O bem-vindo diálogo para a paz na Colômbia
Por Gloria Inés Ramírez Ríos*
Os meios de comunicação informaram com grande alarde que ontem (27 de agosto) foi assinado na cidade de Havana (Cuba) um acordo entre representantes do governo colombiano e as FARC para iniciar um processo de diálogo formal, com o compromisso de não deixar a mesa até assinar um pavto de paz, e o presidente da República, por sua vez, confirmou que se realizam conversações exploratórias para buscar a paz.
Para a grande maioria do nosso povo, especialmente para aqueles que lutamos por anos para uma solução negociada ao conflito interno, esta é a notícia mais importante dos últimos tempos e uma das mais aguardados pelo nosso país.
Simultaneamente, o comandante do ELN, Nicolas Rodríguez Bautista, disse que sua organização está pronta para iniciar conversas de paz sem condições, que podem ocorrer em conjunto com as FARC, para acabar com o conflito, tornando ainda mais promissoras as possibilidades de acabar de forma civilizada com quase 50 anos de confronto armado.
Iste fato constitui um triunfo muito significativo para as forças sociais e políticas amigas da paz social, e é uma derrota dos setores belicitas, que não conseguem imaginar alternativa distinta da paz dos cemitérios.
Várias pesquisas recentes de opinião indicam que a grande maioria da população apoia o diálogo para a paz, e também o têm feito ONGs de direitos humanos, líderes políticos, militares aposentados, o presidente do Conselho de Estado, o Procurador-Geral da Nação e porta-vozes de vários setores da opinião pública, asism como o representante das Nações Unidas e a comunidade internacional. No entanto, experiências de processos anteriores ensinam que a extrema-direita vai fazer todo o possível para desqualificar e torpedear as negociações e que o processo que está prestes a começar não será alheio a esta realidade.
É desta forma que o ex-presidente Uribe criou a linha a chamada Frente Contra o Terrorismo, a fim de se opor a quaisquer negociações com os guerrilheiros, e lançou agora uma agressiva campanha contra o diálogo agressivo com o argumento delirante que favorece a reeleição do presidente Venezuela Hugo Chávez. Com o cinismo que o caracteriza, esquece que, durante seu segundo mandato, ele também realizou esforços para buscar um diálogo com as guerrilhas.
O movimento popular e todos os apoiadores da paz têm, então, um desafio em torno da negociação e precisam se mobilizar para evitar qualquer provocação ou sabotagem. O governo, por sua vez, deve adotar medidas de proteção eficazes e oportunas para as pessoas e organizações em risco e oferecer as devidas garantias à mobilização popular.
Com relação à agenda do diálogo, deve se ter em conta que não se trata de firmar a rendição, mas de ocupar-se dos temas relativos às causas que deram origem ao conflito e o alimentaram, para evitar que ele volte a se produzir. Nós concebemos o diálogo como uma oportunidade histórica para lançar as bases para um país melhor e não apenas como um meio de superar o confronto armado. Portanto, a nosso ver, o diálogo deve levar a acordos sobre mudanças democráticas avançadas que a sociedade colombiana necessita para alcançar uma paz digna, que tenha como base a democracia e a justiça social, que garanta os direitos das vítimas e que ofereça à insurgência uma chance real de fazer política e reintegrar-se à vida civil com dignidade.
Como senadora da República eleita pelo Pólo Democrático Alternativo, saúdo a abertura do diálogo entre o governo e as FARC e aspiro que ele inclua também o ELN; expresso a minha plena disposição para contribuir com seu desenvolvimento bem sucedido e chamo todos os colombianos amantes da paz a defender essa conquista tão difícil e a cercá-lo do mais amplo apoio para que possa terminar, por fim, emum pacto de paz para o nosso país.
* Gloria Inés Ramírez Ríos é senadora colombiana, eleita pelo Pólo Democrático Alternativo.