"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Glória eterna ao Comandante Jorge Breceño, herói do povo em sua resistência contra o opressor.

Com profunda dor, com o punho fechado e o peito oprimido pelo sentimento, informamos ao nosso povo colombiano e aos irmãos latinoamericanos, que o Comandante Jorge Briceño, nosso bravo, altivo e herói de mil batalhas, Comandante desde as épocas gloriosas da fundação das FARC-EP, tombou em seu posto de combate, ao lado de seus homens, enquanto cumpria suas responsabilidades revolucionárias, como resultado de um cobarde bombardeio, ao estilo das blitzkrieg nazi. Junto a ele morreram nove Camaradas a quem, também rendemos nossa sentida homenagem.


Deixou de existir um homem excepcional, de singulares virtudes pessoais, grande amigo e Camarada, de extraordinário talento de organizador e destacado militar. Um revolucionário exemplar que dedicou por inteiro sua vida à causa dos humildes, mestre, preceptor e condutor de guerrilheiros revolucionários. Combatente exemplar, que durante mais de quatro décadas enfrentou corajosamente o exército dos falsos positivos, aliado dos paramiltares, vassalo do Império ianque e inimigo ferrenho das mudanças sociais e de nosso povo.


Não nos queixamos. Como revolucionários sabemos dos riscos que tem uma luta como a que enfrentamos, obrigados pelas circunstâncias, contra um inimigo implacável, por alcançar a paz democrática com justiça social.

Nosso compromisso com a Nova Colômbia não será curvado pelos golpes que possamos sofrer na luta, nem pela morte em combate de nossas e nossos Camaradas, que obviamente, nos doem profundamente, mas também, nos comprometem e estimulam a continuar em frente com maior dedicação e, como homenagem a sua memória, a seu exemplo heróico de entrega total e a seu sacrifício.


Desde muito jovem "el Mono" como fraternalmente o chamávamos, abraçou a luta revolucionária. Sendo, ainda, um camponês adolescente foi vítima da violência oligárquica contra o povo iniciada logo após do assassinato de Jorge Eliécer Gaitán, no ano de 1948.


Desde 1968 pegou em armas em defesa de sua vida e de seu povo. Aguerrido e audaz combatente de primeira linha durante toda sua vida, foi, com Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Efrain Guzmán e muito outros, destacado construtor das FARC-EP, razão pela qual o levaremos sempre em nosso corazão ao lado deles e de Jacobo Prías Alape, Isaías Pardo, Hernando González Acosta, Raúl Reyes, Iván Ríos e tantos outros que têm oferendado sua vida no altar da pátria pela liberação de nosso povo da opressão militarista e oligárquica, por uma Colômbia democrática, com dignidade, paz e justiça social.


De aqui a pouco serão apagadas e esquecidas as calunias, comparações e infâmias, difundidas contra nosso Jojoy, pelos seus inimigos de classe e todos aqueles que com subserviência escancarada se põem ao serviço da desinformação da guerra midiática e, passará a ser lembrado eternamente com carinho pelo seu povo, pelos revolucionários e guerrilheiros, como um, dos mais resolutos e firmes representante, exemplo de lealdade ao ideário bolivariano, dignidade, transparência, espírito de sacrifício e valor a toda prova.


Em instantes como o atual, com profunda emoção e plenas convicções, o Secretariado, o Estado Maior e a garotada guerrilheira toda, reafirmam sua fidelidade à Causa das FARC-EP, aos seus princípios revolucionários e bolivarianos de independência, justiça, dignidade e mudanças sociais, bandeiras que jamais declinaremos!!!


Informamos que o Comandante Pastor Alape, é o novo Integrante pleno do Secretariado do Estado Maior Central. Que o Bloco Oriental das FARC-EP chamara-se-á a partir de hoje "Bloco Comandante Jorge Briceño", que continuará cumprindo todos seus planos sob o mando do Comandante Mauricio Jaramillo.


Uma vez mais, como desde há 54 anos o temos manifestado, reiteramos nossa disposição de buscar uma solução política do conflito que abra caminhos de convivência atacando e superando as causas que o geraram. Mas, no entendido de que a iniciação de um possível diálogo não pode ser condicionada por exigências unilaterais nem por inamovíveis, que como a historia recente o evidencia, todo o que fazem é dificultar qualquer intento de aproximação entre as partes em conflito.


Chamamos a todos os combatentes revolucionários do país, a redobrar a luta e os esforços pelos objetivos da liberdade e as transformações. Os desesperados e mentirosos chamamentos da oligarquia a abandonar nossas convicçoes, decisões e ilusões, só pretendem levar uma mensagem de desesperança ao nosso povo, que enxerga nas bandeiras da luta guerrilheira revolucionária a possibilidade real de um futuro amanhecer que o reivindique e satisfaça suas aspirações.


Glória eterna aos heróis tombados na resistência contra o opressor!


Glória terna a todos os combatentes que têm entregado sua vida pela causa da liberação de nosso povo!


Comandante Jorge Briceño, herói da Liberdade, a Nova Colômbia, a Pátria Grande e do Socialismo: Presente, até sempre!


Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP

Montanhas da Colômbia, 25 de setembro de 2010

Ano do bicentenário do grito da Independência

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Partido Socialista Unido da Venezuela vence eleições legislativas: Uma nova vitória


Por: Rafael Rico Rios
Fonte: Rebelião


Com uma participação histórica de 66,45%, o Partido Socialista Unido da Venezuela, juntamente com o Partido Comunista da Venezuela, PCV, vencem as eleições legislativas venezuelanas.

PSUV-PCV conseguiram 95 deputados dos 165 que estavam em jogo. A oposição, agrupados na Mesa da Unidade Democrática, MUD, obteve 59 deputados; Pátria Para Todos, PPT, dois deputados e dois deputados para os movimentos indígenas. Faltariam, ainda, sete deputados a ser concedidos após o primeiro boletim do Conselho Nacional Eleitoral, CNE.

A oposição venezuelana, com a chamada Mesa da Unidade Democrática, MUD, consolidou seu crescimento e impede que o PSUV-PCV conseguisse os dois terços necessários para governar com facilidade, evitando assim a maioria qualificada e se posiciona politicamente com vistas às eleições presidenciais de 2012. O maior número de votos foi obtido nas grandes cidades e ganha com folga em quatro dos 24 estados, mas perde no Distrito Capital.

O PPT esperava conformar-se como um novo ator político, com o objetivo de se distanciar da polarização ideológica, coletando os votos dos chamados “nem-nem". No entanto, só tem 2 deputados. Não conseguiram sequer um deputado dos nove em disputa, no Estado de Lara, onde o governador eleito pelo PSUV, Henry Falcón, deixou o partido para integrar as fileiras do PPT.

E o chavismo? Alguns analistas previam um resultado ajustado que pudesse por em dificuldades o projeto bolivariano. Depois de onze anos de governo, o desgaste próprio dos anos no poder, a pressão da mídia, graves erros de gestão, ineficiência, falta de planejamento, improvisação, corrupção, graves problemas de segurança, falta de energia por causa da crise de eletricidade, as divisões internas (entre elas, a saída do PPT do bloco chavista), em meio à maior crise econômica internacional das últimas décadas, a recessão econômica, desvalorização da moeda e uma inflação alta, a aliança chavista tem conseguido sobreviver e novamente derrotar a oposição.

É difícil que a oposição encontre uma conjuntura tão favorável, tendo contado com o todo o apoio da mídia comercial privada, mais de 600 estações de rádio, mais de 40 redes de televisão, com cerca de 75% da propaganda eleitoral e com financiamento internacional através de organizações como a norteamericana USAID.

Esta derrota, os força a repensar a estratégia para 2012 e causa temor que sigam caminhos “não democráticos" em um contexto internacional onde as reservas mundiais de petróleo começam a diminuir.

A Venezuela possui uma das maiores reservas mundiais de petróleo e gás natural. Está previsto que, para este ano, aumentem as reservas de petróleo até 314 bilhões de barris, superando a Arábia Saudita e transformando a Venezuela no país com as maiores reservas de petrolíferas do mundo. Além disso, envia para a China cerca de 500.000 barris de petróleo por dia e, nos próximos anos, prevê-se que supere a cifra de um milhão de barris por dia, e que representa o total de barris que a Venezuela exporta para os EUA.

Portanto, como o afirma Aram Aharonian, "A Revolução Bolivariana é hoje o verdadeiro obstáculo para os planos expansionistas e intervencionistas de Washington, que incluem transformar o Golfo do México, a América Central e o norte da América do Sul em um novo Oriente Médio.

E os grandes perdedores destas decisivas eleições legislativas são os meios de comunicação. Apesar da enorme campanha internacional contra o presidente Chávez, o apoio ao processo bolivariano permanece intacto. Em onze anos como presidente, o "ditador" venezuelano superou a pressão da mídia, a pressão econômica, a pressão política, um golpe de Estado, tem dado saúde e educação para todos, a pobreza diminui pela metade e ganhou 14 eleições de 15 convocadas.

domingo, 26 de setembro de 2010

O Comandante Jorge Briceño e os falcões da morte

por Carlos Aznárez [*]



Sempre que um revolucionário cai em combate surgem, como é de esperar, dois posicionamentos diametralmente opostos. Alguns, como o governo fascista colombiano, seu exército, sua burguesia e seus protectores e fornecedores de logística e armamento (bases militares dos EUA inclusive), festejam de modo torpe e vitoriam a morte.


Tal como aconteceu com o Che, agora voltam a exibir cadáveres, a deixá-los fotografar (por repórteres tão obscenos quanto eles), a assinar colunas "de opinião", nas quais pedem mais e mais sangue, a gerar adesões de mandatários da extrema direita latino-americana e europeia, que se somam assim ao conciliábulo de bruxos e comprazem-se com este festival sanguinolento, os desejos de "paz" das suas respectivas oligarquias. Uma "paz" que todos eles precisam para continuarem a acumular riquezas e continuar a esmagar até o limite os milhões de famintos dos seus respectivos países.


No caso do Comandante Jorge Briceño, que todo o mundo conhece como "Mono Jojoy", volta a repetir-se esta situação, com a agravante de que até ficou entre parênteses a possibilidade de que os insurgentes atacados e assassinados tenham podido cair "combatendo" no sentido literal da palavra. E dizemos isto porque o inimigo enfrentado pelas FARC e pelo ELN é o mesmo que suportam iraquianos, afegãos, palestinos e outros rebeldes deste planeta, é um inimigo covarde, rasteiro, miserável e sobretudo bestial. Para "resolver" este tipo de confrontações não apela ao corpo a corpo como em antigas e épica batalhas. Agora, este inimigo emprega toda a tecnologia militar que lhe fornecem seus protetores de Washington. Neste caso pontual, o exército de Santos utilizou na sua operação "Sodoma" nada menos que 30 aviões e cerca de 27 helicópteros artilhados que bombardearam, metralharam e massacraram tudo o que encontraram na sua passagem, fossem seres vivos ou a própria natureza que os protegia, naquela distante zona do Meta, em La Macarena. Se depois de tão descomunal ataque de surpresa alguém teve a sorte de não morrer, isso não tardou devido ao tiro de graça que lhe dispararam os covardes uniformizados do corpo de infantaria.


Cabe imaginar o quadro de horror que se verificou observando algumas das fotos que foram distribuídas sobre a destruição do acampamento pelo lado do atacante. São cenas muito parecidas ao que ocorreu no ataque impune ao acampamento do comandante Raúl Reyes, ou esta mesma semana na incursão aérea contra um núcleo combatente das FARC na zona do Putumayo.


O império hoje regozija-se anunciando que "as FARC estão derrotadas" e que só lhes resta render-se, entregar as armas e, de joelhos, aceitar o castigo que merecem por haver desafiado o poder estabelecido.

É precisamente neste ponto que não concordamos com Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia pela graça de Obama e toda a sua corte do Pentágono imperial armamentista. As FARC e o ELN não se lançaram à montanha há meio século por puro gosto e sim porque a situação em que vivia o povo colombiano nesses anos era de total pauperização e miséria estrutural. Como bem recordam escritos do Comandante Marulanda: "quando decidimos levantar-nos em armas, o que mais nos justificava fazê-lo era ver os filhos dos camponeses morrerem aos montões por culpa da fome, enquanto seus país sofriam a impotência e a dor de não poder evitá-lo".


Alguém acredita que esta situação de pobreza e exclusão não continue a provocar estragos na Colômbia atual? Alguém pensa que a explosiva situação social que gera contínuas greves operárias e estudantis, marchas ou reuniões indígenas e protestos de todo tipo a toda largura e comprimento do território colombiano, são uma invenção da insurgência, ou simplesmente a realidade de um país no qual dez famílias apoderam-se dos 90% do que produz o grosso da população? Mas, além disso, alguém supõe que uma insurgência como a que se desenvolve na Colômbia há cinco décadas poderia haver subsistido se amplos sectores desse povo (operários, estudantes, camponeses) não lhe servissem de viveiro para continuar a gerar respostas dignas a tanto ódio e morte desencadeado pelos governos liberais e conservadores?


Equivocam-se Santos e seus sequazes quando crêem que a morte dolorosa do Comandante Briceño e de suas companheiras e companheiros assassinados vai paralisar a luta da insurgência. Quando se trata de países arrasados pela destruição que provoca o capitalismo, é claro que a morte de revolucionários causa tristeza. Cerram-se os dentes pela raiva que provoca o facto de que os melhores filhos do povo tenham que pagar com as suas vidas sua ânsia de liberdade, mas a seguir surge a digna resposta de continuar a batalha em que se empenharam seus antecessores.


Também se equivocam aqueles que, a partir de posições rebeldes mais moderadas, exigem aos que batalham que abandonem esse caminho e se integrem na "política" para não dar mais desculpas ao imperialismo na sua acção destruidora. Basta apenas recordar quantos milhares de mortos custou à insurgência adoptar esse caminho nas fileiras da União Patriótica, participar em eleições, obter excelentes resultados e a seguir contemplar com impotência como o governo de serviço amparava o paramilitarismo para assassinar os militantes eleitos. Propor tais alternativas, sem que os problemas estruturais da realidade colombiana se tenham resolvido, com um exército e um paramilitarismo em plena ebulição, com nove bases norte-americanas e milhares de assessores e tropa de combate posicionadas por todo o território, é francamente uma convocação ao suicídio. Salvo que o que se esteja buscando seja precisamente isso, a fim de potenciar um discurso tão politicamente correcto quanto ineficaz no plano estratégico. O imperialismo não distingue entre moderados, progressistas e revolucionários na hora do aniquilamento para impor seus objectivos de dominação.


O Comandante Jorge Briceño nasceu de mãe e pai guerrilheiros, viveu praticamente toda a sua vida levantado em armas e nesse andar irmanou-se a Marulanda, Jacobo Arenas, Alfonso Cano, Simón Trinidad, Sonia, Raúl Reyes, assim como Camilo Torres, o Padre Manuel Pérez, o Comandante Gabino e outros insurgentes como eles, que abandonaram todas as comodidades da vida "normal" precisamente para que milhões de pobres possam alcançar a normalidade de ter comida, tecto e terra para eles e seus descendentes.


Nem Briceño, nem Lucero Palmera, nem os que estão enterrados em vida nos cárceres tumba colombianos ou nas masmorras iaques para os quais foram extraditados, são terroristas, nem seres demoníacos ou malévolos (como gostam de caracterizá-lo os media ao serviço da repressão). São patriotas latino-americanos que algum dia serão homenageados como deve ser. Como o foram outros tão "terroristas" como eles, chamados Tupac Amaru, Bartolina Sisa, Manuela Sáenz, Martí, Bolívar, Sandino, Mandela, Farabundo Martí, Sendic, Ernesto Guevara, Camilo Cienfuegos, Inti Peredo, Filiberto Ojeda, Miguel Enríquez…


Nesse momento, talvez não tão longínquo, seus exemplos de entrega e sacrifício estarão acima de todo o veneno vertido contra eles por aqueles que praticam hoje o Terrorismo de Estado ou massacram nossos povos.

Finalmente, basta só desejar que vozes exemplares como as da senadora Piedad Córdoba, mulher íntegra e valente, sejam escutadas. Ela, apelado a toda lógica, sabe que a única solução para um conflito político e armado é a negociação entre as partes. Sabe também que a insurgência não é o problema, como já o demonstrou no Caguán. O obstáculo são os falcões da morte. Enquanto a sua doutrina continuar a ser "a solução militar", que não haja dúvidas: continuará a haver luta.


[*] Jornalista, Director do Resumen Latinomericano

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sábado, 25 de setembro de 2010

Da Revista Resistência: À comunidade nacional e internacional, com motivo dos acontecimentos nas selvas do sul da Colômbia

O povo colombiano e o mundo observam o triunfalismo macabro e a euforia guerrerista da classe governante colombiana, feito perfeitamente refletido na imprensa amarelista do regime, que acusiosa tem desplegado edições especiais, não para lamentar a violência nem para clamar pela paz, como demandam os colombianos, mas para cantar uma falsa e vitoriosa aniquilação da Insurgência.

Porta-vezes do governo e analistas de bolso nutrem a pretensão que por meio século tem amamantado a classe latifundiária e corrompida que governa: extermirnar pela via militar a rebelião insurgente.

Longe demais, estão da realidade que representam as FARC-EP na Colômbia e, seu símbolo revolucionário de resistência, guias que hoje se manifestam mais lá da América Latina.

Sabemos que os executores da guerra do regime, nem por um minuto pensam que sua bombas de racimo podem alcançar seus soldados e policias que permanecem como nossos prisioneiros de guerra na selva. Nada lhes impede lançar seus bombardeios ferozes, incluso assassinar seus próprios homens que dignamente têm defendido suas políticas.

Essa é a personalidade violenta e excludente do regime que enfrentamos e, que pese às dificuldades que oferece a confrontação, seguiremos enfrentando, enquanto tenhamos, como até hoje, o respaldo popular do povo humilde e preterido que engrandece a resistência guerrilheira. Esse é o secreto que nos projeta rumo ao futuro, tanto nas selvas quanto nas cidades da Colômbia

Enquanto haja injustiça, deslocados pela violência do regime, concentração da terra e da riqueza em poucas mãos, bandos de narcotraficantes e paramilitares co-governando, impunidade, corrupção, pobreza extrema, ausência de garantias para participar politicamente pela via pacífica e democrática e, enquanto haja perda de soberania e saqueio de nossos recursos naturais, aí seguirão aparecendo sem cessar os viveiros genuinos para a existência das FARC-EP.

Porém, continuamos reclamando uma oportunidade para a paz, não para a rendição como obstinada e estupidamente o pensa o regime. Aquilo que reclamamos já foi comunicado com absoluta clareza pelo nosso Comandante Alfonso Cano: O único caminho é a solução política e pacífica para o conflito social e armado interno e, nela somos e seremos fator determinante, as demais estrategias só contribuem a prolongar o espiral da guerra.

Por fim, queremos reafirmar que não nos alegra a morte de nosso adversário. Jamais a nossa Revista nem a emissora Resistência, órgãos informativos das FARC-EP têm comemorado morte alguma.

Pelo contrario, assumimos com disciplina o pensamento fariano e, os linhamentos do Estado Maior e de seu Secretariado, que claramente y desde sempre têm lamentado a violência e, defendido e proposto o diálogo e a paz. Por acaso não foi essa a aspiração da exterminada União Patriótica? E não são os mesmo linhamentos democráticos, pluralistas e pacifistas do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia?

Convocamos tanto a comunidade nacional quanto a internacional, a que não se deixem enganar pelos cantos de sereia que têm proclamado o presidente J.M. Santos desde Nova Iork e seus esbirros desde os periódicos e microfones da Colômbia.

Não é pela via do extermínio do contrário que Colômbia encontrará a paz e a reconciliação. Em seu momento o Secretariado comunicará a realidade do acontecido nas selvas do sul da Colômbia. Por isso, nada acrescentamos sobre esses acontecimentos, neste momento. Entretanto, nos cobre a honra e a glória de seguir lutando e resistindo até alcançar uma Nova Colômbia, em paz com justiça social e democracia.

Revista Resistência, edição nacional, setembro 24 de 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma

Leonardo Boff*

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso”pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avaliza para fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascendente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

(*) Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Camarada Mono Jojoy: Presente!!! Presente!!! Presente.

Morrer pela NOVA COLÔMBIA não é morrer, porque os heróis e heroínas que entregam sua vida no combate ficam semeados nas partes mais altas das Cordilheiras Andinas, na beleza exuberante das Planícies, na majestade dos rios, no belo azul do céu da pátria, e por sobre tudo, no coração e a alma dos pobres da Colômbia, inspirando sua luta pela Segunda e Definitiva Indepêndencia.

MONO JOJOY: Até a Vitória!!!!

Equipe ANNCOL-BRASIL

Os novos rumos da Revolução Cubana

As medidas econômicas anunciadas recentemente em Cuba não significarão o fim do socialismo, garante, em entrevista por correio eletrônico, o cubano José Ramón Vidal, professor de comunicação e coordenador do Programa de Comunicação Popular do Centro Martin Luther King (CMLK), em Havana, capital do país.

No dia 13, um comunicado da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC) revelou que o governo cubano planeja demitir, até o primeiro trimestre de 2011, meio milhão de trabalhadores estatais e incentivar as pequenas iniciativas privadas, como trabalhos autônomos, empresas familiares e cooperativas. O objetivo seria a melhoria da eficiência da economia cubana, que vem se deteriorando fortemente nos últimos anos, depois de uma franca recuperação pós-Período Especial, como é chamada a época que se seguiu à queda da União Soviética.

Boa parte da imprensa internacional, assim como brasileira, anunciou, como consequência de tais medidas, o início do fim do socialismo na ilha caribenha, mas, para Vidal, elas “não apenas são compatíveis com um projeto socialista como também são indispensáveis para se alcançar sua sustentabilidade nas atuais circunstâncias”, pois o Estado, segundo ele, manterá a propriedade sobre os meios de produção e distribuição fundamentais.

Vidal alerta, no entanto, que tais transformações só fortalecerão o socialismo na ilha se forem aplicadas por meio do protagonismo popular. “Se as fizerem [as mudanças econômicas] a partir de posições tecnocráticas, sem um consenso real que leve em conta, o máximo possível, os interesses legítimos dos diversos atores sociais, podem ser letais para o projeto socialista”, afirma.

A entrevista é de Igor Ojeda e publicada pelo jornal Brasil de Fato, 20-09-2010.

Eis a entrevista.

O que o governo cubano busca com as medidas econômicas anunciadas recentemente?

As modificações do modelo econômico centram-se, até o momento, na redução ou eliminação de gratuidades e subsídios, redução de pessoal (planeja-se que, para o primeiro trimestre de 2011, se conclua uma primeira fase desse processo, com uma diminuição de meio milhão de vagas de trabalho), ampliação do mercado interno (ofertas turísticas nacionais, venda de eletrodomésticos e serviços de telefonia celular etc.), ampliação do trabalho autônomo e o arrendamento de terras e de pequenos estabelecimentos a seus trabalhadores, tais como barbearias e cabeleireiros, serviços de táxi, entre outros. Tudo dirigido a tornar a economia mais eficiente e a resgatar a necessidade do trabalho como meio de vida, assuntos vitais para a sustentabilidade do país. Essas medidas, além disso, liberam o Estado da administração de pequenos negócios, algo que, desde há muito tempo, havia se identificado como uma hipertrofia do modelo socialista.

As mudanças do modelo econômico se dão em meio a uma situação muito complexa, na qual combinam-se a deterioração consolidada dos indicadores de eficiência econômica – que repercute em menor produção e produtividade, tanto na indústria como na agricultura – e expressões muito extensas de corrupção e ilegalidades. Somam-se ainda, a esses elementos, os impactos externos (queda dos preços do níquel e dos ingressos provenientes do turismo, principalmente) – que repercutem em uma diminuição sensível do crescimento do PIB (até 1,4% em 2009 e estimados 1,9% para 2010, segundo cálculos oficiais) – e a emergência de uma crise financeira do sistema bancário nacional. Não podem ficar fora dessa análise os impactos negativos que o bloqueio dos EUA e os efeitos devastadores dos furacões de 2008 provocam sobre toda a atividade econômica e financeira. Em outras palavras, as medidas em curso ou anunciadas tendem a enfrentar essas complexa situação.

Pode-se dizer que essa é a mudança econômica mais radical em Cuba desde a implementação do socialismo no país? Implementa-se, de fato, um novo modelo econômico?

Na minha opinião, são mudanças importantes com repercussões econômicas e sociais, mas não devem ser magnificadas. O Estado manterá a propriedade sobre os meios de produção e distribuição fundamentais. Haverá novos e renovados atores econômicos (mais cooperativas, mais trabalhadores autônomos e pequenos negócios familiares, arrendamentos de estabelecimentos pequenos ao coletivo de trabalhadores), uma utilização muito mais protagônica do sistema tributário, da política monetária, e um maior apego ao realismo de que ninguém, nem pessoa, família ou país, pode gastar mais do que produz. Mas acredito que tudo isso não apenas é compatível com um projeto socialista como também é indispensável para se alcançar sua sustentabilidade nas atuais circunstâncias.

O tema medular radica em como serão aplicadas essas transformações. Se as fizerem a partir de posições tecnocráticas, sem um consenso real que leve em conta, o máximo possível, os interesses legítimos dos diversos atores sociais, podem ser letais para o projeto socialista. Mas, se forem orientadas para favorecer a uma maior socialização do poder, uma maior participação real dos trabalhadores na condução de seus empreendimentos e centros trabalhistas – e, em geral, se fortalecerem os mecanismos de poder popular e não deixarem abandonados à sorte nenhuma família que, justificadamente, não puder garantir seu sustento por meio do trabalho, como se proclamou –, então, o projeto socialista se fortalecerá e se fará realmente sustentável.

Sabe-se que a economia cubana sempre dependeu muito da contribuição de outros países. Com a adoção das novas medidas, você acredita que se abre a perspectiva para uma base produtiva mais forte e dinâmica, que diminua essa dependência da ajuda econômica externa?

Claro que uma melhora da produtividade do trabalho, e, em geral, dos indicadores de eficiência econômica, torna o país muito mais forte e o põe em melhores condições para participar dos processos integradores em curso em nossa região. Cuba tem um potencial enorme em seus recursos humanos altamente qualificados. Sua utilização de maneria mais eficiente beneficiará não apenas nosso povo como também aqueles que têm recebido nosso apoio.

Como o povo cubano vem reagindo ao anúncio de mudanças? Como foi o processo de elaboração e discussão delas? Houve um processo de consultas aos trabalhadores?

Obviamente, muitas pessoas se preocupam com seu futuro imediato. Elas se perguntam: “Estarei entre esse meio milhão de pessoas que será demitido?” É um processo difícil que, de imediato, trará a muitas famílias tensões que não podem ser minimizadas. Atualmente, discute-se nos centros de trabalho um comunicado da Central de Trabalhadores de Cuba que anuncia e explica a medida de redução de vagas que está para começar. Reitera-se que será um processo transparente com a plena participação do sindicato e que os critérios de idoneidade serão os que guiarão as decisões. Esta é a medida mais complexa de se aplicar. Um assunto que gera preocupação é se, durante o ano de 2011, poderão ser criados empregos suficientes para compensar significativamente os cortes que serão feitos no primeiro trimestre. Espera-se que uma parte dos demitidos se autoempreguem, pela via do trabalho autônomo, e que alguns setores econômicos com déficits de trabalhadores – como a agricultura e a construção – sejam também um alívio à situação de desemprego criada. As transformações restantes encontrarão menos dificuldade para alcançar consenso e, mais ainda, despertar esperanças de melhora da vida cotidiana.

As mudanças anunciadas preveem a autorização para que os microempresários ou trabalhadores autônomos contratem força de trabalho. Como garantir que não ocorra exploração e que não se aumente a desigualdade social?

Em todo esse período que chamamos “especial”, desencadeado pelo colapso da União Soviética e do socialismo europeu, os índices de desigualdade em Cuba cresceram. O fato de que muitas pessoas tenham, legal ou ilegalmente, ingressos não provenientes do trabalho provoca essas desigualdades. A nós, em Cuba, isso, com toda razão, é indesejável, mas tais índices estão muito longe dos níveis de desigualdade do resto do continente americano. As novas medidas tendem a regularizar fatos que já ocorrem na prática e, nesse sentido, a própria legalização é uma medida de proteção. O empregador terá que pagar um imposto para a seguridade social de seu empregado. Será preciso, além disso, imaginar outras formas de proteção, para que os direitos desses trabalhadores sejam respeitados. Pessoalmente, penso que os sindicatos poderiam desempenhar um papel nisso.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Por que a grande mídia e a oposição resolveram jogar sujo

Por Vinicius Wu

Revisitemos as declarações de Serra e de diversos articulistas da grande mídia simpáticos à sua candidatura ao longo de 2009 e início deste ano. Sem esforço, perceberemos que sua estratégia eleitoral baseava-se na tese do “contraste de biografias”. Inebriado por sua vaidade, Serra alimentou a certeza de que a comparação de sua trajetória política com a de Dilma seria a senha para a vitória. Ocorre que o povo brasileiro rejeitou a fulanização do debate. Optou por contrastar os projetos de Brasil disponíveis e sepultou as pretensões tucanas nestas eleições.

Mas o drama da oposição não termina aí. Afinal, estamos diante de um processo ainda mais complexo, que está na origem da impotência política da oposição hoje. Diante do atual cenário, tiveram de optar entre a resignação diante da derrota e o surto golpista que assistimos nos últimos dias. Compreender os motivos que desencadearam este processo é o que buscaremos nas próximas linhas.

Crise do neoliberalismo e mudança do léxico político brasileiro
As eleições de 2010 encerram a profunda alteração do léxico político brasileiro em curso desde o embate eleitoral de 2002. A crise do paradigma neoliberal possibilitou uma mudança radical dos termos e dos conceitos através dos quais se organiza a luta política no país.

Se nas eleições de 1994 e 1998 o debate eleitoral orbitava em torno do tema da “estabilidade”, desde 2002 vivemos um profundo deslocamento do debate em direção aos temas do desenvolvimento, da inclusão social e distribuição de renda. Ou seja, a disputa política passou a se desenvolver a partir de temas estranhos ao receituário neoliberal. Esta foi a grande derrota política do bloco conservador proporcionada pela vitória de Lula em 2002.

Portanto, o debate político nacional nos últimos anos passou por uma verdadeira metamorfose que desencadeou: 1. Uma mudança de problemática: da manutenção da estabilidade econômica e do ajuste fiscal para a busca do desenvolvimento e da justiça social; 2. uma alteração da lógica argumentativa: a defesa das privatizações e do enxugamento do Estado cedeu lugar ao combate às desigualdades e ampliação do alcance das políticas públicas e; 3. uma mudança de conceitos: crescimento econômico, papel indutor do Estado, distribuição de renda, cidadania etc. passam a integrar, progressivamente, o discurso de todas as correntes políticas do país.

Este é o grande legado político da “Era Lula” e diante do qual as respostas da direita brasileira foram absolutamente insuficientes até aqui.

O novo protagonismo dos pobres
Paralelamente ao processo supramencionado, foi sendo desenvolvida uma nova consciência das camadas populares no país, que identificaram em Lula a expressão viva de seu novo protagonismo. O operário do ABC paulista alçado à condição de Presidente mais popular da história da República é a síntese perfeita da nova condição política dos “de baixo”.

Ao afirmar recentemente que “nós” somos a opinião pública, o Presidente Lula não está cedendo a nenhuma tentação autoritária, como desejam alguns mal intencionados articulistas da grande mídia. O que está em jogo é o fim da tutela dos “formadores de opinião” sobre a formação da opinião nacional. Este é o motivo do desespero crescente da mídia monopolista do centro-sul do país.

Há uma revolução democrática em curso no Brasil e ela altera profundamente a forma como os pobres se relacionam com a política. O país vivencia uma inédita e profunda reestruturação de seu sistema de classes. As implicações deste processo para o futuro da nação ainda não são mensuráveis.

A grande mídia e a oposição não compreenderam que o país entrou em um novo período histórico e, desta forma, correm o risco de ficarem falando sozinhas por um bom tempo.

As pessoas não estão votando em personalidades, como supunham os próceres da campanha Serra. Estão votando no futuro - no seu futuro e no futuro do país.

A disputa eleitoral de 2010 não ficará marcada pelo “confronto de biografias”. Esta é a eleição da aposta no “Devir-Brasil” no mundo, como sugere Giuseppe Cocco. O país recompôs a esperança em seu futuro e deseja ser grande. Os brasileiros querem continuar mudando e, principalmente, melhorando suas vidas.

E o eleitor brasileiro não está “inebriado pelo consumo” como afirmou, revoltado, um dos mais preconceituosos articulistas da grande mídia. Os seres humanos fazem planos, sonham, imaginam uma vida melhor para si e para seus filhos. As pessoas estão sim - e é absolutamente legitimo que o façam - votando com a cabeça no seu próximo emprego; no seu próximo carro ou eletrodoméstico; no seu próximo empreendimento; na faculdade dos seus filhos; em seus filhos... É uma opção consciente. Não querem retroagir, preferem a continuidade da mudança conduzida por Lula, por mais que esperneiem os articulistas sempre bem pagos da grande mídia.

A “Conservação” da mudança
Talvez, nem o próprio Presidente Lula tenha se dado conta de uma outra - e também decisiva - derrota imposta ao bloco conservador. Trata-se da apropriação e ressignificação de um dos conceitos mais caros ao neoliberalismo.

Lula tomou para si a primazia da estabilidade. A defesa da estabilidade (quem diria?!) passa ser tarefa da esquerda brasileira. Mas não a estabilidade neoliberal, e sim uma nova estabilidade; a da continuidade da mudança.

O slogan da campanha Dilma não poderia ter sido mais adequado: “Para o Brasil seguir mudando”. Esta é a perfeita síntese da opinião popular no atual período; continuar mudando para que permaneçam abertas – e se ampliem – as possibilidades de mobilidade social, de emancipação e prosperidade econômica. A mensagem é simples e foi acolhida pela maioria do povo brasileiro: “conservar” a mudança e não retroagir.

A “venezuelização” do comportamento da grande mídia
Derrotados em seus próprios conceitos; perplexos diante de uma ampla maioria que lhes vira as costas (só 4% da população rejeitam Lula); impotentes diante de uma nova realidade, que se impõe diante de seus olhos, só lhes resta o golpe, que não tem força pra dar.

E se não podem “restaurar a democracia” à força, resta-lhes, então, trabalhar para que a disputa política no próximo período se dê em outros termos. Como imaginam que estarão livres da força de Lula a partir de Janeiro de 2011, iniciam uma virulenta campanha de difamação, deslegitimação e questionamento da autoridade daquela que deverá ser a primeira Presidenta do país.

Desejam fazer do Brasil uma nova Venezuela, onde posições irreconciliáveis travam uma luta sem tréguas, instaurando um clima de instabilidade e insegurança generalizado. Querem que oposição e governo não dialoguem. Preferem a radicalização ao entendimento. Concluíram que esta é a única maneira de derrotar as forças populares no futuro. Precisam retirar de nossas mãos o primado da estabilidade. Querem, de fato, venezuelizar o Brasil.

Mal se deram conta de que quase ninguém sairá vencedor em Outubro confrontando-se com Lula. Em todas as regiões do país, candidatos oposicionistas bem sucedidos resolveram absorver Lula e o sucesso de seu governo. Raros serão os candidatos oposicionistas que vencerão com discurso de oposição.

A “venezuelização” que pretendem esbarrará na força política que se assenta na emergência de um novo Brasil, que estamos a construir, e na fé de nosso povo em um futuro diferente daquele que imaginaram as oligarquias deste país.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Serra só bate Dilma em bolsões mais ricos do país, indica Ibope

O Ibope divide o Brasil em 255 áreas para fazer suas pesquisas. Na maioria dos casos, agrega municípios próximos. Nas grandes cidades, faz o contrário: divide-as em regiões homogêneas. O resultado é o mapa que se vê nesta página. Comparado com o mapa do primeiro turno de 2006, vê-se que o eleitorado brasileiro "vermelhou" geral em 2010 e tornou a tarefa da oposição de provocar um segundo turno uma missão quase impossível.

É um quadro mais preciso da sucessão presidencial do que a simples divisão estadual. Percebe-se, em alguns Estados onde Dilma Rousseff (PT) lidera, que ainda há bolsões de voto em José Serra (PSDB). Eles estão localizados, quase sempre, nas regiões mais ricas.

As partes pintadas de vermelho apontam as áreas onde a candidata do PT tem pelo menos 5 pontos de vantagem sobre o tucano. Nas azuis, ocorre o contrário. E as zonas cinzas indicam que há empate técnico entre eles (diferença inferior a 5 pontos porcentuais, para um lado ou outro).

Serra só bate Dilma em 20 áreas. Em outras 15 há empate técnico. Dilma supera o tucano nas 220 restantes. Para aumentar as amostras locais, os dados de intenção de voto foram extraídos das pesquisas estaduais do Ibope feitas ao longo dos últimos 30 dias, registradas na Justiça eleitoral.

As áreas predominantemente serristas estão confinadas em poucos bolsões, geralmente localizados no centro e nos bairros mais ricos de metrópoles do Sudeste e do Sul do país. Mais da metade delas está em São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Belo Horizonte.

Na capital paulista, por exemplo, Serra ganha de Dilma no centro (que inclui Higienópolis e Bela Vista), na zona oeste (em bairros como Perdizes, Pinheiros, Lapa, Butantã), na sudeste (Jardins, Itaim Bibi, Saúde, Ipiranga, Campo Belo) e na zona leste mais próxima ao centro: Tatuapé, Água Rasa, Belém, Penha.

Fora desse círculo, Dilma leva, mas com diferentes graus de intensidade. Sua liderança é menos forte no conjunto da zona norte (Casa Verde, Brasilândia, Jaraguá) do que na zona sul (Vila Andrade, Jardim São Luís, Jardim Ângela, Capão Redondo, Cidade Dutra, Grajaú). E é moderada na extrema zona leste (Itaquera, São Miguel, Lajeado, Cidade Tiradentes).

Como acontece na maioria das metrópoles brasileiras, a periferia paulistana é mais pobre do que o centro. É lá que se concentra o voto em Dilma. Isso explica porque um eleitor que convive nas regiões centrais não percebe a maioria de dilmistas detectada pelas pesquisas de intenção de voto.

No Estado de São Paulo, Serra lidera nas regiões de Sorocaba, Piracicaba e Ribeirão Preto, todas elas entre as mais ricas. E empata em Araraquara, Bauru e Assis. Dilma lidera no entorno da capital, no litoral, no Vale do Paraíba e nas regiões de Campinas, Itapetininga, Rio Preto, Marília, Araçatuba e Presidente Prudente.

Restam outros bolsões serristas nas regiões gaúchas de Vacaria e Camaquã, na serra catarinense e em Rio Branco e Sena Madureira, ambas no Acre. Essas duas se devem ao fato de Marina Silva (PV) ir melhor no seu Estado de origem e tirar votos de Dilma.

No resto do país, predomina o eleitorado da petista. Mas com grandes diferenças de intensidade. Sua vantagem em alguns bairros de Porto Alegre (RS) é estreita, quase na margem de erro. Ao passo que mesmo nas áreas mais ricas de Salvador (BA) ou do Recife (PE) ela ganha por mais de 30 pontos de Serra.

Isso mostra que a dimensão geográfica é preponderante na eleição presidencial de 2010. Eleitores nordestinos e nortistas tendem a votar mais em Dilma, independentemente de sua classe social.

Já no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste, o voto em Serra está confinado em bolsões de alta renda, mas não em todos. O tucano perde da petista até na zona sul do Rio de Janeiro. Dilma também ganha em uma das áreas mais ricas do país: o plano piloto de Brasília.

Se esse quadro se confirmar em 3 de outubro, terá ocorrido uma mudança significativa em comparação aos desempenhos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) em 2006.

Como há quatro anos, existem regiões do país onde a proporção de eleitores de Dilma sobre Serra varia entre 10 e até 20 para 1, segundo o Ibope. São os casos do centro-sul cearense (Iguatu), do oeste potiguar (Pau dos Ferros), do sudeste piauiense (alto e médio Canindé) e da periferia de Manaus.

Mas o eleitorado da candidata petista terá se expandido para regiões do Sul e do Sudeste onde sempre predominou o voto em presidenciáveis tucanos no primeiro turno.

Fonte: Blog do José Roberto de Toledo

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vox Populi: Dilma volta a subir e chega a 53%

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, cresceu dois pontos no tracking Vox Populi/Band/iG deste domingo (19) e alcançou 53% das intenções de voto. Seu principal adversário, José Serra (PSDB), manteve os 24% registrados na medição de ontem. A candidata do PV, Marina Silva, permanece com o mesmo desempenho e tem 9% da preferência do eleitorado. Brancos e nulos somam 4% e indecisos, 9%.

Com o resultado de hoje, a petista venceria as eleições no primeiro turno. No entanto, a oscilação de Dilma permanece dentro da margem de erro, que é de 2,2 pontos percentuais.

Na comparação com o primeiro dia de medição, realizado há duas semanas, o desempenho de todos os candidatos variou dentro da margem de erro. Dilma tinha 51% das intenções em 31 de agosto e hoje aparece com 53%. O tucano José Serra aparecia com 25% e agora tem 24%. Marina Silva permanece com os mesmos 9%.

Espontânea

Na pesquisa espontânea, quando o nome dos candidatos não é apresentado, Dilma lidera com 44% das intenções no tracking Vox Populi/Band/iG. Serra tem 20% e Marina, 7%. O presidente Lula também é citado por 2% dos eleitores.

A cada dia, o Instituto Vox Populi realiza 500 novas entrevistas presenciais em todas as regiões do País, numa amostra consolidada com 2000 pessoas. O levantamento foi registrado junto ao TSE sob o nº 27.428/10.

Fonte: portal iG.

Assista aqui a cobertura diária da campanha de Dilma pelo Twitter.

O ROSTRO MAPUCHE DE UM TERROR BICENTENÁRIO




Lucía Ruiz Sepúlveda
Punto Final

Fonte: Rebelión.org


O Arcebispo de Concepción, Ricardo Ezzati, intervirá como mediador entre os Mapuches em greve de fome contra a lei antiterrorista e o governo, segundo anúncio do ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter no começo da semana chave das comemorações do bicentenário. "Nada a comemorar", advertiam há um ano, os Mapuches, mas a palavra de ordem se incorporou em 34 ativistas Mapuches – dois deles menores de idade – em estado crítico em prisões e hospitais de Concepción, Temuco, Lebu, Angol e Valdivia. O governo apresentou Ezzati a 64 dias do início da greve de fome e a algumas horas do oferecimento do argentino Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, para mediar, visto favoravelmente por Maria Tralcal, porta-voz dos presos políticos Mapuches em greve de fome.

Já faz algumas semanas que os grevistas solicitaram ao Monsenhor Ezzati a sua intervenção, mas a porta-voz Natividad Llanquileo permanece cautelosa. Estão em curso jejuns solidários em massa na FECH e jornadas de mobilização em nível nacional e internacional programadas para às quartas-feiras assim como ações de protesto na nação Mapuche.

Da Argentina chegou uma delegação de "Povos Originários" junto com Nora Cortiñas, integrante do grupo das Mães da Praça de Maio - Linha Fundadora – e Osvaldo Bayer, para dar apoio às demandas Mapuches. Deputados do Parlamento Europeu acusaram o governo do Chile de “não aplicar o sistema de julgamentos duplos e simultâneos em tribunais civis e militares, e, portanto, não aplicar a chamada ‘Lei Antiterrorista’ aos mapuches detidos em atos de protesto social; e de reformar em profundidade o Código de Justiça Militar”. Tudo aponta para empurrar o governo para a mesa de diálogo já acordada entre os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados – Jorge Pizarro e Alejandra Sepúlveda – e os porta-vozes. Dois destes, o lonko de Temucuicui, Victor Queipul e Maria Tralcal, deslocaram-se para a capital como convidados especiais das celebrações, para intervir nos esforços para o diálogo.

Segundo as porta-vozes Maria Tralcal e Natividade Llanquileo, os ativistas permanecem firmes em sua decisão de luta em todas as prisões e permanecem estáveis dentro de própria fraqueza de mais de 65 dias em greve de fome. Mas, em Angol, dois ativistas, Felipe Huenchullan e Fernando Millacheo, permanecem no Hospital de Victoria em estado delicado. Em Valdivia, o estudante mapuche, Andrés Coña recebeu a solidariedade de visitas dos Lonko Francisco Huichaman Tripayante, e Efrain Cheuquefilo Paillalef, moradores dessa região. Na prisão de menores infratores de Cholchol, os adolescentes Luis Marileo Cariqueo e Jose Ñirripil Perez informam que, depois de 12 dias greve de fome, os seus pesos diminuíram entre 6 e 7 quilos, “e, segundo relatórios médicos, perda de massa muscular e principio de arritmia cardíaca, de modo que, a qualquer momento, seremos transferidos para centros médicos".

O despertar da solidariedade cidadã, a ressonância da greve a nível internacional e em organizações internacionais de direitos humanos, as manifestações nas capitais de países europeus e da América Latina em apoio às reivindicações dos grevistas finalmente quebraram o prolongado blackout de notícias sobre a greve de fome. Uma grande mobilização realizada por historiadores do Arquivo Nacional, em Santiago, "para deter as ações repressivas do Estado no sul do Chile e reconhecer o legitimo direito dos povos originários à restituição das suas terras usurpadas e à sua autonomia social e política”. Cientistas sociais e acadêmicos de quatro universidades do sul do Chile afirmaram que “uma situação histórica tão complexa não pode ser resolvida através do uso de instrumentos jurídicos, como a lei antiterrorista, que não são adequados nem para a sociedade chilena nem para as demandas dos povos indígenas”. Em Santiago criou-se uma Frente Ampla de Apoio à greve composta de intelectuais, estudantes e artistas. Na frente das diversas prisões, os familiares dos grevistas levantaram acampamentos onde realizam orações.

Isso, tendo em vista que o Presidente se recusou ao diálogo, apesar do pedido formal da Conferência Episcopal dos Bispos Católicos e da Igreja Evangélica no Te Deum de 11 de setembro, feito na sua presença, e rejeitado também a proposta do presidente do Senado, até o inicio da semana das comemorações das festas pátrias. Além disso, onze familiares dos presos foram detidos por desordem em incidentes ocorridos em 11 de setembro no Hospital Regional de Concepción. A Sra. Emilia Pilquimán, mãe dos irmãos Llanquileo em greve de fome, atingida na cabeça pelos carabineiros, resultou com ferimentos de gravidade média. Os detidos, incluindo os porta-vozes, presos na rua, foram formalizados e liberados. Natividad Llanquileo, porta-voz dos presos de Concepción, informou que dois dos grevistas transferidos para o hospital para a realização de exames, retornarão para a prisão de El Manzano após uma avaliação positiva dos seus estados de saúde.


Não aos agentes encobertos

Desde a prisão de Temuco, os 13 grevistas, em declaração pública, rejeitaram o projeto que seria votado no Congresso, em resposta à “pressão da direita econômica para fortalecimento do Estado policial contra os movimentos sociais, especialmente com o movimento Mapuche”. Eles acreditam que as propostas de manter as testemunhas sem rosto e incorporar a figura do “agente encoberto” legalizarão a infiltração nas comunidades Mapuches e suas organizações. Enfatizam que o conceito de incêndio terrorista permanece. Acrescentam que “qualquer ação feita no âmbito da nossa luta é descrita como terrorista, assim, a nossa greve de fome também deveria sê-lo, pois, segundo o artigo 1º desta Lei, seria ‘um delito cometido para obter resoluções da autoridade e de lhe impor exigências”.

Rodrigo Curipan, porta-voz dos dez grevistas da prisão de Angol, disse: “Estamos decepcionados porque nós colocamos a questão da lei antiterrorista e, mesmo assim, o governo pretende alterar a lei e, mais uma vez, não podemos opinar nada. Para nós, ninguém comunicou formalmente quais são as mudanças que seriam feitas”.

Parentes dos prisioneiros políticos de Concepción declararam que “o governo tem desviado a atenção das demandas centrais da greve de fome: a não aplicação da lei antiterrorista e a justiça militar” e repudiaram a decisão da Corte de Apelações de Concepción.

Tribunal de Justiça contra o devido processo

Completados mais de dois meses de greve, os processos judiciais se encontram postergados, já que em Temuco, o ativista Pedro Cheuque desmaiou em plena audiência e teve de ser hospitalizado. O Tribunal de Apelações de Concepción, por outro lado, na sexta-feira 10, dissipou as esperanças de um sinal positivo. Em decisão unânime, reintegrado 36 testemunhas protegidas retiradas do processo em Cañete, revertendo a decisão do juiz John Landeros em favor do devido processo. A decisão dos ministros Eliseo Araya e Freddy Vásquez e a advogado integrante Gabriela Lanata, apenas cautela a segurança das testemunhas protegidas ignorando os direitos dos acusados. A prática do uso de tortura para recrutar testemunhas não comoveu este tribunal.

Testemunha fabricada na ponte Lanalhue

Os fatos de tortura, em que um menor foi pendurado de uma ponte, para forçá-lo a depor, foram denunciados à Corte de Apelações de Concepción pelos advogados de defesa dos Mapuches na alegação de apoio à exclusão de 36 testemunhas protegidas. Punto Final teve acesso à declaração juramentada da testemunha protegida, o menor Rodrigo Viluñir Calbul, realizada em 19 de fevereiro de 2010 perante Marcel Mathieu Pommiez, tabelião conservador de Cañete. Ele relata que após ter sido pendurado na ponte Lanalhue e ameaçado de morte, assinou sem ler uma declaração redigida pela polícia. Rodrigo tinha 17 anos naquela época, por isso, seu pai, que morreu mais tarde, acompanhou-o quando ele foi preso e levado para assinar.

Ele e seu irmão, Jose Viluñir Cabul, figuram como testemunhas protegidas no processo contra Eduardo César Painemil Peña (27 anos), da região de Huentelolén, Cañete. Painemil é um dos três mapuches em greve de fome na prisão de Lebu, acusado de provocar três incêncios “terrorista” e de associação ilícita “terrorista”. O Ministério Público pede mais de 20 anos de cadeia para ele. Viluñir implicou também aos ativistas Marco Millanao, em greve de fome em Temuco (condenado a 70 anos de cadeia); e a Juan Carlos Millanao e Simon Millas.

No seu depoimento juramentado, Rodrigo Viluñir assinala que os fatos ocorreram ao meio-dia na estrada que liga Cañete a Tirúa, em maio de 2009. Foi detido e o colocaram em uma camionete vermelha, e seu pai em uma branca. Na ponte Lanalhue, “dois policiais me penduraram da ponte pelos braços, me apontaram uma escopeta e me diziam ‘fala a verdade ou vamos te matar filho da... Depois de estar pendurado por algum tempo, comecei a chorar e me levantaram. Mais uma vez apontaram a escopeta e me disseram para que falasse a verdade do que eu sabia e eu disse que não sabia de nada”.

Posteriormente, foi levado para a delegacia de Cañete, onde ele deu seu nome, e outra pessoa também o ameaçado. Ainda acrescentou: “Eu contestei que não sabia de nada e me dizeram 'inventa qualquer m... filho da...’”. Também lhe perguntaram se tinham armas. Cerca das nove horas da noite lhe entregaram um documento que assinou sem ler. Então, ele se juntou a seu pai e pegaram o último ônibus para Tirúa. Declarou que viu o fiscal Andrés Cruz duas vezes, a primeira vez quando “confirmei a primeira declaração sem ler e, a segunda, faz um mês, em Talcahuano”. O promotor disse que ele tinha que assinar porque se não o fizesse, iria para a cadeia e outros ficariam em liberdade.

A declaração juramentada conclui: "Conto isto para o conselho da minha comunidade Caupolicán porque quero que se saiba a verdade do que acontece e porque confio neles para fazer as coisas direito. Nessa ocasião, meu pai, Don José Viluñir Millapi, não me acompanha devido a que se encontra internado no hospital de Cañete em delicado estado de saúde. Junto com meu irmão, Jose, nos aproximamos da direção da comunidade voluntariamente”. Assinam a declaração: Patrício Cona Millanao, presidente da comunidade Caupolicán; David Claudio Santi, secretário; José Sebastián Santi Cona, Tesoureiro; e Agustin Santi Millapi, conselheiro.

A direção da Comunidade Caupolicán, também deu aval a uma declaração semelhante de José Abraham Viluñir Calbul, em Cañete, no mesmo cartório, em 19 de fevereiro de 2010. Relatos de que duas camionetes chegaram a sua casa depois da prisão de seu irmão para prestar depoimento em Cañete. “Diziam-me que Rodrigo já havia dito tudo, que estava na sala ao lado e que tinha que falar ou se não ficaria vinte na cadeia e a rapaziada seria libertada. Eu respondi que não tinha a menor ideia de nada. Assinei um papel, pedi para lê-lo e não o permitiram. Vi o procurador quando viajamos para Talcahuano, aproximadamente há um mês atrás, com meu irmão e meu pai. Naquele momento assinei uma ratificação e tampouco li o que dizia”.

Conclui a declaração afirmando que: “quero que me ajudem a sais disto e que se saiba a verdade”.

Um suicídio em Puerto Choque

Richard Ñegüey, o mais novo dos processados pela lei antiterrorista em Cañete, de 19 anos, enforcou-se no mês passado, somente após três dias da abertura do julgamento oral no qual era acusado, assim como seu pai. Permaneceu longos meses na cadeia de Lebu, em condições extremas de confinamento - sem direito a pátio e sem luz – mas estava livre através de medidas cautelares, quando cometeu suicídio. Seu caso faz parte das dramáticas consequências da lei antiterrorista na vida das comunidades.

A lei antiterrorismo permite utilizar como prova valida as declarações de testemunhas protegidas, cuja identidade é desconhecida para a defesa assim como seus depoimentos, somente revelados no início do julgamento, criando obstáculos ao processo. A greve de fome exige a não aplicação desta lei antiterrorista por delitos contra a propriedade, relacionados com a recuperação de terras ancestrais.

Enquanto a nossa imprensa faz campanha para Serra, Dilma (foto) e Lula são manchetes nos jornais no mundo

Abrindo o fim de semana, nas manchetes da agência de notícias AP, "Denúncias não freiam apoio a Dilma", e da Reuters, "Rousseff amplia liderança ". Do argentino "Clarín", "Ofensiva de denúncias não reduz frente de Rousseff", e do "Financial Times", "Escândalo fracassa em atingir Dilma". Fechando, da AFP, "Lula contra-ataca reportagens contra escolhida", e do espanhol "ABC", "Lula fica furioso com a imprensa". Do argentino "La Nación", "Lula acusa mídia de apoiar Serra", e do paraguaio "ABC Color", "Lula arremete contra imprensa paulista".


A "Economist" postou que os "brasileiros estão acostumados a tráfico de influência, uma marca do jornalismo", pela frequência. E o "FT" deu que um efeito maior sobre Dilma "depende do que a 'Veja' publicar.

O estatal "China Daily" citou analistas para os quais "já não é difícil prever" o resultado e perfilou Dilma, começando pela ascendência búlgara. O britânico "Telegraph" também perfilou, sob o título "A ex-guerrilheira que está perto de se tornar a primeira mulher presidente do Brasil". No australiano "The Age", "Ex-guerrilheira lidera". Até no equatoriano "El Comercio", "Dilma Rousseff, delfim que esqueceu seu passado subversivo". E a Bloomberg noticiou que o venezuelano "Hugo Chávez diz que quer seguir os passos de Lula e eleger uma herdeira mulher".

De Chicago

Do bilionário Sam Zell à Fox Business, sobre aplicar no Brasil, em habitação para baixa renda: "Meu lugar favorito para investir no mundo é o Brasil"

Na BBC Brasil, "Maioria dos EUA apoia independência brasileira no exterior, diz pesquisa" do Chicago Council on Global Affairs.

Fonte: blog dos amigos do presidente Lula

sábado, 18 de setembro de 2010

Balanço da campanha na sua reta final

Por Emir Sader. (f0t0)

Com todas suas turbulências – naturais, conhecendo o que tem sido o desespero da oposição, que tem na velha imprensa seu peso essencial -, a campanha presidencial deste ano não poderia ter sido, até aqui, mais racional, normal, até onde pode esperar racionalidade de um processo como esses.

Está triunfando, de maneira avassaladora, a candidata de um governo que tem um apoio extraordinário da população. Lula tinha anunciado que seria a campanha mais fácil, porque seria possível mostrar as realizações do governo, ao final de um ciclo de 8 anos, que conta com uma popularidade que nunca havia sido obtida ao final do mandato.

Essa previsão se revelou correta. A liderança do Serra ao longo de tantos meses se assentava no conhecimento do seu nome, que contrastava com a decisão dos mesmos que optavam por seu nome, pela vontade de votar no candidato do Lula. Isto levou o Serra a tentar, em um primeiro momento, a tentar passar a imagem do melhor continuador do governo Lula – espelhada no seu lema inicial, de que “pode mais” e na utilização da imagem do Lula, elogiosamente, no seu programa eleitoral -, até que se deu conta que o mecanismo esperado passava a se realizar inexoravelmente: esses votos eram transferidos para Dilma, conforme ela foi aparecendo como a candidata de continuação do governo, para o qual ela tinha sido coordenadora essencial.

O começo da campanha de televisão e a multiplicação dos comícios pelo Brasil afora foram o elemento de consolidação de uma vantagem que nas pesquisas passou a ser maior do que 20%, se aproximando dos 30%, o que provocou crise de identidade, desconcerto e paralização da campanha opositora. Nesse vazio se projetaram as tendências que pregavam uma radicalização da campanha, como único espaço que restava ao candidato opositor.

Passou-se à fase atual, com um contraponto claro entre campanha de balanço de um governo de sucesso, com projeção da sua continuidade para o futuro, e ausência de algo similar nem sequer onde Serra e os tucanos governaram por mais de 10 anos – São Paulo. As denúncias, com a esperança de que o fenômeno da passagem ao segundo turno na campanha de 2006 pudesse resgatar a queda nas pesquisas e brecar o avanço da Dilma.

O denuncismo foi a tônica opositora, levando a imprensa brasileira a um dos piores momentos da sua história – ainda superada pelo apoio unânime dos órgãos atuais ao golpe militar e à ditadura que se instaurou em 1964. Atuou de forma coerente com a declaração da executiva da FSP de que, dada a fraqueza dos partidos opositores, a velha mídia era o verdadeiro partido da oposição.

Se valem de tudo – de indícios reais a provas forjadas, de declarações de fontes sem nenhuma credibilidade a mentiras – no desespero, protagonizando a campanha eleitoral no lugar do candidato opositor, dilapidando o resto de credibilidade que lhe restava. (Falar e escrever todo o tempo contra o governo e obter apenas 4% de rejeição do governo demonstra a que nível de falta de credibilidade chegaram).

Apesar de todos os escândalos forjados pelo denuncismo, Dilma se encaminha para ganhar no primeiro turno, impondo uma derrota de proporções à direita. Derrota, em primeiro lugar, da velha imprensa. Em segundo lugar, dos tucanos paulistas. Em terceiro, do DEM. Vitória, em primeiro lugar, do governo Lula, do Lula e da Dilma. Em segundo, do conjunto do campo popular – partidos, movimentos, imprensa alternativa (bloqueiros progressistas incluídos) – e do povo, que constroem uma nova maioria progressista no país.

Pode haver ainda novas atitudes da velha imprensa nestas duas semanas. Não se excluir a exploração de algum parente de vitima militar de alguma ação da resistência armada à ditadura, tentando vinculá-la à Dilma. Ela nunca participou de ações, menos ainda que tivessem vítimas do lado da ditadura. Mas como é um vale tudo, pode-se considerar a possibilidade do apelo a esse tipo de manipulação.

Da mesma forma que, no limite poderiam apelar para algum auto-atentado, algum atentado forjado por eles mesmos, para tentar transformar o candidato da oposição ou algum órgão da imprensa em vítima de suposta violência.

Não creio que nada disso possa alterar o resultado eleitoral, pelas razões de fundo que levam ao voto pela Dilma e pela proporção de votos decididos firmemente. Mas se deve ter manter todos os sinais de alerta, porque historicamente nunca as elites cederam seus privilégios sem apelar para todos os instrumentos de que dispõem.

Esse o quadro, em linhas gerais, da campanha que deve fazer com que, pela primeira vez na história deste país, um governo – teria que ser de caráter popular – conclua seu mandato de 8 anos com um extraordinário apoio e eleja seu sucessor. Para comemorar mais: uma mulher, de formidável competência e de trajetória exemplar.

Estamos a pouco tempo de um momento histórico único no Brasil. Que estejamos todos à altura desse momento e do período novo que se abre na história do país.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Duas guerras: a de Afeganistão e a da Colômbia.

Fonte: ANNCOL

Durante os últimos anos escutamos até o cansaço, a mídia desinformadora ao serviço do ganster governo narcoparamilitar de Uribe Vélez, dizer ao melhor estilo de Joseph Goebbels que a 'segurança democrática' liquidou a insurgência colombiana.

Como vulgares puxa-sacos do império tem exclamado sem parar: "A guerrilha está escondida na selva, está fugindo". “Estão comendo raízes". Fugindo sem rumo e desmoralizada". "As Frentes não têm comunicação com seus chefes". "Atacam desde o outro lado da fronteira". (risos e mais risos se escutavam diariamente no fundo das audições).

Ante iminente trunfo das forças oficiais o único que fica para a guerrilha é se render incondicionalmente.

Vã ilusão!

Examinando as cifras oficiais encontramos outra realidade.

Se compararmos o conflito colombiano com a guerra de invasão de EUA e seus aliados no Afeganistão, os dados concretos revelam que as baixas militares sofridas pela 'segurança democrática' na Colômbia, no confronto armado, durante esses oito anos, são o dobro das sofridas pelos EUA, a ISAF e outras variantes paramilitares nessa invasão, apoiada por Uribe e, para a qual ofereceu seus paramilitares para que fossem a matar afeganos.

Cifras oficiais:

País: Colômbia.
Fonte: Forças Militares.
Período: 2002 - 2010
"Segurança democrática" = "Terrorismo de Estado"

01. Soldados, policiais e agentes do DAS mortos no confronto: 4.752

02. Soldados, policiais e agentes do DAS feridos: 15.184. Destes, muitos ficam viciados em drogas, com transtornos mentais ou mutilados.

Total de baixas: 19.936

País: Afeganistão

Fonte: icasualties.org
Período: 2001-2010
"Guerra de invasão liderada pelos EUA."

01. Baixas mortais invasoras: 2.071

02. Militares invasores feridos: 7.266
Muitos deles ficam desempregados, mutilados, dependentes de drogas, desequilibrados.

Total de baixas: 9.337

Na Colômbia, as cifras deixam em evidência que o governo da 'moto-serra' e a grande mídia ocultaram sempre o fracasso da política imperial em seu propósito de exterminar a insurgência e o movimento popular.

A luta dos povos pela liberdade, a soberania nacional, a democracia, a paz com justiça social, NUNCA poderá ser silenciada e, muito menos, vencida pelos opressores.

A Nova Colômbia avança pelos campos e cidades, impregnada de povo, que enxerga já um novo amanhecer de liberdade para esse país.