"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 30 de maio de 2011

47 anos de batalhas pela Paz da Colômbia desde a Resistência armada.

Colombianas e colombianos, irmãs e irmãos de Latinoamérica:


No presente mês de maio completamos 47 anos de barbárie imposta a nossa pátria, 47 anos de morte, perseguição implacável, encarceramentos injustos, negação dos direitos fundamentais dos colombianos, de despojo das terrinhas e moradias dos camponeses, de deslocamentos violentos, de enriquecimentos ilícitos e de empobrecimento tão violento como a pobreza mesma, causados pelos diversos governos que têm exercido o poder só para uma opulenta minoria.


47 anos de violência partindo desde o dia em que o bipartidismo liberal-conservador personificado no excludente, corrupto e infame pacto de alternância presidencial da Frente Nacional, no governo de Guillermo León Valencia, tomou a decisão de enveredar o curso histórico da pátria pelos tenebrosos caminhos da barbárie, lançando a mais grande ofensiva militar que até o momento se conhecesse em Latinoamérica, com mais de 16.000 efetivos da força armada governamental e orientada pela Casa Branca, em sua estratégia de controle geopolítico do Continente e conter os ventos de dignidade e independência que sopravam desde a revolução cubana, articulado no Plano LASO (Latin American Security Operation) para aniquilar os camponeses de Marquetalia. É que a violência e o fato de permanecer de joelhos ante o amo ianque, tem sido por excelência a conduta política da oligarquia governante na Colombia


Há verdades que incomodam as classes que detêm o poder e seus porta-vozes, como aquela de que "a violência é a característica principal de sua conduta política". E por isso, utilizando seus grandes meios de comunicação desde sempre têm feito de suas armadilhas e mentiras "verdades oficiais", tais como aquela da justificativa para agredir militarmente os camponeses da região agrária de Marquetalia, consistente em que ai existia "uma república independente". Nessa ocasião, a quadrilha da sem-razão no Congresso da República, encabeçada pelo senador ultra-conservador, Álvaro Gómez Hurtado, argumentou o terror que tomaria conta do país se não fosse eliminado com sangue e fogo o foco rebelde formado pelos camponeses marquetalianos. Foi inútil o clamor nacional e até internacional pela solução pacífica através do diálogo. Por isso, essa agressão militar da oligarquia é a responsável pelo surgimento da luta guerrilheira encarnada nas FARC-EP, e que cresce mais e mais, acompanhada pelo amor, as esperanças, iniciativas e, também, as críticas. dos colombianos.


Desde Marquetalia até hoje, nas FARC-EP jamais temos renunciado à solução política do conflito social e armado, conflito que a oligarquia colombiana incrementa em cada período governamental, porque a busca da Paz com Justiça Social é parte da nossa gêneses e razão da nossa luta, ademais, temos a certeza de que é com a participação do povo com suas ações e iniciativas como a construiremos. É com ele na luta pela Reforma Agrária, por efetivas políticas de saúde nas quais estejam primeiro o homem e a mulher, e não as contas bancárias dos empórios econômicos da corrupção, uma luta por estratégias sociais que priorizem moradias dignas em campos e cidades, por educação para todos, democracia plena para a convivência nacional e o exercício pleno da política de defesa. Só a mobilização de todos os setores da sociedade colombiana conquistará a solução política do conflito, que pode se iniciar com o Acordo Humanitário que libere todos os presos políticos que estão nos cárceres do regime e os prisioneiros de guerra em poder da Insurgência.


Antes do governo ordenar o ataque contra Marquetalia, os camponeses fizeram ouvir sua voz por saídas de paz e de melhor-estar, mas, a ambição bipartidista da Frente Nacional desatou a guerra que desde então ensangüenta o país. Todas as forças foram lançadas contra a resistência dirigida pelos legendários Comandantes Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Isaías Pardo, Hernando González Acosta, Joselo Lozada, Ciro Trujillo, Miguel Pascuas, Fernando Bustos, Jaime Guaracas, Miriam Narváez e os 46 combatentes da fecunda gesta Marquetaliana e da insurgência que hoje representamos as FARC-EP.


E prometeram que em poucas semanas se daria seu aniquilamento físico e com ele o fim da resistência. Desde então, as ameaças e o "foi tombado em combate", "fugiu gravemente ferido", ou "lhe estamos respirando no seu pescoço", "em cinco meses dos derrotaremos", ou "necessito outros quatro anos para derrotá-los", ou "este é o fim do fim" tem sido o argumento para justificar o exponencial gasto militar, que tem disparado a força pública armadas a mais de 500 mil efetivos e que consumirá a quinta parte do orçamento nacional do próximo ano. E que, ademais, recebeu quase todos os dez mil milhões de dólares da ajuda norteamericana do fracassado Plano Colombia, ratificando a falácia da tese governamental do "pós-conflito" e aprofundando as desigualdades que hoje deixam mais de 30 milhões de pobres.


No quase meio século de confrontação armada, temos posto todas nossas energias na busca da solução política do conflito, mas os setores do poder, que enriquecem mais e mais, ao amparo dos privilégios da guerra, têm disparado seus arsenais para que essa solução no seja possível. Os Acordos de La Uribe, assinados há 27 anos e que foram esperança de paz e de prosperidade para a nação, foram afogados em sangue com o assassinato de mais de cinco mil integrantes da UP (Movimento político União Patriótica), o maior genocídio contra um partido de oposição na América Latina. Em Caracas e Tlaxcala foi colocado todo o nosso entusiasmo pela retomada dos caminhos da solução política, mas o guerrerismo da classe dirigente, ostentado na guerra integral do governo neoliberal de César Gaviria, lhe apostou ao jogo da derrota militar da guerrilha, e, no econômico, à chamada abertura, que levou à falência centenas de meias e pequenas empresas, elevando assim os níveis de pobreza.


Aos Diálogos do Caguán chegamos carregando nas mochilas as esperanças de reconciliação do povo, mas a estratégia da classe dirigente, orientada desde Washington, não era de paz, mas para ganhar tempo e assim rever as estruturas de sua força armada, golpeada duramente pelo acionar das FARC-EP e, desenvolver os planes de guerra através do Plano Colombia e pôr o território a disposição das forças de ocupação ianques e, cabeça de praia para a agressão contra os povos irmãos de América Latina que constroem soberania e democracia.


A violência nunca tem sido nossa razão de ser, a violência nos foi imposta pela oligarquia e é a característica principal de um regime decadente que se beneficia dela, assassina opositores para monopolizar o poder político e aumentar as contas bancárias dos corruptos ou para alcançar reconhecimento dentro da estratificação da morte que estabeleceu o ministério da defesa para recompensar os crimes de Estado e que para ocultar sua responsabilidade denominou esses crimes como "falsos positivos". Essa violência oficial tem enxotado mais de 5 milhões de compatriotas de suas terras e desaparecido mais de 19 mil colombianos, somente nos 8 anos do governo de Uribe Vélez, com o fim de enriquecer mais ainda, industriais, agro-industriais, grandes pecuaristas, narco-latifundiários e militares.


Nossa razão de ser é a paz da moradia digna, o desenvolvimento humano equilibrado, a educação gratuita para todos, a saúde preventiva para toda a população, a Reforma Agrária Integral que beneficie as comunidades camponesas, indígenas e afro-descendentes; a paz do salário justo e o emprego garantido, a proteção integral do meio ambiente, as garantias políticas para o debate e a participação nos órgãos do poder político, a garante do exercício pleno dos direitos humanos integrais; a paz do respeito e garantias às comunidades LGTV, o reconhecimento pleno dos direitos de gênero, o reconhecimento do aborto como parte substancial de uma sociedade que deve crescer em direitos e a paz do direito à protesta e a mobilização social. E à busca dessa paz temos dedicado todos nossos esforços, até a vida mesma, como tem sido referendado com generosidade centenas de combatentes guerrilheiros, entre os que destacamos, com compromisso indeclinável, os inesquecíveis Comandantes Guerrilheiros Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Efraín Gusmán, Raúl Reyes, Iván Ríos, Jorge Briceño, Mariana Páez e todos nossos heróis farianos.


Compatriotas, a paz é um direito que temos que fazer realidade na nossa pátria. A barbárie não pode seguir fazendo parte de nosso destino por mais 47 anos e, menos agora que com a mobilização podemos construir um futuro certo e civilizado, agora que o terror e o medo perdem terreno diantge a luta contra o modelo de Estado mafioso que implantou Uribe Vélez, modelo patrocinador da corrupção ocultada pela "segurança democrática", a parapolítica, a Yidis-política, os "falsos positivos" os encarceramentos massivos, a covas comuns, o roubo dos recursos destinados para os camponeses, mediante o programa "Agro-ingresso seguro" para enriquecimento dos aliados do regime, as zonas francas para benefício da família do ex-presidente, os seguimentos ilegais do DAS, a extradição de seus aliados narco-paramilitares para garantir sua impunidade, as mansões dentro das Bases Militares para oficiais condenados por crimes de guerra e de Estado.


Todo isso, já não atemoriza nosso povo que a cada dia se mobiliza mais e mais ao calor do clamor por Justiça Social que reclama a nação contra o continuidade do Uribismo que representa a "Unidade Nacional" do presidente Santos, seu neoliberalismo que ofereça garantias às multinacionais mineiro-energéticas, que aumentará a crise humanitária e do meio ambiente em cada câmbio de estação, de recorte e repressão das liberdades públicas, de aumento do conflito social e armado justificado em uma concepção de segurança nacional imposta desde Washington e que fundamenta todas as modalidades de crimes de Estado que se aplicam na Colombia, de impunidade da corrupção presente em todo o Estado.


Será a mobilização e a unidade de todos, de todas as organizações e expressões da luta como será possível alcançar a reconciliação e a reconstrução da nação. Os esforços de todas e todos os combatentes farianos estará a disposição dessa patriótica empresa. Derrotaremos a barbárie oligárquica com a solução civilizada do conflito, com o poder da mobilização popular. Convidamos a todas as colombianas e colombianos e suas organizações para que reunamos todas nossas esperanças de paz com justiça social que palpitam no coração da Pátria, realizando atividades culturais, exposições de arte, música, dança e poesia, com encontros esportivos, marchas ecológicas, encontros literários, grupos de estudo, foros, encontros, talheres, para que a tocha da paz se ascenda desde já e ilumine a esperança de paz do povo colombiano. Também saudamos nossas irmãs e irmãos de Latinoamérica que têm acompanhado o povo colombiano nessa empreitada.


Convocamos todo o povo à ação e à mobilização para colocar a nação no caminho da solução política e dialogada, criando regras fiscais com o propósito de apoiar os mais desprotegidos, mas também, que estabeleçam impostos maiores para os que mais acumulam riquezas. Que a mobilização, também, seja por uma política educacional que redima e eleve os níveis de investigação científica e não as contas dos monopólios privada do ensino; por uma Lei das vítimas, para que a impunidade e os crimes de Estado no continuem sendo a norma; por uma profunda e verdadeira Reforma Agrária e não a pretendida política do presidente Santos de entregar terras improdutivas aos camponeses enquanto entrega as férteis para os empresários agroindustriais e latifundiários. Mobilizarmos pela proteção dos recursos naturais da exploração das multinacionais que acaba com a mineração artesanal e as pequenas empresas mineradoras e destroem o meio ambiente; pela derrota da continuidade da chamada "segurança democrática", hoje camada de "unidade nacional" e, que persiste na militarização da nação e na criminalização da protesta social, suas organizações e dirigentes. Lutemos por uma reforma profundo do infame regime de pensões e das lesivas normas trabalhistas que exploram o trabalhador e favorecendo o patrão.


Em nosso 47 aniversário de batalhas pela paz da Colombia desde a resistência armada, nos ratificamos no empenho pela reconstrução e reconciliação da Colombia bolivariana, a Pátria Grande e o Socialismo, iluminados pelo pensamento unitário do Libertador Simón Bolívar. Porque a unidade e a paz são possíveis.


Compatriotas.


Estado Maior Central das FARC-EP.

Maio 27 de 2011

E já são 47 anos....

Hoje, ao compasso libertário da marcha fariana, um ano mais de resistência popular comemora-se nas planícies, montanhas, campos, ruas e bairros.

Hoje, o alento onipresente da luta de Manuel e seus guerreiros acompanha nosso caminho rumo à construção da Nova Colombia.


Hoje, com a firme convicção da vitória o Exército do Povo, sólido e combativo, abre caminhos de dignidade revolucionaria.


Hoje. como há 47 anos o orgulho marquetaliano faz vibrar as massas desde o mais profundo do sentimento bolivariano.


Hoje, mil e uma saudação para aqueles que com valor enfrentam o estabelecimento e, fazem do verde olivo um monumento aos mártires que entregaram seu sangue pela justa causa dos oprimidos.


Vocês são o Exército de Bolívar que cavalga rumo à construção da Pátria Grande, são a esperança do índio, o camponês, da raça negra, dos estudantes, são a esperança do povo!


Vocês são o Exército do Che que com valor combate contra o imperialismo e com suas botas de campanha dão passos firmes plenos de sentimento revolucionário.


Vocês são o Exército de Marx porque em seus fuzis levam o coração do proletariado e com seus tiros arvoram a luta contra um Estado oligárquico que mata, tortura e desaparece nosso povo.


Vocês são meu Exército e desde a trincheira da clandestinidade envio-lhes minha saudação revolucionaria a todas as fileiras guerrilheiras.


Hoje, são 47 anos de luta incansável e se necessário, estamos seguros que poderão ser 1000 anos a mais.


Pela Nova Colombia, a Pátria Grande e o Socialismo, até a Vitória, Sempre!!!


Vocês têm jurado vencer e estamos seguros que vencerão

domingo, 29 de maio de 2011

Colômbia: identificaram cerca de 10 mil corpos em sepulturas clandestinas

O ministro do Interior da Colômbia, German Vargas, considerou "fundamental para a proteção dos direitos humanos" a identificação dos corpos.

Muitos dos corpos encontrados suspeitam-se pertencer a vítimas do conflito entre guerrilhas, milícias e forças de segurança.

O processo de identificação dos restos mortais encontrados em sepulturas clandestinas tem sido levado a cabo nos últimos cinco meses, comparando-se as impressões digitais dos corpos nas morgues com os dados do Registo Nacional, o organismo responsável pela emissão dos documentos de identificação na Colômbia.

Este processo já permitiu a identificação de 9.969 corpos, dos quais 8.810 pertencem a homens e 1.159 a mulheres, que serão entregues às respetivas famílias se os reclamarem.

Cada morgue na Colômbia terá um centro de informações e o Instituto de Medicina Legal irá colocar na sua página eletrónica a identificação dos corpos para as famílias os poderem recuperar.

Segundo o deputado Ivan Cepeda, outros 10.000 corpos não foram possíveis de identificar por se tratarem de menores, sem documentos de identificação ou por as suas impressões digitais terem sido mal tiradas.

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Com o apoio do Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quatro frases que fazem o nariz do Pinóquio crescer

por Eduardo Galeano, desde Montevideo, maio de 2011.

1 - Somos todos culpados pela ruína do planeta.

A saúde do mundo está feito um caco. ‘Somos todos responsáveis’, clamam as vozes do alarme universal, e a generalização absolve: se somos todos responsáveis, ninguém é. Como coelhos, reproduzem-se os novos tecnocratas do meio ambiente. É a maior taxa de natalidade do mundo: os experts geram experts e mais experts que se ocupam de envolver o tema com o papel celofane da ambiguidade.
Eles fabricam a brumosa linguagem das exortações ao ‘sacrifício de todos’ nas declarações dos governos e nos solenes acordos internacionais que ninguém cumpre. Estas cataratas de palavras - inundação que ameaça se converter em uma catástrofe ecológica comparável ao buraco na camada de oz�?nio - não se desencadeiam gratuitamente. A linguagem oficial asfixia a realidade para outorgar impunidade à sociedade de consumo, que é imposta como modelo em nome do desenvolvimento, e às grandes empresas que tiram proveito dele. Mas, as estatísticas confessam.. Os dados ocultos sob o palavreado revelam que 20% da humanidade comete 80% das agressões contra a natureza, crime que os assassinos chamam de suicídio, e é a humanidade inteira que paga as consequências da degradação da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da água, do enlouquecimento do clima e da dilapidação dos recursos naturais não-renováveis. A senhora Harlem Bruntland, que encabeça o governo da Noruega, comprovou recentemente que, se os 7 bilhões de habitantes do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, "faltariam 10 planetas como o nosso para satisfazerem todas as suas necessidades." Uma experiência impossível.

Mas, os governantes dos países do Sul que prometem o ingresso no Primeiro Mundo, mágico passaporte que nos fará, a todos, ricos e felizes, não deveriam ser só processados por calote. Não estão só pegando em nosso pé, não: esses governantes estão, além disso, cometendo o delito de apologia do crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que está fazendo adoecer nosso corpo, está envenenando nossa alma e está deixando-nos sem mundo.

2 - É verde aquilo que se pinta de verde.

Agora, os gigantes da indústria química fazem sua publicidade na cor verde, e o Banco Mundial lava sua imagem, repetindo a palavra ecologia em cada página de seus informes e tingindo de verde seus empréstimos. "Nas condições de nossos empréstimos há normas ambientais estritas", esclarece o presidente da suprema instituição bancária do mund o. Somos todos ecologistas, até que alguma medida concreta limite a liberdade de contaminação.

Quando se aprovou, no Parlamento do Uruguai, uma tímida lei de defesa do meio-ambiente, as empresas que lançam veneno no ar e poluem as águas sacaram, subitamente, da recém-comprada máscara verde e gritaram sua verdade em termos que poderiam ser resumidos assim: "os defensores da natureza são advogados da pobreza, dedicados a sabotarem o desenvolvimento econ�?mico e a espantarem o investimento estrangeiro." O Banco Mundial, ao contrário, é o principal promotor da riqueza, do desenvolvimento e do investimento estrangeiro. Talvez, por reunir tantas virtudes, o Banco manipulará, junto à ONU, o recém-criado Fundo para o Meio-Ambiente Mundial. Este imposto à má consciência vai dispor de pouco dinheiro, 100 vezes menos do que haviam pedido os ecologistas, para financiar projetos que não destruam a natureza. Intenção inatacável, conclusão inevitáve l: se esses projetos requerem um fundo especial, o Banco Mundial está admitindo, de fato, que todos os seus demais projetos fazem um fraco favor ao meio-ambiente.

O Banco se chama Mundial, da mesma forma que o Fundo Monetário se chama Internacional, mas estes irmãos gêmeos vivem, cobram e decidem em Washington. Quem paga, manda, e a numerosa tecnocracia jamais cospe no prato em que come. Sendo, como é, o principal credor do chamado Terceiro Mundo, o Banco Mundial governa nossos escravizados países que, a título de serviço da dívida, pagam a seus credores externos 250 mil dólares por minuto, e lhes impõe sua política econ�?mica, em função do dinheiro que concede ou promete. A divinização do mercado, que compra cada vez menos e paga cada vez pior, permite abarrotar de mágicas bugigangas as grandes cidades do sul do mundo, drogadas pela religião do consumo, enquanto os campos se esgotam, poluem-se as águas que os alimentam, e uma crosta seca cobre os desertos que antes foram bosques.

3 - Entre o capital e o trabalho, a ecologia é neutra.

Poder-se-á dizer qualquer cois a de Al Capone, mas ele era um cavalheiro: o bondoso Al sempre enviava flores aos velórios de suas vítimas... As empresas gigantes da indústria química, petroleira e automobilística pagaram boa parte dos gastos da Eco 92: a conferência internacional que se ocupou, no Rio de Janeiro, da agonia do planeta. E essa conferência, chamada de Reunião de Cúpula da Terra, não condenou as transnacionais que produzem contaminação e vivem dela, e nem sequer pronunciou uma palavra contra a ilimitada liberdade de comércio que torna possível a venda de veneno.

No grande baile de máscaras do fim do milênio, até a indústria química se veste de verde. A angústia ecológica perturba o sono dos maiores laboratórios do mundo que, para ajudarem a natureza, estão inventando novos cultivos biotecnológicos. Mas, esses desvelos científicos não se propõem encontrar plantas mais resistentes às pragas sem ajuda química, mas sim buscam novas plantas capazes de r esistir aos praguicidas e herbicidas que esses mesmos laboratórios produzem. Das 10 maiores empresas do mundo produtoras de sementes, seis fabricam pesticidas (Sandoz-Ciba-Geigy, Dekalb, Pfizer, Upjohn, Shell, ICI). A indústria química não tem tendências masoquistas.

A recuperação do planeta ou daquilo que nos sobre dele implica na denúncia da impunidade do dinheiro e da liberdade humana. A ecologia neutra, que mais se parece com a jardinagem, torna-se cúmplice da injustiça de um mundo, onde a comida sadia, a água limpa, o ar puro e o silêncio não são direitos de todos, mas sim privilégios dos poucos que podem pagar por eles. Chico Mendes, trabalhador da borracha, tombou assassinado em fins de 1988, na Amaz�?nia brasileira, por acreditar no que acreditava: que a militância ecológica não pode divorciar-se da luta social. Chico acreditava que a floresta amaz�?nica não será salva enquanto não se fizer uma reforma agrária no Brasil. Cinco an os depois do crime, os bispos brasileiros denunciaram que mais de 100 trabalhadores rurais morrem assassinados, a cada ano, na luta pela terra, e calcularam que quatro milhões de camponeses sem trabalho vão às cidades deixando as plantações do interior. Adaptando as cifras de cada país, a declaração dos bispos retrata toda a América Latina. As grandes cidades latino-americanas, inchadas até arrebentarem pela incessante invasão de exilados do campo, são uma catástrofe ecológica: uma catástrofe que não se pode entender nem alterar dentro dos limites da ecologia, surda ante o clamor social e cega ante o compromisso político.

4 - A natureza está fora de nós.

Em seus 10 mandamentos, Deus esqueceu-se de mencionar a natureza. Entre as ordens que nos enviou do Monte Sinai, o Senhor poderia ter acrescentado, por exemplo: "Honrarás a natureza, da qual tu és parte." Mas, isso não lhe ocorreu. Há cinco séculos, qua ndo a América foi aprisionada pelo mercado mundial, a civilização invasora confundiu ecologia com idolatria. A comunhão com a natureza era pecado. E merecia castigo. Segundo as cr�?nicas da Conquista, os índios n�?mades que usavam cascas para se vestirem jamais esfolavam o tronco inteiro, para não aniquilarem a árvore, e os índios sedentários plantavam cultivos diversos e com períodos de descanso, para não cansarem a terra. A civilização, que vinha impor os devastadores monocultivos de exportação, não podia entender as culturas integradas à natureza, e as confundiu com a vocação demoníaca ou com a ignorância. Para a civilização que diz ser ocidental e cristã, a natureza era uma besta feroz que tinha que ser domada e castigada para que funcionasse como uma máquina, posta a nosso serviço desde sempre e para sempre. A natureza, que era eterna, nos devia escravidão. Muito recentemente, inteiramo-nos de que a natureza se cansa, como nós, seus filhos, e sabemos que, tal como nós, pode morrer assassinada. Já não se fala de submeter a natureza. Agora, até os seus verdugos dizem que é necessário protegê-la. Mas, num ou noutro caso, natureza submetida e natureza protegida, ela está fora de nós. A civilização, que confunde os relógios com o tempo, o crescimento com o desenvolvimento, e o grandalhão com a grandeza, também confunde a natureza com a paisagem, enquanto o mundo, labirinto sem centro, dedica-se a romper seu próprio céu.

Eduardo Galeano é escritor e jornalista uruguaio

Respostas do Guerrilheiro

Escrito por um prisioneiro de Guerra das FARC-EP

Em 15 de outubro, às 04h30 da madrugada fui retirado da cela n º XX, pátio n º 3 do pavilhão de segurança máxima da Penitenciária Nacional "Palo Gordo". A razão para participar de uma diligência judicial na cidade de Bucaramanga, capital do estado de Santander.

Fui imediatamente algemado, não me permitiram nem escovar-me e fui conduzido pelo comandante de turno para a gaiola de encaminhamentos. Chegaram detentos dos pavilhões diferentes, como eu, seriam levados para passarem por um processo judicial. Alguns cumprimentavam, outros simplesmente se agarravam a grade da cela, uma vez que é um direito do preso, quando se está fora do seu território em meio a desconhecidos, tem que ter cuidados para se defender. Após um tempo começam as histórias de lutas em diferentes pavilhões e as razões dos enfrentamentos, em sua maioria espancados pela guarda que estava no hospital, enfermaria ou a prisão.

Um pelotão de guardas se fez presente, desnudos, pegam nossas roupas e fazem uma revista minuciosa, qualquer objeto que se leve nos bolsos é apreendido e se você reclamar o arrocho é extra. Logo nos algemaram, acorrentam as algemas, imobilizando as mãos. A corrente dá uma volta ao redor da cintura onde é fixado uma caixa que você carrega no meio das correntes, impedindo completamente qualquer movimento das mãos. Depois fomos para um veículo.

O carro começou a se mover e fomos saindo da imensa montanha de concretos, grades, bobinas e arames. De repente se abre um céu imensamente grande e de uma beleza indescritível, pois no cárcere apenas se observa um pedazinho dele, como do tamanho de uma lona bem pequena.

Permaneci olhando as profundezas infinitas tão cheias de transparência e aromatizadas com perfumes de opalas. No céu, observava nuvens brancas que eram adornadas com algumas estrelas que brilhavam com uma luz muito fraca fazendo- me ver muitas fugirem antes do ímpeto dos primeiros raios da aurora. Respirei todo o ar que pude com toda a força dos meus pulmões e por um instante me lembrei de todas aquelas paisagens, animais e cenários que se observa nas marchas da guerrilha.

A manhã foi se revelando como suspiros místicos e a natureza ia se banhando de uma cor chamativa e alegre como se estivesse sendo pintadas com aquarela. As árvores se mexiam harmoniosamente com o vento, parecia que dançavam ao céu firme e oponente. A respiração fluía dos meus pulmões como o manancial brota do chão que logo desliza em busca dos vales.

Meu desejo de contemplar cada detalhe das paisagens fez com que meus olhos voassem como estampidos de aves surpreendidas.

A brisa golpeava meu rosto, que alegria, enquanto eu aspirava a brisa o aroma de cálice daquelas paisagens. Assim estava fazendo talvez um poema, uma música, enquanto desejava roubar a paisagem, as árvores, toda a sua beleza.

Desejei imensamente ouvir os beijos e suspiros de cada brisa e cheirar aqueles perfumes errantes dos campos com suas árvores e flores.

Pouco a pouco fomos entrando na cidade de Bucaramanga, grandes edifícios foram se impondo ante a nós, avisos de toda classe anunciando seus produtos. As pessoas se moviam como formigas. Em cada rosto o reflexo da angustia, tristeza ou felicidade.

Um mendigo ia arrastando seus farrapos e em seu rosto refletia a nostalgia de ser habitante das ruas onde há de tudo, mas de tudo carece.

Ao chegar ao nosso destino, fomos desacorrentados e levados para uma cela de escassos três metros quadrados. 15 pessoas neste reduzido espaço, não havia onde sentar, o chão estava cheio de umidade e um odor imensamente desagradável.

Um detento começou a gritar: isso é desumano e o agente penitenciário grita “cale a boca filho da p...!, Querem gás lacrimogêneo?”

Aqueles calabouços são o centro ao qual chegam presos de todas as partes, ou seja, de várias cadeias. Começa a gritaria e os negócios de armas, drogas etc. Logo, logo, aquele cárcere está inundado com a fumaça de maconha, um colega que fuma com grande ansiedade um cigarro de maconha, me oferece um toque. Eu o olho e lhe digo: obrigado, eu estou em uma viagem. Enquanto ele indicava as espirais de fumaça que davam volta naquele reduzido espaço.

Depois de algumas horas eu fui levado para a Delegacia. Uma vez dentro do palácio fui levado a um pequeno escritório. Nela havia uma mesa com quatro cadeiras sobre a mesa um pequeno letreiro de “Fiscalização da unidade de direitos humanos número 99 de Bogotá.” De um lado de uma impressora e computador, a frente um senhor de uns 60 anos e bastante careca, diante da minha presença se pôs de pé dizendo:

- Eu sou o advogado indicado para preceder uma diligência pelo recrutamento de menores e desaparecimento forçado na Argélia Antioquia.

- Eu posso saber o seu nome? Perguntei

- Sim claro, Carlos Guillermo Ordóñez Garrido.

Como o meu advogado não havia chegado ele começou a fazer perguntas sobre os farianos e ele foi questionando com argumentos cada uma.

Entre as perguntas me disse:

Se vocês são tão fortes e ferozes, por que não estão governando?

A força não é o governo e sim os processos revolucionários e quem faz são os povos quando os fatores objetivos e subjetivos tiverem atingindo a maturidade. Assim lhe respondi.

Mas as FARC já perderem o norte ideológico, se alguma vez o tiveram.

Eu respondo, olhando para o doutor, os espanhóis diziam que Bolívar e seu exército eram assaltantes de caminhos e não sei quantos adjetivos mais, e hoje é o Libertador de cinco repúblicas.

Vocês abraçaram o terrorismo, olhem a destruição que semearam, esse tais cilindros que são lançados não são armas convencionais.

Os exércitos podem comprá-las, sobre os cilindros há uma diferença tão grande, o exército lança bombas de 50k mínimo e também até de mais de uma tonelada, enquanto a nossa dificilmente chega a 60 libras. Sobre as convenções, acaso a bomba de Nagasaki e Hiroshima, que lançou os EUA são convencionais? Vocês em nome da tal democracia já mataram milhões em todo o globo terrestre, e continuam a matar ou, talvez, aqueles que morrem de fome, por falta de cuidados médicos, água potável etc. Não é a responsabilidade do Estado?

Ele me disse:

A democracia os espera, desmobilizem as pessoas, façam a luta nas urnas, e no Senado e acabaremos com esta guerra sem sentido.

Olhe doutor, o dia que a famosa democracia da oligarquia fizer algo de bom para o povo, nesse dia o imperialismo declarará ilegal a democracia.

Olhe cara, vocês estão acabando com o exército.

Doutor, é muito fácil a partir de um escritório receber todo o papo de quiabo que os meios de comunicação enviam aos quatro ventos. Os boletins de guerra que nos chegam falam de soldados mortos, feridos, helicópteros derrubados, danificados e fuzis recuperados. E se você não acredita dê uma passada pelo hospital militar, vá no centro psiquiátrico para os militares, saberá quantos loucos estão por aí, produto de uma guerra que estão ganhando segundo você. Lembre-se doutor, que as notícias todo o tempo falam de soldados que em estado de embriaguez matam, sequestram e se suicídam.

O que fazer para acabar com esta guerra? Pergunta o advogado

Lhe respondo: fácil Doutor, nos entreguem o poder para construirmos um novo sistema econômico, político e social, onde o povo tome as suas determinações de acordo com sua cultura, costumes e tradições …

Bem, aqui eu resumir o diálogo com o advogado, afinal é isso que tenho a fazer em cada bancada judicial, sempre defender a luta das FARC-EP e a razão pela qual as pessoas estão lutando levando na sua mente os ideais do Socialismo e em suas mãos ar armas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

As FARC em ação

Dois jornalistas viveram uma semana nas planícies do leste da Colômbia com a Coluna "Jorge Briceño" da guerrilha e, mostram a sobrevivência nômade obrigada pelas Forças Armadas, mas também como a forma de prosseguir a formação, recebendo armas, combatendo e até mesmo fazendo atividades em favor do povo e, em memória de seu Comandante.


Tiros de canhão de um metralhadora russa. Fuzis de assalto se unem ao combate. Guerrilheiros das FARC e soldados colombianos trocam tiros de um lado para o outro em um terreno de apenas 100 metros de mata. Granadas fazem eco ao explodirem.


É difícil com toda essa lama, disse um guerrilheiro apelidado de Adrián enquanto abraça sua metralhadora M-60. “Isso é para retardar o avanço deles (o exército). Dentro de dois ou três dias assumem novas posições e voltam para lutar. O campo de batalha nesse dia era uma pequena colina de El Porvenir, uma vila perto da cidade de La Julia. O combate durou cerca de uma hora. Foi mais um de uma série de batalhas anônimas que raramente chegam às manchetes da imprensa.


No campo, nenhum dos 54 jovens combatentes da Companhia Marquetalia - parte do Bloco Oriental - falam em rendição.


Vem a morte do Mono (Jojoy) e todo o mundo morreu. A morte vem ao camarada Manuel (Marulanda), e todo o mundo morreu. Isso é o que eu penso, mas não é ", diz Jagwin, comandante do recém formada “Companhia Marquetalia. “Sente-se muito, acrescenta, porque o Mono era praticamente o nosso pai. É como acontece em casa quando o pai morre, mas tem que haver um irmão que trabalhe no desenvolvimento da pequena propriedade.


Como Jagwin, Willinton 40, o segundo no comando da Companhia, estava próximo ao acampamento de Briceño na noite que foi bombardeado. De igual maneira negou que o ataque fora o anúncio da morte das FARC:


Para as Forças Armadas e para o resto do mundo, as FARC estão no final do final, após a mortdo camarada Jorge (Mono Jojoy). Mas para nós não é assim. Nós somos uma organização com hierarquia e quando morre um Comandante ou um guerrilheiro, outro o substitui.


A conversa para abruptamente. O som das hélices de um helicóptero de artilharia Blackhawk ecoa

em cima. Enquanto persegue a coluna móvel da guerrilha descarrega suas metralhadoras calibre 50. A “Companhia Marquetalia já está em retirada tática, combatentes de outras duas unidades também se retiram da área de combate.


No momento em que o helicóptero Blackhawk deixa a floresta, batizado pelos rebeldes de Arpía, volta-se a ter visão. “Fiquem quietos. Vem para cá, são foguetes, avisa Faiber, um dos sob-comandantes da Companhia. Um míssil atinge um alvo invisível e uma chuva de balas castiga a terra. “Me sinto normal. Chega a hora na qual a gente perde o medo, diz Faiber, ordenando seus companheiros a continuarem a marcha.


Nessa noite, o acampamento foi erguido sobre uma plantação. Aviões das forças militares patrulhavam constantemente. Comandantes rebeldes ordenaram um apagão total e confiscaram as lanternas dos combatentes. Todas as conversas eram sussurros, só.


Enquanto escutavam o barulho sobre as suas cabeças falavam sobre “la exploradora referindo-se

a um avião de reconhecimento, a “la Marrama um avião de artilharia e equipado com sofisticados sensores noturnos. Suas vidas dependem da observação destes aviões a tempo de evitar serem detectados.


Embaixo de um telhado de zinco de uma cabana de camponeses abandonada, Jagwin explica como sobreviveu a um bombardeio.


O último recurso que nós tínhamos, recorda, era a trincheira. Quando veio um bombardeio nos enterramos nela. E no momento do desembarque (de tropas) íamos saindo. "


Willington, 40, também sentiu a fúria das missões aéreas. Ele ofereceu poucos detalhes, mas confessou que ele e outros sobreviventes tiveram de abandonar os mortos e feridos - um tabu para qualquer força militar. “É difícil ter que abandonar uma zona de combate ou bombardeio deixando companheiros feridos ou mortos. São companheiros e haviam compartilhado uma vida de guerrilha com eles. Eles são os que haviam posto o peito às balas na linha de fogo.


Por essa razão, nessa noite como todas as noites, os comandantes instruíram os guerrilheiros sobre as rotas de evacuação em caso de bombardeio. Eles ordenaram usar canos pouco profundos e pequenas trincheiras escavadas perto de suas entradas para se protegerem contra uma possível chuva de estilhaços. E, finalmente, antes de deitar, elaboraram os planos de combate em caso de terem que enfrentar um ataque noturno.


Os dois dias seguintes foram uma série de marchas cansativas. Enquanto a Companhia avançava, os membros de pelo menos outras duas colunas e outras três Frentes das FARC apareceram para guiá-los ou simplesmente saudá-los. A rede de comunicações da guerrilha estava funcionando eficazmente apesar das versões governamentais sobre as FARC que haviam perdido o "comando e o controle - ou seja, a capacidade das diferentes unidades comunicarem-se e coordenar entre si.


A época de chuvas havia chegado atrapalhando a meta da “companhia Marquetalia que avançava menos de dois quilômetros por hora.


No caminho, ninguém tinha muito animo para falar.


Estavam cansados, com suas mochilas de 30 quilos, com rifles e morteiros. Suas botas de borracha estavam cheias, metade com água morna do rio e a outra metade com o suor. Enormes raízes formavam passos naturais para baixar as bordas lamacentas. Borboletas de um azul elétrico voavam pelo mato. Os macacos balançavam-se entre as copas das árvores, atirando galhos ao chão de vez em quando.


Com poucas exceções as idades dos guerrilheiros na Companhia variava entre 20 e 30 anos.


Eram jovens, em bom estado físico e de famílias pobres - um perfil comparável aos soldados rasos de qualquer unidade de infantaria, que seja do exército colombiano ou tropas estadunidenses no Iraque ou no Afeganistão.


Hospital ambulante


O destino para a “Companhia Marquetalia após dois dias de marcha foi uma cabana de madeira escondida na selva. Na parede, se via um cartaz escrito à mão com as palavras “Brigada cívico- militar Jorge Briceño Suárez.


Guerrilheiros de uma unidade irmã, a “Companhia Ismael Ayala, haviam instalado uma clínica para oferecer tratamento odontológico e pequenas cirurgias aos camponeses e suas famílias. Ponchos camuflados serviam as vezes de paredes ao redor da sala de odontologia. Outro poncho marcava a entrada a outra sala onde os médicos das FARC estavam prontos para operar utilizando anestesia local.

Uma mãe havia levado seus três filhos. Sua tentativa anterior de procurar tratamento com um dentista civil em La Julia - a mais ou menos três horas de distância - acabou por ser uma viagem perdida. "Fui com eles, mas a enfermeira que retirou os dentes não estava nesse dia, então tive que trazê-los de volta para casa."


Ela, como outros que esperavam na clínica das FARC, disse que a atenção na vila é gratuita mas de baixa qualidade. Mas, se algum paciente não está registrado no plano de saúde, um dentista particular lhe cobraria 25.000 pesos para arrancar um dente. Embora o custo mais alto seja para pagar a viagem de ida e volta à cidade.


Enquanto, as clínicas de guerrilha como esta podem ser consideradas uma solução momentânea para os camponeses, não representam uma solução de longo prazo para as condições precárias de saúde destas comunidades isoladas.


Claramente é uma campanha de guerrilha para ganhar os “corações e mentes do povo. Yesid, um dos médicos rebeldes, conta: “O que diariamente estamos procurando é ganhar as massas. Porque o que ganha as massas ganha a guerra. Também o fazemos porque somos do povo e trabalhamos para o povo.


É uma tática comum de qualquer força militar, especialmente aquelas envolvidas em uma guerra irregular. O exército colombiano tem suas próprias brigadas civis e militares igual ao exército norteamericano no Iraque e Afeganistão.


A clínica havia funcionado apenas uma hora naquele dia e uma dúzia de civis haviam se reunido. De repente, chegou a notícia de que o exército estava se aproximando. As consultas deveriam ser

suspensas imediatamente.


O confronto anunciado entre as duas forças nunca aconteceu. Os líderes da guerrilha não tinha uma idéia clara de quantos soldados havia nem para onde estava se mobilizando.


Assim, a “Companhia Marquetalia optou por mudar seu acampamento e manobrar para evitar os seus oponentes. Jagwin explica: “Na guerra de guerrilha se escolhe o campo de batalha, dizemos, podemos lutar aqui ou ali, ou lá podemos esperar.


Essa decisão foi um exemplo de como as unidades de combate das FARC tem absorvido as lições de suas últimas derrotas. Estão revigorando a Guerra de Guerrilhasna qual a mobilidade torna-se sua principal vantagem. É também outro sinal de que esta guerra de baixa intensidade poderia prolongar-se indefinidamente, pelo menos aqui no campo.


Um dia depois, a clínica da guerrilha estava de volta e funcionando em outro lugar a vários quilômetros. Desde o início 17 adultos e algumas crianças haviam sido registrados para receber tratamento. Não há eletricidade na região. Somente alguns com sorte tem plantas ou painéis solares.


Por esta razão, observar uma extração de dente ou um corte de bisturi na pele, especialmente quando se trata de um vizinho, cria-se um espetáculo melhor do que um “show na televisão.


Uma menina observava um homem que ela conhecia como “don Luis, enquanto lhe operavam de

uma hérnia. Raios de luz penetrando através das fendas das paredes de madeira. Yesid, o médico, e seus três assistentes que trabalham sob a luz baixa de lanternas montadas sobre as suas cabeças. A mesa de operações era uma tábua de madeira montada parcialmente em um tronco de árvore.

Uma vez que a cirurgia começou, os médicos disseram que não tinham opção a não ser continuar, inclusive se o exército montasse um ataque surpresa. “Se começarem a cair bombas ou chumbo - anota Yesid, estamos onde estamos e não podemos deixar o paciente aberto


Apesar das tentativas por parte de políticos de rechaçar a guerra de guerrilha como uma tática em

desuso no século XXI, o modelo claramente segue vigente em todo o mundo.


E um olhar para a Companhia Marquetalia mostra que a guerra de guerrilhas tem sobrevividotambém na Colômbia. E uma nova geração de combatentes em seus vinte anos e tem quase uma década de experiência no campo de batalha.


As Farc estão acabadas? De maneira nenhuma. Todos os presidentes desde 1964 têm dito que vão acabar com as Farc, segundo Jagwin. “Não há dúvidas de que vamos chegar ao poder, acrescentou Willinton. “Mas, se o governo desse ao povo tudo o que é necessário certamente não haveria guerrilha. Não teríamos um propósito para lutar.