"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 11 de agosto de 2012

Entrevista com Carlos A. Lozano Guillén, diretor de VOZ e um dos principais dirigentes do Partido Comunista Colombiano


Carlos Lozano é um polêmico dirigente do Partido Comunista Colombiano. Querido em seu partido até o ponto em que logrou a primeira votação na eleição do Comitê Central. Odiado por seus inimigos que diariamente o insultam e ameaçam de morte, apreciado em círculos políticos e sociais de todos os partidos e classes, onde reconhecem seus dotes intelectuais e de obstinado militante da paz. É um bom falador e sabe ouvir.
Quisemos entrevistá-lo sobre o Congresso do Partido Comunista Colombiano, realizado entre 17 e 22 de julho do presente ano, porém resultou numa longa conversação porque se atravessaram outros temas da atualidade. Não pudemos evitá-lo.
Pergunta [P]. Se diz que os debates internos no Partido Comunista Colombiano são intensos, há rumores de divisões internas e de frações que ameaçam a unidade. Como concluiu o XXI Congresso Nacional? Quais são as principais decisões?
A clássica obra de Lênin sobre a construção do Partido de Novo Tipo.
Resposta [R]. Desde logo que no Partido Comunista Colombiano, com a mais ampla participação de dirigentes e militantes, há debates internos, profundamente democráticos. Nem mais faltava que primasse o reino da unanimidade. O unanimismo é antidemocrático, restringe a livre expressão e a liberdade de opiniões. A política dos comunistas se constrói coletivamente e sua formulação é a síntese do debate interno. Ainda que tampouco o partido é um clube de discussões. Se adotam as decisões por maioria e regem para todo o partido. O Partido Comunista Colombiano tem um só Programa, um só estatuto, uma só linha política e uma só direção nacional. Todos os seus dirigentes e militantes estão na obrigação de acatá-los, depois do processo democrático de discussão e aprovação dos documentos.

P. É o que vocês chamam de “centralismo democrático”?
R. Sim, senhor. É um princípio leninista de organização. O fundamento ideológico do Partido Comunista Colombiano é o marxismo-leninismo, entendido como uma teoria de aplicação concreta a realidades concretas. Sem critérios dogmáticos de nenhuma índole. Na hora da verdade, entendemos o marxismo-leninismo como teoria inesgotável, em permanente construção. A ideologia revolucionária é inesgotável, precisamente porque é dialética.
P. Bem, porém, conte-me, quais foram as conclusões principais do Congresso?
R. Se adotou o novo programa do Partido Comunista Colombiano, é a linha estratégica, vigente para a realidade colombiana em função de nossa análise. O Programa faz a radiografia política, econômica e social colombiana; a composição social e as características do bloco de poder dominante; o caráter do regime, dependente do imperialismo estadunidense e em função dos interesses do grande capital, em particular do capital financeiro, da burguesia industrial e do poder latifundiário no campo. Sobre essa base se formulam as mudanças e reformas que propomos, que tem o objetivo fundamental da conquista do socialismo, democrático e humanista por excelência. É a antessala do comunismo, que varrerá para sempre a exploração capitalista.
Foram aprovadas as reformas estatutárias para adequar a organização às mudanças reais institucionais, administrativas, políticas, sociais e econômicas do país, ainda que também para fortalecer a militância política e o vínculo do partido com as massas. A ideia é de um partido metido na luta popular e com absoluta vocação de poder.
Também foi aprovada a linha política. Contém as orientações para a ação imediata, a tática, que se sustenta nas seguintes bases: Confrontação ao modelo neoliberal de acumulação do capital, baseado na chamada economia de livre mercado capitalista; resistência popular ao desenfreio dominante de fazer recair o peso da crise nacional sobre os trabalhadores e o povo; ação de massas e de mobilização popular com um programa mínimo, que não exclui a preparação e realização de uma paralisação cívica nacional em curto tempo; a luta pela paz, pela solução política e democrática do conflito colombiano, isto é, mobilização pela paz com democracia e justiça social; e a unidade da esquerda, a mais ampla unidade, no entendido que só uma frente ampla, popular, social, democrática e de esquerda é a única via possível para forjar uma alternativa ao poder dominante burguês e oligárquico. É a proposta de um novo país, sobre as bases do pluralismo, da participação democrática e a maior equidade social. Um novo “contrato social” sobre a base de uma melhor e justa ordem política, social e econômica.
Também foi elegido o Comitê Central, a Comissão de Quadros e garantias e a Comissão Revisora de Contas. Tudo fizemos sem dor, sem brigas internas, sem debates ácidos e sem grupos ou frações. Foram debates intensos, democráticos, sem limites, porém criativos e construtivos, de tal sorte que todos coincidimos em que foi um grande Congresso, alguns o qualificam de histórico. Foi um Congresso ao calor da luta popular.
P. Polo Democrático Alternativo ou Marcha Patriótica. Onde, em definitivo, vai ficar o Partido Comunista Colombiano?
R. Esse não é nosso dilema. A unidade que projetamos é muito mais ampla, mais além do Polo e da Marcha, porque não temos inimigos à esquerda. A chave para avançar para o poder democrático e popular está na unidade. Estamos no Polo porque cremos que é um espaço válido de convergência de forças políticas avançadas, somos conscientes de sua crise, porém também da possibilidade de resolvê-la se se conseguem acordos sobre a base da autocrítica que reclama o mestre Gaviria. O Polo Democrático Alternativo tem vigência, porém isso vai depender de sua capacidade de traçar uma política clara e definida de esquerda, de mudanças democráticas e de estreita relação com as massas populares. Ali é onde está a chave das alianças necessárias. Um Polo nas nuvens, crê que as alianças e os acordos se pactuam por cima, até com “empresários democráticos” e por aí terminamos na “unidade nacional” ou em outro conto. O Polo deve abandonar a ideia de que é uma máquina de eleições e um instrumento de respaldos eleitorais. As eleições são importantes com tudo e viciadas que são. Estão longe de ser expressão da democracia. Porém, são importantes e permitem estar no espaço da representação parlamentar e cargos de eleição popular. Porém, são insuficientes se não existe a relação com a luta e os anseios do povo colombiano. Não basta ir a uma marcha ou a um protesto, há que estar ao lado das massas, acompanhando-as e sofrendo com elas pelas razões que elas sofrem.  
A Marcha Patriótica é um projeto social e político que não deve transcender tanto a certos dirigentes do Polo. A base social são as organizações populares, ainda que tenha a presença de partidos como a Esquerda Liberal de Piedad Córdoba e o Partido Comunista Colombiano. O mais importante nela é a presença de cerca de 2.000 organizações de base, nacionais e regionais, de todos os tamanhos. É o que garante sua estreita relação com as lutas cotidianas do campo e da cidade. Seu chamado, como o fez também a Conferência Ideológica do Polo Democrático Alternativo, reunida há poucos dias, é à mais ampla unidade da esquerda e de setores democráticos e progressistas. Então, como você vê, não há pontos contraditórios, se complementam. Assim que não vemos problemas em permanecer no Polo e em ajudar no projeto social e político da Marcha, propugnando por aproximações com outros setores como o Congresso dos Povos e a Minga. O Polo deve ver a estes lados também, porque, se se impõe a ideia de acercar do centro, terminaria deformando-se, renunciando à sua condição de força de esquerda. Foi a diferença com Lucho Garzón e com Gustavo Petro, e veja onde terminaram acomodando-se. Um na “unidade nacional” e o outro bastante próximo dela.
P. El Moir acaba de enviar ao Partido Comunista uma carta em que o convida a retirar-se do Polo; o mesmo chamamento, dizem, lhe fez o ex-candidato presidencial Carlos Gaviria Díaz na Conferência Ideológica do PDA. Que responde o PC?
R. Bem, até onde sei, a carta nunca a recebemos. Fizeram-na pública e a comentou um noticiário. É uma falta de cortesia que em política também existe. Porém, ademais, haveria que dizer quem deu o direito ao Moir de decidir quem pode ou não pertencer ao Polo Democrático Alternativo. A velha militância maoísta lhes deixou o costume de atuar como comissários ou guardas vermelhos das organizações unitárias e de convergência. É uma falta de respeito. Quem não se sinta cômodo com um partido ou aliado no PDA, pois, deve abandoná-lo, porque quem ingressou de maneira voluntária, da mesma forma decide sua permanência. Até onde conheço, o mestre Carlos Gaviria Díaz não fez tal manifestação na Conferência Ideológica, ainda que  tenha dado opiniões, às quais tem direito, certamente, que não compartilhamos, ao qual também temos direito. Essa situação não modifica para nada nosso respeito, apreço e simpatia pelo mestre Gaviria.
P. Como quais são as diferenças?
R. O mestre sugere que Marcha Patriótica não tem explicado bem sua relação ou não com as FARC; e acorre ao velho e anacrônico argumento da combinação das formas de luta, sempre argumentado pela ultra direita e pelo militarismo para justificar a eliminação da esquerda e da União Patriótica. Uma e mil vezes os porta-vozes de Marcha Patriótica declararam que não existem vínculos com as FARC, sua causa é a paz, a solução política e democrática do conflito.
Marcha não advoga pela guerra, é um movimento social e político civil e de atuação pública e legal. Que mais querem? Que mais se deve dizer para satisfazer aos obcecados? O demais é repetir as acusações fraudulentas e perigosas dos mandos militares e da ultra direita criminosa.
Mais que discutir sobre a combinação das formas de luta, há que abrir o debate do novo Estado que se deve construir, sobre a base de eliminar a violência na relação entre governantes e governados. Aqui a violência foi inventada pelo Estado burguês-latifundiário, porque a classe dominante se acostumou a governar por meios repressivos, autoritários e violentos. Em Colômbia não existe um Estado democrático, mas sim totalitário, que se apoia em métodos violentos para aniquilar ao opositor. O Polo tem sido vítima disso. Perseguição e linchamento político com enorme respaldo midiático para acabá-lo. Precisamente por isso o tema em debate não é a combinação das formas de luta, mas sim a necessidade da paz, mediante o diálogo e a construção de democracia e justiça social.   
  
P. Tem futuro a esquerda?

R. Certamente. Porém, uma esquerda ávida de mudanças; uma esquerda comprometida com a transformação revolucionária da sociedade. Não uma esquerda light, adocicada, em conluios com o poder dominante e com ilusões de alianças com “burguesias nacionais” que não existem. Uma esquerda com seu próprio projeto democrático e social. Sempre haverá espaço para a esquerda. Se equivocaram os ideólogos da direita e da pseudoesquerda que, após a derrocada do Muro de Berlim, declararam a morte do socialismo e até da história. Norberto Bobbio os desmascarou e demonstrou que a dicotomia esquerda-direita é vigente e que as ideologias não desaparecem em meio ao fragor da luta ideológica, dos retrocessos e dos avanços.
P. Uribe e Santos estão enfrentados numa aguda confrontação. Algumas personalidades, incluindo de esquerda, dizem que vão mediar para que resolvam suas diferenças. Que pensa disso?
R. Mediar, para quê? São contradições na classe dominante, em duas facções do bloco hegemônico, uma que representa a burguesia tradicional, de matiz aristocrático, e outra decomposta, mafiosa, que recorre a tudo o que possa para destruir o adversário. Santos a teme e, por isso, não a enfrenta com decisão. São, na realidade, diferenças de forma, que podem agudizar-se ainda mais e tornar-se perigosas. A esquerda nada tem que fazer ali, não é seu tema, deve concentrar-se no projeto alternativo e unitário.
Preparar-se para ser opção de poder. Veja você a concepção traiçoeira do vice-presidente, que consiste em sentar Santos e Uribe numa mesa, para que acordem a Constituinte uribista que não busca outra coisa senão uma nova reeleição de Uribe Vélez. Quem disse que as discrepâncias de Santos e Uribe significam o principal problema do país? Por favor: há que ser sérios e responsáveis desde as funções do Estado.
O primeiro representa uma burguesia “decomposta e mafiosa” e o outro a mesma burguesia, porém a corrente “tradicional, de matiz aristocrático”.
P. Falemos de paz. Você vê possibilidades de um futuro diálogo do Governo de Santos e as FARC?
R. Não há outra saída ao conflito atual que a via política, do diálogo, pacífica e democrática. Porém, uma paz com democracia e justiça social. A paz está estreitamente ligada ao fortalecimento da democracia e da justiça social. O conflito colombiano tem umas causas e, enquanto não se resolvam, será difícil a paz. A resistência do estabelecimento a modificar as causas do conflito é a razão para que este permaneça: A paz gratuita não ocorrerá, não o creio, porque seria uma espécie de pax romana. Se o Governo crê que o diálogo é para negociar a rendição da insurgência, perderá tempo. Por aí não está a porta da paz. A chave lhe funcionará se abre a discussão, de frente para o país, com a participação de toda a sociedade.
P. Dizem alguns que já há diálogo secreto, que sabe você?
R. É provável que sim, para construir uma agenda. Porém, não sei com exatidão. De todas as maneiras, se há essas aproximações, me parece bem, porque as FARC e o ELN têm feito manifestações expressas de disposição ao diálogo e à busca da solução política e se conhecem sinais evidentes, que para o Governo não são suficientes, porém são importantes e até históricas. Quem está em dívida, a propósito de sinais, é o Governo, que insiste na guerra, no neoliberalismo e em entregar o país às transnacionais.
P. E cabe num processo o ELN, porque se comenta que a aproximação é com as FARC?
R. Bem, o diálogo deve ser com as FARC e o ELN. Não teria sentido falar com um e excluir o outro.
P. Humm... me dizem que você sabe bastante mais disto...
R. Não creia tanto nisso. O importante é que a paz está no centro do debate e será inevitável que em curto tempo se abra o cenário de diálogo para a democracia e a justiça social. Da paz com democracia e justiça social depende o bem-estar do país. Com paz, a Colômbia se converterá num país viável.
P. Ao final, lhe funcionará a chave ao presidente?
R. Ao final, se imporá o realismo político e humanista. A paz é uma necessidade para o país. Só os obcecados, os guerreiristas veementes, não entendem que o tema da paz ou da guerra é o principal dilema da Colômbia. Daí depende o futuro luminoso do nosso país.
P. Que pensa das FARC-EP?
R. É uma organização política e militar que surgiu em consequência da violência do Estado dominante e da exclusão social. Tem sido protagonista de primeira linha da história deste país durante mais de meio século, é uma realidade que não se pode ignorar. A sua existência, há que buscar soluções e elas estão na via política e não na guerra absurda.
Fabián Ramírez, comandante do Bloco Sul das FARC-EP, diz, em entrevista ao repórter Karl Penhaul, que há que acabar com os [fenômenos] causadores que geram a guerra.
P. Você compartilha seus métodos?
R. Não compartilho seus métodos, porém entendo sua existência desde o ponto de vista histórico e sociológico. É uma posição desde uma visão intelectual e acadêmica. Se a oligarquia colombiana não houvesse recorrido à violência para manter-se no poder e preservar o regime plutocrático de privilégios, pois, não existiriam as FARC. Não faço a apologia da guerra, porém estou obrigado a fazer uma leitura séria do conflito colombiano, ainda que isso me traga problemas, ameaças e até processos judiciais. As ideias não se vendem, nem se trocam por pressões e intimidações.
P. Como é o panorama do país aos dois anos do Governo Santos? Coincide com as contas alegres de Santos ou com as críticas de Uribe?
R. Não coincido nem com Santos, nem com Uribe. Uribe critica a Santos, apesar de que têm a mesma política, porque quer submetê-lo, dominá-lo, tal e como ele acostuma. Se crê um Messias, ‘predestinado pela providência’. Porém, ao país não o vejo bem. Muito longe do país das maravilhas que nos querem mostrar nos balanços da metade do período presidencial.

Um indigente no setor dos bancos no centro de Bogotá.

A realidade é outra muito diferente, o crescimento econômico só tem beneficiado aos poderosos, porque a pobreza se mantém igual e cada vez é menor a renda real dos colombianos.
Crer, como o Dane, que uma família com rendas de $ 170 mil pesos mensais não é pobre é uma estupidez. O presidente Santos tem uma ideia da democracia como valor unanimista, ao estilo da unidade nacional, que controla 93 por cento do Congresso, assim a maioria seja [composta por] uns corruptos. Patética a fracassada reforma à justiça. Quis agradar a todos os poderes do Estado e nào deu certo, então decidiu rasgar-se as vestiduras. O país vai mal, a economia vai mal e as condições sociais vão pior. Os únicos felizes são os usufruidores das benesses do modelo de acumulação, dos TLCs e dos negócios que se derivam das transnacionais que levam a riqueza nacional e deterioram o meio ambiente.  
P. América Latina já não é o pátio traseiro dos Estados Unidos. Porém, tampouco se veem grandes revoluções ou insurreições populares. Como analisa a situação do continente?
R. Na América Latina está hoje o elo mais fraco do imperialismo usamericano. Como você diz, América Latina já não é o pátio traseiro ianque, porque à maioria dos povos se lhes acabou a paciência de tantos anos de infâmias e de governantes submissos à autoridade de Washington. Os Estados Unidos nunca fizeram nada positivo por este continente e tem ido perdendo-o de maneira paulatina. Hoje, predomina uma tendência mais emancipadora, de defesa da soberania nacional, de autoestima e convencida que se pode caminhar só com a ajuda mútua a nível regional. Só governos títeres como o de Colômbia creem que o destino está estreitamente ligado à Casa Branca.
Não se trata de romper com os Estados Unidos, porém de tratá-lo de igual para igual, sem critério pequeno e pusilânime. As potencialidades de América Latina e Caribe unidos, como sonhou o Libertador Simón Bolívar, estão demonstradas e é o desejo majoritário, se abre passagem a Unasul, a Celac, a Alba e outras formas de integração regional sem a tutela gringa. Aqui há demasiados recursos, que se podem colocar numa bolsa comum latino-americana e caribenha para negociar de igual para igual com o Norte, incluindo a Europa. Os TLCs são instrumentos coloniais e formas desiguais do mercado. Dá vantagens às economias poderosas que pretendem meter-nos à força suas transnacionais cheias de voracidade. Colômbia tem que colocar-se neste caminho dos processos democráticos e emancipatórios. É o desafio que tem a esquerda.
P. Que opinião de sua parte merecem os indignados? Está em crise a Europa?

Na Puerta del Sol, lotada de “Indignados”

O capitalismo está em crise. É uma crise sistêmica e histórica e não quer dizer que esteja à beira do precipício. Pode superar a crise, porém está demonstrado que o capitalismo fracassou historicamente. Nas condições da unipolaridade, não foi capaz de resolver os conflitos sociais porque, óbvio, sempre se inclina a favorecer aos seus, aos capitalistas. Na Europa pretendem resolver a crise às custas do povo e dos trabalhadores. É indignante. Apareceram Os Indignados como expressão do inconformismo. Rechaçam o capitalismo, desafogam sua raiva contra o setor financeiro, o pior de todos no capitalismo, parasita e vivedor como os “chulos” [vaidosos], exercem a resistência civil através da ação de massas, porém não têm alternativa. Os resultados eleitorais em Espanha e Grécia, favoráveis à direita, responsáveis também pela crise, são decepcionantes. De alguma maneira, Os Indignados, com seu discurso antipolítico, fazem o jogo do capital que tanto desprezam. Porém, é um movimento importante, que reflete a ira e o desespero popular ante o abuso do capital.
P. Dizem que você não quis aceitar a Secretaria-Geral do PC depois do XXI Congresso, apesar de ter obtido a primeira votação como membro do Comitê Central. Por quê?
R. Não é certo. Ninguém me propôs, ainda que tenha havido opiniões diferentes na direção central. No entanto, Jaime Caycedo, que fez bem, recebeu o apoio para que continue à frente do partido, no entendido que a direção é coletiva, é um esforço de todos os dirigentes para que as importantes resoluções do Congresso se ponham em marcha. Estamos num momento histórico, em que a unidade da esquerda é fundamental e essa é a mensagem que envia o Partido Comunista Colombiano à esquerda e aos setores democráticos do país.
P. Diga-me, como define aos seguintes personagens da esquerda: Lucho Garzón, Carlos Gaviria, Gustavo Petro, Jorge Enrique Robledo, Angelino Garzón, Piedad Córdoba?



Piedad Córdoba

R. Lucho, o que pôde ser e não foi, terminou sentado no Estabelecimento, ao qual enfrentou como comunista e sindicalista; Carlos Gaviria, um homem respeitável, intelectual honesto, pode contribuir para a esquerda entendendo que a unidade está no caminho da amplitude sem exclusões; Gustavo Petro, um bom parlamentar que se deixou seduzir pela ideia do poder a qualquer preço, um político com demasiadas ambiguidades e ambições; Jorge Enrique Robledo, um bom parlamentar; Angelino Garzón, por agora façamos força para que se recupere de sua enfermidade; Piedad Córdoba, uma mulher extraordinária e exemplar, de muita bravura e coragem, da estirpe de Policarpa e das mulheres do nosso povo que lutam por seus direitos e pela igualdade, que se indigna ante as injustiças.


Bogotá D.C. 6 de agosto de 2012