"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Chilenos ‘desconcertados’


Por Daniel Andres Martinez Cunill
Fonte: Rebelião

Para o meu filho Miguel...

Visita pessoal a La Moneda

Cheguei ao Chile justamente no momento de testemunhar a paulada eleitoral que a direita deu no candidato da Concertação. A eleição de 13 de dezembro deu ao empresário pinochetista, Sebastian Piñera, uma vantagem de 14 pontos sobre Eduardo Frei. (44,05% contra 29,60%).

Na semana seguinte visitei o palácio de La Moneda. Tive um momento pessoal, triste e cheio de memórias ao entrar no chamado Salão Branco, que reproduz fielmente o antigo escritório de Salvador Allende. Enquanto as imagens do passado apertavam meu coração, comecei a pensar que essa remodelação era uma legítima homenagem ao presidente mártir. Seguiram-se uma cascata de lembranças dos dias da Unidade Popular e da efervescência no Chile e na América Latina nessa época de mobilizações populares.

Então eu imaginei a Piñera como o novo presidente do Chile, convidando a algum miserável como ele, (Aznar, por exemplo), para visitar o Salão e fazer troça da epopéia que ali se viveu em 1970. A imagem foi como viver uma repetição do 11 de Setembro que não precisa de adjetivos. Sai arruinado e repensando as razões pelas quais, apesar dos 80% de popularidade da presidenta Bachelet, o candidato da Concertação sequer atingiu 30% no primeiro turno das eleições presidenciais chilenas.

Minhas preocupações e divergências

Como se sabe, os analistas chilenos fazem boas e profundas reflexões sobre a conjuntura política. O que é menos conhecido é que a grande maioria fica engasgada com o trem de pouso, o que me faz temer que quando pousem e concluam que era melhor apoiar a Frei, Piñera já terá vencido.

A maioria das análises que tenho lido sobre as razões da derrota parcial do candidato da Concertação estão enturvados pelo grau de frustração e/ou ressentimento que o autor (a) tem com a conduta da coligação governante nos últimos anos. Isso ilustra a posição política do analista em questão e não nos traz muita luz para a interpretação.

Pior um pouco. Trata-se de interpretar, acredito que é para contribuir na elaboração de estratégias que fortaleçam a esquerda chilena e o movimento social e – digo-o claramente – não para ficar olhando os touros por cima do muro, onde é muito fácil desqualificar tudo. Cito um exemplo. Um autor que eu respeito, diz que “Derivar as explicações para um esgotamento da coalizão é demasiado simplista” (1). Caramba! Se justamente separar as razões que esgotaram a Concertação é básico para uma nova proposta. Ou quatro governos da Concertação terão passado em vão? E os antecedentes históricos, já são considerados obscenidades?

Outros dizem que não devemos pensar em um “voto de castigo” e menos ainda vincular a análise com a alta taxa de respaldo que Bachelet possui. Para mim, de forma muito simplista, decidi perguntar a todas as pessoas que pude e que votaram em Arrate ou em Enríquez-Ominami quais foram suas razões. A resposta da maioria foi que queriam marcar assim o seu rechaço aos erros da Concertação e à forma em que como se designou a um candidato desprovido de qualquer atrativo e imposto pela elite política sem primárias nem consulta às bases. Se isso não é voto de castigo não como chamá-lo.

Os analistas se perguntam, ou lhes perguntam, se votar em Piñera é o mesmo que votar por Frei, então começam dizendo que a direita é pior, que Piñera ficou milionário no governo de Pinochet. E continuam com que, de qualquer forma, Frei é um candidato ruim e que a Concertação está cheia de defeitos e fracassos. Enfim, jamais chegam a responder à pergunta concreta: Deve-se apoiar Frei no segundo turno ou não?

Meus próximos e quem votaram em Arrate Enriquez-Ominami responderam que apoiariam Frei. “Com náuseas”, disse uma, “com o coração amargurado”, disse outra. Enfim, coincidimos todos que Frei é o pior candidato que a Concertação poderia ter apresentado. Mas, igualmente, a resposta foi sim, não se deve vacilar em apoiar sua candidatura. Dizer que Frei e Piñera são a mesma coisa é uma irresponsabilidade política e acaba sendo um convite à desmobilização.

Para concluir esta parte, perguntei por Michelle Bachelet e a resposta foi unânime em respaldá-la e aprovar o seu desempenho para além das nuances e desconfianças. Ainda mais bonito foi quando uma mulher, no dia da eleição, lhe disse “a esperamos em quatro anos”, expressando um sentimento generalizado válido atualmente. Se Bachelet quisesse reeleger-se como candidata da Concertação ganharia novamente.

Leituras sobre a Concertação e as eleições

Começarei por dizer que, ao meu juízo, a Concertação é um zumbi. Um instrumento político concebido há uma década para criar o consenso básico que permitiria um processo de transição para a democracia e em 2005 já estava esgotado. E isso era lógico, já que os fins e os objetivos para os quais tinham se “concertado” uma ampla gama de partidos políticos tinham modificado de tal forma o quadro nacional que a tornava anacrônica. O outro ingrediente que a tornou obsoleta era o pujante movimento social que durante a ditadura lavrou uma força própria e uma série de reivindicações que transcendiam o modelo político, econômico e cultural que a Concertação tinha se proposto.

Penso que, já para 2005, quando Bachelet irrompe no cauteloso e sinistro mundo masculino do “Establishment” da Concertação, ficou evidente que a coalizão agonizava e os líderes dos partidos disputavam entre si o direito de se candidatar em função de cotas de poder. Não se preocupavam com o esgotamento da proposta da Concertação e menos ainda em renovações de fundo.

É por isso que o ar fresco que a candidatura de Michelle Bachelet trouxe os pegou de surpresa e diante do ímpeto dessa candidatura antissistémica fizeram um cálculo perverso. A candidata do sexo feminino, agnóstica, ex-prisioneiro política, mãe solteira, seria o balão de oxigênio que iria manter a Concertação viva e os levaria novamente ao Palácio de La Moneda. O exercício do poder permaneceria nas mãos dos de sempre, as deles.

Assim são as coisas, o mandato de Michelle está marcado, desde o início, pela medição de forças entre os antigos barões da política e uma mulher que aos poucos aprendeu a vencer as batalhas e, até mesmo, adiantou-se em várias ocasiões aos seus "muñequeos" (artimanhas), como se diz no Chile.

Para a analise do governo de Bachelet proponho que se leve em conta que governou, apesar da cúpula da Concertação, enfrentando o machismo hipócrita dos dirigentes, submetida constantemente ao fogo amigo dos partidos políticos que não se resignavam a ser governados por uma mulher. Mesmo que fosse de suas fileiras. Como escreveu Manuel Cabieses em “Ponto Final”, foi submetida a um “feminicídio político”, e esse é um elemento obrigatório para analisar o seu desempenho e a profunda espiral de deterioração em que a coalizão governista entrou.

Por essa razão acredito que não pode haver uma transmissão mecânica de 80% da popularidade de Michelle Bachelet para o candidato Eduardo Frei. Porque as pessoas não a identificam com a Concertação, mas como uma proposta distinta que com erros e desacertos procurou justamente se distanciar da política tradicional de uma esquerda estagnada.

Isso não a exime das responsabilidades, mas redireciona a análise e depois haverá tempo para analisar o fenômeno Bachelet. Mas não se podem ignorar os avanços da Concertação na parte social, por exemplo. Alguns analistas enfocam o governo de Bachelet exclusivamente nos pontos que ficaram pendentes e cobram as dívidas que tem com o país sem se deter nas responsabilidades que, nestes casos, corresponde a outros atores.

O que é urgente agora é medir a incoerência programática da Concertação, a orfandade ideológica da esquerda institucionalizada e a ausência de novas propostas. Uma redefinição estratégica não atole na busca de caras novas, mas que se consagre a ouvir as reivindicações da sociedade e elabore uma nova idéia de democracia. Não há mais que andar na busca do consenso perdido, de “concertar”. A verdadeira democracia nutre-se de consensos, divergências e das contradições entre as idéias.

Há um número assustador, que mostra a orfandade de propostas próprias dos setores progressistas chilenos: Piñera recebeu 42,31% dos votos nas dez cidades com maior taxa de desemprego do país, e 51,02% nos dez municípios com as maiores taxas de pobreza, incluindo as comunidades indígenas. (Estudo estatístico do El Mercurio, 15 de Dezembro).

Como é possível que não houvesse uma oferta política que atraísse esses setores sociais tão desprotegidos? Por acaso não foi possível concordar em que o sistema eleitoral tem que mudar; abrir um referendo para revogar a Constituição de Pinochet; reconhecer os direitos dos povos indígenas e acabar com a criminalização da luta dos Mapuches, entre outras coisas?

Contexto Internacional

Finalmente, aqueles que dizem que Piñera e Frei são o mesmo, não pararam para pensar que a vitória do empresário milionário é uma derrota para todos os progressistas do continente. Já pensaram que a Piñera não faltara tempo para sair correndo e se fazer transformar em de Uribe e Aznar e novo porta-voz dos EUA no Cone Sul?

Aqui também estão em jogo as correlações de forças internacionais e o pior candidato da Concertação sempre melhor do que um neopinochetista como Piñera. A esquerda chilena não pode separar-se deste esforço internacionalista para fortalecer a UNASUL, a ALBA e uma série de propostas que buscam um mundo melhor a partir de uma perspectiva social, inimiga do neoliberalismo e cansada de ver sacrificados seus direitos por um modelo de exploração em crise.

(1) Marcos Roitman (Rebellion, 05-01-2010)