"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A História nunca antes contada do Afeganistão


Ron Jacobs
Fonte: www.counterpunch.org


Na primeira semana de 2010, cinco soldados dos EUA morreram no Afeganistão. Na última semana de 2009, oito agentes da CIA também morreram naquele país. Mas muito mais civis afegãos foram mortos durante esse período, incluindo a execução aparente de vários rapazes por membros do exército norteamericano ou que trabalhavam ao seu serviço. Além disso, as forças rebeldes atacaram um funcionário do governo de Karzai, no leste de Khost, e em Herat foram lançados foguetes em direção ao local onde será o futuro consulado dos EUA. Em 6 de janeiro de 2010 foi informado que a administração de Obama estava enviando mil especialistas civis americanos especialistas ao país para ajudar em supostas projetos de reconstrução. Esta notícia foi recebida com ceticismo pelos afegãos, tanto dentro como fora do governo. O embaixador afegão para as Nações Unidas assinalou que poucos afegãos confiavam nesses supostos esforços de reconstrução e que os EUA fariam melhor contratando afegãos para realizar os trabalhos de reconstrução ao invés de enviar cidadãos norteamericanos “criando estruturas paralelas que não fazem mais do que arruinar os esforços do governo afegão”. O embaixador deve estar ciente de que a história das reconstruções dos EUA, seja no Afeganistão ou no Iraque, é um legado de corrupção, construções deficientes e esforços falidos que somente beneficiaram as empresas estrangeiras que conseguiram os contratos.

Apesar da situação descrita acima e dos oito anos de fracasso que precederam as semanas descritas, a administração de Obama enviou, pelo menos, 30.000 soldados a mais para lutar no Afeganistão. Além disso, haverá um número indeterminado de mercenários para se somar aos números das tropas de ocupação. Assim como seus antecessores imperiais em Washington, Londres e Rússia, Barack Obama está convencido de que o seu exército de alguma forma pode transformar o Afeganistão em uma nação onde o império que dirige possa fazer o que quiser. Como os autores de Afghanistan: The Untold Story deixam claro, as suas chances de sucesso são muito reduzidas. A história não está do seu lado.

Esse livro, publicado logo após a eleição de Obama, em 2008, aprofunda o olhar para a história do Afeganistão, incidindo especialmente sobre os últimos cem anos. As questões principais referem-se à natureza da situação do Afeganistão nas lutas regionais e internacionais pelo poder e controle na Ásia Central. Desde Alexandre, o Grande, até Barack Obama e o general McChrystal, o Afeganistão significou frustração e, até agora, em todas as ocasiões, também significou derrota para os invasores. Os autores, jornalistas Paul Fitzgerald e Elizabeth Gould, apresentam ao eleitor o fracasso perene da Grã-Bretanha para submeter os exércitos do Afeganistão, sem importar quem governava a nação em qualquer momento.

Segundo Fitzgerald e Gould, a principal razão para este fracasso foi o debate sobre áreas dominadas pelos pashtuns (Pastunistão), que foram reivindicadas pela Grã Bretanha pelo Acordo Durand, e que os nacionalistas Afegãos consideravam parte do Afeganistão. Mesmo que Londres já estivesse perdendo seu império, se envolveu em uma luta continuada sobre essas terras e povos ao criar o Paquistão fora do subcontinente indiano e dividir o Pastunistão em duas partes.

Após a Segunda Guerra Mundial, os EUA instalaram-se nas antigas colônias da Grã-Bretanha, estabelecendo acordos econômicos e defensivos no seu desejo de cercar a União Soviética. Tal como a Grã-Bretanha antes, as interações entre Washington e o Afeganistão, revelaram um desconhecimento do desejo histórico de não-alinhamento pelo Afeganistão. Essa ignorância combinada com a insistência em que qualquer manifestação dessa vontade demonstrava que Moscou estava influenciando na política de Cabul. Fitzgerald e Gould escrevem que isto não aconteceu por acaso. Na verdade, foi o resultado lógico de uma diretiva de segurança nacional de 1950, conhecida como NSC 68. Esta diretiva, escrito pela ala anticomunista e militarista do estabelecimento da política externa norteamericana, insistia em que a União Soviética tentava estabelecer uma hegemonia global e que a única maneira de impedi-lo era que os EUA se adiantassem. A essência da filosofia que motivou essa diretiva era simples: ou se estava ao lado de Washington ou se converteria em seu inimigo. O resultado direto dessa diretiva foi a criação de uma economia de guerra permanente e da criação de um estado de segurança nacional. Na prática, isso significou, em parte, que as lutas de libertação nacional e os desejos nacionais de não-alinhamento percebiam-se como inspirados pelos soviéticos e, portanto, formando parte do campo inimigo. Além disso, os norteamericanos que se opunham as essas políticas dos EUA eram considerados traidores potenciais.

No mundo muçulmano, essa visão levou a que Washington começasse a cortejar a direita islâmica. Uma razão fundamental para essa aliança foi que a direita islâmica odiava a filosofia marxista. Além disso, algumas figuras poderosas, como William Casey, da CIA, consideravam a direita islâmica como irmã espiritual, ignorando, na melhor das hipóteses, sua misoginia e métodos brutais e, na pior, tacitamente endossando tais práticas. A aliança começou com a ajuda subreptícia do MI-5 britânico e da CIA a elementos dos primeiros Irmãos Muçulmanos em sua luta contra o nacionalista egípcio Abdel Nasser, e encontrou sua expressão final, quando se dedicaram a armar, sob Carter e Reagan, os grupos de mujahideen Afegãos.

O envolvimento dos EUA no Afeganistão, que começou com Jimmy Carter, não foi acidental. Foi o resultado dos esforços da direita norteamericana para recuperar seu poder após a derrota no Vietnã. Finalmente, estes esforços triunfantes, dirigidos por neocons como Zbiegniew Brzezinski e Richard Pipes e apoiados por liberais como Barney Frank e Paul Songas, supuseram o ressurgimento da ala pró-militarista do establishment político como principais arquitetos da política externa dos EUA. Segundo os autores, isso significou para o Afeganistão que foi Washington que “apoiava (agora) a uma classe de mullahs e latifundiários que, por gerações, combatiam qualquer reforma social” e que “se envolveu num processo que fez com que a evolução social no Afeganistão retrocedesse à Idade da Pedra”. A Guerra dos mujahideen e o que se seguiu destruíram todos os progressos sociais conseguidos pelos governos afegãos anteriores. As Mulheres e meninas foram relegadas a um status de segunda classe e a intolerância fundamentalista estava na ordem do dia.

O livro conta a história de uma antiga nação que ao longo do século passado tentou criar uma sociedade livre e tolerante. É também a história de uma nação cuja geografia a colocou no centro de muitas batalhas dos grandes poderes na tentativa de colonizá-la. A luta pela tolerância e justiça ocorreu sob monarquias, regimes locais, regimes capitalistas autocráticos e democracias. Na opinião dos autores, essas lutas transformaram-se numa guerra civil quando os EUA começaram a armar os senhores da guerra e às forças religiosas reacionárias em sua guerra contra os soviéticos. O caos que se seguiu após essa decisão levou à destruição das forças que trabalhavam a favor da modernidade e à chegada ao poder das forças reacionárias. Nesse momento, o caos no Afeganistão converteu-se numa batalha entre os poderosos senhores da guerra e os talibãs, com os EUA colocados ao lado de vários senhores da guerra em luta contra a sua descendência: os talibãs. Isso coloca a responsabilidade da desesperada situação do Afeganistão diretamente nas mãos dos políticos norteamericanos: a corrupção do governo de Karzai, o Talibã, o ácido no rosto das meninas, os senhores da guerra, o comércio de heroína, etc. O livro também coloca que se não foi sempre essa a intenção desses políticos.

Se houver qualquer defeito no texto, não está na escrita ou na história, mas na afirmação de que apenas os elementos neoconservadores da estrutura de poder norteamericana são os responsáveis pelo passado recente e da atual situação Afegã. Poder-se-ia assumir tal implicação se não fosse pelos antecedentes históricos. Cada voto do Congresso para financiar a agressão norteamericana no Afeganistão foi precisamente para esse fim, enquanto a mídia dominante nos EUA raramente questionou a guerra ou as razões dadas para ela. De fato, quando Ronald Reagan fazia posse para as fotos com os mujahideen, estes eram celebrados em todos os meios de comunicação como combatentes da liberdade. A política dos EUA, no que hoje é conhecido como a guerra de AfPak, não é uma política da direita ou dos liberais, mas sim do próprio establishment de Washington. A resposta silenciosa à recente escalada de Obama não é mais do que a prova mais recente desse fato.

“Afghanistan: The Untold Story” termina com uma série de recomendações para Barack Obama. A primeira e a última dessas recomendações são as mais essenciais: A primeira é muito simples: parar de matar afegãos. A última é um pouco mais complexa. Fitzgerald e Gould recomendam que se reabra o debate sobre a identidade nacional dos EUA. Segundo eles, o debate foi encerrado em 7 de dezembro de 1941, quando os japoneses atacaram Pearl Harbor e o estado de segurança nacional passou a ocupar uma posição onipresente. Da minha perspectiva, parece como que se o Sr. Obama não houvesse levando em conta nenhuma dessas recomendações. Assim, suas políticas são continuação do passado. E se desejam provas, sugiro que se leia o discurso de Obama justificando a escalada da guerra no Afeganistão [1] e as histórias na mídia sobre o massacre em curso de civis afegãos pelas forças dos EUA [2].


Notas:

[1] A este respeito, consulte o artigo tradução em castelhano do artigo de Justin Raimondo do "O discurso bélico de Obama", publicado em Rebelion: http://www.rebelion.org/noticia.php id = 96459
[2] Sobre este assunto, ver, entre outros, artigos do professor Marc W. Herold publicado em Rebelion: http://rebelion.org/noticia.php? id = 84654;http://rebelion.org / noticia.php id = 87056; http://rebelion.org/noticia.php? id = 90410

Ron Jacobs é autor de The Way The Wind Blew: A History of the Weather Underground reeditada por Verso. O ensaio de Jacobs sobre Big Bill Broonzy está compilado na coleção de CounterPunch sobre música, arte e sexo: Serpentes in the Gardem. Seu primeiro romance, Short Order Frame Up, foi publicado por Mainstay Press. Jacobs pode ser contatado através de: rjacobs3625@charter.net

Fonte: http://www.counterpunch.org/jacobs01152010.html