"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A lição de Evo Morales


O Papa Francisco – diz Evo Morales – tem posições revolucionárias, é anticapitalista como eu, está com os fracos, é uma nova esperança para a Igreja”. O abraço e o encontro privado com o Papa – um jantar na quarta-feira a noite que durou pouco mais de uma hora e meia – abriram a visita de três dias do presidente boliviano a Roma. Reeleito em 12 de outubro com 60% dos votos, o indígena Evo Morales é hoje na América Latina o campeão da tendência bolivariana, do “socialismo do século XXI”. Mas foi transformado graças a uma gestão pragmática da economia, com as contas em ordem, com grandes reservas validadas pela exportação de gás e petróleo. Com políticas de redistribuição de renda. E um futuro promissor com a quinoa e o lítio.



A sua Bolívia é, ao contrário de países com a Venezuela pós chavismo e a Argentina, um exemplo de sucesso político e econômico. Morales inicia nestes dias o seu terceiro e último mandato sobre as asas do triunfo eleitoral. Com o tempo – eleito em 2005 atenuou qualquer radicalismo, mas insiste na necessidade de um mundo sem consumismo, desperdício e luxos: “Nas zonas mais pobres do planeta – afirma – morrem de fome milhões de seres humanos e ao mesmo tempo, na parte mais rica da Terra, se gastam milhões para combater a obesidade e se jogam fora toneladas de alimentos”. Muitos apaixonados pelo futebol, torcedores do Roma, fãs de Totti, ontem a noite convenceu também o diretor geral da FAO a se envolver em algum drible com ele e depois ir ao estádio ver o Roma jogar.



A entrevista é de Omero Ciai, publicada pelo “Corriere della Sera”, 30-10-2014. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.



Eis a entrevista.



Presidente é correta a análise segundo a qual o seu melhor resultado foi aquele de reunificar politicamente a Bolívia?



Sim, não existe mais duas Bolívias de quando cheguei ao poder. Aquele dos índios dos Andes e aquela dos descendentes europeus das planícies. No 12 de outubro votaram todos por mim, vencemos em todas as regiões do país com exceção de uma”



Como foi possível? Há pouco tempo se temia uma secessão no seu país entre as áreas mais ricas e as áreas dos Andes onde vivem os índios mais pobres. Nascia também um partido que lutava pela independência da “meia-lua”, as quatro regiões não andinas.



Não existe mais a meia-lua, nos transformamos em uma lua cheia. Pra mim era muito importante a unidade do país. Não somente a territorial mas também a cultural, sindical e social. Os separatistas foram derrotados. Obtivemos este resultado trabalhando junto com todas as cidades e movimentos sociais.



Outra coisa que surpreende é a situação econômica. As contas estão em ordem, a inflação baixa, o desemprego está próximo aos 3%, o PIL continua a aumentar. Até mesmo o odiado FMI hoje indica a Bolívia como um modelo.



Me preocupa quando o Fundo Monetário diz algo de positivo sobre nós. Mas a verdade é que hoje somos nós que fornecemos receita e exemplos de administração ao Fundo e não mais eles a nós. O nosso ministro da Economia não discute somente com o Fundo Monetário, é convidado pelas Universidades americanas para explicar o nosso modelo. E no que consiste este nosso modelo? Superar a economia dos recursos naturais e passar de uma economia de matérias primas a uma economia industrial sem perder de vista os aspectos sociais.



Quando o senhor chegou à presidência em 2005 a Bolívia era um país em meio ao caos, existiam revoltas contra a privatização das riquezas, os presidentes se mantinham durante poucos meses, um chegou a fugir. O que mudou com a eleição do primeiro índio nativo?



Penso que conseguimos mudar também a percepção do fazer política. Antes do nosso governo a política era feita com base nos interesses e nos negócios dos políticos, a elite branca que saqueava o país. Para eles a política era a ciência de como utilizar o povo. Para nós a política é a ciência de servir o povo.



O senhor venceu na Bolívia, Dilma Rousseff venceu no Brasil, o partido de Pepe Mujica no Uruguai, a Bachelet no Chile. Existe uma esquerda na América Latina que demonstrou saber governar...



Eu era agricultor, produtor de coca, cultivava folha de coca e no meu país se dizia que os agricultores serviam apenas para votar, jamais para governar. Demonstramos exatamente o contrário. Na América Latina existe um sentimento generalizado de liberdade democrática, de rejeição as velhas políticas de dominação e apropriação indébita do dinheiro público. Não digo um sentimento capitalista mas certamente anticolonialista.



Acredita agora no “socialismo do século XXI”?



Todos os países tem suas particularidades. Na Bolívia temos uma economia pluralizada muito atenta a reduzir as diferenças de renda. Em menos de 10 anos a extrema pobreza reduziu de 38% a 18% e cairá ainda mais. O desemprego está aos 3%. Tudo isso foi obtido nacionalizando os recursos naturais que anteriormente eram saqueados.



No seu país ainda existe o problema do trabalho infantil?



Existe uma diferença cultural. Comecei a trabalhar com a minha família assim que aprendi a caminhar. Infelizmente quando se é pobre as crianças ajudam as famílias. Reduzindo a pobreza resolveremos este problema também.
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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O ministério da correlação de forças


Por Saul Leblon

A presidenta Dilma fará de seu novo ministério uma trincheira de competência técnica, mas também um instrumento de ação política para abortar cercos e superar flancos revelados antes e depois das urnas.

O PT, partidos aliados e movimentos sociais naturalmente serão contemplados: foi deles a responsabilidade pela candidatura vitoriosa em outubro.

Mas o setor empresarial também será incorporado.

A concessão de um governante vitorioso é uma lâmina de dois gumes.

Um deles fatia um pedaço do seu mandato para o mercado; o outro fatia um pedaço do mercado que os inconsoláveis pelotões do revanchismo querem perfilar na ordem unida do terceiro turno contra Dilma.

Quem serão os anfíbios nessa composição?

Aqueles com os quais é possível dialogar porque tem um grau de compreensão mais amplo do significado de um processo de desenvolvimento.

Ou seja, enxergam em um mercado interno pujante, com empregos, salários e direitos sociais a contrapartida indissociável de vendas, lucros e investimentos.

Um exemplo aleatório?

Luiza Trajano –dona da rede Magazine Luiza, a maior do Brasil.

Em janeiro deste ano a empresária soterrou em estatísticas  um gabola representante da secessão conservadora em debate na Globo News. ‘Poupe-me Luiza’, grunhiu o rapaz, Diogo Mainardi, já nas cordas, quase exangue, depois que a empresária ainda pediu seu email  para entupi-lo  com mais informações opostas à ignorância  exclamativa do interlocutor sobre a situação econômica do país.

Quando outros integrantes da mesa balbuciaram o risco de ‘bolhas’ em socorro ao nocauteado, a convidada ainda retrucou: “Como é possível falar em bolha? Nós precisaremos construir 23 milhões de moradias nos próximos anos do Minha Casa Minha Vida para que a população atinja um nível habitacional próximo ao dos países desenvolvidos. Como se pode falar em bolha? São 23 milhões de casas para 23 milhões de pessoas. (Gente) que mora hoje com o sogro, a sogra ou pagando 400 reais de aluguel por um cômodo. (Em habitação) não se pode esquecer que nós tivemos três décadas  perdidas (como bolha?)’

Não foi necessário contar até dez: o telespectador atestou o nocaute técnico com fraturas espalhadas por toda a credibilidade da bancada do Brasil aos cacos.

Exemplos como os de Luiza Trajano ou o do aventado  Luiz Trabuco Cappi –presidente de banco que pensa como a empresária, não por benemerência, mas de olho no avanço do crédito no país, podem ser acomodados em um governo de composição acossado pelo terceiro turno golpista, associado aos rentistas que preferem lucrar sem produzir.

Acercar-se de anteparos não antagônicos à construção de um desenvolvimento convergente é o que qualquer governante progressista sempre fez e fará, após renhida batalha eleitoral.

A pretensão conservadora de isolar Dilma em uma Guantánamo institucional, e impedi-la de governar, não é uma miragem.

As operações de assalto estão explícitas nas manchetes ressentidas das horas que correm, nos perdigotos expelidos de colunas sulfurosas e na rejeição da Câmara ao projeto que institui conselhos populares --organismos consultivos para o aperfeiçoamento dos programas sociais do governo.

São sinais do tipo: às favas as urnas!

Reverter a escalada dos liberais que não se libertam jamais da UDN embutida nas veias, não se resolve com um ministério puro sangue.

É mais difícil que isso.

E é dessa dificuldade que deveriam cuidar prioritariamente o PT e os movimentos sociais.

Em vez de serem desmobilizados os recursos, as lideranças, as caravanas e as estruturas de coordenação destinadas à vitória nas urnas –como sempre se fez--   chegou a hora de fincar um divisor de águas.

Voltar às bases; organizar a sociedade; reatar o diálogo no campo da esquerda.

Para fazer diferente do que a frente única do conservadorismo apregoa para o Brasil nesse momento não basta lutar por nomes no ministério do novo governo.

Quanto vale um general sem exércitos?

 O ministério mais importante hoje é aquele capaz de coordenar as linhas de passagem para um novo ciclo econômico repactuando metas, concessões, prazos, avanços e salvaguardas com o conjunto das forças sociais.

Esse ministério não fica em Brasília. Seu endereço: metabolismo do movimento social brasileiro, sem número, sem sede, sem articulação intersetorial, sem mídia abrangente, sem canais com a opinião pública, sem...

Se o campo progressista não  dispõe de força sequer para aprovar conselhos populares de natureza consultiva, que chance existe de vingar uma regulação da mídia, prevista aliás desde a Constituição de 1988 e nunca posta em prática? (
Leia a análise de Venício Lima; nesta pág).

Mais que isso.

Quem adiciona coerência à macroeconomia do desenvolvimento é correlação de forças da sociedade em cada época.

O colapso neoliberal trouxe para o colo do governo uma crise da qual a Nação é vítima e não sócia; as forças progressistas são adversárias, não coautoras.

O nome da crise não é PT, não é Petrobrás, não é intervencionismo.

O nome da crise é a desenfreada ferocidade com que capitais especulativos impuseram um padrão global de taxa de retorno irreproduzível na economia sem níveis asiáticos de exploração da mão de obra.

O nome da crise é a ausência de instituições internacionais com poder de coordenação sobre essas matilhas   –e de contrapartidas locais de contenção na forma de controles efetivos sobre os fluxos de capitais.

É tudo isso que subtrai o chão firme de governos progressistas nas diferentes  latitudes econômicas.

No Brasil com uma agravante, como mostram os acontecimentos nas horas que urgem.

O cerco conservador derrotado nas urnas sentiu o cheiro das feridas abertas no adversário. E decidiu emendar um terceiro turno de golpismo paraguaio, corroendo a vontade das urnas por dentro das instituições.

Nas páginas de economia martela-se a contrapartida macroeconômica do putsch  branco: o dirigismo (leia-se o pré-sal) e a gastança fiscal (leia-se o salário mínimo e os programas sociais) são incompatíveis com a necessária redução do juro para a retomada do investimento.

Em miúdos: para voltar a crescer o país precisa de algo que o governo reeleito é incapaz de propiciar, a menos que se renda incondicionalmente ao programa derrotado.

 Um xeque-mate?

Não, pelo pequeno detalhe de que as urnas não sufragaram o que seria a pá de cal no projeto de construção de uma democracia social no Brasil.

 Ao contrário, dobraram a aposta no caminho.

Não iludidas, não anestesiadas pela propaganda petista, como se dizia antes.

Mas amadurecidas após 12 anos e três sufrágios presidenciais na mesma direção, a ponto de 54,5 milhões resistirem à avalanche de criminalização e demonização do partido portador desse projeto.

É isso que impede o destape final do aluvião de arrocho armazenado no dique do conservadorismo.

Não é café pequeno, portanto, o confronto em marcha batida no país.

Tampouco é negligenciável o fato de que a negociação do quarto ciclo de governo progressista se dá sob a determinação de uma realidade mundial  pior  que a vigente em 2002, 2006 e mesmo em 2010.

A tese de que o Brasil é uma ilha de crise petista cercada de prosperidade neoliberal por todos os lados --da qual inadvertidamente o ‘intervencionismo apartou o país’, faz parte da fabulação criada para   engessar o novo governo.

O desempenho das exportações, por exemplo, tem sido decepcionante urbi et orbi. Da Alemanha de Merkel, aos EUA de Obama. E a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê que o oxigênio externo ficará ainda mais rarefeito.

A expansão prevista para o comércio mundial em 2015 recuou de 5,3% para 4%, sujeita a novos recortes; bancos brasileiros já trabalham com 3%, para menos.

A ideia genial dos armínios globais de arrochar o consumo interno e deslocar a oferta de cada economia para a demanda do vizinho colidiu com as leis da física.

Na medida em que todos pularam de cabeça no cocho alheio, a busca da  ração transformou-se em anemia coletiva.

Nesse ambiente entupido de produção sem demanda, com elevada capacidade ociosa na indústria, o mercado popular criado no Brasil nos últimos 10 anos (53 milhões de pessoas, que formam a 16ª economia do mundo, com credenciais para o G 20) representa um trunfo inestimável.  Mas a moeda valorizada há duas décadas fragiliza essa conquista, transformando-a em um aspirador de importações, com os efeitos depressivos na produção, no emprego e no investimento industrial.

Reverter esse flanco é crucial.

 Não tanto para redimir as exportações, pelas razões expostas acima. Mas para preservar principal usina de produtividade da economia, sem a qual não haverá excedente econômico a negociar em uma sociedade que reclama novos saltos de qualidade de vida, renda e direitos.

A defesa da industrialização, portanto, é indissociável do projeto vitorioso nas urnas de outubro, que pressupõe a repactuação de uma matriz de crescimento ordenada pela justiça social.

Não será um processo isento de algum sacrifício programado, alerte-se. Negociado democraticamente, porém, disporá de salvaguardas associadas a um calendário de ganhos progressivos.

A composição do novo ministério da Presidenta Dilma é um pedaço dessa negociação.

Mas é só uma das múltiplas rodadas que vão se estender pelos próximos quatro anos, com uma peculiaridade: e Karl Marx redivivo sucedesse ao keynesiano Guido Mantega pouco espaço teria para colocar em prática suas convicções, diante da correlação de forças interna e internacional.

Modificá-las implica organizar a sociedade para que o resultado da urna se traduza em um poder efetivo de pressão nos embates à vista.

 O estiolamento dessa referência organizada nos últimos anos talvez explique um pedaço significativo dos 48 milhões de votos obtidos pelo conservadorismo na disputa presidencial.

O ciclo progressista iniciado em 2003 libertou 60 milhões de brasileiros da calcificação  social .

Supunha-se que isso teria mudado a geografia política do país de forma irreversível nos marcos da legalidade. A quase derrota eleitoral em diferentes momentos da disputa presidencial de 2014 mostrou que essa mutação ademais de inconclusa no campo social é volátil na sua  inexistente organização política.

O que mais o PT tem a dizer a esse universo que ascendeu ao consumo e, sobretudo, como pretende que ele assuma o comando efetivo de seu destino rumo a uma cidadania plena?

Esse é o ministério que o campo progressista precisa ocupar com infatigável determinação no mais breve espaço de tempo: o ministério da mudança na correlação de forças e da hegemonia histórica na sociedade brasileira.

As urnas lhe deram quatro anos para isso.

Se falhar de novo, dificilmente haverá uma chance tão cedo outra vez.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Soros e a CIA agora investem em Neves-neto tentando derrotar Rousseff


Soros manipula políticos. Obama é exemplo.

Por Wayne Madsen*




Depois que manipuladores na imprensa-empresa brasileira, a CIA e empregados de George Soros tentaram inventar Marina Silva, candidata-de-Partido-Verde- convertida-em-socialista- repentina, para concorrer à presidência do Brasil, depois de um acidente aéreo clássico "de manual” da CIA, em que morreu o candidato do verdadeiro Partido Socialista, Eduardo Campos, todas essas mesmas forçar voltam a atacar, favorecendo agora o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Aécio Neves.


Embora Neves estivesse em 2º lugar, atrás só da atual presidenta brasileira Dilma Rousseff, antes do 1º turno das eleições de outubro, a comoção gerada pela morte de Campos e de vários de seus assessores, dia 13 de agosto de 2014, empurrou Neves para o 3º lugar nas pesquisas.


Depois de afastado Eduardo Campos, Marina Silva, favorita de Soros e de sua rede internacional de dinheiro para ONGs, foi então catapultada para o 2º lugar. Felizmente, graças ao trabalho de inúmeros jornalistas blogueiros investigativos, as conexões de Marina Silva com Soros e sua equipe de intervencionistas e magnatas operadores de hedge funds foram descobertas e expostas.


Com os eleitores brasileiros já cientes dos cordões de marionete que ligavam Marina Silva a Soros e a outros banqueiros brasileiros e globais, ela afinal apareceu em 3º lugar nas urnas, dia 5 de outubro de 2014, fora, portanto, do segundo turno eleitoral. Adiante, a mesma Marina "socialista” Silva, derrotada nas urnas, declarou apoio ao neoliberal Neves – segunda aposta de Soros para tentar assumir as rédeas do poder presidencial no Brasil.


O principal conselheiro econômico de Neves e o homem que seria ministro das Finanças numa eventual presidência de Neves é Armínio Fraga Neto. Amigo próximo e ex-sócio de Soros e de sua empresa Quantum, de hedge funds . Fraga conta com a presidência de Neves para abrir o Brasil às "forças de mercado”, as mesmas que declararam guerra econômica à Venezuela e estão tentando derrubar a Argentina servindo-se de amigos de Soros que comandam fundos-abutres em Wall Street . Fraga, freqüentador habitué do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, é também ex-empregado de Salomon Brothers e ex-presidente do Banco Central do Brasil. Fraga também é ligado a Goldman Sachs, através de uma corretora imobiliária em Manhattan.


Armínio Fraga e George Soros


Fraga é também membro do elitista Conselho de Relações Exteriores [orig. Council on Foreign Relations ] e do Grupo dos 30 [orig. Group of 30 ], o que o põe no mesmo campo que outros vilões de Wall Street como Alan Greenspan, David Rockefeller, Jacob Frenkel, ex-presidente do Banco de Israel e o colunista Paul Krugman, apologista de Wall Street [e colunista da Folha de S.Paulo , onde no começo da semana em curso escreveu que "O que o mercado está dizendo, na verdade, é que o Fed está imprimindo dinheiro de menos ” (sic)] e do ex-secretário da Fazenda dos EUA, Larry Summers.


A vitória fácil de Rousseff no primeiro turno das eleições de 5 de outubro de 2014 pôs em modo de propaganda frenética toda Wall Street e seus operadores-jornalistas no Brasil que fazem oposição aos planos de Rousseff de ampliar o banco de desenvolvimento Banco dos BRICS) que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, para competir com o Banco Mundial.


Pesquisas muito questionáveis sugerem que Rousseff e Neves estariam correndo pescoço a pescoço (em "empate técnico”, como se diz no Brasil) agora que se aproxima o 2º turno das eleições, dia 26 de outubro de 2014. Mas esses resultados só são apresentados como confiáveis e rigorosos pelos sempre patéticos "estenógrafos” de Wall Street fantasiados de jornalistas, cujos textos enchem as páginas de The Wall Street Journal , Financial Times , Bloomberg News e Forbes.


Presidente Getúlio Vargas trabalhando...


O avô de Aécio Neves, Tancredo Neves [foi ministro da Justiça de Getúlio Vargas de junho de 1953 até o suicídio do presidente, tempos de extrema dificuldade; foi primeiro-ministro no final da ditadura; e] foi eleito presidente do Brasil dia 15/3/1985, em eleições ainda indiretas, depois de derrotada no Parlamento a campanha histórica pelas "Diretas Já”. Mas Tancredo foi eleito nas primeiras eleições que elegiam presidente civil , depois de já 20 anos de ditadura no Brasil. Na véspera de tomar posse, solenidade marcada para o dia 15/3/1985, Tancredo Neves caiu gravemente doente. Com a doença do presidente eleito, foi empossado o vice-presidente, bem mais conservador, José Sarney. Tancredo nunca se recuperou e morreu, ao que se sabe, de diverticulite, dia 21/4/1985. Depois se divulgou que Tancredo sofreria de um câncer não descoberto, senão depois de já se ter alastrado. Essa semana, dia 16 de outubro corrente (2014), na saída de um debate televisionado com o candidato Aécio Neves, a presidenta Dilma teve um ligeiro mal-estar, o que muito assustou muitos brasileiros, que lembraram do que acontecera a Tancredo Neves.


O que se sabe com certeza é que na CIA havia gente, além dos que sabiam preparar convenientes acidentes de avião , como os que mataram o primeiro-ministro português Francisco Sá Carneiro, o líder panamenho Omar Torrijos e o presidente do Equador Jaime Roldós, todos num período de seis meses, entre dezembro de 1980 e abril de 1981 [depois da eleição de Ronald Reagan à presidência dos EUA e da volta para dentro da CIA dos pistoleiros infames que haviam trabalhado para George H W Bush e William Casey], que servia na Divisão de Serviços Técnicos, que continuava a desenvolver armas químicas, inclusive agentes cancerígenos, para assassinar alvos políticos.


Néstor Kirchner e Hugo Chávez assassinados?


Em anos recentes, vários líderes latino-americanos foram atingidos ou por cânceres ou por ataques cardíacos. As duas vítimas mais notáveis foram os presidentes da Venezuela Hugo Chávez, e da Argentina, Nestor Kirchner. Noticiou-se que a esposa de Kirchner e atual presidenta da Argentina Cristina Fernandez de Kirchner teria um câncer na tireoide, o que adiante foi desmentido por seus porta-vozes. Mas uma "onda” de cânceres em diferentes graus atingiu vários outros líderes latino-americanos, como o ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo (que foi deposto por golpe arquitetado pela CIA ); o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos (depois de haver assinado um acordo de paz com o movimento guerrilheiro revolucionário das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC); o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; e o recentemente re-eleito presidente da Bolívia, Evo Morales.


O presidente da Guiana, Forbes Burnham, morreu de câncer na garganta; e o presidente de Nauru , Bernard Dowiyogo, morreu de um ataque cardíaco fulminante, quando eram atendidos em hospitais em Washington. Muitas suspeitas cercaram essas duas mortes, acontecidas nos hospitais da Georgetown University e George Washington , respectivamente.


Sidney Gottlieb O macabro cientista-chefe da CIA , o judeu húngaro Dr. Sidney Gottlieb , desenvolveu várias armas biológicas para o programa MK-ULTRA da CIA , durante os mais de 20 anos de serviços que prestou à agência. Uma delas foi uma toxina biológica metida no tubo de pasta de dentes a ser usado pelo primeiro-ministro do Congo, Patrice Lumumba; outra, um lenço contaminado com bactérias de botulismo, a ser oferecido ao líder iraquiano general Abdul Karim Kassem.


Mas o movimento de Aécio Neves distanciar-se das credenciais democráticas do avô, é manifestação de outro aspecto das operações da CIA para influenciar governos estrangeiros. Aécio Neves representa os interesses de Wall Street , o que se vê claramente pela presença de Fraga como conselheiro econômico.


Os abutres de Wall Street , inclusive outros sócios de Soros e Fraga em New York , querem privatizar a empresa estatal de petróleo brasileira, Petrobras. Por isso, Aécio Neves foi imediatamente "encampado” pelos mesmos interesses financeiros globais que tentaram inventar Marina Silva para pô-la na presidência do Brasil. Com ela derrotada nas urnas, aquelas mesmas forças rapidamente se realinharam para tentar eleger o Neves-neto [desfrutável]. Para a CIA , o sangue não é mais espesso que a água.


Mas tampouco parece fazer qualquer diferença, também aos olhos do Neves-neto, que haja alta probabilidade de a CIA ter tido parte ativa no assassinato de seu avô. Um filho de Omar Torrijos, Martin Torrijos, tornou-se presidente do Panamá, exclusivamente para assinar um acordo de livre-comércio pró- Wall Street entre seu país e Washington. Martin Torrijos também obedeceu festivamente as ordens dos banqueiros globais, para que aumentasse a idade mínima para aposentadorias no Panamá e reformasse toda a seguridade social. E esse Torrijos-filho também foi aliado íntimo do presidente George W. Bush, sem se incomodar com o fato de o Bush-pai, presidente George H W Bush, ter, muito provavelmente, autorizado a operação da CIA que assassinou o Torrijos-pai.


A líder asiática de oposição preferida de George Soros, Aung San Suu Kyi, tampouco parece incomodada pelo fato de amigos de Soros no Gabinete de Serviços Estratégicos/ CIA terem ordenado à inteligência britânica que assassinassem o pai dela, Aung San.


Aung San Suu Kyi à frente do retrato de seu pai


Aung San, fundador do Partido Comunista da Birmânia foi escolhido para tornar-se o primeiro presidente de Burma independente, imediatamente depois da independência. Mas Aung San foi assassinado por terroristas a serviço do ex-primeiro ministro pró-Grã Bretanha, U Saw. As armas para os assassinos chegaram diretamente pelo capitão do exército britânico David Vivian, que conseguiu, com "ajuda” de alto nível dentro do governo de Burma, escapar de uma prisão local, em 1949.
O líder do Partido Liberal do Canadá Justin Trudeau, filho do ex-primeiro-ministro Pierre Elliott Trudeau, sempre agradou muito, ao contrário de seu pai, aos EUA, a Wall Street e à causa da globalização.


Justin Trudeau e Aécio Neves são claros exemplos de como águia da CIA opera tentando tomar debaixo da asa, para usar como seus instrumentos, filhos e netos de políticos populares importantes e representativos em todo o mundo, mas filhos e netos já esvaziados de qualquer conteúdo efetivamente histórico representativo de forças da maioria da população.


Dilma Rousseff vitoriosa!


As políticas da presidenta Rousseff criaram-lhe inimigos poderosos por trás das paredes da CIA em Langley, Virginia, e nas salas de reunião de Wall Street e das mais poderosas empresas do ocidente. No primeiro turno de 5 de outubro de 2014, a presidenta Rousseff conseguiu provar que pesquisas e "especialistas” erraram. Mas 26 de outubro de 2014 é outra eleição.


Dia 26 de outubro de 2014, o povo brasileiro votará pela própria vida.


Para os pobres do Brasil e para a emergente classe média, uma vitória de Neves destruirá os meios que afinal encontraram, para viver melhor, sim, mas também destruirá a própria vida que, afinal, conheceram, nos governos Lula-Dilma.
++
*Jornalista investigativo, autor e colunista. Tem cerca de vinte anos de experiência em questões de segurança. Como oficial da ativa projetou um dos primeiros programas de segurança de computadores para a Marinha dos EUA. Tem sido comentarista frequente da política de segurança nacional na Fox News e também nas redes ABC, NBC, CBS, PBS, CNN, BBC, Al Jazeera , Strategic Culture e MS-NBC. Foi convidado a depor como testemunha perante a Câmara dos Deputados dos EUA, o Tribunal Penal da ONU para Ruanda, e num painel de investigação de terrorismo do governo francês. É membro da Sociedade de Jornalistas Profissionais (SPJ) e do National Press Club. Reside em Washington, DC.

As propostas do camarada Timo a Santos


Autor: Comandante Miguel Ángel.


«De repente os meios vêm nos apresentar o uribismo como o abandeirado da paz e da

solução política, e Uribe como o divino menino rechaçado pelas FARC»


Não se trata de que, por buscar a paz e a solução política ao conflito colombiano, os guerrilheiros e mandos das FARC-EP deixemos de ser revolucionários, isto é, de sonhar com a tomada do poder para o povo e trabalhar por ela. E, desde logo, tampouco se trata de que os reacionários e militaristas até à morte, os patrocinadores do paramilitarismo e do terror, da noite para o dia se transformem em anjos piedosos sem obsessões pelo lucro.


Em Colômbia, como no resto do mundo, têm existido talvez desde quanto tempo atrás os que, movidos pelo ânimo do enriquecimento e da dominação social, empregaram os mais grosseiros métodos para aumentar suas propriedades, sem importar-lhes para nada o despojo produzido a outros, nem o sofrimento causado com suas condutas. Se trata de setores que invocam uma suposta superioridade fundada em seu talento natural para os negócios, sua inteligência, sua cor de pele, sua fé religiosa e até em sua bravura. De maus ou estúpidos os demais, e nasceram para viver no andar de baixo.


Porém, também em Colômbia e no resto do mundo têm existido os que creem e cultivam outro tipo de valores, os que pensam nos interesses gerais, em que o da comunidade em seu conjunto tem prioridade sobre o individual e egoísta. Os que pensam que o mais pobre e insignificante dos seres humanos é também um ser digno, que merece todo o respeito e a solidariedade dos demais com o objetivo de contribuir com ele para superar seu estado. Este setor da sociedade é amigo do diálogo, se opõe ao emprego da violência e da guerra, sobretudo quando se propõem a expropriação e a vassalagem. Nesses casos, não teve outro remédio senão rebelar-se.


Os que põem de presente os diálogos de Havana é essa profunda contradição de interesses entre os que estão pelo caminho da guerra, da mão dura, da repressão e da intolerância, e os que estão pela via da democratização, do debate político aberto, da paz e da tolerância. Que a poderosa e venenosa propaganda dos primeiros desespere por todos os meios para apresentar as coisas ao revés não muda seu real significado.


O camarada Timo acaba de pôr o dedo na ferida. O urubismo e seu aparato político cinicamente denominado Centro Democrático representa a mais raivosa expressão da ultra direita de corte fascista, ainda que por seu estilo respeitoso nosso chefe não o expresse assim. São demasiados e contundentes os fatos históricos que provam os procedimentos desse setor político, ligado por nexos muito poderosos à cúpula militar e policial do país, que vão desde o desterro e o assassinato individual de compatriotas até as hordas do paramilitarismo e do deslocamento massivo de milhões de colombianos, passando por sua vinculação com as máfias do narcotráfico, sua humilhação ante as posições abertamente dominantes do imperialismo no mundo, sua intolerância total à crítica do sistema econômico e do regime político vigentes, sua hipócrita religiosidade cristã e suas presunções de superioridade, entre tantas outras condutas desprezáveis.


Assim que não nos digamos mentiras, o uribismo é um inimigo declarado da paz, da solução política e da reconciliação entre os colombianos. É o principal incitador e fazedor da guerra, do terror de Estado e da lei do mais forte. É a fonte da qual emana toda a podridão da qual a Colômbia padece. E está demonstrando o descaradamente com sua doentia posição ante os diálogos de Havana e o acordado até agora. Jamais se havia visto tanta construção mentirosa, suja e canalha como a exibida em suas 52 objeções aos acordos alcançados. Uma autêntica latrina de
fantasiosas porcarias.


O que o camarada Timo está dizendo a Santos e por seu conduto a toda a nação colombiana é que é urgente, prioritário, vital para a paz da Colômbia que o governo nacional faça a um lado e contribua para isolar essas perturbadas posições extremas.


Que, se na realidade o Presidente Santos pensa passar à história como o Presidente da paz, se encontra na obrigação de definir de uma vez por todas se se soma ao clamor da imensa maioria dos colombianos que se inclinam pela solução política, ou permanece atado às cadeias do uribismo fascista, preocupado como o primeiro por não desagradar a seu mentor. Quer dizer, se aposta na paz ou na guerra.


Por isso Timo acompanha sua respeitosa cominação com a proposta pública de um armistício, de um cessar bilateral de hostilidades que reforce e legitime os diálogos que se desenvolvam em Havana. Inclusive sugere ao Presidente que as gestões que se prepara a adiantar pela Europa na próxima semana, que, segundo seu dito, apontam a promover a paz no exterior, cumpra-as acompanhado de uma delegação das FARC. Isto é, em resumo, que se case definitivamente com a aposta da verdadeira reconciliação e dê as costas a seus inimigos declarados.


O manejo que os grandes meios de comunicação deram à carta do camarada Timo põe de presente que em realidade se encontram alinhados com a ultra direita uribista, ainda que se mostrem timidamente solidários com os esforços de paz do Presidente Santos e o conseguido em Havana. De outra maneira não se explica que saiam a dizer que Timoshenko está exigindo a Santos que arranque Uribe dos diálogos, inclusive até ironizando porque não se pode tirar a quem não está dentro. De repente, da noite para o dia, vêm nos apresentar o uribismo como o abandeirado da paz e da solução política e a Uribe como o divino menino rechaçado, apesar de sua declarada vocação pela paz. Não há direito. Que maneira tão miserável de manipular tudo.


Para Uribe e seu séquito é uma questão de fé o extermínio total das FARC-EP e, de passagem, dos que de um ou outro modo coincidem com nossas posturas políticas. A paz para eles consiste em que não exista ninguém que possa confrontar sua avareza assassina. É algo que os colombianos devemos ter a cada dia mais claro. Por isso é necessário rechaçá-los e isolá-los.


Montanhas de Colômbia, outubro de 2014.

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Equipe ANNCOL - Brasil

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http://anncol-brasil.blogspot.com

"O grande desafio é seguir lutando por reformas estruturantes", afirma dirigente do MST


 

Por Iris Pacheco

Da Página do MST

Em entrevista à Página do MST, Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, afirma que o papel da militância social nesta disputa eleitoral foi fundamental para a reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT), e coloca que “os movimentos sociais têm o grande desafio de seguir lutando por reformas estruturantes no Brasil”.


Conceição falou ainda sobre a Reforma Agrária: “junto à luta pela Constituinte Exclusiva manteremos firme nossa luta pela terra e sua democratização do acesso e uso (...) A luta por Reforma Agrária é urgente e necessária, e a presidenta reeleita deve reconhecer esse fato e assentar as mais de 120 mil famílias acampadas pelo Brasil", reforça, ao dizer que "derrotamos o neoliberalismo nas urnas e agora segue a luta para derrotar o latifúndio e o agronegócio”.


Outro debate importante que permeou toda a disputa eleitoral foi a atuação dos meios de comunicação convencionais, que Conceição citou ser a “ditadura da mídia” enfrentada pela presidenta.


“Dilma, que já enfrentou a ditadura militar, nesta campanha teve que enfrentar a ditadura da mídia. Agora reeleita não pode deixar de lado a democratização da mídia. Para construir um país democrático e desenvolvido é preciso avançar no direito à comunicação com ampliação da liberdade de expressão e garantia da diversidade e pluralidade na rádio e TV”.


Confira abaixo a entrevista:


Como você avalia a disputa do segundo turno, que se deu entre dois projetos antagônicos de governo: o neoliberalismo, representando na candidatura de Aécio Neves, e o neodesenvolvimentismo, na candidatura Dilma?

Primeiramente reconhecemos o papel e a força da militância social, que ao ver os dois projetos em jogo, conscientemente foi às ruas e fez a diferença, pois eleição se ganha nas ruas com mutirão popular, com uma militância preparada e um povo organizado para lutar pela democracia.


Neste cenário, em que o palco foram as ruas e as redes sociais, a direita disputou as eleições com todo seu poder, com o capital financeiro dos bancos, do agronegócio e principalmente com a mídia, que cumpriu um papel de construção do ódio a um projeto de mudanças, que tende a beneficiar a classe trabalhadora do Brasil. 


Assim, Dilma, que já enfrentou a ditadura militar, nesta campanha teve que enfrentar a ditadura da mídia.


O que essa disputa significou para os movimentos sociais e a classe trabalhadora do país?

A disputa das eleições foi extremamente acirrada pelo ódio com que a direita queria derrotar o PT e os movimentos sociais. 


Ódio que neste segundo turno ficou ainda mais nítido e se cristalizou na disputa da luta de classes, entre uma mudança que agregue direitos para o povo brasileiro e o programa símbolo do retrocesso neoliberal, que promove as privatizações, terceirização do funcionalismo público e o massacre e criminalização a luta pela terra.


Como você citou, a “ditadura da mídia” apoiou a onda conservadora nessa disputa. De que forma o governo deve atuar para mudar esse cenário? Após as críticas de Dilma à revista Veja, é possível que a democratização da comunicação seja pautada?


A presidenta Dilma, agora reeleita, não pode deixar de lado a democratização da mídia. Para construir um país democrático e desenvolvido é preciso avançar no direito à comunicação, com ampliação da liberdade de expressão e garantia de diversidade e pluralidade na rádio e TV.


O governo deve parar de bancar a Globo e a Veja, que sempre expressaram seu ódio à classe trabalhadora. Este segundo mandato tem que levar adiante o projeto de democratização dos meios de comunicação, pois é inadmissível que o governo gaste 70% de verbas públicas da área da comunicação com esse monopólio, que apenas ataca e demoniza a luta do povo brasileiro com o objetivo de manter seus privilégios.


Os movimentos e organizações sociais já têm a proposta da Lei da Mídia Democrática, um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) das Comunicações que questiona essa concentração midiática e reivindica a regulamentação do que diz a Constituição em relação às rádios e TVs brasileiras. 


Não podemos mais ser reféns das poucas famílias que dominam os meios de comunicação e oferecem o serviço da desinformação.


Dilma ganhou por uma pequena margem, e muito devido a setores da esquerda que resolveram apoiá-la neste segundo turno. Esses fatos podem levar a militância do PT e o governo mais à esquerda?

Com esta disputa acirrada coube aos movimentos sociais empunhar suas bandeiras e ir às ruas garantir a vitoria da Dilma, e principalmente ratificar nas urnas o que já tínhamos construído em 2002: a derrota ao neoliberalismo. 


Nesse contexto, os movimentos sociais foram fundamentais, apesar de suas pautas estarem aquém de ser atendidas. Basta observarmos os fracos números da Reforma Agrária durante os quatro anos de governo.


Por isso, seguiremos fazendo luta e pautando nossas reivindicações. Fomos às ruas para ganhar as eleições e sem dúvida pautar a campanha da candidata pela esquerda. 


Agora, seguiremos somando forças e ocupando latifúndios por uma sociedade mais justa e igualitária.


Em seu discurso da vitória, a presidenta Dilma afirmou que não acredita que a disputa das eleições tenha dividido o país, e que busca o diálogo com todos os setores da sociedade. Podemos considerar isso como um indicativo de como será seu segundo mandato?

Na América Latina, a direita segue seu projeto de tentar desestabilizar os governos populares. No Brasil não é diferente. Agora, pós-eleições, pregam que o país está dividido na tentativa de desqualificar o trabalho do governo.


O processo eleitoral foi pedagógico por conta da nítida disputa de classes que ocorreu. Por isso, acredito que a presidenta, ao ver o antagonismo dos dois projetos postos, foi inevitavelmente empurrada um pouco mais para a esquerda. 


Por exemplo, apesar de serem beneficiados pelo atual governo, o agronegócio, enquanto classe, foi para a campanha de Aécio e a derrotou em todos os lados possíveis.


Como seu segundo mandato pode abarcar o anseio de mudanças difuso em todo o país?

A Dilma é democraticamente a presidenta de todos e todas brasileiras. E como tal, esperamos que em seu segundo mandato realize de fato reformas estruturantes que atendam os anseios da classe trabalhadora, dos camponeses, dos estudantes e garantias dos direitos individuais dos LGBTs, das religiões de matrizes africanas, das mulheres, etc.


Para garantir essas bandeiras de luta, a presidenta vai ter que governar com o povo nas ruas, pois o congresso, fisiologista e conservador, pode derrotar seu governo no parlamento, e suas alianças partidárias também não são confiáveis.


No quesito ‘reformas’, a presidenta afirmou que a Reforma Política e o plebiscito por meio de uma consulta popular é sua prioridade para o novo mandato. Como essa reforma pode melhorar a vida do povo?

O plebiscito popular, realizado em setembro, é um movimento vitorioso. Obtivemos 7,7 milhões de votos a favor de um plebiscito por uma reforma constituinte, e a presidenta Dilma assumiu este compromisso.


As reivindicações básicas do povo brasileiro não são atendidas porque a estrutura de poder político do Brasil e suas regras de funcionamento não permitem mudanças profundas. 


Embora tenhamos direito ao voto direto nas eleições, vários elementos influenciam na vitória de candidatos que não estão nem um pouco comprometidos com as necessidades do povo.


Precisamos ter condições de construir uma ampla unidade nacional em torno de um plebiscito oficial por uma constituinte soberana e exclusiva. Por isso, vamos nos organizar, preparar a luta e cobrar dela este compromisso.


Ao mesmo tempo, a Presidenta reeleita sequer citou a Reforma Agrária, e seu programa é vago na questão do campo. Como o Movimento pretende atuar de agora em diante para exigir o avanço desta pauta?

Junto à luta pela Constituinte Exclusiva, manteremos firma nossa luta pela terra e sua democratização do acesso e uso. Seguiremos em busca de garantir a produção de alimentos saudáveis que chegue à mesa do trabalhador da cidade, com baixo custo e que inclusive ajude o governo a conter a inflação dos alimentos.


A Reforma Agrária é urgente e necessária, e a presidenta reeleita deve reconhecer esse fato e assentar as mais de 120 mil famílias acampadas pelo Brasil.


Derrotamos o neoliberalismo nas urnas e agora segue a luta para derrotar o latifúndio e o agronegócio, que não produz alimentos e nem trabalho para a população, não cria oportunidades para a juventude e expulsa os povos do campo para as cidades.


Quais os desafios de agora em diante?

Os movimentos sociais tem o grande desafio de seguir lutando por reformas estruturantes no Brasil. Devemos manter a luta pela terra, seguir construindo o plebiscito popular por uma constituinte exclusiva e exigir do governo a democratização da comunicação.


Também é necessária a reforma do Judiciário, que nos últimos anos tem criminalizado a luta pela terra, paralisado a criação de novos assentamentos ao engavetar os processos, trava as demarcações das terras indígenas e quilombolas e atua como principal conivente na impunidade dos crimes no campo.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ganhamos!


Emir Sader

Ganhou o povo o direito a consolidar os direitos conquistados e a avançar mais. Ganhou Dilma, que soube estar à altura dos desafios, em todas as circunstâncias.


Ganhou o povo, ganhou o direito a consolidar os direitos conquistados e a avançar mais.



Ganhou a esquerda, num segundo turno de clara contraposição entre direita e esquerda, derrotando mais uma vez a direita e todos os seus agentes – da mídia aos especuladores financeiros.



Ganhou a militância, que saiu às ruas, para desmentir que não existe mais, para fazer o maior ciclo de mobilizações populares que tínhamos conhecido em muito tempo e foi decisiva na vitória.



Ganhou o Lula, reafirmou sua condição de maior líder politico que o Brasil tem.



Ganhou a Dilma, que soube estar à altura dos desafios, em todas as circunstâncias e certamente fortaleceu suas condições de estadista para o novo – duro e determinante – mandato.



Ganhou o povo, que tem a continuidade de um governo que sabe defender seus interesses, mesmo em meio à recessão mundial e à sabotagem do grande empresariado.



Ganhou a mídia alternativa que, mesmo em combate brutalmente desigual, soube manter sua guerrilha, seu combate pela verdade e pelas ideias corretas.



Ganhou a America Latina, que continuará a ter no Brasil um grande aliado.



Ganhou o Sul do mundo, que poderá avançar nos acordos e nas conquistas dos Brics para a construção de mundo multipolar.



Ganhou o Brasil, que segue sua luta para se tornar um país justo, solidário e soberano.



Ganhamos o direito de seguir lutando para avançar.
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Com apoio de Adital

O susto no PT

Por Frei Betto


A eleição presidencial deu um susto no PT. Não esperava que Marina Silva se tornasse cabeça de chapa e obtivesse votação mais expressiva do que em 2010. E muito menos que ela, derrotada, apoiasse Aécio.



Não esperava que Aécio fosse um concorrente tão ameaçador. E muito menos que o PMDB entrasse rachado na campanha, com Hartung, do Espírito Santo, e Sartori, do Rio Grande do Sul, como cabos eleitorais do PSDB.



Assustou-o também a divulgação das denúncias de corrupção na Petrobras em plena disputa do 2º turno. Sorte que o adversário também tem telhado de vidro...



Lula conclamou, em São Paulo, a militância a ir de casa em casa. Que militância? Além de ver reduzida, pelas urnas, sua bancada de senadores e deputados federais, o PT já não conta com aquela aguerrida militância voluntária das décadas de 1980 e 90.



Agora, tudo depende de marketing e de muito dinheiro investido por pessoas jurídicas que, a partir de hoje, começam a cobrar a fatura.



Dilma sabe que tem pela frente uma espinhosa tarefa: cumprir o que prometeu e costurar o tecido da governabilidade em um Congresso tão esgarçado em partidecos, e desprovido de lideranças ética e politicamente consistentes em sua base de apoio.



O PMDB, rachado quase ao meio, usará todo o seu poder de pressão para ditar a pauta do governo. O PSDB, com apoio do DEM e do que resta do PSB, tentará consolidar uma oposição ferrenha, acirrada pela frustração de ter sentido o aroma do banquete ao qual foi desconvidado pelo resultado das urnas.



O PT enfrenta, agora, o desafio de governar melhor do que já fez até aqui e tentar resgatar o que, no passado, lhe imprimiu tanta credibilidade: o capital ético, a organização política dos setores populares e o compromisso de promover reformas estruturais.







Para entender a vitória de Dilma


Por Leonardo Boff


Nestas eleições presidenciais, os brasileiros e brasileiras se confrontaram com uma cena bíblica, testemunhada no salmo número um: tinha que escolher entre dois caminhos: um que representa o acerto e a felicidade possível e outro, o desacerto e infelicidade evitável.


Criaram-se todas as condições para uma tempestade perfeita com distorções e difamações, difundidas na grande imprensa e nas redes sociais, especialmente uma revista que ofendeu gravemente a ética jornalística, social e pessoal publicando falsidades para prejudicar a candidata Dilma Rousseff. Atrás dela se albergam as elites mais atrasadas que se empenham antes em defender seus privilégios que universalizar os direitos pessoais e sociais.


Face a estas adversidades, a Presidenta Dilma ao ter passado pelas torturas nos porões dos órgãos de repressão da ditadura militar, fortaleceu sua identidade, cresceu em determinação e acumulou energias para enfrentar qualquer embate. Mostrou-se como é: uma mulher corajosa e valente. Ela transmite confiança, virtude fundamental para um político. Mostra inteireza e não tolera malfeitos. Isso gera no eleitor ou eleitora o sentimento de “sentir firmeza”.

Sua vitória se deve em grande parte à militância que saiu às ruas e organizou grandes manifestações. O povo mostrou que amadureceu na sua consciência política e soube, biblicamente, escolher o caminho que lhe parecia mais acertado votando em Dilma. Ela saiu vitoriosa com mais de 51% dos votos.

Ele já conhecia os dois caminhos. Um, ensaiado por oito anos, fez crescer economicamente o Brasil mas transferiu a maior parte dos benefícios aos já beneficiados à custa do arrocho salarial, do desemprego e da pobreza das grandes maiorias. Fazia políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres. O Brasil fez-se um sócio menor e subalterno ao grande projeto global, hegemonizado pelos países opulentos e militaristas. Esse não era o projeto de um país soberano, ciente de suas riquezas humanas, culturais, ecológicas e digno de um povo que se orgulha de sua mestiçagem e que se enriquece com todas as diferenças.

O povo percorreu também o outro caminho, o do acerto e da felicidade possível. Neste ele teve centralidade. Um de seus filhos, sobrevivente da grande tribulação, Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu com políticas públicas, voltadas aos humilhados e ofendidos de nossa história, que uma Argentina inteira fosse incluída na sociedade moderna. Dilma Rousseff levou avante, aprofundou e expandiu estas políticas com medidas democratizantes como o Pronatec, o Pro-Uni, as cotas nas universidades para os estudantes vindos da escola pública e não dos colégios particulares; as cotas para aqueles cujos avós vieram dos porões da escravidão assim como todos os programas sociais do Bolsa Família, o Luz para Todos, a Minha Casa, minha Vida, o Mais Médicos entre outros.

A questão de fundo de nosso país está sendo equacionada: garantir a todos mas principalmente aos pobres o acesso aos bens da vida, superar a espantosa desigualdade e criar mediante a educação oportunidades aos pequenos para que possam crescer, se desenvolver e se humanizar como cidadãos ativos.

Esse projeto despertou o senso de soberania do Brasil, projetou-o no cenário mundial como uma posição independente, cobrando uma nova ordem mundial, na qual a humanidade se descobrisse como humanidade, habitando a mesma Casa Comum.

O desafio para a Presidenta Dilma não é só consolidar o que já deu certo e corrigir defeitos mas inaugurar um novo ciclo de exercício do poder que signifique um salto de qualidade em todas as esferas da vida social. Pouco se conseguirá se não houver uma reforma política que elimine de vez as bases da corrupção e que permita um avanço da democracia representativa com a incorporação da democracia participativa, com conselhos, audiências públicas, com a consulta aos movimentos sociais e outras instituições da sociedade civil. É urgente uma reforma tributária para que tenha mais equidade e ajude a suplantar a abissal desigualdade social. Fundamentalmente a educação e a saúde estarão no centro das preocupações desse novo ciclo. Um povo ignorante e doente não pode dar nunca um salto rumo a um patamar mais alto de vida. A questão do saneamento básico, da mobilidade urbana (85% de população vive nas cidades) com transporte minimamente digno, a segurança e o combate à criminalidade são imperativos impostos pela sociedade e que a Presidenta se obrigará a atender.

Ela nos debates apresentou um leque significativo de transformações a que se propôs. Pela seriedade e sentido de eficácia que sempre mostrou, podemos confiar que acontecerão.

Há questões que mal foram acenadas nos debates: a importância da reforma agrária moderna que fixa o camponês no campo com todas as vantagens que a ciência propiciou. Importa ainda demarcar e homologar as terras indígenas, muitas ameaçadas pelo avanço do agro-negócio.

Por último e talvez o maior dos desafios nos vem do campo da ecologia. Severas ameaças pairam sobre o futuro da vida e de nossa civilização, seja pela máquina de morte já criada que pode eliminar por várias vezes toda a vida e as consequências desastrosas do aquecimento global. Se chegar o aquecimento abrupto, como inteiras sociedades científicas alertam, a vida que conhecemos talvez não possa subsistir e grande parte da humanidade será letalmente afetada. O Brasil por sua riqueza ecológica é fundamental para o equilíbrio do planeta crucificado. Um novo governo Dilma não poderá obviar esta questão que é de vida ou morte para a nossa espécie humana.

Que o Espírito de sabedoria e de cuidado oriente as decisões difíceis que a Presidenta Dilma Rousseff deverá tomar.

Comando Guerrilheiro de Normalização



Apresentação:
Aqui estamos os guerrilheiros das FARC, com toda nossa carga artilheira política, decididos a jogar-nos pela paz da Colômbia, o grande sonho de um povo que quer erigir-se no norte da América do Sul em polo de democracia, justiça social e concórdia para o continente.
Aqui estão em Havana, nesta ilha solidária onde se constrói a paz da Colômbia, os comandantes Pastor Alape e Carlos Antonio Losada do Secretariado das FARC, Isaías Trujillo, Rubín Morro, Pacho Chino, Walter Mendoza, integrantes do Estado-Maior Central, e outros importantes quadros da organização, como Romaña, Erica, Matías, Isabela, Mirella, Milena, Mayerli, Sami, Leónidas, Eduardo, Pablo Atrato e Gabriel, demonstrando que a vontade de paz da guerrilha é tão alta como as cordilheiras e chega a tocar, como diria Pablo Neruda, o mero invisível peito do céu.
Este é nosso Comando Guerrilheiro para a Normalização que explorará caminhos com altos oficiais do Exército, da Armada, da Força Aérea e da Polícia Nacional em busca de um acordo que nos permita concretizar o armistício reivindicado pelas vítimas do conflito e clamor de uma nação, e de fórmulas e visões que satisfaçam as partes em torno do sensível tema da Deixação de Armas, entendida esta por nós como sua não utilização na política, compromisso que toca por igual ao Estado colombiano e as Forças Insurgentes. Pedir que o Exército retorne à sua função constitucional de defesa das fronteiras da pátria não é negociar o exército, senão um dever e mandato derivado da Carta Magna, propósito que nenhum colombiano sensato se atreveria a questionar.
Permitam-nos agora que, em nome do Comando Guerrilheiro para a Normalização, o comandante Pastor Alape lhes apresente sua saudação de paz:
Em nome das FARC-EP estendemos uma saudação cordial aos colombianos plenos de fervor e de votos por nossa reconciliação, acompanhado com o anseio coletivo de que a paz chegue a nossa pátria e se fixe para sempre.
Ainda não combinamos com o governo o mandato concreto da subcomissão técnica, só temos a indicação geral de que os comissionados explorarão coincidências e eventuais desacordos em torno a temáticas concretas como cessar-fogo e deixação das armas. Na declaração de princípios de 7 de junho de 2014, adicionalmente se consignou:
Acordamos criar uma subcomissão técnica, integrada por membros das duas delegações, com a finalidade de iniciar as discussões sobre o ponto 3 FIM DO CONFLITO da Agenda do Acordo Geral”.
A 5 de agosto, as partes combinamos que, para o dia 22 do mesmo mês, instalaríamos a subcomissão técnica que tratará inicialmente dos sub pontos de cessar-fogo e de hostilidades, bilateral e definitivo, e deixação de armas, entre outros, que iniciará seu trabalho revisando e analisando boas práticas nacionais e internacionais na matéria. Esta Subcomissão estará composta por até 10 membros de cada delegação, que estabelecerão um cronograma de trabalho. Em próxima reunião as delegações precisariam o objetivo e as regras de funcionamento da dita instância.
Por sua parte, o governo designou para esta missão um seleto grupo de oficiais encabeçados pelo General Javier Alberto Flórez, que se deslocou até Havana para a instalação da subcomissão técnica, concretizando-se um intercâmbio preliminar de ideias que permitiriam abrir caminho ao trabalho conjunto que realizaríamos uma vez que as FARC transladarão para Cuba os comandantes que se encarregariam de abordar em detalhe a temática proposta.
Nos mesmos dias o governo nacional deu a conhecer publicamente sua decisão unilateral de criar, também sob o comando do general Flórez, o denominado “Comando de Transição”, ao qual, por fora do espírito do Acordo Geral de Havana e do pactuado, encomendou empreender o estudo da “desmobilização e entrega de armas da guerrilha”. Esta circunstância, e a necessidade de não vulnerar o equilíbrio que deve existir na Mesa quanto à condição de partes iguais, que para efeito do processo têm guerrilha e governo, obrigou a que as FARC procedessem a compor um Comando Guerrilheiro de Normalização, que não de transição, com a missão de estudar o regresso da força militar a seu papel constitucional de defesa das fronteiras e sua não utilização irregular para assuntos de ordem pública interna. Da mesma maneira, as forças de polícia deviam desmilitarizar-se prescindindo de sua atual doutrina contra insurgente que atenta contra as liberdades cidadãs.
O anúncio da composição do denominado “Comando Estratégico de Transição” ao qual lhe destinaram funções que nada têm a ver com o combinado, geraram confusões e informações tendenciosas que entraram a desfigurar os propósitos da subcomissão técnica, na medida em que se argumentou, por parte da alta institucionalidade, que o que procedia agora –em palavras do Presidente- era supervisionar, “como é que vamos fazer essa transição, como é que vamos supervisionar a desmobilização do inimigo, como vamos supervisionar e garantir a entrega de armas”. Por sua parte, o ministro de guerra, Juan Carlos Pinzón, propalou que o General Flórez veio a Havana para enviar a suas forças uma mensagem de vitória; para ir assentando as bases para que as FFAA possam “planejar a entrega de armas das FARC”; e para que “não aprontem uma armadilha para o país”.
Respondendo a estas falácias na busca de assentar bases claras de entendimento, precisávamos então, e agora reiteramos, que conceitos como “transição”, “desmobilização” e “entrega de armas” não existem nem na gramática do acordo de Havana, nem muito menos na linguagem da guerrilha.
O Acordo Geral de Havana, no ponto 3 FIM DO CONFLITO, numeral 2, não diz: “Deixação de armas das FARC”; o que se lê textualmente, sem ambiguidades, é DEIXAÇÃO DAS ARMAS, sendo óbvio que quaisquer que sejam suas implicações, tocam com as duas partes contendoras. Dentro de nossa visão este assunto, que demandará uma longa trégua e implementação de acordos, significa a não utilização das armas para fazer política.
Isto é válido para a guerrilha e para o Estado. Se há paz, as FARC já não usarão as armas para fazer política; e o Estado não pode continuar usando as armas para fazer política, pois a utilização das armas por parte do Estado é, com efeito, uma expressão política, dado que o conflito armado colombiano é político-social.
Dentro desta mesma linha devemos recordar o compromisso que para este momento das discussões nos expõe o numeral 7 do terceiro ponto quanto a que “no marco do estabelecido no ponto 5 [Vítimas] deste acordo se esclarecerá, entre outros, o fenômeno do paramilitarismo”. A esse respeito, insistimos em que, para cumprir com esse propósito, os guerrilheiros que integrarão o grupo de esclarecimento terão presente que uma coisa são os fatos e danos produzidos pelo paramilitarismo, e outra é “o fenômeno do paramilitarismo” como tal, que alude a como se compôs e integrou, como funcionou, onde foi se estabelecendo, com que dinheiros, quem os ergueu e os estimulou e se ainda está vivo. E é necessário fazê-lo desde já, porque se trata de um mandato das partes e porque do desmantelamento total do paramilitarismo depende o êxito do pós acordo. “Reincorporação” e “normalização” com paramilitarismo vivo é um contrassenso. Dar este passo é uma necessidade da qual não se pode tirar o corpo.
Com estas conversações é que nos fazemos presentes hoje nas conversações de paz de Havana.
Subcomissão técnica da DELEGACIÓN DE PAZ DAS FARC-EP

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Encontro Nacional Frente Ampla pela Paz, pela Democracia e pela Justiça Social Bogotá


A partir da diversidade de processos, organizações e lideranças sociais e políticas de caráter popular, democrático e de esquerda, convocamos para esta primeira reunião nacional a fim de discutir e definir coletivamente junto a dinâmicas regionais e setores interessados uma rota de encontro e reencontro, para construir e fortalecer as unidades e as convergências necessárias para derrotar a guerra e abrir um caminho às mudanças democráticas indispensáveis para uma paz estável e duradoura.
A paz reclama um consenso nacional de transformação que difere da concepção estreita de paz e democracia dos setores tradicionais. A essa política urge contrapor uma alternativa de mudança e de poder que expresse as aspirações de trabalhadores, campesinos, estudantes, indígenas, mulheres, afrodescendentes, artistas, diversidades de gênero e povo em geral, que durante os últimos anos de maneira digna se manifestaram.
Superar a guerra, construir a democracia e a justiça social exige uma força sociopolítica capaz de disputar a hegemonia, os governos e o poder aos setores tradicionais nos mais diversos campos da conflitividade nacional. Nas atuais circunstâncias, como nunca antes, a unidade é um imperativo ético e político inevitável. A ideia viva de uma frente ampla para a paz, a democracia e a justiça social nos convoca e é um caminho que convidamos a construir entre todos e todas.
Objetivo geral
Propiciar um espaço de intercâmbio e construção coletiva entre representantes e lideranças de diversos setores populares, democráticos e de esquerda, provenientes de diversas regiões e setores, interessados na construção coletiva de uma Frente Ampla pela Paz, pela Democracia e pela Justiça Social.

Participantes

Representantes de processos regionais de unidade e organizações sociais e políticas identificadas com a convocatória.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

São decisões que não dão mais espera, Santos




Na raiz do escândalo que quiseram armar com a viagem de Timoshenko a Cuba em desenvolvimento do processo de paz que se adianta em Havana, um dos tantos colunistas dedicados profissionalmente a denegrir as FARC aventurava na semana passada que nós devíamos estar felizes, pois havíamos posto todo o país a brigar entre si, enquanto continuávamos obtendo interessados proveitos da existência da Mesa de Conversações.
De considerações desse tipo estão repletas as páginas da grande imprensa reacionária há mais de trinta anos, quando o Presidente Belisario Betancur abriu o processo de paz que não termina ainda com satisfações para a Colômbia. Ainda ecoa na memória de muitos a razão esgrimida pelo doutor Otto Morales Benítez ao renunciar a seu cargo de comissionado de paz do doutor Betancur. A paz contava com muitíssimos inimigos escondidos.
Isso continua sendo completamente certo. E os debates, diatribes e denúncias elevados contra o Presidente Santos confirmam-no plenamente. O desespero por arruinar os diálogos de Havana é enorme. O Presidente Santos deve saber algo que não se atreveu a dizer com relação a sua intenção de ensaiar a via política com a insurgência. De outra maneira, não se entende por que sua obstinada condescendência para com os que se lhe opõem frontalmente.
Hoje está suficientemente claro para o país e o mundo que o Presidente Uribe gestionou vários contatos com as FARC-EP com vistas a entabular conversações de paz. Inclusive Daniel Coronel revelou movimentos secretos de fundos encaminhados a facilitar esses contatos, coisa da qual nem nesses dias nem até agora nós tivemos a menor ideia. Personagens então de suas ligações, como Frank Pearl e outros, nessa época e nesta atuaram em gestões de paz.
Assim que alguém acreditaria que não deveriam existir razões nem para os receios de Santos nem para as raivosas atitudes adotadas pelos áulicos do Procurador Geral da Nação rebusca muito para afinar argumentos jurídicos contra as decisões políticas do Presidente Santos, ele mesmo ou qualquer outra autoridade competente poderia facilmente tecê-las contra o Presidente Uribe e os seus.
A via do diálogo, das conversações para solucionar pacificamente um conflito armado, trate-se da Colômbia ou de qualquer outro lugar, passa necessariamente pelo reconhecimento da existência do adversário e das aproximações a ele. Pela criação de condições que façam materialmente possível o intercâmbio de posições. Muito ao contrário de nossa proposta, o governo de Santos excluiu o território nacional como cenário. E houve que aceitar.
Sobre a base de que umas conversações a mais de dois mil quilômetros do país e com um oceano no meio exigiriam determinados mecanismos para sua viabilidade. Acreditamos relembrar que em algum momento o próprio Uribe promoveu denunciar Andrés Pastrana por conta de suas aproximações de paz com o Camarada Manuel Marulanda nos tempos do Caguán. Está visto que o ódio pode inspirar os maiores absurdos. As próprias circunstâncias impõem certos requisitos.
Santanderismos e leguleiadas caem por seu próprio peso quando o que se encontra no meio é o bem supremo da paz, um direito síntese dos povos que não lhes pode ser arrebatado sob nenhuma consideração. Por isso apoiamos todas as decisões do Presidente Santos quando queira que se atreve a dar passos contra condenar a Colômbia ao destino fatal de uma guerra sem fim. E acreditamos que todos os colombianos de boa vontade devem fazê-lo.
E por isso exigimos dele um compromisso mais decidido com o processo de paz de Havana. Em seus começos, vimo-lo francamente envergonhado, com desânimo, com indiferentes desejos de defender o que se adiantava na Mesa. Porém a possibilidade da reeleição pareceu torná-lo decidido finalmente a defender abertamente o que fazia. Por isso ganhou, porque obteve o respaldo do enorme caudal de compatriotas que sonha com uma Colômbia em paz para seus filhos.
Agora o vemos exageradamente emocionado, às vezes. Considerando tudo já de um cacho, dando por assentado que o Acordo Final é um fato. Ainda sabendo que estão pendentes discussões muito sérias, temas decisivos que o poriam na disjuntiva definitiva de eleger entre a paz para toda a nação ou a confrontação para a satisfação de uns poucos. Ainda assim, nos agrada mais esse Santos, comprometido publicamente com seu processo, chocando de frente com seus inimigos.
Promovendo o que chamam de pós-conflito. Buscando apoio externo político e financeiro para isso. O qual é bom, porém a todas as vistas insuficiente. Torna muito difícil entender como pode apresentar-se como paladino da reconciliação um Presidente que rechaça combinar um cessar-fogo que deteria o dessangramento dos filhos de sua pátria. E ademais só, sem a companhia de porta-vozes da insurgência que gerariam a seu lado a credibilidade necessária num acordo.
Que, ademais, conhecemos melhor que ninguém a real situação das zonas abandonadas pelo Estado em Colômbia, em cuja reabilitação em justiça estaríamos chamados a jogar, em conjunto com as comunidades, um papel importante. Porém se insiste por parte do governo nacional em escalonar e acelerar a confrontação em todo o país, com sua sequela de morte e horrores. E se continua nos negando com ênfase a possibilidade da menor atuação política interna ou externa.
O problema não está em que o senhor Uribe e o resto da catacumba se ponham bravos frente à possibilidade de avançar caminho para a paz. Eles estiveram bravos e fazendo a guerra sempre. A questão não é temer a suas reações, senão fazer a um lado e isolar suas posições extremas. E para isso é necessário romper definitivamente com eles. Apesar de ter se reeleito com a bandeira da paz, vencendo-os nas urnas, o Presidente continua sendo vacilante.
E por isso começa a afundar-se mais o interrogante do por que essa atitude dubitativa. No nosso caso, temos nossas próprias dificuldades, que não esquivamos, senão que afrontamos com a convicção absoluta no que estamos fazendo. Há gente, inclusive da que se faz chamar de esquerda, afirmando provocadoramente que o acordado nos três pontos até hoje constitui uma traição e uma renúncia a nossas bandeiras de luta. Isso não nos impede de seguir adiante.
Estamos certos de que a firma de um armistício que ponha fim aos enfrentamentos armados seria um passo gigantesco na construção da paz em Colômbia. E uma mensagem inequívoca ao mundo de que quando se fala das possibilidades de um pós-conflito se está expressando com suficiente propriedade. Muito mais se as duas partes proclamássemos conjuntamente. São decisões que não dão mais espera, Santos. Que fariam a todos acreditarem no processo de paz.
Timoleón Jiménez
Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, outubro de 2014