Comunicado do Comando Conjunto do Sul Ocidente das FARC-EP
Por Comando Conjunto do Sul Ocidente das FARC- EP
A
população do estado do Cauca historicamente tem sido vítima de injustiças e seu
território cenário de confrontação. Nossos ancestrais, além do extermínio,
sofreram e resistiram aos cruéis métodos de trabalho impostos pela coroa
espanhola, e posterior à independência a população rural tem encarado a
expropriação do território perpetrada por caciques locais e latifundiários. Na
mal chamada época da violência os latifundiários, no afã por apoderar-se das
melhores terras, assassinavam os nativos e os expulsavam para lugares remotos
das cordilheiras.
Já na história recente de nosso país, o Estado excluiu os setores
populares da participação política e os manteve à margem do usufruto de seus
direitos econômicos, sociais e culturais, empregando a violência sistemática e
o terror de Estado. Frente à resposta do povo ao organizar-se em guerrilhas,
promoveu um sem número de estratégias de aniquilamento: Plan Laso, Plan Consolidación
e o atual Espada de Honor. Não obstante, todos fracassaram porque, ao tempo que
tem sido indiferente ante as petições populares, sua única finalidade tem sido
a derrota militar das guerrilhas, desconhecendo que um povo com dignidade,
quando se lhe negam as vias democráticas de participação, acorre à violência
revolucionária como meio para fazer valer seus direitos.
O papel das Forças Armadas tem sido sustentar um regime ilegítimo,
totalmente fragmentado e em grave situação de ingovernabilidade, a fim de
assegurar polpudos lucros aos grandes empresários nativos e às transnacionais,
à custa dos recursos naturais extraídos do solo pátrio. Os métodos empregados
em sua guerra total contra o povo não variaram nos últimos tempos: recompensas
e rede de delatores, detenções e julgamentos arbitrários de civis,
desaparições, assassinatos seletivos e massacres cuja autoria é dirigida a
supostos paramilitares.
Para limpar a imagem desacreditada pelos desmandos próprios de um
exército de ocupação, os militares tentam ganhar o apoio da população
executando insignificantes obras e projetos de investimento social que competem
a outros ministérios e fazem parte da obrigação que tem o Estado de garantir
bem-estar a seus cidadãos. Isto, além de constituir um reconhecimento de que em
nosso país a guerra tem causas sociais, também se converte em uma forma sutil
de envolver civis na confrontação.
Entendemos o sofrimento da população caucana e, em geral, do povo
colombiano e lamentamos as vítimas produto do conflito armado que estamos
sofrendo desde a agressão aos campesinos de Marquetalia em 1964. Hoje, mais do
que nunca, nos unimos ao povo em seu clamor de paz, de uma paz democrática, na
qual desapareçam as mortes, a desolação e o sofrimento que produz esta guerra
entre irmãos. Ansiamos por uma paz que garanta de que tampouco morrerão mais
pobres nas portas dos hospitais por desatenção médica; uma paz que assegure
teto digno para todos os nossos compatriotas; uma paz que gere as condições
para que nunca mais pereçam na Colômbia crianças por desnutrição, para que se
tenha emprego decente e se erradique a fome. Uma paz que engrandeça a pátria,
onde se trate com amor a Mãe Terra e o fruto de seu ventre seja para alimentar
a seus filhos, em vez de entregue às multinacionais, como faz o regime apátrida
de Santos. É a paz com justiça social, a qual estamos dispostos a conquistar
junto ao povo.
Condenamos o governo oligarca encabeçado por Juan Manuel Santos e a
degradada Força Pública que o sustenta por seu vil proceder ao utilizar os
habitantes dos centros urbanos como escudos humanos para sua proteção, em clara
violação ao Protocolo Adicional aos Convênios de Genebra, Artigo 58, que trata
sobre as precauções contra os efeitos dos ataques nos conflitos armados.
Neste contexto, não deixa de ser preocupante para a população do norte
do Cauca o fato de que, como se dá em Toribio, alguns habitantes se
manifestaram a favor da presença da força pública nos perímetros urbanos.
Presença que, ademais de favorecer a entrada das transnacionais nos territórios
indígenas e campesinos, constitui o alvo das ações guerrilheiras, pelo que
também a eles lhes assiste responsabilidade sobre as consequências que no
futuro possa ocasionar o desenvolvimento da confrontação.
Aos meios de comunicação, instamos a que deem uma versão objetiva da realidade
do conflito nesta região sem alinhar-se cegamente com as versões oficiais.
E ao povo colombiano, em seu conjunto, o convocamos a trabalhar unido
por forjar uma alternativa popular de governo que encarne a vontade de
encontrar saídas políticas a esta guerra que tem suas raízes na injustiça
social, na entrega do patrimônio e da soberania nacional aos impérios, no
terrorismo de Estado e na concentração do poder em poucas mãos.
FARC -Exército do Povo
COMANDO CONJUNTO DE OCIDENTE
Montanhas do Cauca, 17 de julho de 2012