida Colômbia, e a única esperança que lhe sobrou é que o caso de seu filho seja remetido à Corte Interamericana de Direitos Humanos, ao Tribunal Penal Internacional com sede em Estrasburgo ou à Audiência Nacional espanhola.

Ele está determinado a esgotar todas as instâncias e continuar a lutar até as últimas consequências. Porque estes crimes de Lesa-humanidade não prescrevem e estamos confiantes de que chegará a hora da justa reparação.

Ao tornar pública esta denuncia estamos conscientes de que ‘Seu’ Raúl pode estar sujeito a algum atentado. Por isso, não descartamos a possibilidade de pedir asilo político em alguma embaixada européia para proteger sua vida e da sua família.



(*) Carlos de Urabá é escritor e pesquisador colombiano.

Quem é terrorista na Colômbia?

Semanário VOZ, edição 2542

Por: Carlos A. Lozano Guillén

A senadora Piedad Córdoba (Partido Liberal) questionou em dias passados, em Madri, Espanha, a inconveniência de que a União Européia mantenha na "lista de organizações terroristas" as FARC e o ELN, gurpos insurretos colombianos, de natureza política e militar e partes de um conflito de longas décadas no país. Realmente é inconsequente, se a UE aspira a contribuir para a paz na Colômbia e para a saída política do conflito armado, manter essa decisão claramente imposta pelas pressões dos governos colombiano e norte-americano, sócios da guerra contra o nosso povo.

Apesar de que a inclusão nessa lista das guerrilhas colombianas foi em 2002, posteriormente França e Espanha, acompanhadas da Suiça, que não é membro da União Européia e não considera como terroristas as FARC e o ELN, contribuiram como "países amigos" para a libertação de detidos em razão do conflito armado e na busca do intercâmbio (troca) humanitária de prisioneiros de guerra. Com dois de seus emissários, Noé Sáenz e Jean Pierre Gontard, processados e perseguidos com o pretexto de que seus nomes constam os computadores de Raúl Reyes (assassinado no Equador em 2008).

Muito oportuna a alusão de Piedad Córdoba e, além disso, necessária de ser atendida, porque se existe a disposição da União Européia de contribuir no futuro para a paz da Colômbia diante do fracasso da guerra uribista, tem que adotar decisões que facilitem seu papel neste sentido. O contrário é quase que autoexcluir-se de uma gestão humanitária, própria de um coflito de natureza política e social como o colombiano.

Lembro que quando se adotou a decisão em junho de 2002, encontrava-me na Europa, em um giro, quase que solitário, promovendo a idéia da troca de prisioneiros ou intercâmbio humanitário, no início do primeiro governo de Álvaro Uribe Vélez, que não aceitava qualquer compromisso sobre o tema, muito menos para a paz negociada. Diante de funcionários das chancelarias da Espanha, Suécia, Áustria, França, Itália, Bélgica e do Vaticano, deixei claro que essa decisão não contribuia para o futuro papel dos europeus como facilitadores ou mediadores de paz em nosso país. O que seria, na eventualidade de aproximações entre as partes, quase que indispensável, porque a desconfiança recíproca ia ser um fator de perturbação e obstáculo.

Observei que as chancelarias, pelo menos a maioria delas, tinham a mesma percepção. Mas foi o funcionário espanhol, ainda no governo de José Mária Aznar, que me deu a explicação de fundo: "Não podemos eludir a exigência do irmão maior", me disse. Resta dizer que o "irmão maior" era o governo de George W. Bush, sócio da Espanha e da Grã-Bretanha na agressão terrorista ao povo iraquiano. É parte da hipocrisia destes países em temas fundamentais nos quais prima o interesse de classe. Simplesmente isso.

* Carlos Lozano é membro do Burô Político do Partido Comunista Colombiano e editor do jornal "VOZ".

Com apoio do PCB

terça-feira, 22 de junho de 2010

Colômbia elege mais do mesmo

Vitória do ex-ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, consolida o modelo vigente na Colômbia desde 2002. Mais de 9 milhões de colombianos votaram em Santos, superando os 7,3 milhões de eleitores que reelegeram, em 2006, o atual presidente direitista Álvaro Uribe. Abstenção foi uma das mais altas da história colombiana, chegando a 55,52% dos eleitores. "Santos terá que responder ao país sobre seu papel na execução de 2.279 pessoas durante sua gestão como ministro da Defesa", diz representante da oposição.

Constanza Vieira - IPS

Data: 21/06/2010

Bogotá, 21 jun (IPS) – O ex-ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, foi eleito presidente com o voto de apenas 30% dos eleitores habilitados a votar. A abstenção superou a casa dos 55% neste país que vive em guerra interna desde 1964. Santos obteve 69,06% dos votos dados no domingo (20), no segundo turno da eleição presidencial. Com esse resultado, consolida-se o modelo vigente na Colômbia desde 2002. Mais de 9 milhões de colombianos votaram em Santos, superando os 7,3 milhões de eleitores que reelegeram, em 2006, o atual presidente direitista Álvaro Uribe. “Trata-se da “maior votação jamais obtida por um candidato em nossa história. Eu a recebo com humildade e gratidão”, disse Santos em seu discurso da vitória.

“Se chegamos tão longe é porque estamos sentados sobre ombros de gigantes”, acrescentou, atribuindo a frase ao físico britânico Isaac Newton, ainda que se considera que ela pertença, de fato, ao filósofo bretão Bernard de Chartres. Santos também superou a soma de votos dados a candidatos oficialistas no primeiro turno, apoio que se complementa com o controle ou adesão de mais de 80% dos parlamentares, que acataram seu chamado para um “governo de unidade nacional”. O resultado já esperado segundo as pesquisas, a Copa do Mundo de Futebol e as chuvas torrenciais elevaram a tradicional abstenção para 55,52%, índice superior aos 50,76% do primeiro turno e à média histórica de 52,17%, registrada desde 1958.

Cerca de 27,52% dos votantes apoiaram o ex-prefeito de Bogotá, Antanas Mockus (Partido Verde), que se recusou a negociar politicamente com a esquerda para somar forças no segundo turno, propondo, ao invés disso, a construção de uma “aliança cidadã”. Seu volume de eleitores aumentou pouco mais de 460 mil votos em relação aos 3.588.183 que obteve no primeiro turno, em maio. Mockus anunciou a independência do PV frente ao novo governo: “Apoiaremos as propostas que forem consideradas boas, após uma troca de argumentos livre de pressões”, disse Mockus, ao reconhecer o triunfo governista. Os 1.329.512 votos (9,15%), obtidos pelo opositor Pólo Democrático Alternativo (PDA), de esquerda, no primeiro turno, engrossaram o índice de abstenção no domingo e, em menor medida, o dos votos em branco, que atendeu a uma diretriz de não votar em nenhum dos dois candidatos. O voto em branco foi magro, ainda que tenha crescido mais do que o dobro, passando de 1,54%, no primeiro turno, para 3,41% no segundo.

O domingo teve registros de choques armados com o saldo de nove soldados mortos no departamento de Norte de Santander, onde houve combates na região de Catatumbo, fronteira com a Venezuela. A guerrilha promoveu a abstenção e conseguiu diminuir o transporte público em Caquetá e Putumayo, departamentos do Sul. Em Nariño, houve ataques à rede elétrica e ao oleoduto Transandino. Referindo-se ao maior grupo insurgente, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Santos afirmou: “Repito que o tempo das FARC se esgotou. Os colombianos sabem muito bem que eu sei como combatê-los”. O novo vice-presidente será o ex-líder sindical Angelino Garzón, ex-comunista e ex-governador do departamento de Valle. “É um campeão dos direitos humanos e da defesa dos trabalhadores”, definiu Santos.

Em maio foram assassinados sete defensores de direitos humanos e líderes camponeses. Quatro deles reclamavam a restituição de suas terras, ocupadas por milícias paramilitares de ultra-direita, acusadas dos mais graves crimes cometidos nos últimos 20 anos na Colômbia. Além disso, entre maio e a primeira semana de junho receberam ameaças de morte mais de 100 organizações camponesas, sindicais, de direitos humanos, de mulheres e dos movimentos negro e indígena.

Em seu discurso, Santos não mencionou nem os paramilitares nem as vítimas, observou Ivan Cepeda, porta-voz do Movimento de Vítimas de Crimes de Estado (Movice). “Não houve uma palavra sobre a paz, nem sobre a solução negociada do conflito, em uma linha de continuísmo”, disse a IPS Cepeda, parlamentar eleito pelo PDA. O convite de Santos foi “mais para a unanimidade do que para a unidade nacional”, acrescentou. “Se efetivamente pretende respeitar a autonomia do Poder Judiciário, deverá eliminar sua proposta de anexar a Procuradoria Geral da Nação ao Poder Executivo”, advertiu Cepeda sobre anúncio feito por Santos. Este mês, Uribe propôs ampliar o foro militar que, por mandato da Corte Constitucional, não tem jurisdição para tratar de violações de direitos humanos. Em sintonia com Uribe, o presidente eleito propôs uma reforma no Judiciário. Cepeda assinalou que essa reforma “não pode incluir limitações de conquistas no julgamento de violadores de direitos humanos e de responsáveis por crimes contra a humanidade, incluindo aqueles relacionados às execuções extrajudiciais massivas”.

Santos “terá que responder ao país sobre seu papel na execução de 2.279 pessoas supostamente por integrantes da força pública durante sua gestão como ministro da Defesa (2006-2009), fato que está sob investigação judicial”, apontou ainda o porta-voz do Movice. Nos últimos dias recrudesceram as intimidações contra as Mães de Soacha que buscam justiça pelos assassinatos de seus filhos, apresentados oficialmente como guerrilheiros mortos em combate quando Santos estava a frente do Ministério da Defesa.

O que está em jogo nas eleições de 2010

Por Emir Sader

Em quatro meses o Brasil terá decidido quem será o próximo(a) presidente(a). Destacam-se muitos aspectos da particularidade desta campanha, desde o de que Lula não será candidato, pela primeira vez, desde que o fim da ditadura trouxe as eleições, até o do protagonismo de duas mulheres entre os três principais candidatos.

Mas o tema mais importante é o do julgamento de um governo até aqui sui generis na história política do país. Um presidente de origem operária, imigrante do Nordeste, chega ao final do seu mandato com a maior popularidade da história do país e submete democraticamente seu governo a uma consulta popular, mediante a apresentação como sua possível sucessora da coordenadora do seu governo.

Um governo que começou rompendo o caminho do Área de Livre Comércio das Américas, conduzido pelo governo anterior, que teria levado o Brasil e todo o continente à penosa situação do México: 90% do seu comércio exterior com os EUA, como reflexo disso na crise retrocedeu 7% seu PIB no ano passado, foi ao FMI de novo, assinando a Carta de Intenções (deles).

O novo governo promoveu uma reinserção internacional do Brasil, privilegiando os processos de integração regional e as alianças com o Sul do mundo. A China tornou-se o primeiro parceiro comercial do Brasil, o segundo é a América do Sul como um todo, em terceiro os EUA. A crise revelou os efeitos dessa mudança: pudemos superá-la rapidamente pela diversificação do comercio internacional e a menor dependência das relações com os EUA, a Europa e o Japão. (Além do papel importante do mercado interno de consumo popular.)

Esse é um dos temas que está em jogo: o lugar do Brasil no mundo. Seguir aprofundando essa nova inserção ou voltar à aliança subordinada com os EUA e as potências centrais do sistema.

O outro tema – em que igualmente houve maior mudança na passagem do governo FHC para o de Lula: as políticas sociais. No governo anterior, a distribuição de renda seria resultado mecânico da estabilidade monetária. Controlada a inflação – “um imposto aos pobres” -, se recuperaria capacidade de compra dos salários.

No governo Lula, as políticas sociais tiveram um papel reitor. O modelo econômico não separava o crescimento econômico e a distribuição de renda. A recuperação da capacidade do Estado de promover o desenvolvimento – este um tema abolido no governo FHC – foi também um aspecto novo, junto à extensão do mercado interno de consumo de massas. Mudou a direção do comercio exterior e seu peso, reforçando-se o mercado interno.

Esse tema também está em jogo. Os governos neoliberais deram prioridade ao ajuste fiscal, ao controle inflacionário. O governo Lula priorizou a esfera social.

Está em jogo também o papel do Estado. Como costuma acontecer, o candidato opositor considera excessiva a presença do Estado, a carga tributária, os gastos estatais, os investimentos e os custos da maquina estatal. As criticas ao supostos “corporativismo” e a comparação com Luis XIV tem como direção o Estado mínimo e a presença maior do mercado.

No seu sentido geral, podemos dizer que as eleições deste ano definem se o governo Lula é um parêntese, com o retorno das coalizões tradicionais que governaram o Brasil ao longo do tempo ou se é uma alavanca para definitivamente sair do modelo neoliberal e construir uma sociedade justa, solidária, democrática e soberana. Caso se dê esta última alternativa, os setores conservadores sofrerão uma derrota de proporções, com toda uma geração dos seus representantes políticos praticamente terminando suas carreiras e abrindo espaço para grandes avanços na direção das orientações do governo Lula.

Fonte: Blog do Emir

segunda-feira, 21 de junho de 2010

PC do B: Continuidade da direita na Colômbia, sem legitimidade

Que legitimidade o novo presidente colombiano poderá ter? O candidato oficial, Juan Manuel Santos, apoiado pelo presidente Álvaro Uribe, um direitista que se transformou no principal apoio do imperialismo norte-americano na América do Sul, foi eleito ontem (dia 20). A marca do pleito, que não empolgou os colombianos, foi a enorme abstenção: 50,7% dos eleitores deixaram de comparecer, diluindo severamente a representatividade e levando à presidência da República um mandatário que teve o voto de menos de 1/3 dos colombianos.

O país tem 29.983.279 eleitores; destes, 14.781.020 (apenas 49,3% do total) foram às urnas, dando 9 milhões de votos (69% do total) para Santos e 3,5 milhões (27,5% do total) para seu adversário Antanas Mockus, do Partido Verde. Resultado que pode ser visto como uma clara mensagem ao novo presidente, a de que não conta com a maioria do povo de seu país.

Outra marca da eleição colombiana foram as denúncias de irregularidades – compra de votos, extorsões praticadas por grupos paramilitares de direita, etc. O grupo de observadores eleitorais da OEA recebeu mais de 15 mil denúncias de irregularidades.

Como Uribe, Santos faz parte da velha e anacrônica oligarquia colombiana (um tio dele foi presidente do país na década de 1930). Como ministro da Defesa do governo Uribe, foi o operador da repressão contra as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), com apoio, financiamento e orientação norte-americana. Como ministro da Defesa, esteve também diretamente envolvido no tratado que cedeu aos EUA sete bases militares na Colômbia, acentuando sua presença ofensiva em território sul-americano.

Com Uribe na Presidência e Santos à frente da repressão, a Colômbia fechou o caminho à negociação com as FARC, acentuando a opção militarista. O alinhamento automático e subalterno com os EUA deixou a Colômbia praticamente isolada no continente, acumulando problemas com vizinhos importantes como a Venezuela e o Equador. O resultado foi o aprofundamento da conflagração no país, o crescimento no número de mortos, o reforço da presença militar dos EUA, o agravamento da crise econômica e do empobrecimento da população. A partir de agosto, ele vai governar um país onde o desemprego supera os 12% e tem quase metade (44%) da população está abaixo da linha da pobreza.

As primeiras declarações de Santos, após a confirmação de sua vitória eleitoral, indicam que o novo presidente percebe as dificuldades que terá pela frente. Ele emitiu sinais apaziguadores à Venezuela e ao Equador, acenou aos partidos Conservador e Cambio Radical, e mesmo ao Partido Liberal, declarando a intenção de tê-los em seu governo. Prometeu combater o desemprego e tirar sete milhões da pobreza e quatro milhões da indigência. São promessas tênues e incertas; mais previsível é a manutenção do combate às FARC, que ele já disse que não vai mudar, o aprofundamento da subserviência aos EUA e do papel de porta-voz de Washington nas reuniões da Unidade Sul Americana de Nações (Unasul).

A continuidade venceu na Colômbia – continuidade do atraso, do domínio oligárquico, da submissão ao imperialismo. Resta ver que fôlego terá, com a legitimidade comprometida pela escassez dos votos alcançados nas urnas

Fonte: portal vermelho

O terror de ser extraditado como chefe do Cartel da Casa de Nariño

TeleSUR / ANNCOL

O presidente colombiano, Álvaro Uribe, quando faltam 50 dias para deixar a presidência, pediu para se reunir com a Corte Suprema para avaliar modificações no sistema de extradição, solicitação que foi rejeitada por este tribunal, tendo em vista as suas recentes declarações sobre decisões judiciais que "não propiciam o encontro".

Através de um comunicado enviado ao ministro do Interior colombiano, a Corte Suprema não concorda com uma reunião para tratar a questão da extradição com o presidente Uribe.

"Infelizmente, os recentes pronunciamentos do senhor presidente através de diferentes meios de comunicação, sobre as decisões tomadas por instâncias judiciais como parte de suas obrigações e competências, motivaram a Câmara Criminal da Corte a considerar que criaram, neste momento, um cenário não propicio para tal encontro", informa o documento.

O governo da ‘segurança democrática’ gaba-se de ter extraditado 1149 pessoas para os EUA, entre agosto de 2002 até o dia de hoje, a exigência de Washington para confiscar propriedades e dinheiro em contas bancárias. A tentativa de pressionar a três líderes da guerrilha das Farc para a desmobilização não teve o menor resultado.

No entanto, ao seu mentor e amigo da alma, Pablo Escobar, não foi extraditado. É de se supor que somente os seus inimigos mafiosos sofreram o duplo padrão dos gringos na hora de "aplicar a justiça".

Apesar da manipulação visceral e sistemática da mídia sobre os supostos laços entre as FARC e as máfias do narcotráfico, não há a menor evidência para acusá-los deste rentável negocio do sistema bancário global. Jamais se encontrou uma conta bancária do lendário Manuel Marulanda nos paraísos fiscais do mundo e nem tampouco encontrarão dos seus sucessores.

O presidente da Colômbia rechaçou recentemente a sentença ditada pela Justiça colombiana contra o ex-coronel Alfonso Plazas Vega, por sua responsabilidade no desaparecimento de 11 pessoas na retomada do Palácio da Justiça, ocorrida em 1985.

Uribe, após a divulgação da sentença, leu um comunicado oficial para os meios de comunicação, no qual considerou que a sentença "cria uma profunda dor e desalento nos membros das Forças Armadas, encarregadas de garantir a segurança dos colombianos".

"O único que exigimos da Justiça é justiça imparcial e oportuna diante dos abnegados integrantes das Forças Armadas", disse o presidente colombiano.

Diante deste cenário, a Corte respondeu à solicitação de Uribe de avaliar o sistema de extradição que "uma vez que se apresente um clima adequado, que possa levar a um diálogo produtivo institucional, no melhor plano de colaboração e respeito mútuo, possa se programar a mencionada reunião”.

"No cumprimento deste propósito, a autarquia atendeu aos pedidos de diálogo apresentados pelo governo nacional e tem se reunido em sessão plenária de Governo e Especializadas, para tratar das questões que foram propostas pelo Executivo, sem comprometer as competências e autonomias recíprocas, e até mesmo na Sala de Governo, a questão da extradição tem sido objeto de diálogo, onde foram colocadas ao Senhor Presidente as razões da posição da Corte Suprema sobre o assunto, que não tiveram alteração ou modificação alguma, nem foi apresentado argumento diverso”, assinalou a missiva.

Diante da determinação da Corte Suprema, o Executivo anunciou que, de qualquer forma, submeterá o sistema de extradição a modificações.

"Reiteramos amavelmente a solicitação de reunião, porque o governo está tentando introduzir modificações nas normas de extradição e queríamos tê-las consultado previamente com a Corte Suprema, mas, de qualquer forma, estamos estudando essas medidas”, disse o ministro do Interior, Fabio Valencia Cossio.

Além disso, o ministro Valencia Cossio revelou que o Governo vai propor uma nova reforma à justiça, que inclui um projeto de lei para a que o Procurador Geral da Nação seja escolhido pelo Presidente da República.

"Vamos propor ao novo Congresso que o Procurador seja escolhido diretamente pelo presidente da República. Também insistiremos nesse novo projeto na importância e transcendência de que haja dupla instância para todos os colombianos", disse Valencia Cossio.

As divergências entre o Tribunal e Uribe intensificaram-se a partir de Janeiro de 2008, quando o presidente processou ao então presidente do tribunal, César Julio Valencia, por alegada difamação e injuria.

Nesse ano também, a justiça colombiana desencadeou uma série de denúncias, que ainda estão em andamento, por espionagem ilegal contra magistrados, jornalistas e políticos da oposição, implementado pelo Departamento Administrativo de Segurança (DAS), órgão do Poder Executivo.

As atividades de espionagem da DAS foram feitas contra juízes que conduziam as investigações sobre o caso denominado parapolítica, envolvendo funcionários do governo com grupos paramilitares de extrema-direita.

domingo, 20 de junho de 2010

"CHUCKY SANTOS" É ACIONISTA DA EMPRESA DE LOGISTICA ELEITORAL COLOMBIANA

Rádio del Sur


A denúncia, que vincula o candidato presidencial do partido da U, Juan Manuel Santos, com a empresa Unión Temporal Dispoel, responsável pela logística das eleições na Colômbia, feita pelo senador Gustavo Petro, baseiam-se em um conjunto de documentos cujas copias foram obtidas pela Rádio del Sur nesta quarta-feira.

Petro denunciou que a empresa Unión Temporal Disproel, contratada pela Registradoría Nacional do Estado Civil (autarquia que organiza as eleições na Colômbia) para a distribuição de formulários, kits eleitorais o subsequente recolhimento do material eleitoral das zonas eleitorais, foi constituída por consórcio de empresas relacionadas com Juan Manuel Santos.

Trata-se das empresas Tomas Greg y Sons de Colombia, Thomas Greg y Sons Limited, Tomas Greg Express e Thomas Greg Transportadora de Valores, que desde 2002 até 2006, teve em sua Diretoria o candidato presidencial de Uribe, como pode ser comprovado nos documentos publicados por Rádio del Sur.

O denunciante questionou que a Registradoria tenha contratado uma empresa na qual um dos candidatos a presidente foi parte da sua Diretoria e perguntou a essa autarquia se este era um sinal de transparência para os colombianos.

"A empresa Disproel confecciona as cédulas de testes utilizados no dia da eleição; confecciona os Kits Eleitorais e transporta o conjunto de formularios e cédulas aos municipios e aos locais de votação, incluse recolhem os formularios e as cédulas após a eleição, estas empresas as que cuidam o coração do processo eleitoral, não apenas no primeiro turno, mas também na rodada que está prestes a ocorrer neste domingo", disse Petro.

Para o líder do Pólo Democrático Alternativo há um ato muito "obscuro" na Registradoria, porque “não é transparente que estas empresas sejam justamente as contratadas”.

"Como é que a Registradoria estabelece contrato com empresas em que um dos membros pertence à Diretoria, na minha opinião é uma falta de delicadeza da Registradoria”, afirmou Petro, acrescentando também que, com essas revelações ninguém pode garantir que as próximas eleições sejam transparentes.

sábado, 19 de junho de 2010

A guerra secreta contra a Bolívia



Fortunato Esquivel
Fonte: Rebelion.org


No início deste mês, o presidente da Bolívia, Evo Morales, voltou a denunciar à Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (USAID) e após acusá-la de se infiltrar nos movimentos sociais para provocar conflitos com o fim de desestabilizar o Governo, advertiu sobre a sua possível expulsão se persistirem nestes esforços.

Tarefa impossível para Morales. USAID jamais será moderada. Esta é uma entidade que faz parte do domínio que o imperialismo norteamericano exerce na América Latina, África e Ásia. É uma engrenagem de uma elaborada a estratégia do capital monopolista destinado a cooperar no incremento dos interesses do império.

Está máquina foi montada após a Segunda Guerra Mundial e é composta pela USAID, a Aliança para o Progresso (CIAP), substituída posteriormente pela Fundação Interamericana (IAF), o Banco de Importações e Exportações (Eximbank), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID ), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento ou Banco Mundial (BM), Organização para a Promoção do Investimento na América Latina (Adela) e seus outros tentaculos financeiros.

USAID iniciou suas atividades no governo de Harry S. Truman em 1946 e,desde então, distribuiu mais de 200 bilhões de dólares em "ajudas" militares e econômicas aos países onde exerce seu domínio na proteção dos seus interesses. Quanto a Bolívia deve a esta organização?. É um fato que deve ser conhecido.

USAID utiliza pelo menos quatro tipos de programas: Empréstimos para o Desenvolvimento, Programas de Ajuda Técnica, Fundos para Emergências e o Programa de Apoio Político-Militar. Este último faz parte de um vasto aparato de espionagem e intervenção norteamericano.

Programa de Apoio Político-Militar é a razão para sua existência, pois é destinado a conter e destruir os movimentos revolucionários na América Latina e para isso desenvolveu um manual sobre repressão confidencial, que na Bolívia foi revelado pelo já desaparecido jornal Hoy, na sua edição de 23 de novembro de 1978.

USAID opera de forma direta entre a agência e o Governo do país onde atua e, indiretamente, através das empresas monopolistas, seguindo objetivos econômico e políticos predeterminados. Este orgão tem dinheiro para os investidores ianques. Inclusive investe diretamente para conseguir influência.

O pedido de modernização feito pelo presidente Morales não vai ser cumprido nunca, pois a USAID foi organizada para isso, para conspirar e derrubar governos revolucionários e agora terá mais apoio, já que o Presidente Barak Obama acaba de aprovar novos programas de "guerra secreta" e "operações especiais" em nível mundial. A Bolívia e Venezuela estão na mira.


Obama pior do que Bush

Uma pesquisa publicada pelo jornal The Washington Post, mostra que Barak Obama acaba de autorizar a expansão da guerra secreta contra grupos radicais, aumentando o orçamento necessário.

De acordo com esse jornal, as operações especiais são realizados em 75 países, com a participação de 13 mil militares e civis, peritos em operações de inteligência, guerra psicológica, assassinato seletivo, missões de treinamento, ações encobertas e outras.

a jornalista venezuelano-americana Eva Golinger, afirmou em um de seus recentes artigos que o pesquisador Jeremy Scahill descobriu que o governo de Barak Obama enviou tropas de elite das forças especiais no âmbito do Comando de Operações Especiais Conjuntas para o Irã, a Geórgia e Ucrânia, mas também para a Bolívia, Paraguai, Equador e Peru.

O chanceler Choquehuanca, negocia a reabertura das relações diplomáticas com os Estados Unidos, mas como você pode comprovar, nem o Governo de Obama nem a USAID mudarão suas políticas. Nestas condições, não seria melhor adiar uma embaixada dos EUA na Bolívia?

Planos dos EUA para desestabilizar governos existem em muitos lugares. Estão prontos e Washington apenas espera o momento para ativá-los. O artigo de Golinger refere-se a uma alta patente militar do Pentágono, que disse que Obama está permitindo muitas ações, estratégias e operações que não foram autorizados por George W. Bush.


Mais dinheiro para desestabilizar

Haverá dinheiro de sobra para conspirar e financiar órgãos como "La Torre" em nosso país (Bolívia), que há dois anos quase consegue derrubar a Morales com um levantamento de caciques e que foi, naquela época, chamado de "golpe civico-profeitural", coordenado pelo então embaixador Philip Goldberg, expulso oportunamente.

Obama acaba de solicitar um aumento de 5,7% destinado ao orçamento de Operações Especiais em 2011. Pediu 6,3 bilhões de dólares além de 3,5 bilhões adicionais para operações encobertas de contingência. Em 2011, o orçamento de defesa total atingiu 872 bilhões de dólares, com 75 bilhões somente para a comunidade de inteligência. O dinheiro está sobrando.

No início de 2009, o Presidente Obama assinou a "Dutrina de Guerra Irregular", dando-lhe prioridade sobre a guerra convencional. Nesta o campo de batalha não tem limites, porque as táticas e estratégias não são tradicionais. A subversão, o uso de forças especiais para operações clandestinas, são as principais técnicas para desestabilizar o adversário "de dentro".

Para realizar estas tarefas, as agências como a USAID, o National Endowment for Democracy (NED) e Freedom House servirão para canalizar fundos para os atores que comandados desde Washington. A “sociedade civil” e os movimentos sociais são infiltrados nos países onde se supõe que os interesses imperiais poderiam ser afetados.

Em seu artigo, Golinger diz que uma fonte das forças especiais dos EUA comentou: "já não temos mais que trabalhar a partir das embaixadas nem temos que coordenar com o Departamento de Estado. Podemos operar de onde quisermos".

Este ano, a Venezuela esteve à beira de ser classificada como "Estado terrorista", mas Washington a retirou-a da lista para não prejudicar a venda de petróleo para os EUA. Não é de estranhar que, a respeito da Bolívia, surjam acusações de setores opositores sobre um presunto aumento do narcotráfico. O governo tem que ter em conta estes porta-vozes do imperialismo que procuram promover uma mudança de regime.

Guerra avisada não mata mouros, diz o ditado, mas é necessário estar preparado diante das ações conduzidas pelas ONG da USAID. No ano que vem, terão um orçamento maior para corromper aqueles que sempre dispostos a se vender.


Fonte: http://alainet.org/active/38923

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O G20 vota pela Grande Depressão

O que está ocorrendo agora na Europa significa o assalto final aos resíduos de Estado de bem estar do século XX (a rede de seguridade social dos EUA foi desmantelada já há muito). A mensagem do G20 parece ser esta: vamos acabar com o gasto público nacional destinado a sustentar o emprego da classe baixa. Há 20% de postos de trabalho decentes para a população em idade de trabalhar no ocidente. E para o resto? Pobreza ao estilo sul-americano. É verdadeiramente extraordinário que os eleitores do planeta sigam tolerando esse estado de coisas corrompido. O artigo é de Michael Auerback e Rob Parenteau.
Michael Auerback e Rob Parenteau (Sin Permiso)
O comunicado emitido no fim de semana passado (04-05/06) pelo G20 mostra às claras que os falcões do déficit ganharam ascendência nos círculos que determinam a política global. A Segunda Grande Depressão bate à porta.

“Os países confrontados com desafios fiscais sérios necessitam acelerar o ritmo de consolidação”, observa o Comunicado. “Saudamos os recentes anúncios de alguns países tendentes a reduzir seus déficits em 2010 e a endurecerem seus marcos e instituições fiscais”.

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean Claude Trichet disse que o endurecimento fiscal nas “velhas economias industrializadas” ajudaria à “expansão” econômica global a aumentar a confiança dos investidores. A chanceler alemã Angela Merkel disse que a Alemanha estava decidida a proceder uma rodada “decisiva” de cortes orçamentários que configuraria a política de seu governo nos anos vindouros.

Embora a economia global tenha se recuperado um pouco desde o colapso que se seguiu à quebra do Lehman Brothers, dificilmente admite a caracterização de “expansão” com que Trichet a descreveu, dadas as cifras de desemprego de dois dígitos registradas ao largo de boa parte do planeta. E a recuperação global ver-se-á gravemente prejudicada se se abandonar as políticas fiscais de apoio ativo – o tipo de estímulo público necessário para sustentar níveis maiores de crescimento e emprego -, como sugerem as discussões do G20. O novo remédio para colapsar a demanda se chama “consolidação fiscal”, um eufemismo destinado a mascarar cortes ulteriores do gasto em serviços públicos vitais.

Apesar dos esforços do Tesouro estadunidense para mitigar o sucesso da teoria econômica do [Vale] do Silício, o certo é que a administração Obama contribuiu, com sua incoerência política, ao ápice deste tipo de fanatismo da redução do déficit. O presidente e seus principais assessores econômicos –Timothy Geithner e Lawrence Summers— seguem aceitando o paradigma dos falcões do déficit: coincidem em que os déficits são “ruins” no longo prazo. Argumentam a favor da necessidade de cortes fiscais e maior gasto público no curto prazo para imediatamente procederem à redução do déficit. Também abraçam o princípio das “finanças sensatas”, ao estilo que vocês podem ler toda semana nos jornais: há que se equilibrar o orçamento ao longo do ciclo econômico e limitar-se a aumentar a oferta de moeda à medida da taxa real de crescimento do produto interno bruto. Ignoram o mais decisivo, a saber: que o governo deveria manter um nível razoável de demanda sempre, e que os princípios de “finanças sensatas” não podem se divorciar do contexto econômico.

Na Europa a coisa é ainda pior. Na Grã Bretanha, a nova coalizão conservadora/liberal-democrata se vê pressionada a eliminar os déficits públicos do Reino Unido, a despeito de o desdobramento agressivo de políticas fiscais por parte do gabinete trabalhista anterior ter conseguido esquivar a perspectiva de uma calamidade econômica de tipo islandês. Contudo, e sem a menor pretensão de ironia de sua parte, o primeiro ministro britânico David Cameron emitiu esta singular pérola:

“Nada ilustra melhor a total irresponsabilidade das políticas do último governo do que o fato de que seguiram aumentando um gasto público insustentável, precisamente quando a economia estava encolhendo!”

Então o que se deve fazer é aumentar o gasto público quando a economia está em fase de crescimento? Quando pode apresentar verdadeiros perigos inflacionários? Se estas são as políticas incoerentes que o aguardam, que Deus acuda ao Reino Unido. Se não fosse tão destrutiva, a declaração seria engraçada. Com idéias econômicas dessa qualidade não resta dúvida: o governo britânico conseguirá manter sua promessa de “décadas de austeridade”.

No resto da Europa porém a chamada “crise dos PIIGS” [Portugal, Islândia, Irlanda, Grécia, Espanha] não fez senão reforçar mais a opinião dominante, de que os déficits são ruins e desestabilizadores no longo prazo, pelo que resultariam necessárias doses drásticas de austeridade fiscal, ainda que ao custo de infligir mais dor no curto prazo.

Um erro trágico
Para voltar aos primeiros princípios: a locução “grande déficit” carece de sentido, como Biil Mitchell sustenta.

“O déficit orçamentário é a diferença entre o gasto público e a receita pública (o grosso do qual procede da arrecadação fiscal). Chamamos o gasto extra sobre os ingressos fiscais de gasto público líquido. Não é mais do que uma definição contábil (quer dizer, que registra informação sobre fluxos de gasto e de arrecadação), mas os movimentos no déficit fornecem informação sobre o estado da economia (...) o equilíbrio orçamentário move-se em direção ao déficit quando a economia está débil, porque a receita fiscal cai e os gasto com bem estar aumentam”.

Em tais circunstâncias, o governo tem de incrementar o gasto (ou diretamente, ou mediante cortes fiscais), a fim de deter a espiral para baixo do gasto privado. Em termos de contabilidade básica, o déficit público não é senão uma cópia do arrocho privado. Não é que algum tipo de vazio arraste os ingressos públicos a um gigantesco buraco negro financeiro. O que o gasto do déficit público faz é permitir que o setor privado alcance um nível desejável de arrocho. Quando este nível muda, o gasto público tem que se ajustar na direção oposta para compensar (a menos que o balanço de pagamentos também mude).

O nível de emprego é o fator que mais obviamente afeta a tendência ao arrocho do setor privado. Um desemprego maior traz consigo um aumento do desejo (uma maior necessidade) de arrocho preventivo no setor privado. O fato de que os EUA tenham hoje oficialmente algo como 10% de desemprego e de que as taxas de desemprego sejam ainda maiores na Europa significa que os governos não tem contribuído o bastante para compensar essa tendência maior ao arrocho, gerando níveis superiores de emprego.

Se o governo incorresse em excedentes orçamentários durante muitos anos, então o setor privado teria que incorrer em déficits nesse mesmo lapso temporal: endividando-se em bilhões de dólares, para que o governo possa enxugar sua dívida. Não se vê por que os lares tenderiam a estar melhores, endividando-se para que o governo se desendivide.

Deve-se entender a política fiscal como uma balança em que o gasto financiado por empréstimos tem de se compensar com a propensão ao arrocho (e a propensão à importação) além dos níveis de pleno emprego (enquanto o endividamento do setor privado não for suficiente). Nossa posição é, com efeito, uma versão do século XXI das “finanças funcionais” do grande economista pós-keynesiano Abba Lerner. Em oposição radical à errada e nociva teoria das “finanças sensatas”, Lerner explicou assim o modo como temos de decidir em matéria de política fiscal:

"A idéia central é que a política fiscal do governo (...) deveria decidir-se sempre com o olho voltado exclusivamente aos efeitos que essas ações virão a ter na economia, e não em função de alguma doutrina tradicional recebida sobre o que é sensato ou insensato”.

Lerner se propôs a levar o debate sobre política fiscal para além do que chamou “finanças sensatas” (que são precursoras do nocivo pensamento neoliberal de nossos dias).

Na linha de Lerner, sugerimos que o primeiro objetivo da política fiscal deve ser gastar em pacotes de criação de postos de trabalho produtivos. Não é possível que se arraste à deriva do capitalismo de convescote, fornecendo subsídios financeiros massivos para um punhado de ricos bem conectados politicamente. Esse tem sido o erro fundamental de praticamente todos os pacotes fiscais globais. Aos detentores de bônus se lhes segue pagando, enquanto à imensa maioria esses pagamentos servem de desculpa para cortar drasticamente o investimento nos serviços públicos vitais, aposentadorias e outros gastos públicos.

À medida que o gasto privado vá se recuperando, o déficit orçamentário começa a encolher automaticamente (através dos estabilizadores automáticos). Chegando em certo ponto, o governo tem de diminuir seu gasto líquido discrecional para evitar que o conjunto da demanda agregada (o gasto total da economia) exceda a capacidade de produção da economia. Se a demanda é rebaixada a essa capacidade, temos inflação. Claro que, quando a inflação irrompe, os governos sempre podem optar pelo aumento dos impostos para contar o gasto privado. Tudo depende do contexto econômico em que se tomem as decisões.

Com as idéias de Lerner em mente, aqui está o que em nossa opinião o G20 deveria ter dito:

“Uma economia próspera e sensata é, como efeito, um dos fundamentos da segurança nacional, senão o pilar capital (ou ainda a base mesma) de qualquer fundamento. Por isso exigimos de todas as nações que compõem o G20 que ponham em marcha um conjunto completo de medidas que assegurem o emprego e engendrem a garantia de um salário mínimo ou de subsistência para todos os solicitantes.

Na Europa, exigimos a suspensão imediata das regras restritivas auto-impostas, incorporadas ao Tratado de Maastricht. Ademais recomendamos a ampliação do Banco Europeu de Investimento para convertê-lo num mecanismo de financiamento que permita às nações com excedentes em conta corrente, como a Alemanha, reciclarem esses excedentes em países da UE com demanda deficiente e com déficits em conta corrente, para que se gere emprego adicional e com ele se facilite um melhor serviço da dívida em benefício de toda zona do euro.

Nos EUA, e em caráter imediato, terão que autorizar e pôr em marcha projetos em Detroit e ao largo da costa do Golfo do México, antes que um verão quente e longo traga estragos. A contratação de trabalhadores no Golfo será feita sobretudo com a perspectiva de restauração do meio ambiente, incluindo a maior mobilização do Corpo de Engenheiros do Exército, conhecida na história civil, para mitigar o desastre ecológico que se abate sobre nossas costas. Há que se levar a cabo as retiradas das tropas e um drástico enfraquecimento do estábulo público de que um número sem fim de contratistas privados em matéria de defesa vem se nutrindo desde antes da célebre denúncia do “complexo militar industrial” por parte de Eisenhower. E há de se levar isso a cabo, para assegurar a “neutralidade orçamentária”, a qual, diga-se de passagem é uma coisa arbitrária e manifestamente inútil, visto que o único equilíbrio fiscal sustentável é aquele que assegura o pleno emprego com estabilidade do preço dos produtos. Chegou a hora de novas diretrizes de segurança, e pedimos a todos os governos nacionais que estabeleçam a verdadeira base de segurança nacional real, que é sempre uma economia sustentável e próspera, e não uma economia espatifada pelo capital especulativo global ou por suas marionetes políticas bem instaladas em Estados predatórios”.

Quanto melhor se sirva aos interesses dos banqueiros, tanto pior irá a economia e tanto mais ela será carregada de dívidas. Os lucros dos banqueiros são comprados ao preço da austeridade. De maneira irresponsável e imoral, o Comunicado do G20 ratifica um estado de coisas que, a seguir assim terá para todos nós um preço grave.

Os políticos do G20 e seus aliados do capitalismo financeiro são como abutres que picotam um corpo agonizante. E nós estamos indefesos, porque as instituições desenhadas para servir ao bem público geral foram subvertidas. Estamos engordando os donos dos bônus e os grandes banqueiros às expensas do empobrecimento de toda a sociedade.

É muito difícil evitar conclusões menos sombrias. Nossas elites políticas descobriram que as classes baixas já não importam politicamente. Para quê se interessar pela sorte delas? Este desinteresse está se estendendo agora também às classes médias. As pessoas comuns que poderiam travar a batalha estão tão desmotivadas que não significam, já:

1. A menor ameaça eleitoral, porque nenhum dos grandes partidos políticos na Europa ou nos EUA representa seus interesses (há anos). Resultado: não se paga preço político algum por se acomodarem a este capitalismo predatório desavergonhado.

2. A menor ameaça em termos de poder, porque suas organizações foram destruídas nos últimos 30 anos, e o que está ocorrendo agora na Europa significa o assalto final aos resíduos de Estado de bem estar do século XX (a rede de seguridade social dos EUA foi desmantelada já há muito).

A mensagem do G20 parece ser esta: vamos acabar com o gasto público nacional destinado a sustentar o emprego da classe baixa.

Há 20% de postos de trabalho decentes para a população em idade de trabalhar no ocidente. E para o resto? Pobreza ao estilo da sul-americano. É verdadeiramente extraordinário que os eleitores do planeta sigam tolerando esse estado de coisas corrompido, mas fica cada vez mais difícil ver uma saída.

Marshall Auerback é analista econômico sênior e membro conselheiro do Instituto Franklin e Eleanor Delano Roosevelt, onde colabora com o projeto de política econômica alternativa New Deal 2.0. Rob Parenteau é proprietário da MacroStrategy Edge e editor de Richebacher Letter. É também pesquisador do Levy Economics Institute

Tradução: Katarina Peixoto