"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

COLÔMBIA: A PRIVATIZAÇÃO DA GUERRA



Fonte: ANNCOL

Esta observação nos traz duas mensagens claras que devem ser objeto de debate, o primeiro é a dificuldade de diferenciar um alvo militare, por exemplo, a diferença entre um civil e um soldado torna-se mais difusa, pela própria dinâmica da guerra atual ( Afeganistão, Iraque, Colômbia, etc.). A segunda tem a ver com a perda do Estado no sentido weberiano da palavra, do monopólio da violência, ou do monopólio sobre as armas e fazer justiça. Em muitos países impõe-se mais a justiça privada, a guerra privada, e a substituição do Estado, muitas vezes promovido pelo próprio Estado, como ocorre na Colômbia, nos EUA e no Afeganistão, só para citar alguns exemplos.

Um civil e um soldado da Colômbia, qual é a diferença? O Estado colombiano, as suas instituições e todo o seu sistema político, promovem uma visão do cidadão-soldado, uma estratégia de defesa nacional. Para começar, a Polícia Nacional, que deveria ser uma instituição cívica, está completamente militarizada, com a sua inscrição no ministério da defesa, e não no ministério do interior, como em qualquer país civilizado. Basta observar os diferentes cursos militares que o exército colombiano oferece a empresários, jornalistas, pecuaristas e outros sectores da sociedade colombiana, assim como também o projeto paramilitar, que tem sido, sem dúvida, uma política de Estado (Um milhão de informantes, Guardas florestais, Famílias em Ação, Convivir, cooperadores). Na Colômbia, o militarismo dos civis que compõem o regime político-econômico o torna ainda mais difícil. Isso explicaria por que o atual ministro da Defesa colombiano vem do exercício da presidência de uma associação de cafeicultores para daí passar a dirigir o exército mais profissional e mais criminoso da América Latina. E o que dizer do seu discurso, não somente suplantou o ministro do exterior, mas que obscurece o próprio discurso dos militares da ativa.

O exército no terreno, em zonas de guerra invade todos os espaços civis, não para proteger os civis como diz o discurso oficial, mas se proteger com eles. Em muitas áreas da ordem pública, o Exército constrói suas trincheiras, a propósito, ao lado de escolas, postos de saúde, malocas indígenas e casas de camponeses, utilizando-os como escudos humanos.

Tudo esse ambiente nacional faz com que o regime como um todo, ou seja, todos seus representantes e todas suas instituições nacionais, departamentais ou municipais, são considerados alvos militares pelas forças insurgentes. Os ministros, independentemente da pasta, são alvos militares porque eles participam ativamente na implementação da guerra na Colômbia seja aprovando uma lei, seja desenvolvendo as políticas de guerra e do exercício do poder.

Envolver os civis para defender a pátria, é a estratégia dos “patriotas” do regime, que quando lhes convém, a pátria é de todos, e com esse discurso, convoca-se os pobres da Colômbia para o serviço militar e fazer a guerra, em nome de uma suposta pátria imaginária, que não existe para os milhões de pobres e deslocados do país. Na hora de dividir o bolo burocrático, e a riqueza da nação, então, nesse momento supremo, o círculo se fecha para os seus mais próximos e os soldados “bucha de canhão", que fazem a guerra em seu nome, não contam para a oligarquia.

O pior de tudo é a derrota do Estado, dois exemplos simples de dois aliados estratégicos como a Colômbia e os EUA, mostram que para atingir os objetivos que permitam a supremacia dos grupos de poder correspondentes, são capazes de sacrificar o seu próprio aparato de coesão e coerção social.

O Estado colombiano, diante da incapacidade de garantir uma distribuição equitativa dos recursos, converteu-se num ente repressivo, instrumentalizado para esmagar o pensamento diferente, por isso todo o seu esqueleto jurídico-repressivo existe em função do inimigo interno.

Desde o Estado tem se gestado todas as gerações de paramilitares, desde Sangue Negro, chispas e outros, “pájaros” e “Chulavitas”, passando pelos irmãos Castaño e outros de nefasta lembrança. Todos com o sinal sombrio de estender a repressão do terrorismo de Estado. O Estado colocou o seu departamento de segurança, o DAS, ao serviço dos paramilitares fechando com broche de ouro o ciclo vicioso de entregar-se ao serviço de interesses nefastos. A dissolução do DAS, ou a mudança de seu nome, não resolve o problema, porque tudo o que aconteceu é, simplesmente, uma política de Estado.

Nos EUA está acontecendo o mesmo com a CIA, central de inteligência medíocre e delitiva cujo controle ninguém possui, nem o comandante em chefe do Exército, o presidente Obama.

A CIA passou de uma agência de espionagem e fonte de informações para decisões políticas a um organismo militar que ninguém controla. A CIA é um cartel do crime, que troca drogas por armas (escândalo Irã - Contras) e que tem assumido ultimamente, após os dois Bushes, um papel operacional, mercenários sem Deus nem lei. A morte de seus oito terroristas no Afeganistão, na quarta-feira 30 de dezembro, disparou todos os alarmes, do verdadeiro envolvimento da CIA na parte operacional da guerra.

A CIA veste-se de ONGs, de fundações de desenvolvimento, de centros de pesquisa, Mórmons, missionários, de escritório de mercenários. O uso da USAID por parte da CIA tem sido evidente em toda a América Latina e CONVERTE a USAID, sem dúvida, num alvo militar. Os EUA utilizam civis e empreiteiros que são, em termos operacionais, mercenários e terroristas, por tanto objetivos militares. Em 15 de dezembro, um destes mercenários foi detido em Cuba e há rumores, que como este, muitos outros se deslocam em território latinoamericano, com a fachada das ONG's que apregoam a paz, o desenvolvimento, a ecologia e outros discursos que servem de cobertura legal às suas conspirações e golpes de Estado.

Vejamos um exemplo pontual citada pela advogada Eva Golinger sobre a Venezuela e Bolívia:

“Desde junho de 2002, a USAID mantém um Escritório para as Iniciativas rumo a uma Transição (OTI) na Venezuela, através do qual tem canalizado milhões de dólares para a oposição contra o presidente Hugo Chávez. A mesma empresa ativa no Afeganistão e ligada à CIA, Development Alternatives, Inc. (DAI) foi contratada pela USAID na Venezuela para gerir o orçamento milionário com o objetivo de ‘apoiar a sociedade civil e a transição para a democracia’. Mais de duas mil páginas parcialmente desclassificadas da USAID sobre suas atividades na Venezuela, mostram a relação entre a DAI e setores da oposição, com programas que visam ‘fortalecer’ seus partidos políticos, projetar suas campanhas políticas e ajudar a consolidar um movimento contra o governo venezuelano. Na Bolívia, a USAID foi expulsa neste ano pelos habitantes de dois municípios, Chapare e El Alto, sob a acusação de intervencionista. Em setembro, o presidente Evo Morales anunciou a conclusão de um acordo oficial com a USAID devido ao desvio de fundos bilionários para os grupos separatistas que procuram ‘desestabilizar o país’".

A pergunta óbvia é: estes funcionários da USAID são simplesmente civis ou são potenciais alvos militares das forças insurgentes. O mais grave é o precedente aberto pelos estados, ao considerar que um jornalista crítico, um sindicalista ou um defensor dos direitos humanos é um terrorista em roupas civis, como os tem chamado Uribe Velez. O duplo moral é incrível, porque com essa mesma lógica com que declaram a todo inimigo político de terrorista, lhes serve para ocultar que na divisão do trabalho repressivo, certos civis realizam tarefas militares. Um prefeito e um governador que financiam os paramilitares, que trabalham em conjunto com os órgãos de segurança departamental ou municipal são alvos claramente militares, ou não?

A degradação de guerra é imposta a partir das instâncias de poder. Não são os rebeldes que escolheram o método de luta, este foi imposto de cima. A degradação da guerra sugere-nós o imperativo ético de acabar com ela. Deixemos essa historinha da humanização da guerra, o que todos devemos fazer é lutar para finalizar a guerra.

A privatização da guerra por parte dos Estados impõe um discurso que transcende a fronteira da moralidade. Uma prática não pode ser boa porque é praticada pelo Estado e má porque é praticada pelos insurgentes.