"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 2 de maio de 2010

Os "falsos positivos"

Por Ivan Márquez
Integrante do Secretariado das FARC

Na geringonça militar e policial da Colômbia, o termo "positivo" significa capturar ou eliminar pessoas consideradas inimigas do Estado. Esses boletins "positivos" sempre foram premiados com ascensões, recompensas em dinheiro e férias. Foi esse abominável procedimento do Estado, ligado à Doutrina de Segurança Nacional, o que detonou na Colômbia os "falsos positivos" ou crimes de lesa humanidade. Como no Vietnã ou em EL Salvador, na Colômbia assassinam civis para apresentá-los como guerrilheiros tombados em combate.

Durante a administração do narcoparamilitar Álvaro Uribe, esses "falsos positivos" alcançaram o mais alto degrau da perfídia humana mediante o pago de milionárias somas de dinheiro, ascensões no escalão de mando e férias remuneradas a integrantes das forças armadas por pessoas mortas ou capturadas, material de guerra apreendido ou informação.

No marco de sua política de segurança democrática ou inversionista, Uribe deu luz verde ao Ministério da Defesa para a aplicação da diretiva ministerial permanente, número 29, de novembro de 2005, "que desenvolve critérios para o pago de recompensas pela captura ou morte em combate de chefes de organizações armadas por fora da lei, material de guerra, intendência ou comunicações e informação que sirva de fundamento para a continuação de labores de inteligência e o posterior planejamento de operações".

Dita Diretiva assinada por seu então Ministro da Defesa, Camilo Ospina Bernal, estabelece as seguintes cifras para pagar as recompensas:

$5.000 milhões de pesos (2.5 milhões de dólares) por chefes máximos.
$1.719 milhões de pesos (859.550 dólares) por chefes de estruturas maiores de relevância nacional.
$191 milhões de pesos (95.500 dólares) por chefes de estruturas urbanas e rurais em nível regional.
$68.760 milhões de pesos (34 mil 380 dólares) por chefes de estruturas rurais e urbanas em nível local.
$3 milhões 815 mil pesos (1.900 dólares) por chefes e membros de guerrilhas, esquadras ou rasos, responsáveis de ações em nível local.
Essas recompensas foram difundidas em todas as unidades militares com a lista das pessoas incluídas nos níveis I e II.

Deixaram a vida sem valor algum e colocaram preço à morte. Mediram o êxito de sua política criminal de segurança em litros de sangue. Como conseqüência dessa Diretiva, os jornais da tv, da rádio e a imprensa escrita ficaram abarrotados de mortos, quase todos apresentados pelos militares como "chefes das finanças" da guerrilha, "mão direita" do Comandante tal ou simplesmente, "terroristas" tombados em combate....

As Brigadas Militares acionaram seus gatilhos para se apoderar das recompensas em dinheiro, ascensões no escala de mando e as férias remuneradas oferecidas pelo governo.

O sucedido no município de Soacha é emblemático: dezenas de jovens desempregados foram recolhidos por contatos do exército nas esquinas com ofertas de emprego e em menos de 24 horas apareceram nos manchetes dos jornais como guerrilheiros mortos em combate, em outro extremo da geografia nacional. Tinham-lhes colocado uniformes e armas para fazer crível a notícia. O estranho é que enquanto seus uniformes estavam intactos, seus corpos pareciam uma peneira dado o estrago causado pelas balas. Essa macabra historia se repetiu impunemente durante os últimos anos banhando assim com sangue inocente o território da pátria.

Os cabecilhas paramilitares têm confessado na Procuradoria Geral da Nação que entregaram milhares de pessoas assassinadas por eles ao exército para que cobraram a recompensa e assim mostrassem eficácia em sua luta anti-subversiva. Dessa forma foram tecendo na opinião a fábula da derrota e o fim do fim da guerrilha.

Quando explodiu o escândalo, quando era impossível ocultar mais a barbárie, saiu Uribe, cérebro e autor intelectual da Diretriz criminal, a se rasgar, de maneira hipócrita, as vestiduras e, junto com ele, também, seus ministros de Defesa Camilo Ospina e Juan Manuel Santos, este último hoje candidato à presidência da república, os generais Padilla de León e Mario Montoya, comandantes das Forças Militares e do exército respectivamente e, o Diretor da Polícia Nacional, general Oscar Naranjo.

Tentaram apresentar esses crimes como se fossem casos isolados que não comprometiam a instituição armada, para iludir assim sua responsabilidade penal. Porém, a Diretiva 29 do Ministério da Defesa desmente de forma incontestável os assassinos. Por isso denunciamos ante o mundo que os "falsos positivos" são o resultado direto de uma política oficial e do terrorismo de Estado

Nenhum dos inculpados está preso. Os militares de menor patente que estavam sendo processados pela Fiscalia, todos foram soltos. Os generais comprometidos nesses crimes foram destituídos, só, e sua responsabilidade penal vai ficando aos poucos no esquecimento.

Onde estão os autores intelectuais desses crimes de lesa humanidade?

Alguns dos pagamentos foram feitos com recursos da Nação e, outros da cooperação econômica nacional e internacional, como o indica a mencionada Diretiva.

O mesmo documentos oficial reconhece claramente que "se criou um comitê técnico de seguimento da Diretiva conformado por um delegado da Divisão Administrativa e, um analista do J-2 do comando geral das forças militares, o chefe da Divisão Administrativa da Direção de Inteligência do Exército Nacional, o chefe nacional da JINA da Armadas Nacional, o chefe administrativo da JIN da Força Aérea Colombiana, dos funcionários da polícia nacional (DIPOL-DIJIN), um analista do DAS e, um analista do CTI da Promotoria.

Quem são esses senhores? Por que não têm sido julgados? Todos eles devem comparecer ante os tribunais acompanhados pelo seu chefe, o presidente Uribe.

No município de La Macarena, em um terreno contíguo da Base Militar desse lugar, foi descoberta recentemente, uma grande cova comum com mais de dos mil cadáveres. Nos últimos anos, em uma ininterrupta procissão de morte, os helicópteros do exército transportaram até essa cova os cadáveres dos assassinados. Esses mortos são o parte de vitória da política de segurança de Uribe e de seus "falsos positivos".

Durante o governo de Uribe as forças armadas oficiais foram convertidas em uma fria máquina de matar inocentes. Esses crimes de guerra e de lesa humanidade têm como responsáveis os altos funcionários do Estado colombiano. Não há provas em contrário. Eles constituem um feito notório.

Esses crimes foram complementados com o encarceramento no primeiro quatérnio de Uribe, através de redadas massivas, de mais de 150.000 pessoas sob a falsa acusação de de serem apoio da insurgência. Eis o "falso positivo judicial".

O drama humanitário da Colômbia e, a degradação da guerra como política de Estado, é o grito de um povo vitimado que reclama a solidariedade das nações do mundo.

Montanhas da Colombia, abril de 2010