"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 31 de maio de 2010

A FARSA ACOMPANHADA POR FRAUDE SE CUMPRIU



ANNCOL

Essa é a história eleitoral colombiana. Bem que as FARC tinham razão ao conclamar o povo a não votar. Definitivamente são os que melhor interpretam as armadilhas e muros da oligarquia crioula e de Washington.

Passado o primeiro turno, com fraude, compra de votos, proselitismo paramilitar e militares com aquartelamento de primeiro grau, adornado com todos os tipos de crimes contra o legítimo direito de voto cidadão que se possa imaginar, e que há mais de 50 anos vem acontecendo na Colômbia com o nome de “Contenda Democrática”.

Prepararam um bufão para rivalizar e legitimar a farsa & fraude. Um neoliberal ordinário competindo com outro neoliberal de academia. Este último, sem a máquina e maliciosamente inflado pela mídia de massas e seus institutos de pesquisas. No fim perfurado para dissimular o pressuposto no dia de ontem.

O destaque, sem tentar dizer “do afogado sobrou o chapéu”. Quinze milhões de colombianos registrados e com direito a voto não votaram. Uma perigosa massa de descontentes que não deixará dormir ao sucessor de Álvaro Uribe Vélez.

Alguns reconheceram sua inconsistência, culpando os outros, com a história da Carochinha de que as “uvas estão verdes e o coração dos colombianos ainda não está aberto às mudanças sociais”. Nem sequer divulgaram os votos da chamada consulta interna da esquerda.

Em antecipação prepararam o caminho no interior do Polo para tirar da contenda ao professor Gaviria. O desprestigiaram e o criticaram sem consideração nem reparo até que, cansado das provocações e insultos, renunciou deixando seus partidários “ao Deus dará”. A oligarquia necessitava de um personagem que fosse moldável à imagem e semelhança do pós-uribismo alheio aos interesses populares. A fé que não o conseguiram. Se Gustavo Petro tem vergonha ipso facto deveria renunciar.

Simultaneamente, intensificaram a ofensiva militar contra as Farc, com toda a tecnologia gringa, dólares do tráfico de drogas, propaganda virtual 24 horas tentando demonstrar a destruição da insurgência. A ferocidade do estabelecimento contra as libertações unilaterais está relacionada com a campanha para silenciar a verdadeira oposição no país.

Os combates das últimas semanas sugerem o justamente o contrário. Uma guerrilha disposta a enfrentar, tanto no político e no militar, o novo governo. Não importando o que Washington imponha.

A tragédia colombiana deve ser estudada e assimilada. A União Patriótica foi massacrada na década de oitenta. Um projeto revolucionário proposto pelas FARC, produto dos acordos de La Uribe, no ano de 1984. Dirigido por um destacamento de homens de probidade e de coragem. Por isso os mataram.

Só nos resta dizer: A Nova Colômbia nem se constrói no narcopalácio nem nas latrinas do congresso. As ruas e as montanhas são nossas ao ritmo do povo organizado.

Colômbia terá segundo turno entre Juan Santos e Antanas Mockus

Fonte: Portal Vermelho

As eleições presidenciais colombianas terão segundo turno entre o candidato governista Juan Manuel Santos, do Partido de Unidade Nacional, e o oposicionista Antanas Mockus, do Partido Verde. Com 99% dos votos apurados neste domingo (30), o aliado do presidente Alvaro Uribe teve o dobro de sufrágios do rival em uma votação cercada de acusações de fraude, intimidação de eleitores e até mortes

O candidato governista Juan Manuel Santos obteve 46,58% dos votos, mais que o dobro do oposicionista Antanas Mockus, que obteve 21,47% da preferência dos eleitores. As pesquisas, até as vésperas da eleição, indicavam empate entre os dois.

Germán Vargas Lleras do partido Cambio Radical aparece em terceiro com cerca de 10%, seguido do candidato esquerdista Gustavo Petro, com mais de 9% dos votos.Os partidos tradicionais sairam derrotados no pleito. A candidata do partido Conservador Noemí Sanín ficou por volta de 6%, e o Rafael Pardo, do partido Liberal, teve pouco mais de 4%.

O resultado foi confirmado matematicamente com 98,13% das urnas apuradas. Um candidato deve obter a metade mais um dos votos para chegar à Presidência. Caso contrário, será disputado um segundo turno entre os dois mais votados.

O candidato governista Juan Manuel Santos, é o herdeiro e defensor da controvertida política de Segurança Democrática da administração Uribe. Neste domingo, Santos voltou a usar seu discurso de direita contra o "terrorismo" para angariar votos.
Confrontos armados

Ex-ministro de Defesa do atual governo, Santos disse que pretende ser recordado como o presidente "que deu trabalho aos colombianos".

Já o adversário verde, Mockus, prometeu governar dentro da legalidade e combater a corrupção no país. Ele confirmou ser o preferido dos eleitores mais jovens e o favorito nos grandes centros urbanos.

Pouco antes de votar, na manhã deste domingo, Mockus, disse que os colombianos "lembrarão que pela primeira vez não votou contra e sim a favor" de um projeto.

As eleições presidenciais da Colômbia foram marcadas por confrontos armados na zona rural colombiana entre militantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e soldados do governo que deixaram pelo menos três mortos e "impediram que muitos votassem", segundo observadores do pleito.

Mesmo com a segurança reforçada em todo o país por 340 mil homens, foram registradas 17 ações armadas, de acordo com o Movimento de Observação Eleitoral (MOE) colombiano.

"Esses ataques impediram que muitos eleitores chegassem aos centros de votação", afirmou à BBC Brasil Ariel Ávila, da direção do MOE.

Os confrontos aconteceram nos departamentos (Estados) de Cauca, Antioquia e Caquetá. Um guerrilheiro das Farc teria morrido no sudoeste do país. Nos departamentos de Meta e Bolívar, dois soldados do Exército também teriam caído em enfrentamentos.

O ministro do Interior, Fabio Valencia Cossio, disse ainda que a Polícia Nacional desativou três artefatos explosivos antes da abertura das urnas para o pleito que escolherá o sucessor do atual presidente colombiano, Álvaro Uribe.

Tranquilidade nas cidades

Nas cidades, o pleito transcorreu normalmente. Nos centros de votação em Bogotá, marcados com intenso fluxo de eleitores, era possível ver a polarização criada pelas candidaturas presidenciais e pelo polêmico governo de Álvaro Uribe.

O estudante universitário Sebastián Prieto, de 18 anos, que votou pela primeira vez neste domingo disse preferir Mockus porque o candidato "não pensa em consertar as consequências e sim as causas" dos problemas na Colômbia.

"Uribe fez coisas boas, mas com métodos muito caros para o país", afirmou Prieto à BBC Brasil ao criticar o caso dos chamados "falsos-positivos".

O caso, um dos escândalos que marcou a era Uribe, gira em torno de execuções extrajudiciais de jovens de baixa renda do campo e da cidade, assassinados e em seguida vestidos como guerrilheiros com o objetivo de inflar as estatísticas do Exército no combate aos grupos armados.

'Guerra'

A posição do comerciante German Díaz se dirigia à outro extremo. Pouco antes de votar, no centro da capital, na praça Bolívar, Diaz disse apoiar o candidato governista "porque viveu a guerra". A seu ver, o novo presidente deve continuar a política militar de combate às guerrilhas.

"Sei o que é viver no campo e ter que pagar pedágio para guerrilha, paramilitar, Exército, ver a morte de perto", disse Diaz à BBC Brasil.

A poucos metros deste centro de votação, a vendedora ambulante Bertha Gaitán, se queixava da situação do país, enquanto preparava "obleas", uma espécie de bolacha fininha recheada com doce de leite.

" A única coisa que resta aos pobres é trabalhar assim, na rua, sem segurança, sem direito à aposentadoria, nada", disse à BBC Brasil, ao criticar a gestão do presidente Uribe, que deixará o governo após oito anos.

"Uribe se cercou de mafiosos, governou para os ricos e está vendendo o país para os gringos (Estados Unidos)", afirmou a vendedora que até o meio dia não havia decidido se votaria ou não nestas eleições.

Alvo de críticas da esquerda e de organizações sociais, Uribe que se tornou o principal aliado dos Estados Unidos na região terminará seu controvertido mandato com cerca de 68% de popularidade.

Seu sucessor receberá um país mais seguro que há oitos anos, porém com 20 milhões de pobres, em uma população de 44 milhões, com 3,5 milhões de pessoas vítimas de deslocamento forçado em consequência do conflito armado, com 12% de desemprego, um dos mais altos índices da América Latina e com uma crise de credibilidade institucional, segundo analistas entrevistados pela BBC Brasil.

sábado, 29 de maio de 2010

Lula responde aos EUA: São as armas nucleares e não os acordos com o Irã que tornam o mundo “mais perigoso”



29 de maio: O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que são as armas nucleares e não os acordos com o Irã que tornam o mundo “mais perigoso”, em resposta às afirmações da secretária de Estado norteamericana, Hillary Clinton, que alegou que o acordo nuclear negociado entre o Brasil e a Turquia com o Irã para o intercâmbio de urânio era “para ganhar tempo” e que “comprar tempo para o Irã torna o mundo um lugar mais perigoso, não menos”.

Brasil e Turquia foram os gestores da Declaração de Teerã, assinada em 17 de maio, na qual o Irã se compromete a enviar para a Turquia 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5 por cento e receberia de volta o produto enriquecido a 20 por cento para ser utilizado com fins médicos. Embora num primeiro momento parecia que ambos os países agiam com o aval da Casa Branca, logo se comprovou que não era assim, para o contragosto de Lula, que não deixa de criticar que agora Barack Obama se oponha ao mesmo que ele, no mês passado, tinha lhes pedido através de carta. Hillary Clinton disse na quarta-feira que seu país tinha “sérias divergências com a política diplomática do Brasil em relação ao Irã”.

Ontem, durante a reunião do Fórum da Aliança das Civilizações – que justamente tem como objetivo unir o mundo ocidental e o árabe – no Rio de Janeiro, o presidente brasileiro respondeu à secretária. Sem nomear nomes, Lula criticou duramente os Estados Unidos questionando aqueles que usam a “tese sobre uma suposta divisão de civilizações” como “um pretexto para ações bélicas, chamadas de preventivas”.

Juntamente com Lula, o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan defendeu o acordo nuclear com o Irã, como forma de alcançar a paz mundial. “Quando ouço as pessoas falando de impedir o Irã de obter armas nucleares, aqueles que falam possuem armas nucleares. O Brasil e a Turquia não têm armas nucleares, nem as queremos em nossa região”, disse o chefe do governo turco. “Havia apenas uma razão pela qual o presidente Lula e eu fossemos a Teerã, essa razão é alcançar a paz mundial. Não podemos alcançar a paz mundial com a proliferação nuclear”, explicou Erdogan, descrevendo o acordo com o Irã como “uma vitória diplomática”.

Lula o acompanhou, ao afirmar que o pacto com o regime iraniano foi o começo de uma solução negociada “para um conflito que ameaça muito mais do que a estabilidade de uma importante região do planeta”.

Outro participante do Fórum do Rio foi o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, que pediu tempo para avaliar o acordo nuclear entre o Irã, Brasil e Turquia, mas que em princípio o apoiava. “Eles criaram uma nova oportunidade de eliminar as dúvidas sobre este problema”, disse ele. “Agora, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deve dar a sua posição e o próximo passo é ver as reações e esperar”, acrescentou o egípcio, que há nove anos está à frente da Liga Árabe.

FARC-EP CONVOCA O POVO A SE ABSTER NESTE DOMINGO


ANNCOL

Neste 46º aniversário das FARC-EP coincide com o fim do mandato do governo da “segurança democrática”. Um documento para o estudo do povo colombiano e do mundo.


Comunicado:

46 ANOS DE LUTA PELA NOVA COLÔMBIA

Faz quarenta e seis anos que a oligarquia mais reacionária, sanguinária, terrorista e subserviente à estratégia imperialista dos Estados Unidos na Colômbia, decidiu empurrar o país pelo pavoroso caminho da guerra, fazendo-se de surdos para os milhares de vozes que clamavam pelo imperativo do diálogo e de soluções políticas por cima das agressões militares contra os camponeses de Marquetalia. E o poder da violência e do terror, agitados em cólera e provocadora palavra do Senador Álvaro Gómez Hurtado de que nunca iriam à guerra, e que ofuscado pelo terror das falanges franquistas na Espanha, preparou, sobre a mentira, a nova justificativa para o novo ciclo da violência como método para arrasar a oposição política.

A demência do poder decretou poucas semanas para arrasar a resistência liderada pelo maior e mais firma comandante guerrilheiro de todos os tempos, Manuel Marulanda Vélez e o seu nascente Estado Maior, com Jacobo Arenas, Isaías Pardo, Hernando Gonzales, Jóselo Lozada, Ciro Trujillo, Miguel Pascuas, Fernando Bustos e Jaime Guaracas que, juntos com demais bravos camponeses, que não eram mais do que 46 vontades, enfrentaram o terror bipartidarista representado no excludente pacto da Frente Nacional, que gerou esta guerra que já leva meio século.

Desde o início da campanha oligárquica e militarista, patrocinada e planejada pelo imperialismo para justificar o terror contra o movimento agrário e Marquetalia e Riochiquito até o dia em que começaram a agressão, a nossa voz, junto com a de muitas organizações e personalidades nacionais e internacionais, vibrou propondo soluções pacificas e construtoras de democracia, de desenvolvimento humano, de fortalecimento da produção de alimentos, de equilíbrio ambiental, de reconhecimento da visão de mundo das comunidades indígenas e negras, de participação igualitária na produção e distribuição da riqueza. Mas a cegueira do poder e a postura genuflexa da oligarquia nativa diante das migalhas do mestre imperial, desqualificaram e silenciaram estas vozes. Sua história tem sido o enriquecimento a qualquer preço, com base no terror e saque.

As FARC-EP, nascidas impulsionadas pela intolerância, exclusão e perseguição violenta pelas castas que estão no poder e estabelecem os governos, “temos sido vítimas da fúria latifundiária e militar, porque aqui nesta parte da Colômbia, predominam os interesses dos grandes senhores das terras e os interesses dos reacionários mais obscurantistas do país. Por isso, tivemos de sofrer na carne e no espírito, todos as bestialidades de um regime podre que brota da dominação dos monopólios financeiros ligação ao imperialismo”, como manifestamos no nosso Programa Agrária. Nós não inventamos esta guerra, nem fomos a ela como aventura para homologar epopéias redentoras da pobreza, assumimos com dignidade e seriedade o destino político que o abominável poder oligárquico impôs para a nação, como destacávamos naquela época no Programa Agrário: “Somos revolucionários que lutam por uma mudança de regime”. Mas nós queríamos e lutávamos por essa mudança usando a via menos dolorosa para nosso povo: a via pacífica, a via democrática de massas. Essa via nos foi fechada violentamente com o pretexto fascista oficial de combater supostas “Repúblicas Independentes” e, como somos revolucionários que de uma forma ou outra assumiremos o papel histórico que cabe a nós, tivemos que procurar outra via: “a via revolucionária armada para a luta pelo poder”.

Foi assim que os poderosos do terror, transformaram-nos em combatentes da resistência que a sabedoria do povo tem alimentado neste quase meio século de ação pela dignidade, pela paz e a soberania. Temos crescido ao calor da batalha político-militar, apegados ao legado histórico que nos deixaram as comunidades indígenas na resistência contra o invasor espanhol, as lutas contra esse mesmo poder pelos negros e escravos fugidos, o levantamento guerrilheiro dos comuneiros com José Antonio Galan, Lorenzo Alcantuz e Manuel Beltran; dos forjadores das manifestações contra o poder colonial Espanhol de duzentos anos pela primeira independência com Don Antonio Nariño; pelo fogo patriótico e soberano que irradia o pensamento e o exemplo do libertador Simon Bolivar. Evoluímos na experiência dos guerrilheiros dos Mil Dias, em novecentos, contra o “regenerador” Rafael Nuñez. Temos nos enfrentado na luta contra a barbárie, relembrando a memória dos assassinados pelo exército oficial ao serviço do imperialismo na matança das bananeiras, em 06 de dezembro de 1928 na localidade de Cienaga, no departamento de Magdalena, na comprometida recordação para com todos os lutadores vitimados pelo Estado e suas estruturas paralelas para o terror. Mas temos também crescemos com a crítica, o reconhecimento, o abraço, o amor e a ternura de uma importante multidão de compatriotas que nos encorajam, com o seu próprio sacrifício, na luta para transformar o modelo econômico e as práticas políticas em vigor.

Nestes 46 anos de dura luta, temos crescido em razões e no compromisso de luta com os cada vez mais numerosos camponeses sem terra devido ao deslocamento forçado e que já ultrapassam a infame cifra dos quatro milhões pelo terror paraestatal; com os milhões de sem teto e com mais de 20 milhões de pessoas pobres que se esforçam para quebrar o império da desigualdade; com mais de 20 milhões de desempregados condenados a perambular atrás de trabalho e com os milhões de jovens que não têm acesso à educação; com a memória de todas as vítimas do terrorismo de Estado em todos estes anos de terror e que choram diariamente por justiça, bem como os mais de 2.500 assassinados pela força pública e apresentados sob o eufemismo de “falsos positivos” neste governo de Uribe Vélez; com as mulheres que tecem as esperanças de igualdade perante a violência que as oprime e lhes nega possibilidades para uma vida digna. Temos crescido no calor do combate e na experiência organizativa a cada investida militar e diante de cada ciclo para nos desacreditar e nos exterminar. O Plano Colômbia não tem diminuído a nossa força nem nossa moral; fracassou diante das inocultáveis razões do levantamento e pelo violento autoritarismo que sustenta a política de segurança do governo que termina; foi derrubado pela mentira, o crime e a corrupção, que constituem sua verdadeira natureza.

A escalada militar imperialista no nosso país, também fracassará diante da capacidade de luta e resistência da insurgência e da mobilização do nosso povo. A defesa da soberania pátria é imperativa neste tempo de reverência oligárquica aos interesses do governo dos EUA.

A nossa disposição para construir caminhos para a paz é o compromisso de sempre; pela solução política temos lutado com seriedade, com ponderação, sem enganar as maiorias nacionais, sem politicagem, sem artimanhas em todos os cenários. Assim foi com o governo de Belisario Betancur e Virgilio Barco e Casa Verde, ou em Caracas e Tlaxcala com Cesar Gaviria, ou na última tentativa em El Caguán com Andrés Pastrana. Mas a minoria excludente de políticos, empresários, latifundiários e narcotraficantes que controlam o poder, colocaram obstáculos para posicionar seus interesses, procuraram apenas abrir espaço para recompor suas estruturas de repressão estatal sob as ordens e financiamento do império, como a implementação do fracassado Plano Colômbia para impedir qualquer avanço da paz democrática e impor a linguagem do terror e da chantagem para desacreditar os movimentos de resistência e de libertação nacional, assim como desestabilizar a região diante os ventos da mudança e da soberania que acompanham o continente.

O governo que agoniza prometeu a aniquilação das FARC-EP, como uma irrefutável estratégia de manipulação mediática da opinião pública, para se exceder em as todas as formas no poder. E, com seu autoritarismo extravagante, ocultar seus crimes, suas ligações com o narcotráfico e o paramilitarismo, assim como a corrupção que borbulha por todos os cantos do palácio presidencial. Este período obscuro e letal do vaidoso potentado, que termina seu governo com uma profunda crise estrutural e com mais de cem membros de sua bancada parlamentaria comprometidos com a parapolítica, a Yidis-política e a feira dos cartórios, nunca será apagado da história da Colômbia. E os dolosos escândalos como Carimagua, Agroingreso Seguro, os decretos de emergência social, as zonas francas para incrementar a riqueza da sua família, as perseguições e grampos do DAS contra seus opositores, sindicalistas e ativistas dos direitos humanos, a perseguição aos tribunais, as reuniões palacianas com narcotraficantes, a obcecação de impor um procurador de bolso, a agressão ao território dos países irmãos, violando todas as normas do direito internacional, a ameaça aos jornalistas independentes, os “falsos positivos” e entrega do território nacional para as operações de forças militares de ocupação estadunidenses.

O debate eleitoral, cuja primeira rodada termina em maio 30, esta marcado pela intolerância e enfrentamento imposto pela autocracia uribista. As propostas, programas e compromissos com a nação foram substituídos pelo ataque grotesco e vulgar, pela propaganda negra em esforço desapiedado para apresentar os candidatos como opção mais reacionária e autoritária do que do que a que encarnou o Presidente que está de saída. Todos se esforçam para mostrar submissão ao Império, tomando posições chauvinistas contra os paises vizinhos e ajoelhados perante o amo do norte, como disse Gaitán. Nenhum deles tem levantado questões que são vitais que colocaram a nação no profundo abismo das desigualdades e do terror. Todos, em uníssono, prometem mais gastos militares e mais guerra. O horizonte delineado por estes aspirantes é obscuro e por estas razões estamos convocando à abstenção, convencidos de que só a força da mobilização de todos os colombianos poderá impor um destino certo de paz e de justiça que mande os prisioneiros de guerra de volta para seus lares, liberte guerrilheiros e os milhares de presos políticos que apodrecem nas masmorras do Estado e reconcilie e reconstrua a Colômbia. Só a luta organizada das maiorias levantadas, como ocorreu há duzentos anos, para lançar o segundo grito de nossa definitiva independência, devolverá a terra para a produção camponesa, resolverá a crise ambiental que gera constantes catástrofes naturais a cada mudança de estação e a crise alimentícia que mata a nação. E solucionará definitivamente o drama dos deslocados pela força; garantirá o acesso à educação em todos os níveis, a assistência integral à saúde, à habitação digna, ao trabalho bem remunerado e assegurará o exercício pleno e integral dos direitos humanos. Apenas a unidade de todos os revolucionários e democratas da pátria, mobilizados junto com as grandes maiorias, vai permitir-nos tirá-la da horrível noite em que foi deixada abatida pelo Uribismo e redimir a geração do bicentenário.

Neste 46 º aniversário, reafirmamos nosso compromisso com a Pátria Grande e o Socialismo, com a paz democrática como condição essencial para a reconstrução e reconciliação de todos os colombianos. Com a memória viva de todos os combatentes por uma Nova Colômbia, com a força moral do pensamento de Bolívar, Manuel Marulanda V, Jacobo Arenas, Raúl Reyes, Ivan Ríos, Efraín Guzmán, as FARC-EP, colocamos todos os nossos recursos humanos pelo acordo humanitário e pela paz na Colômbia.


Compatriotas,
Secretariado do Estado Maior das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, maio de 2010.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

OS LABIRINTOS DA OLIGARQUIA COLOMBIANA

OS LABIRINTOS DA OLIGARQUIA COLOMBIANA


À medida que se aproxima a data da farsa eleitoral para a substituição de Uribe Vélez, mais se complica o labirinto da oligarquia vende-pátria e pró ianque da Colômbia.

Depois de oito anos do Governo da ‘Segurança Democrática’, onde o Mafioso Uribe Vélez, com a ajuda da embaixada ianque e seu aparelho midiático de propaganda, convenceram o país de que a Colômbia era como a sua fazenda Ubérrimo, protegida pelo arame farpado eletrificado das bases militares e homens fortemente armados, dirigida com a única lei do ZURRIAGO e dos gritos. Hoje, Uribe derrotado, comprova com amargura que não somente a Lei nacional, mas também a internacional, são um principio inalienável e uma vitoria da humanidade, e que nenhum país, por mais atrasado que seja, pode ser um feudo isolado e inatingível no mundo global atual

Seu ministro do Interior, Sabas Pretelt, é intimado pelo ministério público colombiano por delito de suborno na aprovação da lei de Uribe para a reeleição presidencial, e seus homens fortes da cúpula militar ligados a Santos – Padilla de León – também são processados pela justiça equatoriana pelo crime internacional de invadir um país soberano e bombardeá-lo. Além disso, o secretário particular do presidente Bernardo Moreno, é convocado pelo ministério público para prestar esclarecimentos pelos delitos ordenados diretamente pelo seu chefe e cometidos pela sua Polícia Política, o DAS.

Santos, que ordenou a infiltração de paramilitares na Venezuela para derrubar e/ou assassinar o seu arquiinimigo, o presidente Chávez, ordenou o sequestro de Rodrigo Granda em Caracas para levá-lo para Bogotá, às escondidas, tem feito campanha presidencial baseada em cartazes e frases com insultos ao presidente venezuelano; como reação, recebeu a notificação oficial de que, no caso de chegar à presidência da Colômbia, todas as relações com a vizinha Venezuela serão anuladas.

1º Labirinto – Se Santos, como presidente da Colômbia, não pode viajar para fora das suas fronteiras porque a justiça equatoriana pode prendê-lo, e as relações com a Venezuela, especialmente as econômicas, serão de zero pesos, então, para que fazê-lo presidente da Colômbia?

2º Labirinto – Mokus é uma carta muito antiga do grupo dos neoliberais dirigidos por Hommes e Armando Montenegro Trujillo, representante do banqueiro Nathan Mayer Rothschild and Sons, através da empresa AGORA, preparado para no caso de Santos ter problemas. Prepararam sua campanha eleitoral, sem saber que tinha Mokus tinha o Mal de Parkinson, baseada na fadiga da guerra e no cansaço da sociedade colombiana da lei arbitrária do chicote e dos gritos do Mafioso. E funcionou. Sua proposta de restabelecer a legalidade foi muito bem recebida pela classe media urbana, até se apresentar na TV, quando uma jornalista partidária de Santos e colunista do jornal El Tiempo, perguntou-lhe pela sua “tremedeira”. Mokus teve que disfarçar a divulgação de seu segredo, de que era portador do Mal de Parkinson, com a história verde da sua honestidade. Os números das pesquisas eleitorais se estabilizaram e a onda verde começou a perder a cor. O Papa João Paulo II, que não tinha inimigos por fora da batina, podia ter o Mal de Parkinson, mas um presidente da Colômbia, com todos os inimigos possíveis, afetado por essa doença? Vejam o quê aconteceu com Virgilio Barco que era afetado por uma doença cerebral parecida!
3º Labirinto – Noemí. Confiar neste camaleão traidor, agora antiuribista, que somente esteve nas embaixadas da Colômbia em Madri e Londres, fingindo ser um puro sangue, quando na realidade conspirava com Pastrana para se beneficiar, ela e seu pequeno grupo conservador, dos milionários negócios feitos com os grupos espanhóis e ingleses?

4º Labirinto – Petro, que tem feito tudo o humanamente possível para que lhe perdoem a sua militância no M-19, sem que NINGUÉM acredite nele; poderá governar a Colômbia liderando um partido de esquerdistas?

5º Labirinto – O golfinho Vargas Lleras, o verdadeiro e único representante da oligarquia aristocrática e dos militares, não consegue obter opinião nem receber apoios organizativos importantes. Como se pode fazê-lo ganhar?

6º Labirinto – Pardo Rueda, apesar das pesquisas não o favorecerem por ter sido imposto por Cesar Gaviria ao Partido Liberal, fica como última possibilidade para encontrar a saída do labirinto, porque conta com a máquina do Partido, o trapo vermelho e a amizade estreita do embaixador Brownfield. Será Pardo Rueda a surpresa eleitoral anunciada que o converterá no Novo Presidente da Colômbia? Será por isso que Gaviria, ultimamente, tem sido visto tão eufórico e triunfalista gritando: “vai vermelho, vai vermelho”?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

46 anos de batalhar por uma Nova Colômbia.

Há 46 anos que a oligarquia mais reacionária, sanguinolenta, terrorista e submissa à estratégia imperialista dos estados Unidos na Colômbia, decidiu empurrar a nação pelo pavoroso caminho da guerra, fazendo ouvidos surdos às milhares de vozes que clamavam pelo diálogo e as saídas políticas por encima das agressões militares contra os camponeses de Marquetalia.

Nesse tempo, o poder da violência e o terror, agitado pela provocadora palavra do senador Álvaro Gómez Hurtado que nunca iria à guerra, e que fantasiado pelo terror das falanges franquistas em Espanha, ambientou, sobre a mentira, a nova justificação do novo ciclo de violência como metodologia para arrasar o opositor político.

A demência do poder decretou que em poucas semanas arrasaria com a resistência encabeçada pelo mais grande Comandante Guerrilheiro de todos os tempos, Manuel Marulanda Vélez, e seu nascente Estado Maior, com Jacobo Arenas, Isaías Pardo, Hernando González, Joselo Lozada, Ciro Trujillo, Miguel Pascuas, Fernando Bustos e Jaime Guaraca, que juntos com os demais bravos camponeses, que não eram mais de 46, enfrentaram o terror bipartidista representado no excludente pacto da Frente Nacional, que engendrou essa guerra que em breve alcança o meio século.

Desde o início da campanha oligárquica e militarista, auspiciada e planificada pelo Imperialismo para justificar o terror contra o movimento agrário de Marquetalia e Riochiquito, e até o dia em que iniciaram a agressão, nossa voz, junto à de muitas organizações e personalidades nacionais e internacionais, vibrou com firmeza propondo saídas incruentas e construtoras de democracia, de desenvolvimento humano, de fortalecimento da produção de alimentos, de equilíbrio ambiental, de reconhecimento à cosmovisão das comunidades indígenas e dos negros, de participação equitativa na produção e distribuição da riqueza. Mas, a cegueira do poder e a genuflexa postura ante as migalhas do amo imperial, da oligarquia crioula, desqualificou e silenciou essas vozes, pois só busca o enriquecimento a base do terror e o despojo.

As FARC-EP somos fruto da intolerância, a exclusão e a perseguição violenta das castas que ostentam o poder e estabelecem os governos. "Temos sido vítima do furor latifundiário e militarista, porque aqui, em esta parte da Colômbia, predominam tanto, os interesses dos grandes latifundiários, quanto os interesses dos reacionários mais obscurantistas do país. Por isso, temos sofrido na nossa carne e em nosso espírito, todas as bestialidades de um regime podre que brota da dominação dos monopólios financeiros entroncados com o Imperialismo.", manifestamos em nosso Programa Agrário.

Não inventamos esta guerra, nem fomos a ela em busca de aventura para homologar epopéias redentoras dos pobres, assumimos com dignidade e seriedade o destino político imposto pelo abominável poder oligárquico à nação, como o manifestamos nessa época no Programa Agrário: "...somos revolucionários que lutamos pela mudança do regime. Mas, queríamos e lutávamos por esse mudança usando a via menos dolorosa para nosso povo: a via pacífica, a via democrática de massas. Essa via nos foi fechada violentamente, com o pretexto fascista oficial de combater supostas "Repúblicas Independentes" e como somos revolucionários que de uma ou de outra maneira cumpriremos o papel histórico que nos corresponde, nos tocou buscar a outra via: a via revolucionária armadas para a luta pelo poder". Foi assim como os potentados do poder nos transformaram em combatentes da resistência que a sabedoria do povo tem nutrido nesse quase meio século de acionar pela dignidade, a paz e a soberania.

Temos crescido ao calor do batalhar político-militar, aferrados ao legado histórico que nos deixaram as comunidades indígenas na resistência contra o invasor espanhol, as lutas contra esse mesmo poder desenvolvidas pelos negros e pardos, o levantamento guerrilheiro dos Comuneros com José Antonio Galán, Lorenzo Alcantuz e Manuela Beltrán. Nos animam os forjadores das mobilizações pela primeira independência do colonizador espanhol, há duzentos anos com Antonio Nariño; o fogo patriótico e soberano do pensamento e o exemplo do Libertador Simón Bolívar. Temos assimilado a experiência dos guerrilheiros dos mil dias, no ano de 1900 contra o "regenerador" Rafael Núñez. Consolidamos nossa luta contra a barbarie, ondeando a memória dos assassinados pelo exército oficial ao serviço do Imperialismo no massacre das Bananeiras, em 6 de dezembro de 1928 em Ciénaga, estado de Madalena, no comprometida lembrança de todos os lutadores assassinados pelo Estado e suas estruturas paralelas para o terror. Mas, também, temos crescido com a crítica, o reconhecimento, o abraço, o amor e a ternura de um importante número de compatriotas que nos animam com seu próprio sacrifício na luta por transformar o sistema econômico e os costumes políticos implantadas.

Nesses 46 anos de árdua luta, temos crescido em razões e no compromisso de luta com os cada vez mais numerosos camponeses sem terra vítima do deslocamento violento do terror para-estatal e, que já superam a infame cifra dos 4 milhões; com os milhões de sem-teto e com os mais de 20 milhões do pobres que se esforçam por romper o império da desigualdade; com os mais de 20 milhões de desempregados e com milhões de jovens sem acesso à educação; com a memória de todas a vítimas do terrorismo de Estado em todos esses anos de terror e que diariamente clamam justiça, assim como os mais de 2.500 assassinados pela força pública e apresentados sob o eufemismo de “falsos positivos" no atual governo de Uribe Vélez; com as mulheres que almejam esperanças de igualdade ante uma violência que as oprime e nega possibilidades de vida digna. Temos crescido no fragor do combate e na experiência organizativa ante as inúmeras arremetidas militaristas contra nós.

O Plano Colômbia não tem diminuído nossa fortaleza nem nossa moral revolucionária. Pelo contrário, fracassou ante as razões de nosso alçamento armado, impossível de invisivilizar e, pelo violento autoritarismo que sustenta a política de segurança do governo que termina, ademais da mentira, o crime e a corrupção que constituem a verdadeira natureza desse Plano de guerra. A escalda militar imperialista em nossa pátria, também, fracassará ante a capacidade de luta e resistência da Insurgência e a mobilização de nosso povo. A defesa da soberania é um imperativo neste tempo de reverencia oligárquica ante os interesses do governo estadunidense.

Nossa disposição a construir caminhos de paz é um compromisso de sempre; pela saída política temos lutado com seriedade, com ponderação, sem enganar as maiorias nacionais, sem politiquerias, sem armadilhas, em todos os cenários. Assim foi com o governo de Belisario Betancur e Virgilio Barco em Casa Verde, ou em Caracas e Tlaxcala com César Gaviria, ou no último intento em El Caguán com Andrés Pastrana. Mas, a excludente minoria de políticos, empresários, latifundiários e narcotraficantes que ostentam o poder, têm colocado todo tipo de argumentos falsos com tal de salvaguardar seus interesses e, buscado abrir espaço para refazer suas estruturas de repressão estatal sob ordens e apóio econômico do Império, como a implantação do fracassado Plano Colômbia para impossibilitar qualquer avanço de paz democrática e impor a linguagem do terror e a chantagem para exterminar os movimentos de resistência e libertação nacional, assim como desestabilizar a região ante os ventos de mudança e soberania que acompanham o Continente.

O governo que agoniza prometeu o extermínio das FARC-EP, e mediante uma nefasta estratégia de manipulação midiática da opinião, fez e desfez desde o poder e com seu extravagante autoritarismo ocultou seus crimes, seus vínculos com o narcotráfico e o paramilitarismo, assim como a corrupção que existe em todos os cantos do Palácio Presidencial. Jamais se apagará da história da Colômbia esse período obscuro e letal do vergonhoso potentado que culmina seu governo, com uma profunda crise estrutural, e com mais de 100 membros de sua bancada parlamentar, comprometidos com a para-política; a Yidis-política e a féria dos Cartórios. E os escândalos dolosos como Carimagua, Agro-ingresso Seguro, os decretos da emergência social, as zonas francas para incrementar o patrimônio da família do presidente, a perseguição e grampos do DAS a opositores, sindicalistas, e ativistas de Direitos Humanos, a perseguição das Altas Cortes, as reuniões secretas com narcotraficantes, a obsessão por impor um Fiscal de bolso, a agressão ao território dos países irmãos, violando todas as normas do Direito Internacional, a ameaça a jornalistas independentes, os "falsos positivos" e a entrega do território nacional para a operação de forças militares de ocupação norteamericanas.

O debate eleitoral cujo primeiro turno será em 30 de maio, está dominado pela intolerância e a luta desigual impostas pela autocracia Uribista. As propostas, programas e compromissos com a nação têm sido substituídos pelo ataque grotesco e vulgar, pela propaganda negra em um esforço desmedido por apresentar um ou outro dos candidatos, como a opção mais reacionária e autoritária que a encarnada pelo mandatário atual. Todos os candidatos se esforçam por demonstrar submissão ante o Império, assumindo posições chovinistas contra os vizinhos e de joelho em terra ante o Império do Norte, como afirmou Gaitán. Ninguém tem proposto os temas vitais que têm a nação no abismo profundo das desigualdades e do terror. Todos prometem mais gasto militar, mais guerra.

É obscuro o horizonte apresentado por esses aspirantes à Presidência. Por isso estamos convocando à abstenção, convencidos de que só a força da mobilização de todos os colombianos pode impor um destino certo de paz e de justiça que retorne aos prisioneiros de guerra a suas famílias, libere os guerrilheiros e os milhares de presos políticos que apodrecem nos cárceres do Estado, reconcilie e reconstrua a Colômbia. Só a luta organizada das maiorias levantadas, como há duzentos anos, para lançar o segundo grito pela nossa definitiva independência, devolverá a terra para a produção camponesa, resolverá a crise ambiental que gera constantes desastres naturais em cada mudança de estação e a falta de alimentos que mata a nação. E solucionará definitivamente o drama dos deslocados; garantirá o aceso à educação em todos os níveis, saúde integral, a moradia digna, o emprego remunerado justamente e o exercício pleno dos Direitos Humanos. Só a unidade de todos os revolucionários e democratas da pátria, mobilizados junto às grandes maiorias permitirá acabar com a horrível noite deixada pelo Uribismo e redimir a geração do Bicentenário.

Neste 46 aniversário ratificamos nosso compromisso com a Pátria Grande e o Socialismo, com a paz democrática como condição essencial para a reconstrução e reconciliação de todos os colombianos. Com a memória viva de todos os lutadores pela Nova Colômbia, com a força moral do pensamento de Bolívar, Manuel Marulanda, Jacobo Arenas, Raúl Reyes, Iván Ríos, Efraín Guzmán, as FARC-EP disponibilizam todos nossos recursos humanos pelo Acordo Humanitário e a Paz da Colômbia.

Compatriotas,

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, maio de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sonho e realidade na América do Sul*

ANTONIO JOSÉ FERREIRA SIMÕES**

UMA DÉCADA se passou desde que o Brasil tomou a iniciativa de convocar, em Brasília, a 1ª Reunião de Presidentes da América do Sul, realizada no ano 2000. Quase oito anos depois, em maio de 2008, o presidente Lula recebeu os chefes de Estado da região para a assinatura do tratado que fundou a União Sul-Americana de Nações (Unasul).

Para quem hoje observa a intensidade da agenda regional, é difícil imaginar que, até há pouco, os líderes do continente jamais tivessem se reunido. Dez anos atrás, a articulação da América do Sul não passava de um sonho. Hoje, é uma realidade concreta.

As estatísticas comprovam o sucesso da integração sul-americana. Desde o ano 2000, o comércio total do Brasil com a região passou de US$ 22 bilhões para US$ 63 bilhões. Em 2002, nossas exportações para os vizinhos somaram US$ 7,5 bilhões.

Em 2008, alcançaram 38,4 bilhões: um aumento de 412%. Em 2009, o índice de bens industrializados nas exportações brasileiras para a região alcançou cerca de 90% -vendemos, na nossa vizinhança, bens de alto valor agregado. Essas mercadorias geram renda e empregos com carteira assinada para milhões de brasileiros.

A presença das empresas brasileiras na América do Sul é crescente e tem transformado a infraestrutura de países vizinhos, com a construção de estradas, aeroportos, hidrelétricas, petroquímicas. Para apoiar esse esforço, o Brasil financia parte dos projetos, sobretudo por meio do BNDES.

O total de financiamentos em 2009 chegou a US$ 8 bilhões para a América do Sul. Cerca de US$ 3,1 bilhões referem-se a projetos em execução ou já concluídos, e outros US$ 4,9 bilhões, a projetos já aprovados.

São obras que ajudam a economia brasileira e contribuem para o desenvolvimento dos países da região. Os investimentos diretos das empresas brasileiras também têm crescido.

Na Argentina, por exemplo, o estoque total é estimado em US$ 8 bilhões. A América do Sul é o espaço primordial para a transnacionalização das empresas brasileiras.

Nem ingenuidade nem ideologia explicam a vertente sul-americana da política externa brasileira. Por ser o Brasil a maior e mais diversificada economia da região, é inevitável que o país exerça o papel de propulsor da integração. Solidariedade não é sinônimo de ingenuidade.

Porque queremos abrir mercados na América do Sul, interessa-nos que nossos vizinhos também sejam cada dia mais prósperos.

O Brasil deseja que a prosperidade e a justiça social se espalhem pela América do Sul. A política solidária não é incompatível com a busca de nossos legítimos interesses.

Um Brasil que contribui para a prosperidade continental reforça suas credenciais como fator de estabilidade e progresso no mundo. Junto com isso, avançam a democracia e um sistema econômico aberto.

Será preciso, porém, reforçar a consciência de nossos interesses comuns de longo prazo. Se franceses e alemães tivessem optado, no final da 2ª Guerra Mundial, pelos ganhos de curto prazo, perdendo-se na mesquinhez da contabilidade das reparações e no exercício das recriminações, teria sido possível construir o edifício que é hoje a União Europeia?

A política externa brasileira para a América do Sul não se pauta apenas por uma visão pragmática de viabilização de negócios e investimentos mas também está imbuída de uma visão política, estratégica, social e cultural de longo prazo.

Aqui, idealismo e realismo se combinam: o primeiro nos inspira a buscar um futuro melhor; o segundo nos estimula a colocar as mãos à obra.


* Nota do Secretariado Nacional do PCB: Este artigo é escrito por um importante diplomata de carreira brasileiro, especializado em América Latina. Com conhecimento de causa e franqueza, o autor ajuda a compreender a análise do PCB sobre a política externa do governo brasileiro.

** ANTONIO JOSÉ FERREIRA SIMÕES é subsecretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Foi embaixador do Brasil em Caracas (2008-2010), diretor do Departamento de Energia (2006-2008) e secretário de Planejamento Diplomático (2005-2006) do MRE.

terça-feira, 25 de maio de 2010

"Há que retirar as FARC e o ELN da lista de terroristas se se quiser avançar o processo de paz"

Por Piedad Córdoba

Em conferência de imprensa realizada em Madrid a 15 de Maio, a senadora colombiana Piedad Cordoba assinalou os seguintes pontos:

1. VISIBILIZAR A REALIDADE E O DRAMA NA COLÔMBIA

"Visibilizar... há a necessidade de que se conheça (...) Governos como o da Espanha ratificam o seu apoio à guerra na Colômbia (...) partem do desconhecimento de que na Colômbia existe um conflito social e armado".

"O argumento poderoso que esgrimem os Estados Unidos e o seu subalterno na Colômbia para justificar a presença de sete bases militares (...) é supostamente "combater o terrorismo e o narcotráfico".

2. O CONCEITO DE "TERRORISMO"

"(...) O conceito de "terrorismo" deveria ser um conceito jurídico e não um conceito político que se move ao sabor das mesmas bases militares, ou seja, ao sabor dos interesses que têm governos como o dos Estados Unidos"

"Preocupa-nos enormemente que a vice-presidenta do país (EUA) haja declarado que continuam com a sua política de apoio à "Seguridad Democrática~", com a sua política de poio à "luta contra o narcotráfico e contra o terrorismo" e de maneira muito categórica de combate contra as FARC. Preocupa-nos enormemente porque isto é uma carta de corso para um governo que expira e que, de qualquer forma, o facto de Uribe ir embora não significa que a política que traçou vá com ele".

3. CONTINUIDADE DA POLÍTICA DE EXTERMÍNIO NO GOVERNO QUE VEM

Manifestação de deslocados em Bogotá. "(...) o facto de Uribe ir embora não significa que a política que traçou vá com ele... Muito pelo contrário... serve de argumento para que muitos candidatos presidenciais, num clima eleitoral muito complexo, em lugar de propor a defesa da soberania nacional, da soberania popular, firmem-se nestes conceitos de países como estes (EUA) para continuar uma política degradante (...)"

"E valeria a pensa mencionar resultados das 'bondades' da política de seguridad democrática que o governo nacional tanto exibe:

Cinco mil assassinatos a sangue frio que hoje são conhecidos eufemisticamente como "falsos positivos" e que foram em grande medida dirigidos por quem é hoje candidato presidencial, que era então ministro da guerra do país"

Em segundo lugar, mencionar um número escandaloso que ao invés de diminuir aumenta: 4 milhões de refugiados internos, o que nos coloca no primeiro lugar da América Latina e em segundo lugar, depois do Sudão, a nível mundial (de deslocamento forçado) (...) situações que a imprensa apenas começa a evidenciar".

4. FORNOS CREMATÓRIOS

"Com uma profunda tristeza temos que reconhecer que factos muito repugnantes que foram recusados por toda a humanidade hoje têm lugar na Colômbia, como é o caso dos fornos crematórios. Não só na zona de Catatumbo como também em regiões como o departamento de Antióquia" (minuto 05:16)

"Muitas das vítimas não só foram cremadas depois de assassinadas como também muitas da vítimas foram queimadas vivas para pô-las como escarmento daqueles que, como camponeses, recusavam a presença dos paramilitares e recusavam-se a delatar o que muitas vezes não sabiam (...) Este é um dos resultados da política da Seguridad Democrática..."

5. A UE APOIA O EXTERMÍNIO E OS DESAPARECIMENTOS

"Todo isto é muito importante que seja dito aqui na Espanha, precisamente hoje onde acaba de concluir um fórum de jornalismo no país e onde os que considerávamos que poderiam ser nossos aliados para acabar com factos desta natureza não só apoiam sem qualquer discussão o TLC entre a UE e a Colômbia como além disso continuam a apoiar uma política de guerra, de extermínio, de desaparecimentos".

6. DESAPARECIDOS: 250 MIL

"Um número muito recente revela que a nossa recusa às bases militares no país tem razão de ser... em números como este: O CODHES revela que o número de desaparecidos nos últimos três anos é de 38.255, que se somam ao total de 100 mil desaparecidos nos últimos dez anos... verificando-se um aumento impressionante (...) O promotor anterior revelou, 15 dias antes de terminar o seu mandato, um número que foi escalafriante e contudo passou desapercebido... 250 mil desaparecidos na Colômbia nos últimos anos... Ou seja, nós superámos há muito esses números que com tanto pavor deram calafrios a muitas pessoas no mundo como o que ocorreu no Chile e na Argentina, mas que superámos de maneira espantosa".

7. FOSSAS COMUNS DANTESCAS

"(...) Em cerca de duas semanas vamos receber os restos da maior fossa comum (...) a da Meta de la Sierra de la Macarena, com 2000 cadáveres nessa fossa comum, mas ao lado dessa fossa comum está a do Guaviare que segundo informações é inclusive muito maior que esta, e que está no território de uma base militar do exército na Colômbia (...) ou seja, pode-se perguntar: "O que é o que realmente estão a apoiar estes governos" Que percepção têm do que realmente está a ocorrer no país" (minuto 08:29)

8. DETENÇÕES ARBITRÁRIAS, PRESOS POLÍTICOS

"Para não falar da quantidade de detenções arbitrárias e maciças que se estão a verificar permanentemente na Colômbia; da quantidade de processados aos quais não se lhe tem em conta o processo devido, que permanecem anos e anos nos cárceres... Os senhores devem conhecer a detenção do professor Miguel Ángela Beltrán, sequestrado em outro país, e que até à data não teve um julgamento que lhe permita defender-se realmente, pois é condenado de antemão e o que se faz é um arremedo de julgamento, mas não há um julgamento que lhe dê a garantia ao devido processo" (minuto 09:07)

"Os advogados que enfrentam o tema dos direitos humanos não têm mãos a medir... é tanta a gente detida arbitrariamente que muitas pessoas não têm apoio para a sua defesa (...) entre outras razões porque o advogado que se atreve a defender qualquer destas pessoas detidas é acusado também de ser 'terrorista' e de pertencer ao ELN ou às FARC... ou seja, é um quadro realmente horripilante o que nós vivemos".

9. O DAS: ESPIONAGEM, DESPRESTÍGIO, MONTAGENS, AUTO-ATENTADOS, ASSASSINATOS

"O escândalo do DAS é de uma magnitude tão impressionante que aquilo que fez Nixon foi um jogo infantil em comparação com o que se passou na Colômbia (...) Toda uma estratégia criminosa a partir do Estado, a partir dos serviços de inteligência... Não só para fazer seguimentos a governos como o do Equador, Venezuela, Cuba (...) Como também toda uma estratégia para montar acusações, para fazer marcações... para rebaixar a condição de defensor de direitos humanos (...) Um estratégia absolutamente perversa que, há que dize-lo, deu muitíssimos resultados... e digo isto como prolegómeno ao das bases militares (...) Foi-se gerando uma matriz de opinião, foi-se preparando a opinião pública" (minuto 10;37)

E mais adiante na intervenção de Piedad Córdoba:

"seguimento da embaixada de Cuba... da embaixada da Venezuela..."
"a DEA pagava a sede onde se faziam os seguimentos".

10. COMPUTADOR MÁGICO QUE GERA "PROVAS" (minuto 12:00)

"Eu pessoalmente não pude saber qual é a marca do computador de Reyes, apesar de ter de me defender perante o supremo tribunal (...) É como a lâmpada de Aladino, cada vez que o senhor a fricciona sai a mensagem que o senhor precisa, na medida, no tamanho e na estatura da pessoa que o senhor pretenda incriminar".

"É o computador mais estranho do mundo: tem dentro de si toda a esquerda do universo, não só da Colômbia como também do universo (...) Se friccionarem um pouquinho esta semana vão sair estudantes de Porto Rico..."

"O preocupante disto, e digo-o em tom satírico, é que nenhum de nós conhece o computador... ou seja, nós que estamos no processo perante a o supremo tribunal, e que exigimos que o tragam par sabermos o que é realmente o que apareceu no computador... Ninguém sabe onde está o computador... O seja, o computador é invisível, aparece unicamente quando se necessita uma mensagem (...) mas isso sim, conseguiu fazer realmente dano frente ao respeito pelo processo devido (...) Fez muito dano em tudo o que significa direito opinar livremente... um dos maiores danos que se fizeram à sociedade colombiana, a partir de uma instância da inteligência do Estado (o DAS)".

"A partir de uma instância da inteligência do Estado... um dos membros do DAS revela de que maneira se fez o seguimento à embaixada de Cuba, de que forma se fez o seguimento da embaixada da Venezuela (...) Declara em testemunho juramentado perante a promotoria geral da nação que o DEA pagava, através da embaixada dos EUA, a casa, a sede a partir de onde se faziam todos os seguimentos... ou seja coisas que se podia prever, mas que muitas vezes as pessoas crêem que isto faz parte da imaginação daqueles como nós que estamos na oposição, pois hoje pode-se comprovar de ciência certa de que realmente existiram (...) como se fez toda uma estratégia de guerra suja ou propaganda negra".

11. MISÉRIA, EXCLUSÃO E MENTIRAS

"(...) Muito tempo desenhando toda uma imagem que deu lugar a que a opinião pública considerasse que os inimigos da Colômbia somos nós que estamos na oposição, nós que assinalamos que na Colômbia há um regime absolutamente injusto, excludente, que permite que haja 18 milhões de pobres, 7 milhões de indigentes, que haja gente que não come (...) Porque na Colômbia se chove são as FARC e se faz sol é Chávez, ou se faz sol são as FARC e se chove é Chávez... ou seja, não há nada que se passe na Colômbia que não lancem a culpa a Chávez ou às FARC (...)

"Não há coisa mais surrealista do que dizer que as FARC estão totalmente derrotadas e pretender que todos os dias apanham o chefe financeiro das FARC... ou seja, esse movimento tem algo como 700 chefes financeiros! ... Não há coisa mais surrealista que dizer que as FARC estão totalmente derrotadas e ao mesmo tempo o ministro da defesa acabar de dizer que as FARC têm totalmente sob controle a região do Cauca, no Sul do país (...) Então eles próprios geraram todo este cenário para poderem instalar as bases militares (...) Toda esta política foi a preparação para que as pessoas pudessem tragar sem qualquer explicação a instalação de sete bases militares".

12. PARAMILITARISMO CONTRA HONDURAS E VENEZUELA

"A instalação de sete ou mais bases militares teve como pano de fundo gerar cenários que tornaram possível que o país considerasse que era válido invadir o território equatoriano, que era válido promover o paramilitarismo (...)"

"Fazer toda uma Estratégia de Paramilitarismo que revelou que se pretendeu efectuar, a partir da Colômbia através dos paramilitares, o golpe e o assassinato contra o presidente Chávez (...) que revelou além disso o exército paramilitar que se enviou a Honduras para garantir depois de dado o golpe de Estado que se mantivesse no terror a população hondurenha... Os senhores recordam que a população hondurenha começou a sair às ruas, a participar... e de um momento para outro foi lançada para trás... foi porque chegou um exército de paramilitares a partir da Colômbia"

"Chegou a Honduras um exército paramilitar da Colômbia"

"Quando se conseguiu o controle e se conseguiu consolidar o golpe de Estado nas Honduras, e que se permitiu além disso a eleição do actual presidente golpista, o senhor Lobo... o sr. Santos diz: nós ganhámos uma batalha mas não ganhámos a guerra, porque a guerra significa derrubar Chávez".

13. SETE BASES MILITARES DOS EUA NA COLÔMBIA: EXTRATERRITORIALIDADE DA GUERRA CONTRA A AMÉRICA LATINA

"Nunca se deu o debate acerca das bases... instaladas sob pretexto de combater o narcotráfico" (...) e aqui faça um pequeno desvio: Combater qual narcotráfico?"

"A senadora Gloria Ramírez, do partido comunista, dá conta da localização de cada uma das bases num debate que inclusive está na Internet (...)"

"Cada uma destas bases está situada onde há projectos estratégicos importantes, recursos estratégicos, onde há recursos naturais importantes (...) As bases não têm nada a ver com a luta contra o narcotráfico... muito pelo contrário: O conflito colombiano é uma elemento de extraterritorialidade da guerra frente a América Latina e frente a outros países do mundo... Por isso o não reconhecimento de que na Colômbia existe um conflito social e armado não se destina simplesmente a considerar as FARC e o ELN são um grupo de facínoras e sim que obviamente por trás disso (o não reconhecimento) há toda uma pretensão com carácter de dominação política, militar, hegemónica, para expandir a guerra rumo à América Latina..."

"Contravenção à soberania nacional (...) A lei existe mas não se aplica: isso tem sido muito recorrente durante os oito anos da ditadura constitucional de Uribe, ou seja, o conceito prévio do Conselho de Estado era um requisito para a instalação da bases militares (Não foi consultado) (...) converter o território num território de ocupação estrangeira"

"O tema das bases militares é supremamente indignante porque tem a ver não só com soberania popular como também com a soberania jurídica (...) há algo semelhante com a perda de soberania que se dá no tema da extradição (...) nós renunciámos à nossa soberania jurídica para aplicar uma jurisdição que está totalmente relacionada com os interesses hegemónicos em termos do que tem a ver com a soberania dos recursos, com a nova forma de inteligência que se dá nos EUA partir do 11 de Setembro quando tomam a decisão de levantar as 800 bases militares no mundo... Mas sobretudo pela capacidade que tem um porta-avião de transportar quantidades de urânio sem ter de abastecer combustível, a capacidade fazer inteligência a partir dessas bases militares (...) é a intenção da instalação das bases militares, que foram além disso presenteadas (...) um presidente que disse aos Estados Unidos... querem 7, querem 14, aceitamos 15 (...) quantas querem?"

14. EXTRADIÇÃO PARA SILENCIAR A VERDADE

"Quando extraditaram os 14 chefes paramilitares, nós que nos opúnhamos opunham categoricamente à Lei de Justiça e Paz, opusemo-nos também à sua extradição, porque esses chefes paramilitares haviam denunciado a participação do Estado no narcotráfico e delitos de lesa humanidade, e ao que significa uma paramilitarização total do Estado colombiano..."

15. MASS-MEDIA CÚMPLICES

"Toda uma estratégia a partir dos meios de comunicação dos quais haveria que falar: jamais os meios de comunicação abriram sequer um debate frente à pertinência da instalação ou não das bases militares em território colombiano, da ocupação militar da Colômbia".

"A política de Seguridad Democrática é um fracasso total... ninguém pode dizer que a política tem que (...) vestir de guerrilheiros os camponeses, assassiná-los e mostrá-los como "positivos" do exército!... Por isso chamam-se "falsos positivos" (...) para que os militares recebam o dinheiro que a cooperação internacional dá à Colômbia para 'combater o terrorismo' ".

"Pergunto-me: o terrorismo? mas qual?... o que fazem as pessoas que estão a morrer de fome, que não têm emprego, que não podem entrar na universidade, que não podem estudar?... Ou terrorismo é o que faz o Estado ao fazer esse tipo de alianças e de instalação de bases militares no país?"

"Não foi ganha a 'luta contra o narcotráfico'... A comunidade mundial tem que começar a olhar de que maneira procuramos uma saída com ela para que se acabe o narcotráfico ou legalizá-lo em menos tempo do que canta um galo".

16. "AS FARC E O ELN TÊM DE SER RETIRADOS DA LISTA DE TERRORISTAS"

"Creio que uma das decisões que temos de tomar (e certamente isto vai ser tomado como base para a investigação que faz o Sr. Procurador na Colômbia) é que as FARC e o ELN têm que ser retirados da lista de "terroristas" para que possamos avançar rumo à discussão da saída política e negociada do conflito... Nós não podemos aceitar per se que "o terrorismo" na Colômbia se designe a um grupo de colombianas e colombianos que se levantaram em armas porque na Colômbia não há possibilidade nem para o debate nem para a discussão..."

17. A FALÁCIA DA "LUTA CONTRA O NARCOTRÁFICO" E A OFENSA À SOBERANIA DA COLÕMBIA

"Algo que para nós é doloroso e merece repúdio total é que haja não só sete como quem sabe quantas bases militares com o argumento de fazer o que não somos capazes de fazer e que eles (Estados Unidos) não vão fazer jamais (...) Eles (EUA) acreditam que põem o nariz e nós pomos a cocaína... ou seja, por onde entra nos Estados Unidos? ... Parece que os guardas de fronteira por lá são invisíveis, ou quando entra a cocaína eles desmaiam ou eu não sei o que se passa... Mas: as corrupção não será senão deste lado e lá não haverá corrupção?! (...) Poderíamos nós igualmente estabelecer uma base militar em Manhattan ou em Miami (...)?"

18. A ESPANHA ALIMENTA A GUERRA NA COLÔMBIA PARA DEFENDER OS INTERESSES ECONÓMICOS DE MULTINACIONAIS

"Um país como a Espanha amanha pode aprovar uma lei como a do Arizona e isso é uma derrota para a humanidade (...) Como nos dói, nos ofende, que a Espanha possa dizer que tem tantos interesses comerciais e económicos que vale a pena continuar a apoiar a "luta contra o terrorismo que se exprime nas FARC" ... e que isto se faça pura e simplesmente para a defesa dos seus interesses económicos e comerciais, dos interesses das multinacionais (...) chegará o dia em que algum dos seus interesses saia ... que saiam perdendo lucros porque o povo colombiano cada vez mais se levanta contra esta opressão e porque cada vez mais somos conscientes de que somos unidos na América Latina(...)"

19. OS MARINES USA TÊM IMUNIDADE PARA VIOLAR, PARA COMETER QUALQUER CRIME

"Há que estar contra as bases militares porque além disso nem sequer lhes podemos aplicar a jurisdição penal colombiana (aos marines), eles podem violar as nossas meninas (...) e não se passa absolutamente nada..."

20. "PROCURAR QUE A EUROPA RETIRE DA LISTA DE TERRORISTAS OS NOSSOS IRMÃOS COLOMBIANOS QUE SE LEVANTARAM EM ARMAS"(...)

"(...) A busca da construção de cenários da negociação, e é muito importante a UNASUR, e por isso vamos apelar a estas novas instituições da democracia da América Latina para procurar uma saída..."

"Procurar que a Europa retire da lista de terroristas nossos irmãos colombianos que se levantaram em armas porque para a sociedade colombiana é muito mais importante de uma caixa forte, porque para muitos sectores da sociedade do mundo é muito mais importante cuidar de uma caixa forte do que da vida de um ser humano".

"A presença das bases militares na Colômbia é um desrespeito à dignidade, não só como colombianas ou como colombianos, mas também como seres humanos".
17/Maio/2010

[*] Senadora colombiana, do Partido Liberal. Seu sítio web: http://www.piedadcordoba.net/

O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , Nº 2203 (as deficiências do texto devem-se ao próprio original).

Esta transcrição encontra-se em http://resistir.info/ .

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Operação Europa: espionagem internacional governo colombiano

Hernando Calvo Ospina
Rebelião


O Departamento Administrativo de Segurança, DAS, é uma agência de investigações que se reporta diretamente ao presidente da Colômbia.

Cerca de cinco anos atrás, alguns importantes meios de comunicação colombianos começaram a contar o que já se sabia entre as organizações de direitos humanos: os seus altos cargos encomendavam a chefes paramilitares o assassinato de opositores políticos (1).

Entre outros, foi publicado que um desses funcionários testemunhou perante a justiça dos EUA e da Venezuela, reconhecendo que muitas operações de "guerra suja" conduzida pelo DAS tinham sido financiadas com dinheiro proveniente do tráfico de cocaína (2).

Apesar de sua gravidade, estas informações foram ficando como tantas outras no panorama jurídico nacional.

Paralelamente ia-se conhecendo que, desde a sede da presidência, ordenara-se a espionagem ilegal de defensores dos direitos humanos, opositores políticos e jornalistas "classificados" de esquerda. Como talvez essas pessoas "colaboraram" com os “terroristas" da guerrilha, esses procedimentos continuaram sendo tratados como simples notícias. O sentimento começou a mudar ao se informar a espionagem de magistrados da Corte Suprema de Justiça e de dirigentes dos partidos tradicionais (3).

O clima foi esquentando quando se ordenou investigar a funcionários do DAS. Seu chefe supremo, o presidente da república, saiu na defesa destes e até se ofereceu para colocar as mãos no fogo por eles por ter certeza de sua inocência. Pouco depois, alguns foram enviados para a prisão. Então, o presidente Álvaro Uribe Vélez, disse que isso apenas servia á "estratégia desestabilizadora" dos "terroristas". Estas frases, constantemente repetidas, funcionaram como uma chantagem ameaçadora.

Até que, em 15 de abril, o popular diretor de jornalismo de RCN-Rádio, Juan Gossain, leu trechos de algumas páginas a que teve acesso e que faziam parte das encontradas pelo Corpo Técnico de Investigação, CTI, da Procuradoria-Geral da Nação durante uma incursão no DAS. Nelas comprovava-se que, desde 2005, preparou-se toda uma estratégia que ia desde a espionagem, desprestigio de opositores e ONGs, até o planejamento de atentados terroristas para depois culpar às organizações guerrilheiras.

Toda a essa informação estava contida em pastas classificadas como operações "Amazônia", "Transmilênio", "Bahia", "Halloween", "Arauca", "Intercâmbio”, Risaralda, "Internet" e "Europa".

Estes são alguns exemplos de seu conteúdo. "Desinformar a população que é a favor dos detratores do governo". "Gerar a divisão no seio dos movimentos de oposição. Impedir a materialização de cenários convocados pela oposição". “Neutralizar as ações desestabilizadoras das ONGs na Colômbia e no mundo". “Estratégias: descrédito e sabotagem. Ação: aliança com Serviços de Inteligência estrangeiros, comunicados e denuncias em páginas web, guerra jurídica". “Sabotagem: terrorismo, explosivos, incendiários, serviço público, tecnológico. Pressão: ameaças e chantagem". O jornalista, depois de ler isso, ensandecido disse: "Os colombianos temos o direito de saber quem foi que tentou transformar nosso país num Estado de policiais e de terroristas do Estado (...) Quem foi quem concebeu o plano macabro de perseguir adversários, reais ou imaginários, como se fossem criminosos? Quem está por trás disto? "Três detetives do DAS? Não me façam rir! (...) Queremos saber se o DAS é uma instituição respeitável do Estado ou é um covil de bandidos. Somente bandidos fazem isto: perseguir os outros, plantar bombas para culpar a oposição (...)”,(4).


A Operação Europa

Em 20 de abril, RCN-TV foi a que apresentou um resumo do conteúdo da pasta intitulada "Europa" (5), confirmando que as atividades da DAS ultrapassou as fronteiras, conforme tinha sido denunciado (6).

Foi dito na noticiário: "Os seguimentos, aparentemente ilegais, que o DAS realizou no estrangeiro contra aqueles que o governo considerava como inimigos ou opositores do governo, foram rotulados em uma pasta nomeada “Europa” (...) A Operação Europa teve como objetivo "neutralizar a influência do sistema jurídico europeu, Comissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu, Gabinete do Comissário para os Direitos Humanos das Nações Unidas e governos nacionais. "A única estratégia foi: o descrédito de tais entidades; e a ação: criar comunicados e denuncias em sites da internet e promover uma guerra jurídica contra essas entidades.

"A estratégia também incluiu viagens aos países onde foram realizados seminários, fóruns e workshops organizados por diversas ONGs, e sobre os quais foram elaborados relatórios confidenciais com suas respectivas conclusões, e um álbum fotográfico e clínico daqueles que participaram. (7)

Também disse RCN-TV: "Os arquivos recuperados pelo CTI no DAS incluem, por exemplo, cópias dos passaportes e dos currículos de cidadãos europeus, centroamericanos e sulamericanos que visitaram a Colômbia, ou estavam em tais eventos.

"De acordo com o dossiê, o DAS enviou seu funcionário Germán Villalba à Europa, que praticamente instalou sucursais em várias capitais desse continente das quais dirigia uma equipe que fazia seguimentos, incluíndo gravações de áudio e vídeo, fotografias e registro itinerários dos chamados alvos, na sua maioria colombianos residentes na Europa ou que visitaram países como Suíça, França e Espanha, e que o DAS rotulou como “opositores do atual governo colombiano", "agitadores contra Uribe". Da Europa, Germán Villalba enviava a seus superiores em Bogotá, via Internet, toda a informações compilada para ser arquivada na pasta como "Europa" (...)

"Chama a atenção dos investigadores a descoberta de uma pasta rotulada de ‘Parlamento Europeu’, na qual são citados nomes de parlamentares europeus simpatizantes e não-simpatizantes do governo colombiano (...)"

César Julio Valencia, presidente da Câmara Civil da Corte Suprema de Justiça, depois de ouvir as declarações de alguns funcionários do DAS perante o Ministério Público, disse a RCN-TV que estava "horrorizado" ao constatar que a sede presidencial "não só era a destinatária dos seguimentos e interceptações ilegais, mas também dirigia, direcionava ou manipulava tais seguimentos ou “grampos” como são chamados".

O presidente Álvaro Uribe Vélez limitou-se a dizer que não sabia de nada.

A questão a colocar é: o que as autoridades dos países europeus envolvidos sabem disto tudo?



Notas:
(1) El DAS y los paras.
http://www.semana.com/noticias-portada/das-paras/91397.aspx
(2) García, “ventilador” del DAS, declarará en Venezuela Y EE.UU http://www.semana.com/noticias-justicia/garcia-ventilador-del-das-declarara-venezuela-eeuu/117785.aspx
(3) El DAS sigue grabando.
http://www.semana.com/noticias-nacion/das-sigue-grabando/120991.aspx
(4) Escándalo por denuncia de Semana sobre nuevas “chuzadas” desde el DAS.
(5) http://www.semana.com/noticias-seguridad/escandalo-denuncia-semana-sobre-nuevas-chuzadas-desde-das/121052.aspx
(6) Editorial de Juan Gossain. Sobre las “chuzadas” del DAS. http://www.rcnradio.com/node/22862
(7) El dossier de las chuzadas: Capítulo Europa. http://www.canalrcnmsn.com/noticias/el_dossier_de_las_chuzadas_cap%C3%ADtulo_europa
(8) La Troica que complota.
(9) http://hcalvospina.free.fr/spip.php?article184
(10) A CIA, Central de Inteligência dos EUA, desde os anos cinquenta denominou de “Relatório Clínico” ao Estudo Psiquiátrico Pessoal (Psychiatric Personality Study, PPS) daqueles considerados “inimigos”. Nele incluem-se as pesquisas de psicólogos, psiquiatras, jornalistas, etc., sobre a personalidade e comportamento do investigado, desde a infância, incluindo possíveis doenças e até preferências sexuais. Os “estudos” são feitos a partir da análise de palestras, textos e outras atividades realizadas pelo investigado. Um aprofundamento do assunto encontra-se em: Gordon Thomas: “As armas secretas da CIA”, Edições B. Barcelona, 2007.
(11) *Hernando Calvo Ospina. Escritor e jornalista colombiano residente na Francia. Colaborador de Le Monde Diplomatique.
(12) http://hcalvospina.free.fr/

sábado, 22 de maio de 2010


Os irmãos Piñera, a Mensagem Presidencial e o roubo do cobre no Chile


Orlando Caputo e Graciela Galarce Fonte: Rebelión.orgEditorial do jornal El Mercúrio do domingo, 16 de Maio, sob o título “Reconstrução e política”, atribui uma grande importância à primeira mensagem presidencial de Sebastián Piñera:

“Nesta semana, o país vai ouvir a primeira prestação de contas do presidente Piñera, com a qual procurará dar início a uma nova fase de seu governo, pois diante das prioridades da emergência, ele teve que adiar suas propostas programáticas”.

No entanto, o presidente Sebastián Piñera, com sua grande habilidade, conseguiu esconder duas das questões mais importantes para o Chile. Em primeiro lugar, com o aumento do imposto transitório para a mineração em grande escala, reafirma as normativas anticonstitucionais que entrega à propriedade privada as jazidas minerais, embora a Constituição declare categoricamente que: “O Estado tem o domínio absoluto, exclusivo, inalienável e imprescritível de todas as minas”. Esta traição ao Chile foi aprovada na Ditadura e foi proposto pelo seu irmão, José Piñera, quando este era Ministro da Mineração de Pinochet e, quando Sebastian Piñera tinha problemas legais como o executivo máximo do Banco de Talca. A outra questão importante que conseguiu ocultar é a privatização da CODELCO, começando com a privatização de atividades essenciais, incluindo o fornecimento de energia elétrica, fundamental para a exploração do cobre. Também pretende privatizar os ricos depósitos de CODELCO que ainda não estão sendo explorados.

Todas as novas nomeações do Presidente Piñera na CODELCO têm como denominador comum ter participado ativamente na privatização do cobre, dirigindo as empresas que se apropriavam do cobre ou com “estudos” que lhe permitiam ocultar este roubo do Chile. Diego Hernandez foi nomeado presidente da CODELCO. Antes da sua nomeação era um alto executivo da BHP e de Minera Escondida, e antes disso dirigiu várias empresas de mineração estrangeiras.


Recentemente, foi denunciado que por trás da direção de Diego Hernandez, a mineradora “Mantos Blancos” realizou operações semelhantes às do “Davilazo” na CODELCO, e as perdas nos mercados futuros da “Mantos Blancos” evitaram o pagamento de impostos no Chile. Davila pagou com a prisão. Em 2009, a mineradora Minera Escondida aumentou os custos de vendas em mais de 600% para pagar menos impostos. O incremento do montante global é equivalente a três “Davilazos”.

O advogado Juan Luis Ossa Bulnes, recentemente nomeado para o Conselho de CODELCO, elaborou um documento contra o magro imposto especial para as mineradoras no governo de Ricardo Lagos. Juan Luis Ossa, afirmou que esse projeto se baseava em premissas erradas. O primeiro erro, segundo ele, é afirmar que o Estado tem domínio patrimonial e pleno sobre as substâncias minerais. Sobre isso ele conclui: “Consequentemente está claro que neste caso a “o domínio” que a Constituição atribui ao Estado não é absoluto, nem exclusivo, nem inalienável”.

Nesse estudo – possivelmente financiado por empresas de mineração privadas – pretende eliminar a afirmação categórica da Constituição que estabelece que “O Estado tem o domínio absoluto, exclusivo, inalienável e imprescindível de todas as minas”. É muito estranho que o advogado Ossa não analise o caráter “imprescindível” de todas as minas.

Na nomeação de Juan Luis Ossa Bulnes como membro do Conselho de CODELCO, o governo de Sebastián Piñera salienta que ele é Professor de Direito de Mineração da Pontifícia Universidade Católica e que apoiou diretamente a José Piñera no início dos anos 80, quando este era Ministro de Mineração da ditadura, na elaboração da chamada Lei Orgânica Constitucional sobre Concessões de Mineração, que entrega as jazidas minerais gratuitamente à iniciativa privada. Tal lei é inconstitucional, segundo afirma Armando Uribe, também professor de Direito de Mineração.

José Piñera demorou apenas dois meses para gerar esse engendro que permitiu a privatização do cobre. Atualmente, cerca de 73% da produção de cobre no Chile, está em mãos estrangeiras. E agora, querem a CODELCO.

O advogado Juan Luis Ossa Bulnes, em seu artigo “REGALIA PARA A MINERAÇÃO”, criticando o pequeno imposto sobre as mineradoras, apresentado pelo presidente Lagos, afirma textualmente:

"Resumo"


“Premissas: As minas pertencem ao Estado. Do ponto de vista jurídico. Do ponto de vista econômico. A riqueza mineral é finita e não renovável”

“RESUMO: O projeto, que alterou a Lei Orgânica Constitucional sobre as Concessões de Mineração para estabelecer regalias sobre a produção mineral, foi baseado em duas premissas fundamentais”.


• “O Estado tem domínio patrimonial e pleno sobre as substâncias minerais que são suscetíveis de concessão em favor de particulares, domínio que se estenderia inclusive às substâncias minerais que já foram concedidas, e”

• “Que as substâncias minerais são essencialmente esgotáveis”

O advogado Ossa conclui: “A presente exposição analisa estas premissas e concluiu que ambas estão erradas” A maioria dos políticos da Concertação não se pronunciaram. Na verdade, eles foram cúmplices da privatização do cobre. Esta foi solidificada durante os quatro governos da Concertação. Eles também são cúmplices do desmembramento de atividades essenciais da CODELCO; Centros de Pesquisa; Fabricação e Manutenção de Equipamentos, Produção de Energia Elétrica, etc.

O relato de José Piñera, de como procedeu à privatização do cobre aprovada pelo Congresso em sessão plenária durante o governo de Allende, é grosseiro e ditatorial. É uma grande traição ao Chile que deve ser sancionada pelos chilenos.

José Piñera, em seu artigo “A Cascavel da Mineração”,de 2002, assinala que no início dos anos 80, a ditadura enfrentava uma crise, devido à oposição de militares à privatização do cobre e de CODELCO.

“Para resolver esta crise, o Presidente da República designou-me como Ministro de Minas em 29 de dezembro de 1980”.

“O desafio para 1981 era de elaborar uma legislação constitucional que assegura-se direitos de propriedade sólidos no emblemático e potencialmente rico setor da mineração”

“Depois de um intenso mês de Janeiro de 1981, dedicado ao estudo dos mais variados textos jurídicos atuais e históricos, e a ouvir e analisar com uma mente aberta as opiniões de todos aqueles que queriam contribuir com alguma coisa nesta questão”.

Perguntamo-nos: Alguém pode acreditar que isso possa ser feito seriamente em um mês? José Piñera imediatamente continua: “E depois de um de Fevereiro processando toda esta informação e refletindo «longe do ruído mundano», cheguei à conclusão de que o nó górdio que estava sufocando a mineração chilena não podia se «desamarrar». Era necessário cortá-lo. Descobri a «espada» em um conceito e uma fórmula lógica da ciência econômica, ...uma vez definido o direito de concessão vigoroso que ela permitia. Trata-se do conceito de valorização de um bem ou empresa segundo a conhecida formula do Valor Presente do fluxos de caixa líquido”.

Isto é incrível! Se a exploração da jazida até o seu esgotamento é estimado em 40 anos, e o Chile decide nacionalizar agora, deveria pagar os fluxos de caixa líquidos de forma atualizada de 40 anos, que é maior do que os extraordinários lucros anuais, já que inclui o valor do minério extraído anualmente. Ou seja, o Chile teria que pagar as jazidas que outorgou à propriedade privada. Assim, a nacionalização do cobre, que fora aprovada por unanimidade na plenária do Congresso em 11 de julho de 1971, foi apagada. Isto foi o culminar de 20 anos de luta pela nacionalização do cobre, ligada aos projetos de nacionalização apresentados por Salvador Ocampo, Elías Lafferte e Salvador Allende no início dos anos 50. Na próxima Mensagem Presidencial, se reafirmará que as reservas minerais não são do Estado chileno e se negará a privatização de CODELCO, que, com essas nomeações e ações já está sendo implementada. Tudo isto, apesar do fato de que a Constituição chilena assinala que “O Estado tem o domínio absoluto, exclusivo, inalienável e imprescindível de todas as minas”.

O IMPÉRIO MANDA, AS COLÔNIAS OBEDECEM

Após a Segunda Guerra Mundial, quando as forças aliadas foram vitoriosas, o governo dos EUA tentou obter o máximo partido da sua vitória militar. Articulou a Assembléia das Nações Unidas dirigida por um Conselho de Segurança, composto pelos sete países mais poderosos, com poder de veto sobre as decisões dos outros

Por: Frei Betto *, João Pedro Stédile **

Fonte: http://questiondigital.com/?p=4487


Impuseram o dólar como moeda internacional, submeteu a Europa a um plano de subordinação econômica conhecido como Plano Marshall, e instalou mais de 300 bases militares na Europa e na Ásia, cujos governos e meios de comunicação de massas jamais aumentam o tom de voz contra essa flagrante intervenção.

O mundo inteiro não se ajoelhou perante a Casa Branca porque existia a União Soviética para equilibrar a correlação de forças. Contra esta última, os EUA estabeleceram uma guerra sem limites, até derrotá-la política, militar e ideologicamente.

A partir dos anos 90, o mundo ficou sob a hegemonia total do governo e da capital dos EUA, que começou a impor suas decisões a todos os governos e povos, que passaram a ser tratados como vassalos coloniais.

Quando tudo parecia estar calmo no império global, dominado pelo Tio Sam, eis que começam a surgir resistências. Na América Latina, além de Cuba, outras nações elegem governos antiimperialistas. No Oriente Médio, os EUA tiveram que recorrer a invasões militares, a fim de manter o controle sobre o petróleo, sacrificando milhares de vidas de afegãos, iraquianos, palestinos e paquistaneses.

Neste contexto, surgiu no Irã um governo determinado a não se submeter aos interesses dos EUA. Dentro de sua política de desenvolvimento nacional, constrói usinas nucleares e isso é intolerável para o Império.

A Casa Branca não aceita a democracia entre os povos, que significa que todos os países têm direitos iguais. Não aceita a soberania nacional de outros povos. Não admite que cada povo e seus governos controlem seus recursos naturais.

Os EUA transferiram tecnologia nuclear para o Paquistão e Israel, que atualmente possuem a bomba atômica. Mas não toleram o acesso do Irã à tecnologia nuclear, mesmo para fins pacíficos. Por quê? De onde emanam tais poderes imperiais? De alguma convenção internacional? Não, apenas da sua prepotência militar.

Em Israel, há mais de vinte anos, Moshai Vanunu, que trabalhou na usina nuclear, preocupado com a insegurança que ela representa para toda a região, denunciou que o governo israelense já possuía a bomba. Resultado: ele foi sequestrado e condenado à prisão perpétua, depois diminuída para 20 anos, após grande pressão internacional. Até hoje ele vive em prisão domiciliar, proibido de entrar em contato com qualquer estrangeiro.

Somos todos contra a corrida armamentista e as bases militares estrangeiras em nossos países. Somos contra a utilização da energia nuclear, devido aos altos riscos e ao uso abusivo de vastos recursos econômicos com gastos militares.

O governo iraniano ousa defender sua soberania. O governo dos USA não invadiu militarmente o Irã, somente porque este tem 60 milhões de habitantes, é uma potência do petróleo e tem um governo nacionalista. As condições são muito diferentes do atoleiro chamado Iraque.

Felizmente, a diplomacia brasileira e de outros governos estão envolvidos na corrida. Esperamos que sejam respeitados os direitos do Irã, como os de qualquer outro país, sem ameaças militares.

Resta-nos advogar para que aumentem as campanhas, em todo o mundo, pelo desarmamento militar e nuclear. Quanto antes sejam destinados os recursos destinados a gastos militares para solucionar problemas como a fome, que afeta a mais de um bilhão de pessoas.

Os movimentos sociais, ambientalistas, igrejas e organizações internacionais se reuniram recentemente em Cochabamba, Bolívia, numa conferência ambiental mundial, convocada pelo presidente Evo Morales. Foi decidido elaborar um plebiscito global em abril de 2011. As pessoas vão ser convidadas a refletir e votar se concordam com a existência de bases militares estrangeiras em seus países; com os gastos militares excessivos e com o fato de que os países do Hemisfério Sul continuam a pagar a conta dos danos ambientais praticados pelas indústrias poluentes do Hemisfério Norte.

A luta será longa, mas nesta semana pudemos comemorar uma pequena vitória antiimperialista.



* Teólogo e escritor brasileiro;
**Integrante da direção da Via Campesina e do MST do Brasil

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Colômbia: Estado de Terror em Nome da Paz

Por James Petras*

Introdução

A primeira vítima de um estado de terror é a corrupção da linguagem, a invenção de eufemismos, onde as palavras significam o seu oposto e os slogans ocultam crimes graves. Já não há um consenso mundial de condenação dos crimes contra a humanidade. Isto porque os crimes em massa e assassínios garantem a segurança dos «investidores», porque os índios são expropriados para que as minas possam ser exploradas, os trabalhadores do petróleo desapareçam de modo que o petróleo possa correr, e a imprensa financeira internacional louva o êxito do «el Presidente» por ter «pacificado o país».

Quando os narco-presidentes são abraçados pelos líderes da América do Norte e da Europa, é evidente que os criminosos se tornam respeitáveis e os respeitáveis passam a ser criminosos.

Mas outras vozes de outras regiões põem na justiça os criminosos de guerra, passados e presentes. Na Argentina, os generais dos desaparecidos têm passado os seus últimos anos por detrás das grades. Em Espanha, no Dubai e noutros lugares foram emitidos mandados de prisão contra comandantes militares israelitas. Tony Blair, cúmplice no genocídio de Bush no Iraque, foge de ser preso na Malásia pelos seus crimes de guerra. A Colômbia, os Estados Unidos e Israel, estão sós na Assembleia-Geral das Nações Unidas, condenados, mas ainda não estão a ser julgados. Os seus dias de impunidade estão a chegar ao fim. Guerras sem fim, corrupção por toda a parte, extensas falcatruas financeiras - podridão interior - estão a corroer as fachadas exteriores do poder militar.

Escritores e intelectuais têm um papel a desempenhar na aceleração deste processo, expondo as mentiras que sustentam as máquinas da morte.

Continuemos.

Mentiras dos Nossos Tempos

Doutrina de Segurança Democrática (nem democrática nem para segurança pessoal):

A corrupção da linguagem acompanha qualquer grande crime político. A noção de «Segurança Democrática» não é excepção. No actual contexto colombiano, assassinar líderes de movimentos sociais para garantir a reeleição de um partido de assassinos políticos é democrático. «Segurança» é o eufemismo para cemitérios escondidos, de sepulturas não assinaladas, de pessoas sem nome. «Liberdade dos Media» existe quando anuncia solenemente outro «importante triunfo militar»…, o assassínio de camponeses desarmados a trabalhar nas suas terras.

Os economistas são «peritos» quando proclamam que a economia está a crescer… só o povo é que sofre. Os políticos são «estadistas» quando declaram que estão «com o povo» - excepto para os 4 milhões expropriados à força e os 300.000 membros das famílias dos mortos e desaparecidos; os mortos e os expropriados estão ainda para apreciar aquele que afirma que «está com o Povo.»

Quando «el Presidente» declara que a guerra é paz, militarização é segurança, desigualdades são justiça social: só aqueles que não conseguem compreender estas Verdades Oficiais é que receiam que lhes batam à porta à meia-noite.

A Definição Oficial de Terrorista

É uma pessoa ou pessoas que não compreendem que o caminho para a paz é através de biliões gastos em aviões de combate, navios com helicópteros, bases militares e a subcontratação de conselheiros militares e mercenários.

Inimigos das conversações de paz

Segundo o «el Presidente», estes grupos dos direitos humanos que se opõem à matança dos adversários e que propõem diálogos em vez de monólogos são os inimigos da paz; só os monólogos asseguram que há só uma «verdade oficial».

O Preço da Prosperidade

Segundo o «el Presidente» e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a pobreza, o desemprego e os baixos salários são o preço a pagar pela democracia e a prosperidade… mas apenas os trabalhadores e os camponeses é que pagam o preço e só os ricos é que prosperam.

Uma Original Definição de Soberania

Segundo o «el Presidente», ceder território a uma potência imperial estrangeira para construir sete bases militares regidas pelas suas própria leis e jurisdição é a nova definição de soberania. Soberania igual a ocupação estrangeira.

Nova Definição de Subversão

Segundo o «el Presidente», acordos humanitários e iniciativas de paz são pretextos para a subversão; os seus defensores sabem imediatamente que serão rejeitados pelo Estado. Em vez disso, desumanizar o inimigo e os defensores da paz, facilitar o bombardeamento das aldeias subversivas, os «verdadeiros» inimigos da paz.

Louvor e Condenação

O que nos diz acerca de um Presidente que é condenado por todos os grupos de direitos humanos e movimentos sociais e louvado por toda a imprensa financeira e instituições militares?

Um Presidente de Recordes Mundiais

Não há qualquer dúvida que o Presidente Uribe deve ser inscrito no Livro dos Recordes Mundiais do Guinness.

Recordes Mundiais

«El Presidente» é apoiado por mais narco-congressistas do que qualquer outro Presidente ou Primeiro Ministro a nível mundial (incluindo o Afeganistão).

«El Presidente» dirige a deslocação de mais pessoas (4 milhões de refugiados) no tempo mais curto (8 anos) do que qualquer outro Presidente a nível mundial (Israel levou meio século).

«El Presidente» concedeu mais bases militares aos EUA do que todos os presidentes juntos da América Latina. «El Presidente» dirigiu a matança de mais activistas sindicais e líderes do que qualquer outro líder mundial (1.500). Por cada morte e expropriação, o Presidente Uribe merece um novo galardão, o Prémio Ignóbil.

Mas ele não está só. Três Presidentes dos EUA, Democratas e Republicanos, Clinton, Bush e Obama concederam biliões de dólares em armamento e centenas de conselheiros para a promoção de 30.000 narco-assassinos dos esquadrões da morte e 300.000 soldados que são os autores das realizações de Uribe nos «recordes mundiais».

É preciso lembrarmo-nos e castigar os crimes passados e presentes contra a humanidade, mas há que ir em frente na procura do diálogo com aqueles que desejem, porque eles são a maioria, que acreditam na paz através da Justiça.


* James Petras, Professor da Universidade de Nova Iorque. Tradução de João Manuel Pinheiro


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Outra Colômbia é possível!!
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Esta mensagem é enviada pelo Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Lula, Irã, a fome e a paz

Por Beto Almeida

No curto espaço de uma semana, o Brasil viu-se como protagonista em duas questões centrais para a humanidade. Primeiramente quando Lula é condecorado pela ONU com a medalha pelos esforços no combate à fome, fato que a mídia comercial escondeu, para espanto geral. Segundo porque neste final de semana o presidente do Brasil, após conseguir o apoio da Rússia para suas gestões, desembarca em um Irã ameaçado levando uma mensagem clara ao mundo: os problemas devem ser resolvidos pelo diálogo não por sanções, muito menos pela guerra, que, comprovadamente, veja-se hoje o Iraque e o Afeganistão, só trazem solução para o caixa da indústria bélica, a principal economia dos EUA.
Essas são duas iniciativas repletas de simbolismos, a começar pelo fato de não virem das grandes potências hoje ações concretas para enfrentar a fome e alcançar a paz. Ao contrário, vem do menino que sentiu no corpo a dor da fome e carrega consigo uma mistura de teimosia santa de Dona Lindu com a dialética do retirante.

É muito difícil fazer prognósticos sobre as possibilidades de sucesso para uma empreitada do porte desta que Lula carrega em nome do povo brasileiro, amante da paz. Querer o diálogo e a paz quando o que dá lucro é a guerra, aparentemente seria como nadar contra a corrente. Ramificações industriais complexas e lucrativas estão funcionando inteiramente e a todo vapor para sustentar presença militar estadunidense pelo mundo. A mensagem brasileira põe em cheque este poderio e sua maneira de dominar a política internacional, de impor sanções que terminam comprovando-se mecanismos que ampliam as tensões e desembocam em conflitos bélicos. Os orçamentos militares ampliam-se, sobretudo o dos EUA, que , isoladamente, supera em volume de recursos a soma dos orçamentos militares de todos os países do mundo.

As similaridades entre Brasil e Irã nesta questão nuclear, grosso modo, devem ser olhadas com muita atenção. Em 1987, o presidente José Sarney anunciou ao mundo que o Brasil havia alcançado o estágio do domínio tecnológico completo para o enriquecimento do urânio. O anúncio foi acompanhado da solene declaração de que a conquista tecnológica se destinava exclusivamente a finalidades pacíficas. Para chegar a esta conquista o Brasil percorreu um longo caminho desde o início do Programa Nuclear Brasileiro, iniciado na Era Vargas e conduzido pelo Almirante Álvaro Alberto, que não pode ser esquecido nos debates atuais. E recebeu pressões pelo desejo de sua independência tecnológica. Ao ponto de que turbinas atômicas compradas da Alemanha terem sido seqüestradas por dispositivos militares da OTAN, em 1952, no Porto de Hamburgo, antes de serem embarcadas para o Brasil. Nova pressão imperial veio quando o governo Geisel firmou o Acordo Nuclear com a Alemanha. O recado era claro, bastando para isto lembrar declaração de Henry Kissenger, então secretário de estado dos EUA: “Não permitiremos o surgimento de um novo Japão abaixo da linha do Equador”.

O Irã sofre hoje pressões pelas quais o Brasil já passou. Muito embora atenuadas, aparentemente, quando o governo FHC, erroneamente em em costumeira posição de vassalagem diante do império, assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, dispositivo que não é cumprido à risca praticamente por ninguém. Os que são armados continuam super-armados - e armando-se com novas tecnologias - e os desarmados que se contentem com a ilusão de que não correm os riscos de transformarem-se em torresmo. Claro, desde que renunciem para todo o sempre a qualquer pretensão de desenvolvimento tecnológico nesta área. Mesmo que para finalidades exclusivamente pacíficas, o que não é respeitado por algumas das grandes potências que querem ditar as regras para os outros, mas não para si.

Mídia vassala
Tanto quando do anúncio da conquista tecnológica nuclear brasileira, em 1987, como agora, a grande mídia internacional, controlada pelos anunciantes enraizados em algum ramo da indústria bélica - como também a mídia comercial nativa - revela sua desconfiança editorial. O resumo da ópera é que o Brasil, o Irã e outros emergentes, não devem sequer pretender soberania tecnológica. E que o mundo fique como está.

Curiosamente, nesta semana que antecedeu a visita de Lula ao Irã tambem foram divulgadas matérias propositalmente descontextualizadas condenando o Brasil por vender armamentos para regiões de conflito. Nem uma informação de que o Brasil tem participação residual neste mercado bélico, menos de 0,5 por cento. E claro, nada sobre o estágio de desarmamento unilateral que nos foi imposto pela era da privataria, um verdadeiro serviço prestado às nações que ampliam suas intervenções militares para além fronteiras. E pelas suas imensas riquezas estratégicas, ninguém duvida que o Brasil é alvo. Tal situação começa a ser corrigida com a nova Estratégia Nacional de Defesa que visa recuperar o indispensável em nossa indústria bélica e até mesmo com a compra de equipamentos militares seja da França ou da Rússia, o que é providencial. Fica revelado que quando a mídia colonizada questiona a posição do Brasil em defesa do direito do Irã de avançar em seu desenvolvimento tecnológico soberano para fins pacíficos é porque, no fundo, também questiona o direito brasileiro de alcançar sua independência tecnológica, seja na área nuclear ou em outras. Ou seja, é clara a subordinação editorial desta mídia aos interesses imperiais ditados pelos grandes anunciantes vinculados à fabricação de armas.

É por isso que os maiores absurdos são divulgados de modo distorcido e importantíssimos fatos são sonegados de modo escandaloso. Querem que o Irã se submeta a ditames externos. Sem qualquer comprovação, afirma-se que o Irã está fabricando bombas nucleares, tal como a mídia difundiu quando o Brasil passou a dominar a tecnologia de enriquecimento de urânio. Mas, por que sequer cogita-se uma inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica nas instalações nucleares de Israel? Monumental hipocrisia! Por que sequer cogitam-se sanções a Israel pelo descumprimento, com desprezo, das Resoluções da ONU sobre a Questão Palestina?

Vargas e Mossadeg
Não é simples o desafio de Lula e na altura que escrevemos esta análise ele ainda não chegou pela primeira vez a Teerã, provavelmente a primeira visita de um presidente brasileiro lá. Guardadas as enormes diferenças históricas e culturais entre os dois povos, há elementos comuns. Os mesmos interesses que conspiraram contra o nacionalismo de Vargas e o levaram ao suicídio, também conspiraram para derrubar , em 1953, o governo de Mossadeg, general nacionalista que também como no Brasil havia estatizado o petróleo iraniano. Instalou-se em Teerã, com o apoio o imperialismo petroleiro, uma das mais sanguinárias ditaduras que o mundo conheceu, a do Xá, derrubada apenas em 1979 pela Revolução Iraniana que novamente estatizou o petróleo e outros segmentos importantes da economia, com monumental apoio popular. O curioso é que quando o Xá Reza Pahlev ainda estava no poder sob o controle do imperialismo anglo-saxônico, teve início um programa nuclear iraniano, então interessante para Washington e Londres. Só que esqueceram-se de combinar com as massas revolucionárias iranianas que varreram aquele regime despótico.

Na sua dialética de retirante Lula teve que fortalecer a teimosia de Dona Lindu e enfrentar obstáculos gigantescos, verdadeiras penas de morte do cotidiano, até chegar onde chegou. Tudo poderia parecer inalcançável, tanto agora para muitos parece ser impossível alcançar uma saída para esta crise que ameaça o Irã por meio do diálogo, sem sanções e sem guerra.

O Brasil, muito embora seus governos conservadores, é um país que tem história de posicionamentos independentes contra esta ideologia das sanções. Na década de 70, o Brasil enfrentou o embargo ocidental contra o Iraque que havia acabado de nacionalizar sua economia. Em boa medida o Brasil tem, legitimamente, desobedecido o descabido bloqueio imposto ilegalmente pelos EUA contra Cuba, e, mais que isto, lá tem instalado empresas estatais, realiza obras de infra-estrutura e, sobretudo, cooperando na produção de alimentos e com o envio de toneladas de alimentos ao povo cubano que teve sua economia devastada pela mais recente furacão. O Brasil votou sempre corretamente na ONU em questões emblemáticas como a autodeterminação do Timor Leste, do direito ao Estado Palestino. O Brasil reconheceu e apoiou o governo revolucionário de Agostinho Neto, em Angola, mesmo quando a guerra ainda a intervenção imperial dos EUA-África do Sul continua matando angolanos. O episódio provocou até reclamação do sinistro Kissinger a Geisel de que o Brasil estava fazendo o jogo dos comunistas, posicionando-se ao lado de Cuba. A resposta de Geisel deveria ter servido de lição para o chanceler brasileiro que, com candura, tirou os sapatos sob a ordem de um guardinha de alfândega nos EUA: "Secretário, a política externa brasileira para a Africa nao está em debate com o senhor".

E, mais recentemente, o governo Lula foi contra a intervenção militar no Iraque e está mais que provado que sanções desta natureza não oferecem qualquer solução civilizada, humana, democrática. Prova é que o Prêmio Nobel da Paz, Barak Obama, acaba de enviar mais 30 mil soldados para o Afeganistão, e as encomendas para a indústria bélica nos EUA seguem avançando, seja em mísseis ou em urnas mortuárias para os jovens estadunidenses voltarem, quando não voltam doidos.....

Cooperação versus sanção
O importante é destacar que o presidente que agora quer convencer o mundo de que precisamos inaugurar uma nova era de diálogo para a solução dos problemas da paz é o mesmo que está buscando desenvolver ações concretas no Brasil e em outras partes para solucionar também os gravíssimos problemas da fome. Claro está que quando se trata de vencer a guerra contra a fome, a grande mídia não tem tanto interesse em dar informações amplas. Mas, quando se trata de temas relacionados à questão bélica - vinculadas aos sórdidos interesses dos anunciantes que fabricam armas - o noticiário se agiganta. Bilhões de dólares logo aparecem para pacotes destinados a salvar bancos, mas jamais aparecem recursos para fazer uma guerra de verdade contra a fome.

Assim, de um lado está a política de cooperação internacional que instala a Embrapa na África bem como em Cuba , Venezuela e Timor Leste para ajudar na produção de alimentos. Até mesmo no Haiti a presença brasileira, reconhecida por Fidel Castro, destaca-se também por implementar obras de infra-estrutura, instalação de hospitais, inclusive com exemplar cooperação entre médicos brasileiros e médicos cubanos, que lá estão às centenas. Ou seja, enquanto o Brasil já começa a exportar também tecnologias para a produção de alimentos pelo mundo, enquanto Cuba exporta médicos e professores, os EUA seguem exportando armas e soldados.

É com esta responsabilidade e com este histórico moral da política externa brasileira que Lula pisa pela primeira vez em solo iraniano para defender, com legitimidade, o fim das políticas de sanções, o direito dos povos a alcançarem soberania tecnológica nuclear para fins pacíficos, no que estará defendendo também o inquestionável direito do Brasil em avançar neste desenvolvimento tecnológico, apesar das pressões que já se fazem sentir, como informa o Ministro Sérgio Rezende, da Ciência e Tecnologia, alertando para as dificuldades brasileiras em ter acesso a determinados equipamentos no mercado mundial.

(*) Beto Almeida é jornalista, presidente da TV Cidade Livre de Brasília