"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Que cesse a Estigmatização de nossos nomes e a criminalização de nossas famílias




Surpreende que, enquanto em Havana discutimos o tema de Reparação Integral a Vítimas do Conflito, alguns meios de comunicação empreendam uma campanha sistemática sustentada em documentos supostamente filtrados pela Promotoria, sem fundamento de fato, ou probatório algum, porém que afeta a dignidade das pessoas e os direitos fundamentais.

A obsessão por macular os nomes de integrantes da Delegação de Paz das FARC-EP, estigmatizar, revitimizar e continuar a perseguição contra familiares de combatentes que nunca tiveram participação alguma neste conflito se articula com a matriz midiática que pretende mostrar-nos ante o mundo como um grupo criminoso alheio aos ideais revolucionários.

Pôr pedras no caminho da paz e sujar a imagem de compatriotas são comportamentos impróprios que em nada se correspondem com os desejos das maiorias do povo colombiano por alcançar a paz.

É necessário jogar limpo e atuar com a verdade e seriedade que presume um processo desta natureza, um de cujos objetivos é a reconciliação da família colombiana.



DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP.
La Habana, sede dos diálogos de paz, 28 de agosto de 2015


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domingo, 30 de agosto de 2015

Oligarquia santouribista investe contra Venezuela bolivariana.



A Santos e seus amiguinhos da coalizão de governo [parapolíticos, social-liberais, conservadores e pseudo progressistas aliados das máfias das drogas e dos combustíveis] se lhes caiu a máscara, se lhes terminou a farsa, e se prostraram como mansas ovelhas ante o Chefe supremo do paramilitarismo [AUV]. A crise na fronteira com Venezuela põe a nu as cicatrizes sociais de um país cheio de deslocados pela violência dos grupos paramilitares financiados e organizados pelos grandes poderes e suas forças militares.
O senhor Santos comunicou a decisão de chamar a consultas seu embaixador ante o governo da República Bolivariana de Venezuela. Em resposta, Caracas solicitou a seu Embaixador Ivan Rincón deslocar-se para consultas em seu país. Estes fatos se somam à cadeia de provocações e estratégias da ultra direita colombiana para desestabilizar e derrocar o governo legítimo do Presidente Nicolás Maduro.
As relações entre as duas nações vivem um momento de crise pelo agravamento da situação na fronteira que comunica Cúcuta com o Estado do Táchira. As autoridades de Caracas foram impulsionadas a tomar um conjunto de vigorosas medidas, incluído o bloqueio da passagem fronteiriça que será indefinido e condicionada sua normalização a que Santos se decida a controlar o contrabando e as ativas facções do paramilitarismo. Essa decisão é consequência da sistemática sabotagem promovida a partir da Colômbia para afetar a economia venezuelana, no marco de uma brutal guerra econômica, mediante o contrabando de combustíveis, alimentos e da manipulação do dólar desde as casas de câmbio e das redes de manejo de divisas, assunto no qual está envolvido o irmão de um dos mais importantes integrantes do gabinete de Santos, e outros conhecidos dirigentes da política oficialista santandereana.
É, certamente, resultado da ação dos grupos paramilitares e bandos criminosos, utilizados pelas velhas camarilhas oligárquicas, locais e regionais, para impor seu domínio e controle territorial mediante a morte, o terror, o deslocamento forçado e o massacre.
Brigadas e batalhões militares e policiais na fronteira organizam deliberadamente redes de assassinos que se situam na fronteira e se infiltram em território venezuelano para articular-se aos planos golpistas contra o Estado bolivariano. Usugas [uribenhos], restolhos, águias negras, autodefesas do norte, são os grupos mais caracterizados, encarregados do contrabando, do crime e do terror contra a população dos municípios fronteiriços. Essas redes mercenárias são parte da infraestrutura de violência que acompanha Uribe Vélez, seu principal promotor e defensor.
Precisamente esse personagem é quem organizou um show em Cúcuta para se apresentar como uma vítima e um falso defensor dos colombianos que tiveram que ir para Venezuela devido à situação de pobreza e violência que os afeta em seus lugares de origem. Uribe, em cujos governos ocorreram os maiores deslocamentos de campesinos e “falsos positivos”, está utilizando a complexa situação para realizar um alerta a vários bandos orientado a sabotar os diálogos de paz de Havana, romper a unidade latino-americana [Unasul] e levar à ruptura de relações diplomáticas entre Colômbia e Venezuela.
De imediato, toda a elite dominante no Estado saiu a cercá-lo, a respaldá-lo. De novo cobra forma o Santouribismo, como o bloco de poder que mostra seus caninos de guerra para manter a estrutura de dominação e exclusão prevalecente no regime político interno.
Santistas, neoliberais, parapolíticos, social-liberais, conservadores, demagogos pseudo esquerdistas aliados eleitorais regionais com a máfia da droga e dos combustíveis, “corruptos” de todos os pelames, alimentados pela corruptela santista das regalias petroleiras, se abraçam para atacar e desestabilizar as conquistas populares da nação venezuelana e ao governo soberano e revolucionário do Presidente Nicolás Maduro.
Evidentemente, se equivocam. Encontrarão a resposta digna e enérgica do povo de Bolívar e Chávez.
Em Colômbia, o povo repudia esta oligarquia reacionária associada ao imperialismo em sua pretensão de destruir as conquistas sociais e democráticas dos venezuelanos.



NOTA 1. Repugnante el papel de la falsimedia mediatica colombiana en este caso, como en todos; la degradación de Paracol es repugnante. Abandonaron los buenos modales, el maltrato al Presidente Maduro y la Canciller Rodríguez es de alcantarilla. Es una cloaca mediática que debería terminar como Globovision. Eso solo se lograra con un cambio profundo en nuestra sociedad, que llegara con los avances de la paz.

NOTA 2. Acostumbrado a repartir prevendas para comprar aliados, el señor Santos, el mismo de los “falsos positivos” uribistas y la agresión al Ecuador, ahora ofrece cebo para acomodar la paz a su limitada visión. En vez de estar engañando con curules legislativas a su contraparte en La Habana, lo que debió hacer hace mucho rato el Estado fue restituir las 20 curules senatoriales, decenas de diputaciones y centenas de concejalías a la Unión Patriótica, exterminada por el bloque de poder que representa en la Casa de Nariño.


El ofrecimiento de curules no es más que otra manifestación de la “teoría de juegos” a que acuden en la Presidencia de la Republica en los diálogos de paz para ver por donde les suena la flauta de su paz neoliberal.

Recordemos que la teoría de juegos es un área de la matemática aplicada que utiliza modelos para estudiar interacciones en estructuras formalizadas de incentivos (los llamados «juegos») y llevar a cabo procesos de decisión. Sus investigadores estudian las estrategias óptimas así como el comportamiento previsto y observado de individuos en juegos. Tipos de interacción aparentemente distintos pueden, en realidad, presentar estructura de incentivo similar y, por lo tanto, se puede representar mil veces conjuntamente un mismo juego, así sea a través del Póker. Mañas del señor para intentar salir de tanto aprieto que se le complicara con el alza de la crisis económica, mas ahora con el cierre de la frontera, por donde se mueven miles de millones de dólares de la narcoeconomia nacional.

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sábado, 29 de agosto de 2015

A mulher é a alma da paz


La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 25 de agosto de 2015
Amigas, minhas irmãs… Jamais lhes falarei de resignação, isto é humilhação,
isto é covardia. Resignação só por aqueles males que vêm do inevitável: a morte.
Porém, para aqueles que vêm de fontes humanas, destinadas a alterar nossa rota e que pretendem romper a harmonia de justiça e amor que Deus sempre quis no mundo,
para esses males, eu vos digo: levantai-vos. Sereis fortes pelo simples desejo de destruir a iniquidade»
María Cano.


Ainda nos inícios do século XX, tal como o constataram muitos estudiosos, a mulher colombiana, incluindo a da elite, permanecia quase que absolutamente prisioneira do lar, “dominada por todo tipo de práticas discriminatórias, distanciada da educação e mergulhada nos preconceitos que a consideravam inútil para desempenhar qualquer atividade produtiva ou intelectual.”
Essa era a triste realidade e, precisamente, a Flor do Trabalho, a apaixonada e romântica María Cano, mulher inteligente e valorosa, com seu verbo e entrega à causa dos despossuídos, nos mostrou que a luta era a rota para se sobrepor à iniquidade. Foi ela uma das grandes heroínas que abriram o caminho para as transformações sociais que foram dignificando a mulher ao longo de um difícil processo que ainda tem complicados trechos que percorrer, sobretudo vinculando os interesses das mulheres pobres e trabalhadoras que são, com certeza, as que sofrem as piores condições de marginalização e opressão.
Com estas palavras, damos as boas-vindas, companheiras e companheiros, desejando-lhes o melhor na realização deste evento.
Nesta segunda jornada de trabalho da Delegação de organizações de mulheres, que desde o dia de ontem vem realizando atividades que redundam em benefício do processo de paz e sobretudo em reivindicação dos assuntos de Gênero, especialmente os concernentes ao realce, reconhecimento e concretização dos direitos da mulher, desde a Delegação de Paz das FARC-EP queremos agradecer a presença e saudar as organizações que chegaram até o cenário da Mesa de Conversações de Paz em Havana para dar suas ideias, visões e observações ao propósito louvável da reconciliação nacional.
Um abraço de compatriotas lhes damos também como boas-vindas às representantes da Casa da Mulher: Olga Amparo Sánchez; Sisma Mulher: Linda Cabrera; Rota Pacífica: Marina Gallego; Corporação Humanas: Adriana Benjumea; Escola de Estudos de Gênero Universidade Nacional: Dora Isabel Díaz; Taller Abierto: María Elena Migarro; De Justiça: Diana Guzmán; Mulher Segue Meus Passos: María Eugenia Cruz; Profamilia: Silvia Juliana Miranda e de IMP: Ángela Cerón.
Bom dia, lhes dizemos aos garantidores dos governos de Cuba e Noruega, agradecendo, ademais, seu apoio à realização deste evento; e saudações à Delegação do Governo da Colômbia, aos e às representantes da ONU e demais instituições, e a todas as personalidades presentes.
Como posição política e de princípios, as FARC-EP advogamos pela igualdade de gênero. E, porque somos conhecedores da histórica discriminação contra a mulher, destacamos a necessidade da luta, de maneira especial, por seus direitos, considerando, sem dúvida, que é esta uma parte fundamental da emancipação popular. Para nós outros, a mulher é inquestionavelmente a garantia de existência da sociedade e a alma da paz.
Em tal cenário, pensamos que sempre haverá que ligar as discussões de gênero com os problemas da desigualdade, da miséria, da falta de democracia e demais fatores causadores do conflito colombiano, para não perder de vista que, como pano de fundo, está o fenômeno da luta de classes. Nos referimos, então, a que dentro da visão de igualdade de gênero em construção que, com certeza, ao lado do propósito de alcançar a paz, é o terreno em comum que temos para avançar juntos, à parte de distanciar-nos de qualquer tipo de homofobia e de feminismos mal-entendidos que colocam o homem como o inimigo a combater, apontamos a elaborar um discurso claro sobre a inter-relação entre gênero e classe, entre estes fatores e o fator raça, entre sexualidade e corpo etc., a fim de que num termo não distante estes componentes não fiquem por fora de nossas elaborações de nova sociedade, onde jamais tenhamos que voltar a falar em meio à guerra, nem com o drama do luto e das violações aos direitos humanos, entre os quais se conta o abominável crime das violações sexuais e a violência de gênero.
Identificando causas e consequências, constatamos em nossos intercâmbios dados tão dramáticos e lamentáveis como que, por exemplo, não é precisamente a guerra a que causa a maior violência de gênero nem as maiores violências sexuais [1% dos casos]; é no âmbito familiar e social onde estas ocorrem. Não obstante, as campanhas realizadas a partir do Estado são mais para gerar matrizes de propaganda de guerra contra insurgente que para prevenir as afetações resultantes do mencionado tipo de violência. De fato, mais além que desde o início do processo de paz os aparelhos acusadores do Estado colocaram uma gigantesca maquinaria com recursos humanos, técnicos e econômicos para gerar imputações falazes que pretendem mostrar as FARC como uma indústria do crime que invade terras, desloca campesinos, narcotrafica e, entre outros atos detestáveis, viola mulheres, o que a análise histórica e sem distorção emite é que a responsabilidade suprema das vitimizações está encabeçada pelo Estado e é da questionada ordem social vigente de onde emana o caos reinante. Especificamente para o caso da violência sexual, por exemplo, os verdadeiros nichos de impunidade estão entre os paramilitares e os militares. E é isto o que para o caso teria que resolver, principalmente, num estágio de superação do conflito. Porque não pode ser que se pretenda construir um prontuário de sofismas crimináveis contra uma insurgência que durante meio século exerceu o legítimo direito à rebelião e sem pretender nada de interesse particular. A impunidade em relação aos crimes de violência sexual não se acabará se não se aborda as responsabilidades do paramilitarismo: enquanto que, para 30 mil casos de paramilitares desmobilizados, só tenham 33 sentenças, e destas só 16 fazem alusão à violência sexual, desconhecendo-se, assim, as múltiplas denúncias e casos de atrocidades cometidas em desenvolvimento de ações de terrorismo de Estado, ao redor das quais seus artífices não terminam de assumir responsabilidades, senão que, pelo contrário, aprofundam a violência estrutural.
A propósito, e ainda que soe um pouco repetitivo, vamos reiterar-lhes, só à maneira de ilustração, um par de cifras que refletem a gravidade do que ocorre em torno aos direitos da mulher em nosso país:
- Taxa de desemprego em Colômbia: 11.3% para as mulheres e de 7% para os homens; a informalidade laboral para a mulher, de 60%; e a desigualdade salarial das mulheres em relação aos homens é de 20%.
- Violência contra mulheres sindicalistas: 2.695 vítimas [332 assassinatos, 12 desaparecimentos forçados, 9 casos de tortura, 34 atentados, 19 sequestros, 1.418 ameaças, 794 deslocamentos forçados e 7 detenções arbitrárias] em 2012. [Fonte: ONU]
Porém já estamos cansados de narrar estatísticas tristes sobre a injustiça que golpeia a mulher em Colômbia sem que nada mude, porque a palavra dolorida, a voz da denúncia, depois de chocar com a indolência que governa, é arrastada pelo vento, deixando só uma sonoridade distante, sem esperança.
Esta situação tem que mudar. A demagogia nestes tempos ofende a inteligência e a dignidade. De nada servem os discursos floreados para se exibir, se o espírito da mulher continua aí, no solo, estropiado, mostrando suas feridas sangrentas.
Não é hora de lamentos, mas sim de luta unida e coesa para que a voz da mulher e seus direitos seja ouvida pela indiferença do poder.
Por isso, é vontade desta Delegação de Paz das FARC-EP propor que a Mesa de Diálogos emita uma declaração de compromissos e chamando a prevenir e acabar com a discriminação e a violência contra a mulher em Colômbia, e adotando medidas de desescalada que de maneira imediata acabem com qualquer forma de violência contra as mulheres em conflito.
Lamentavelmente, as normas que reivindicam no âmbito nacional os direitos da mulher são tanto ou mais formais e retóricas que as declarações e compromissos internacionais.
Este panorama deve variar radicalmente, e na luta por superar estes males não podemos ficar ancorados na proclamação de uma igualdade formal que só permita sobreviver ou que nunca se materializa, tal como ocorre em relação aos proclamados e universais direitos humanos, que para as imensas maiorias ficam elevados ao mundo do abstrato.
Isto não pode ser mais assim. Para a reflexão, trazemos a referência que já faz alguns anos muitas organizações sociais, entre as quais se conta a Via Campesina, assinalam que o sistema de direitos humanos tem lacunas que definitivamente impedem proteger de forma eficaz os direitos dos campesinos, e especialmente das mulheres: não se reconhece a grande maioria de seus direitos e os poucos que se consagram são violados com impunidade.
Em várias de suas observações públicas, o Comitê para a eliminação da discriminação contra a mulher tem insistido em que as mulheres rurais sejam objetivo prioritário dos programas de desenvolvimento e que o Estado recorra, se é necessário, à cooperação e assistência internacional. Pois bem, se as vítimas estão no centro deste processo, e dentro delas as mulheres têm preponderância e papel primordial, é hora de proceder com as soluções e frear os abusos que continuam revitimizando ou produzindo novas vítimas, como ocorre com muitas das políticas neoliberais que, por exemplo, em vez de proteger o acesso das mulheres campesinas e suas famílias à terra, o que propicia são as atividades empresariais privadas, os megaprojetos e os subsequentes deslocamentos forçados.
Então, toda esta reflexão para dizer que a luta pela igualdade de gênero deve nos colocar no caminho de reivindicar as mulheres empobrecidas e oprimidas pelo sistema que as submete a múltiplas formas de exploração e de humilhação, seja na fábrica, na maquiladora, na mendicância, no prostíbulo, em suas correrias de deslocada ou de migrante, em sua condição de branca pobre, de índia na miséria, de negra na marginalidade, ou em sua condição de deficiente física, ou de trabalhadora precarizada, ou de lésbica reprimida ou estigmatizada por um ambiente machista e patriarcal, homofóbico e lesbofóbico.
Menção especial merece a violência padecida pelas guerrilheiras, uma vez capturadas em combate ou em operações policiais, sendo estas submetidas a maus tratos na maioria dos casos, inclusive a tortura. Igualmente, a maus tratos na maioria dos casos, inclusive a tortura. Igualmente, uma vez ingressadas em estabelecimentos penitenciários são maltratadas e sofrem umas condições de reclusão ainda mais dura que o resto das prisioneiras, pelo simples fato de serem guerrilheiras. Pedimos às organizações de mulheres que se interessem pela situação das guerrilheiras prisioneiras nos cárceres colombianos que denunciem os maus-tratos, torturas e discriminações que sofrem e que se dirijam às autoridades pedindo que imediatamente cessem estas práticas.
Enfim, são muitos os aspectos por analisar e sacar conclusões: certamente não o faremos em curto prazo, porém temos que iniciar o caminho, pondo de lado o feminismo e a reivindicação de gênero que decline em vitimismo. Temos que criticar as exclusões e reconhecer a suas vítimas, porém apresentando um discurso alternativo e afirmativo que abra horizontes, atuando como sujeitos de mudança; uma mudança que não derive naquela que transforma a divisão sexual do trabalho numa divisão que, ademais de sexual, é racista e de classe, que é o que ocorre em muito no âmbito das trabalhadoras domésticas, por exemplo, ou aquele em que homens e mulheres se libertam da carga de trabalho no lar, porém colocando-se a outras mulheres e homens mais pobres ou racialmente discriminados.
DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP
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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Paz com Constituinte e revogação do Congresso


Como o “marco jurídico” para a paz, o “congressinho” ou Comissão legislativa está condenado a fracassar. Sua posta em funcionamento significa, nem mais nem menos, que a velha classe politiqueira, corrupta e repudiada pelo povo, sequestre e assalte os acordos de paz para desviá-los e limitá-los em seus alcances democráticos e revolucionários. A paz só se consolidará e libertará todo seu potencial transformador mediante uma Constituinte popular e soberana que, entre outras tarefas, realize a revogação do atual poder legislativo e dê passagem a um regime parlamentar moderno, regional e transparente com a cidadania. Colômbia já não resiste mais a Cortes corruptas como a de Pretel, e menos o estabelecimento do coronelismo escancarado em que se converteu o obsoleto parlamento demoliberal da oligarquia.
O governo do senhor Santos e sua delegação plenipotenciária na Mesa de diálogos de Havana, se bem que tenha se aproximado do princípio da “integralidade e simultaneidade” do processo, fazem-no de maneira restrita e dubitativa. Os recentes acordos para acelerar o trabalho na Mesa e desescalar em Colômbia significaram um tratamento sincrônico de vários assuntos relacionados com o fim do conflito, a referenda e implementação dos consensos alcançados; no entanto, a parte oficial avança como uma roda solta, desconhecendo a bilateralidade estabelecida para o conteúdo geral da Agenda pactuada.
Já ocorreu com o chamado “Marco Jurídico” para a paz, tramitado e aprovado sem as consultas necessárias com a outra parte das conversações e, por isso, hoje jaz como uma espécie de prédio abandonado e sem que diga “é meu” Todo esse trabalho, incluídas as duas jurisprudências da Corte Constitucional, a inicial de exequibilidade e a seguinte de resposta a uma ação encetada pelo Doutor Rafael Guarin, ex-vice ministro da Defesa, se perdeu completamente. O funcionamento da subcomissão de justiça criada recentemente com excelentes juristas procedentes de lado e lado, deixou ver suas costuras, e um senhor Alfonso Cuellar, que as sabe todas, diz em Semana que “o mais aterrador é que no governo haja vozes dispostas a abandonar o que se trabalhou por anos e começar do zero, chama-se congressinho ou assembleia constituinte”. (http://bit.ly/1fBlgaW).
Os mesmos passos parece estar dando o Projeto de Ato Legislativo que se apresentará em setembro no Congresso para criar um “Congressinho” ou Comissão legislativa integrada pelos membros das comissões primeiras de ambas câmaras e outorgar faculdades especiais ao Presidente para que adote decisões em matéria política e judicial. A manobra contempla mecanismos de referenda que podem turvar a legitimidade da paz.
Assim como o “Marco Jurídico” não era a garantia da reconciliação, pois seu absurdo conteúdo e aplicação ficariam em mãos de um sistema judicial corrupto, tal como o demonstrou até a saciedade o modelo Pretel na Corte Constitucional, o Congressinho e as faculdades ao Presidente espantam pelo assalto e sequestro da atual classe política ao processo de paz. Seria a morte política do acordado para pôr fim ao conflito social e armado.
Me explico. Os atuais diálogos de paz entre o Estado e as Farc significam uma severa ruptura da ordem política imperante. Com a mesa de Havana e seus produtos está aflorando outra Colômbia. A da paz com justiça social e democracia ampliada. A terminação da guerra significa que o modelo e a democracia neoliberal serão coisas do passado, incluindo sua obsoleta institucionalidade, como o atual Congresso da República, no qual se concentra uma elite política corrupta e odiada pelas maiorias populares.
Confiar o pacote integral da paz ao atual Congresso, representado por um político corrupto como o Senador Velasco, autor do desfalque das regalias petroleiras no estado do Cauca, e recente aliado do Chefe do paramilitarismo nacional, com a finalidade de eleger sua irmã Jimena como prefeita de Popayán, seria fatal, é tanto como anunciar a guerra por mais 20 anos.
A solidez e consolidação da paz depende de seu trâmite legitimador mediante um mecanismo extraordinário como a Assembleia Constituinte popular apresentada pela delegação da resistência campesina revolucionária.
Essa tem sido a lição das recentes experiências revolucionárias em América Latina; de Venezuela, Equador e Bolívia. Só um mecanismo dessa envergadura garante a profundidade e consistência das reformas que resolvam as problemáticas causadoras das recorrentes crises políticas e sociais da nação.
Uma medida imprescindível do pacote de mudanças é a revogação do atual Congresso e a elaboração de um novo instrumento de representação e participação cidadã. Chegou a hora de ensaiar um regime parlamentar mais flexível, com senados e câmaras regionais, com controles reais da cidadania sobre os trabalhos dos legisladores para fazer efetivas as revogações quando assim o exijam as circunstâncias da democracia participativa. Um poder legislativo como o atual estragaria a institucionalidade que acompanhe o fim do prolongado conflito nacional.
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Nota 1. La sigue embarrando Darío Acevedo. Su última novedad consiste en saltarse el reglamento de Twitter. Le dio por defecar (se) en el suyo. Echo por la borda los buenos modales de la docencia, dejando por el suelo los títulos, libros y apoyos en el gremio que dice haber acumulado como profesor titular de la Universidad Nacional en Medellín (http://bit.ly/1hDw8Hd). Juzguen Ustedes por este trino:
No piensen que este tipo está loco. Es normal que un tipo así defeque por la boca y hable por el Qlo. Estaliniano!
Raya en lo vulgar el viejo  y decadente sindicalista. Malos modales que bien pueden asimilarse al matoneo. Mas cordura profesor, no se descomponga, es lo mínimo que le podemos sugerir.
Con esas salida en falso arriesga a que también lo desescalen en Twitter o a que le ordenen otro receso como el que sabemos.
Nota 2. Pobrecito Ariel Peña la otra estrella del anticomunismo prehistórico junto a Mackenzie (http://bit.ly/1MPV7DP). A pesar de que él sí “ha estrenado la parte frontal de cerebro y que tiene muchas neuronas sin atrofiar y conectadas entre sí” es de una supina simpleza intelectual. Aun no logra niveles kantianos. Dan grima sus escritos, repiten el catecismo antimarxista de los cursos patrocinados por la CIA y la Embajada Americana para sindicalistas esquiroles como él. Por favor, "profesores" AcevedoBotero/Mackenzie, hay que elevar el nivel de este hombre. Que lea y estudie un poco más. Se quedó en los textos de la izquierda de los siglos XIX y XX. Le recomiendo consultar otros materiales sobre los marxismos del siglo XXI. Hay novedades. Por ejemplo, Cesar Altamira tiene un estupendo trabajo sobre los marxismos del nuevo siglo (ver en el siguiente enlace electrónico: http://bit.ly/1PvLXdf). Y si ese no le satisface, le sugiero para su gusto, que estudie dos extensas y eruditas obras del historiador conservador ingles Peter Watson sobre la historia intelectual del Siglo XX (http://bit.ly/1Jg6SNY). Ojala las aproveche bien y así deje de estar escribiendo majaderías con insultos.
Nota 3. Las de la Senadora parauribista Ana Mercedes Gómez (http://bit.ly/1KJ35sA). Dueña de un gigantesco monopolio mediático saca tiempo para dar lecciones, a su manera, sobre la libertad de expresión. No le da pena. Su periódico, el Colombiano de Medellín (http://bit.ly/1h8aVwP), cotizando en bolsa en más de 300 mil millones de pesos (así como lo oyen), según se dio a conocer en reciente negocio de compra/venta parcial adelantado con Alejandro Galvis, el mandamás inmobiliario y periodístico del grupo Vanguardia Liberal de Bucaramanga (otro aberrante monopolio de la falsimedia regional), que no es ejemplo de objetividad, ni de imparcialidad, que no tiene el mas mínimo respeto por el pensamiento crítico e independiente, que ha guardado por años y guarda un silencio cómplice frente a la guerra sucia, la masacre, el exterminio y vergüenzas humanas como la Escombrera de Medellín, donde se encuentran cientos de cadáveres de líderes de derechos humanos degollados por  los militares y paramilitares en connivencia, se da licencia para dizque darnos lecciones de ética, libre expresión y profesionalismo periodístico, a propósito de la revolución socialista bolivariana de Venezuela y de nuestra difícil labor como columnistas independientes en el Portal Anncol, en defensa de la paz con justicia social y democracia ampliada. No tenía razón Moritz Ackerman, un viejo comerciante que conocí en la izquierda universitaria, cuando me decía que Usted si era moderna en sus ideas y concepciones. Qué va!. Que ruina de periodismo el suyo. Indigna, por lo demás.
Señora, le planteo un reto para que desmienta nuestras consideraciones. A qué no es capaz de publicar una de nuestras columnas de Anncol en las páginas editoriales de su periódico, facilitando a sus lectores otra lectura del promisorio y alentador proceso de paz que se adelanta en La Habana. No ha de ser que solo se conozca la envenenada versión de su caudillo, el caballista del Uberrimo.
Nota 4. Quejas innecesarias de Don Joaquín Vallejo Arbeláez sobre Anncol (http://bit.ly/1EguGV7). Tan inteligente y erudito en unas cosas pero tan despistado en otras como en los servicios intelectuales y gramaticales que le proporciona al jefe del paramilitarismo colombiano, AUV el histérico caballista del Uberrimo. Lo conocí hace años por sus incursiones filosóficas y me parecía una persona seria. Hoy ciento una gran desilusión, no así por una de sus hijas de la que conozco su excelente labor pedagógica en la ciudad de Palmira.
Todo por hoy. Si siguen los insultos tocará ocuparse después de esta cáfila de necios de la ultraderecha que convirtieron la promoción de la guerra en su oficio predilecto.
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Equipe ANNCOL - Brasil

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A paz não se pode improvisar


La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, agosto 26 de 2015


Nos estamos informando através dos meios de comunicação que o Governo Nacional e alguns setores políticos do Congresso da República, sem o concurso das FARC, estão elaborando de maneira caprichosa, iniciativas dirigidas a aprovar mecanismos legislativos com os que se pretende dar cumprimento ao punto seis do Acordo General para a Terminação do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoura subscrito pelas partes em 26 de agosto de 2012 na cidade de La Habana, que trata sobre mecanismos de implementação, verificação e refrendação do acordado, ou do que pudesse eventualmente acordar-se.

Também se incluiria entre os anteriores mecanismos legislativos, conforme ao que se haveria tratado numa reunião entre o Presidente e o Partido Liberal, o relativo à criação de um "Tribunal Especial para Julgar as FARC", quando o certo é que o desenho do mecanismo de justiça para o pós-acordo sobre o qual atualmente trabalham as partes, não é um mecanismo penal, mas um Sistema Integral de Verdade, Justiça, Reparação e Não repetição e ante ele deverão comparecer todos los atores d conflito -combatentes e não combatentes- sobre os quais houvesse acusações.

É obvio que tais situações contrariam o compromisso de que todos os pontos da Agenda devem tratar-se primeiramente na Mesa de Conversações.

Queremos manifestar-lhe com toda claridade ao povo da Colômbia, que nenhuma das iniciativas que leve às Câmaras o Governo de Santos, de forma unilateral, a raiz do desenvolvimento do ponto seis do Acordo Geral citado, é vinculante para as FARC-EP se previamente não têm sido consensualizadas na Mesa de Diálogos, tanto seus conteúdos quanto o método de sua tramitação legislativa. Nossa posição tem sido que implementar os Acordos de Paz requer um novo processo constituinte. Isso, não significa que nos aceitemos utilizar qualquer mecanismo dos atualmente existentes na Constituição, -incluída a adoção de um Acordo Especial tal e como se regulam nas convenções de Genebra, que formam parte do Bloque de Constitucionalidade-, que permita dar-lhe rango constitucional a os Acordos adotados pelos plenipotenciários em La Habana.

Não está demais advertir que toda iniciativa por fora da Agenda pactada ou dos Acordos já alcançados, constituiria a melhor fórmula para destruir, antecipadamente, o trabalho realizado de mutuo acordo por ambas as partes na Mesa e, a segurança jurídica que se lhee pretende garantir ao país e a quem hoje tratam de deixar para trás o atual conflito interno.

Se bem alguns consideram –o afirma o editorialista do jornal El Tiempo-, que e melhor ter preparados os arneses por se eventualmente “as béstias vêm em caminho”, pormos de presente que “não por muito madrugar amanhece mais cedo”. E que somos inimigos da improvisação e das supostas soluções que desconhecem que o que se debe elevar a norma constitucional, com a correspondente refrendação popular, é o acordado em La Habana. Só assim se garanta a vinculação, participação e decisão do soberano, o povo colombiano.

Manifestamos claramente, com toda tranquilidade e respeito que: para construir a paz não se pode improvisar; e precisamente por isso, para alcançar a realização do Acordo que denominamos AGILIZAR EM LA HABANA E DESESCALAR EM COLÔMBIA, internamente foi aprovado pelas partes um rigoroso Plano de Trabalho que estamos e devemos continuar desenvolvendo.

Lembramos, ademais, que o ponto 3 FIM DO CONFLITO que se tem abordado em paralelo ao de VÍTIMAS, tem ainda transcendentais aspectos por tratar.

Nossa preocupação ao ouvir as propostas que o Governo faz em Bogotá e não em La Habana, e que não se estariam respeitando as regras subscritas diante dos Países Garantes, se se realizaram ajustes institucionais sem acordo prévio. À data de hoje e apesar de nossas sucessivas reclamações, o Governo ainda não tem exposto na Mesa de La Habana qual é o conteúdo do pacote legislativo, já anunciado à imprensa, com o que se diz que se pretende elevar a rango de norma constitucional o acordado.

De forma coloquial e sincera pedimos que não se apague com o cotovelo o que estamos escrevendo com a mão. Estando a paz tão perto, ¿para quê a afastamos com atuações unilaterais?

Se o Congresso quer em realidade aportar à paz deveria empenhar-se em trasladar às Câmaras fielmente o acordado pelas partes na Mesa de Conversações.

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP

O assunto do Congressinho ou Comissão Legislativa



Por FARC-EP

Não poderá existir um só ponto no Acordo Final que não seja o produto do mais amplo consenso entre as duas partes sentadas na Mesa de Conversações.
O governo nacional, sem prévio aviso, lançou a rodar um debate político e uma engrenagem jurídica, tendentes à criação, em breve prazo, de um marco constitucional e legal que resulte adequado para o desenvolvimento legislativo do Acordo Final que se subscreva em Havana. Se poderia dizer que o sexto ponto da Agenda pendente na Mesa de Conversações se prepara para ser discutido no seio do Congresso da República, em meio a uma grande agitação nacional.
A repentina atividade política do governo se originou com uma surpreendente declaração do Presidente Santos, em torno ao que deu em denominar Congressinho, espécie de comissão legislativa especial de caráter extraordinário, que se encarregaria da discussão e aprovação das reformas constitucionais necessárias para fazer efetivos os pontos de participação política e justiça transicional pactuados na Mesa. A reação de diversos setores obrigou o governo a diminuir importância a sua proposta, definindo-a como apenas uma das tantas opções possíveis. Se recorreu às pressas ao nome de Congressinho, se pôs Roy Barreras a apresentar-se como autor de um simples e bem-intencionado projeto, porém, apesar disso, a coisa foi seguindo adiante, à maneira de uma decisão definitivamente adotada.
Ainda que ninguém tenha se atrevido a dizê-lo de modo expresso, o tratamento midiático da proposta comentada tem sido o de dar por entendido que se trata de um acordo previamente combinado entre o governo nacional e as FARC na Mesa de Havana. De fato, a revista Semana adornou a notícia com uma montagem fotográfica na qual apareciam as fotografias de Humberto de La Calle e Iván Márquez, um ao lado do outro, e com uma legenda que assinalava que eles dois, como cabeças das delegações das partes, fariam parte do corpo a criar, em companhia de outros dos membros de suas delegações. Chama a atenção que até agora nenhum dos apressados entrevistadores da imprensa colombiana teve a delicadeza de perguntar aos membros da Delegação de Paz das FARC sua opinião a respeito.
Voltamos a encontrar aqui uma situação muito semelhante a que se apresentou dois anos atrás, quando o governo nacional anunciou com pompa e circunstância sua intenção de apresentar ante o Congresso seu projeto sobre o Referendo como mecanismo de ratificação dos acordos. Claro, naquele momento não se encontrava o processo no estado em que se encontra hoje, razão pela qual o governo nacional deveria pensar muito melhor nas consequências de pôr a andar suas repentinas ocorrências, sem que tenham sido o produto do acordo entre as partes.
Sempre nos chamou a atenção que os porta-vozes do governo se refiram aos cinco pontos da Agenda a que já há acordo sobre três deles, restando apenas os de vítimas e fim do conflito, como se a discussão sobre o ponto 6 estivesse fora de qualquer consideração, como se não se tratasse também de um tema de debate, e ademais de profundo debate, pois é sabido que na visão das FARC-EP a participação popular no processo e, particularmente, o mecanismo da Assembleia Nacional Constituinte ocupam o centro de suas aspirações.
Os passos que o governo está dando com vistas a obter em prazos precisos a aprovação da comissão legislativa especial, ou como se a denomine ao final, se correspondem com sua única e exclusiva ideia acerca do modo como se deve produzir a referenda dos acordos, sua implementação e verificação. Deve ficar absolutamente claro para todos que essa não é a posição das FARC-EP, que o governo nacional procede outra vez de modo unilateral, movido por suas próprias aspirações e urgências.
Não quiséramos arriscar aqui considerações ou especulações em torno às motivações para operar desse modo. O que alguém escuta ou lê é a necessidade de contar com todos os mecanismos aceitados para uma rápida validação dos acordos finais. Porém, não se pode desconhecer a coincidência deste comportamento com outras ações como o prazo de quatro meses, que já se reduziu para três, para avaliar os avanços conseguidos na Mesa, unilateralmente decretado pelo Presidente Santos, como uma espécie de espada de Dâmocles sobre a continuidade do processo de paz. Afirma agora o Presidente que a Comissão Legislativa se ocupará, entre outros assuntos, da criação de um tribunal especial, que a imprensa corre a dizer julgará aos máximos responsáveis das FARC pelos delitos atrozes, quando se trata de questões relacionadas com o tema de justiça, neste momento em mãos da subcomissão jurídica, e sobre o qual não se produziu uma definição que implique a proposta de criação de instâncias como essa.
É como se se estivesse dizendo às FARC que nos restam três meses para chegar a acordos sobre os temas pendentes, porém que esses acordos não podem ser outros diferentes dos que o governo nacional está dando por assentados com os projetos que pretende apresentar desde já ao Congresso. E, concluindo, que se não nos mostramos suficientemente voluntariosos na firma do que se nos apresenta, corremos o risco de que o Presidente considere que o processo deve terminar por falta de vontade de paz de nossa parte. Claro, e com esta notícia sobre Congressinho ou Comissão Legislativa, se nos culpará ademais ter enganado ao país, porque embarcamos ao Congresso numa carreira contra o cronômetro, para depois sair com evasivas e desculpas.
Repetimos mais uma vez: Santos e seus conselheros saberão o quê perseguem realmente com todo isso, mas que fique claro, nada se tem pactuado na Mesa ao respeito, não há acordos prévios distintos aos publicados formalmente;as FARC-EP não temos renunciado em momento algum às nossas aspirações expressadas em forma pública e reiterada. Não estamos dispuestos a carregar em nossas costas responsabilidades que nunca temos assumido. Não poderá existir um ponto no Acordo Final que não seja o produto do mais amplo consenso entre as duas partes.
Montanhas de Colômbia, 22 de agosto de 2015
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Equipe ANNCOL - Brasil

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Comunicado das FARC


"O país está longe de viver uma situação de pós-conflito".

La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 22 de agosto de 2015
Alto às vitimizações.
Em pronunciamentos anteriores insistimos em que deve haver coerência entre os propósitos traçados no compromisso de agilizar as conversações em Havana e desescalar o conflito em Colômbia. E, ainda que as FARC-EP tenham posto todo seu empenho nisso, tem faltado correspondência e maior compromisso por parte do Estado.
Ressaltemos que, ainda que temos atuado com absoluta transparência e rigor no cumprimento do cessar unilateral de fogos, as operações por terra têm ocasionado mortes, capturas e feridas a guerrilheiros e guerrilheiras em diferentes lugares do país, pondo em risco a trégua e o bom desenvolvimento do processo de paz. A posição de dialogar sem que parem os combates é uma fórmula condenada ao fracasso.
Difíceis circunstâncias para adiantar as conversações se precipitam quando se adverte que, simultaneamente com o desdobramento das agressões contra a insurgência, se incrementam as ameaças, perseguições, encarceramentos, assassinatos e todo tipo de hostilidades contra as lideranças populares, defensores e defensoras de direitos humanos e do movimento social colombiano em geral.
Recentemente, o XI Informe da Delegação Asturiana de Verificação do Estado dos Direitos Humanos em Colômbia, 2015, dava notícia documentada de que a “Colômbia continua imersa numa situação de conflito social e armado. O país está longe de viver uma situação de pós-conflito ou de normalidade em Direitos Humanos. A maioria das recomendações feitas ao governo e os compromissos assumidos em Direitos Humanos continuam sem se cumprir”. Se assinalava no contexto de seus dados a esmagadora responsabilidade do Estado, acrescentando que “se mantêm os ataques contra sindicalistas, pessoas que defendem os Direitos Humanos, jornalistas, opositores políticos e opositores dos projetos mineiros, energéticos e agroalimentares das multinacionais”. Se dizia que “continuam as violações do DIH, as violações do princípio de distinção e da utilização de bens da população civil no conflito armado...; a grande maioria dos delitos fica impune e sub registrada, como no caso do desaparecimento forçado de pessoas, da violência sexual e da tortura”, entre outros graves indicadores que incluem o incremento do paramilitarismo, os abusos do exército e a voracidade das transnacionais.
Agora, entre outros vários depoimentos que dão fé da crise humanitária que persiste, se conheceu o informe “Os Ninguém”, apresentado pelo programa Somos Defensores, no qual se descreve a dramática realidade que os defensores e defensoras de direitos humanos sofrem, condenados ao sacrifício diário num cenário em que pareceria pôr-se de manifesto a conivência do regime com os vitimários.
Se constatou por diversas fontes independentes, por exemplo, que, nos primeiros meses deste ano, 34 pessoas defensoras dos direitos humanos foram assassinadas, e que durante os cinco anos de governo de Juan Manuel Santos o número ascende para 317. Porém, ademais, os informes apontam que se registraram pelo menos 1.480 ameaças e 196 atentados, com a agravante de que, segundo dito pelo Programa Somos Defensores em seu informe semestral janeiro-junho de 2015, “a Promotoria Geral da Nação tem uma decidida falta de vontade política e administrativa para dar com os responsáveis pelas agressões contra os defensores e defensoras dos direitos humanos em Colômbia; porém, em contraposição, se evidencia uma marcada e decidida celeridade e efetividade desta instituição e seus corpos investigadores para JUDICIALIZAR E CRIMINALIZAR aos defensores de direitos humanos e suas ações quando são acusados de diversos delitos”.
Com absoluta disposição de levar adiante as conversações, até alcançar a firma do Acordo Final, como insurgência dizemos que se deve pôr freio já à geração de mais vítimas.


DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

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Equipe ANNCOL - Brasil

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Quando Capitalismo não rima com Democracia



Por Michel Löwy
Diretor de Pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Cientifica (CNRS) da Sorbonne de Paris.


Vamos começar com uma citação de um ensaio sobre a democracia burguesa na Rússia, escrita em 1906, após a derrota da primeira revolução, de 1905:


"É profundamente ridículo acreditar que existe uma afinidade eletiva entre o grande capitalismo, da maneira como atualmente é importado para a Rússia, e bem estabelecido nos Estados Unidos (…), e a ‘democracia’ ou ‘liberdade’ (em todos os significados possíveis da palavra); a questão verdadeira deveria ser: como essas coisas podem ser mesmo ‘possíveis’, a longo prazo, sob a dominação capitalista?” [1]

Quem é o autor deste comentário perspicaz? Lenin, Trotsky ou, talvez, Plekhanov? Na verdade, ele foi feito por Max Weber, o conhecido sociólogo burguês. Apesar de Weber nunca ter desenvolvido essa ideia, ele está sugerindo aqui que existe uma contradição intrínseca entre o capitalismo e a democracia.


A historia do século XX parece confirmar essa opinião: em muitos momentos, quando o poder da classe dominante pareceu ameaçado pelo povo, a democracia foi jogada de lado como um luxo que não pode ser mantido, e substituída pelo fascismo — na Europa, nos anos 1920 e 1930 — ou por ditaduras militares, como na América Latina, entre os anos 1960 e 1970.


Por sorte, esse não é o caso da Europa atual, mas temos, particularmente nas últimas décadas, com o triunfo do neoliberalismo, uma democracia de baixa intensidade, sem conteúdo social, que se reduziu a uma concha vazia. É claro que ainda temos eleições, mas elas parecem ser de apenas um partido, o PMU, Partido do Mercado Unido, com duas variantes que apresentam diferenças limitadas: a versão de direita neoliberal e a de centro-esquerda social liberal.


O declínio da democracia é particularmente visível no funcionamento oligárquico da União Europeia, onde o Parlamento Europeu tem muito pouca influência, enquanto o poder está firmemente nas mãos de corpos não eleitos, como a Comissão Europeia ou o Banco Central Europeu.


De acordo com Giandomenico Majone, professor do Instituto Europeu de Florença, e um dos teóricos semioficiais da UE, a Europa precisa de "instituições não-majoritárias”. Ou seja, "instituições públicas que, propositalmente, não sejam responsáveis nem diante dos eleitores, nem de seus representantes eleitos”: essa é a única maneira de nos proteger contra "a tirania da maioria”. Em tais instituições, "qualidades tais quais expertise, discrição profissional e coerência (…) são muito mais importantes que a responsabilidade democrática e direta” [2]. Seria difícil imaginar uma desculpa mais descarada da natureza oligárquica e antidemocrática da UE.


Com a crise atual, a democracia decaiu a seus níveis mais baixos. Em um recente editorial, o jornal francês Le Figaro escreveu que a situação é excepcional, e explica por que os procedimentos democráticos não podem ser sempre respeitados; apenas quando voltarmos aos tempos normais, poderemos restabelecer sua legitimidade. Temos, então, um tipo de "estado de exceção” econômico/político, no sentido que descreveu Carl Schmitt.


Mas quem é o soberano que tem o direito de proclamar, de acordo com Schmitt, o estado de exceção?


Por algum tempo, entre 1789 e a proclamação da República Francesa, em 1792, o rei teve o direito constitucional de veto. Não importavam as resoluções da Assembleia Nacional, ou quaisquer que fossem os desejos e aspirações do povo francês: a última palavra pertencia a Sua Majestade.


Na Europa de hoje, o rei não é um Bourbon ou Habsburgo: o rei é o Capital Financeiro. Todos os atuais governos europeus — com a exceção do grego! — são funcionários deste monarca absolutista, intolerante e antidemocrático. Quer sejam de direita, "extremo-centro” ou pseudoesquerda, quer sejam conservadores, democratas cristãos ou social-democratas, eles servem fanaticamente ao poder de veto de Sua Majestade.


O soberano absoluto e total hoje, na Europa, é, no entanto, o mercado financeiro global. Os mercados financeiros ditam a cada país os salários e aposentadorias, os cortes em despesas sociais, as privatizações, a taxa de desemprego. Há algum tempo, eles nomeavam diretamente os chefes de governo (Lucas Papademos na Grécia e Mario Monti na Itália), escolhendo os chamados "experts”, que eram servos fiéis.


Vamos olhar mais atentamente a alguns desses tais todos-poderosos "experts”. De onde eles vêm? Mario Draghi, chefe do Banco Central Europeu, é um antigo administrador do banco internacional de investimentos Goldman Sachs; Mario Monti, ex Comissário Europeu, também é um antigo conselheiro da Goldman Sachs. Monti e Papademos são membros da Comissão Trilateral, um clube muito seleto de políticos e banqueiros que discutem estratégias internacionais. O presidente desta comissão é Peter Sutherland, antigo Comissário Europeu, e antigo administrador no Goldman Sachs; o vice-presidente, Vladimir Dlouhr, antigo Ministro da Economia tcheco, é agora conselheiro na Goldman Sachs para a Europa Oriental. Em outras palavras, os "experts” que comandam a "salvação” da Europa da crise foram funcionários de um dos bancos diretamente responsáveis pela crise financeira iniciada nos Estados Unidos, em 2008. Isso não significa que existe uma conspiração para entregar a Europa à Goldman Sachs: apenas ilustra a natureza oligárquica dos "experts” de elite que comandam a UE.


Os governos da Europa estão indiferentes aos protestos públicos, greves e manifestações maciças. Não se importam com a opinião ou os sentimentos da população; estão apenas atentos — extremamente atentos — à opinião e sentimentos dos mercados financeiros e seus funcionários, as agências de avaliação de risco. Na pseudodemocracia europeia, consultar o povo em um referendo é uma heresia perigosa, ou pior, um crime contra o Deus Mercado. O governo grego, liderado pelo Syriza, a Coalizão da Esquerda Radical, foi o único que teve coragem para organizar tal consulta popular.


O referendo grego não tinha apenas a ver com questões fundamentais econômicas e sociais, foi também e acima de tudo sobre democracia. Os 61,3% de gregos que disseram não são uma tentativa de desafiar o veto real das finanças. Esse poderia ter sido o primeiro passo em direção à transformação da Europa, de monarquia capitalista a república democrática. Mas as atuais instituições da oligarquia europeia têm pouca tolerância à democracia.


Imediatamente puniram o povo grego por sua tentativa insolente de recusar a austeridade. A "catastroika” está de volta à Grécia com uma vingança, impondo um programa brutal de medidas economicamente recessivas, socialmente injustas e humanamente insustentáveis. A direita alemã fabricou este monstro, e forçou ao povo grego com a cumplicidade de falsos "amigos” da Grécia (entre outros, o presidente francês, François Hollande, e o primeiro-ministro da Itália Matteo Renzi).
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Enquanto a crise agrava-se, e o ultraje público cresce, existe uma crescente tentação, por parte de muitos governos, de distrair a atenção pública para um bode expiatório: os imigrantes. Deste modo, estrangeiros sem documentos, imigrantes de países não-europeus, muçulmanos e ciganos estão sendo apresentados como a principal ameaça aos países. Isso abre, é claro, enormes oportunidades para partidos racistas, xenófobos, semi ou completamente fascistas, que estão crescendo, e já são, em muitos países, parte do governo — uma ameaça muito séria à democracia europeia.


A única esperança é a crescente aspiração por uma outra Europa, que vá além das políticas de competição selvagem e austeridade brutal, e das dívidas eternas a serem pagas. Outra Europa é possível — um continente democrático, ecológico e social. Mas não será alcançado sem uma luta comum das populações europeias, que ultrapasse as barreiras étnicas e os limites estreitos do Estado-nação.


Em outras palavras, nossa esperança para o futuro é a indignação popular, e os movimentos sociais, que estão em ascensão, particularmente entre os jovens e mulheres, em muitos países. Para os movimentos sociais, está ficando cada vez mais óbvio que a luta pela democracia é contra o neoliberalismo e, em última análise, contra o próprio capitalismo, um sistema antidemocrático por natureza, como Max Weber já apontou, cem anos atrás.
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[1] Max Weber, «Zur Lage der bürgerlichen Demokratie in Russland», Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik, Band 22, 1906, Beiheft, p. 353.
[2] Citado in Perry Anderson, Le Nouveau Vieux Monde, Marseile, Agone, 2011, pp. 154,158.


Tradução de Gabriela Leite
Fonte: Adital