"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Nossa fidelidade a Jacobo Arenas


"Rehabilitado socialmente o povo, mudado o regime político, excluídos o terror e a violência de Estado, claro que poderia haver desmobilização da insurgência" (Comandante Jacobo Arenas)

Por Gabriel Ángel

Na manhã de 10 de agosto de 1990 faleceu o camarada Jacobo Arenas no acampamento que os guerrilheiros chamaram de "El Pueblito" (O Povoadinho) e que a imprensa nacional e internacional batizou como "Casa Verde", situado na área rural do município de La Uribe, estado do Meta. Ali aconteceram importantes fatos históricos cujos desenvolvimentos ainda estão para ser definidos.

No momento de sua morte Jacobo levava 26 anos costurando, ao lado de Manuel Marulanda, a sólida concepção ideológica, política, revolucionária e bolivariana que milhares de mulheres e homens vinculados organicamente às FARC-Exército do Povo se apropriariam para avançar com segurança no duro e difícil entorno da confrontação político-militar.

Vinte e três anos depois, a imensa maioria dos integrantes da organização revolucionária armada mais antiga e forte do país, persegue seus objetivos sem haver tido a oportunidade de conhecer Jacobo em pessoa. São muitos e surpreendentes os acontecimentos no país e no curso da guerra desde os inícios da década dos noventa.

E é natural que personalidades como as de Manuel Marulanda, Raúl Reyes, Alfonso Cano ou Mono Jojoy constituam referentes mais próximos para as novas gerações de guerrilheiros. Todos sabem, no entanto, que no pensamento e na ação desses titãs revolucionários atuou como guia e inspirador fundamental o gênio de Jacobo Arenas. E que, portanto, seus ensinamentos, intermediados pela experiência tão rica dos comandos que continuaram sua obra, prolongam-se, inclusive até os dias de hoje, levando-os a atuar do modo mais consequente. Jacobo Arenas foi, antes de que qualquer militante, o pensador e o quadro comunista por excelência nas FARC. Ele ejetou primeiramente o Partido entre nós.

A morte o surpreendeu em um dos momentos mais interessantes do último quarto do século XX na Colômbia e no mundo. Por volta do ano de 1990 a "Perestroika" e a "Glásnost" implementadas na URSS por Mikhail Gorbachov, começavam a desvelar sua traição ao socialismo. Como se transformavam em traições de seu discurso radical a entrega do M-19 e a rendição em curso de outras guerrilhas.

Em meio a um caloroso debate nacional em torno da convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, sobressaiam-se duas posições em torno dela. A democrática e progressista, que pretendia reconfigurar o país com base na reconciliação e na justiça social, e a mesquinha e clientelista, que advogava para mudar alguma coisa para que tudo permanecesse igual e continuasse a guerra.

Jacobo Arenas, elevado à categoria de proeminente no debate da época, aparecia com frequência nas câmeras dos noticiários da televisão e nas transmissões de rádio, expraiando perante o país e o mundo as idéias das FARC diante de todos esses fenômenos. A consecução da paz pela via das conversações e dos acordos políticos se destacava dentre todas as suas posições.

Suas sisudas reflexões sempre serão ponto de referência para nós. Como havia nascido em 1918, costumava descrever a experiência violenta do país durante o século vinte como o quadro em que havia se desenvolvido sua própria experiência. Foi testemunha do levante conservador contra o governo liberal na província de García Rovira, depois do ano trinta. E de como o governo liberal de Olaya Herrera aceitou pactuar a paz com eles, em um episódio apagado da história. Do mesmo modo, sabia descrever com magistral clareza a natureza da violência bipartidária desencadeada no país após o retorno ao poder do Partido Conservador em 1946: uma selvagem tentativa de exterminar as maiorias liberais e gaitanistas.

A isso se somou rapidamente a doutrina fascista de "Segurança Nacional" nascida das grandes potências capitalistas em seu afã de frear a inconformidade dos povos com o pretexto de combater a expansão comunista da URSS. Os demônios da guerra preventiva, da guerra interna ou, finalmente, guerra de baixa intensidade foram desencadeadas na Colômbia assim como em todo o Terceiro Mundo até materializar as monstruosas ditaduras das Américas do Sul e Central, a avalanche terrorista contra os povos africanos e asiáticos ansiosos de sua libertação anticolonialista e, particularmente em nosso país, a espantosa expansão da guerra suja e do paramilitarismo empenhados em aniquilar até o último vestígio da atividade política antisistêmica e democrática.

O grande mestre que foi Jacobo Arenas nos abriu os olhos diante da verdadeira natureza da violência em que nos sacudimos, como uma estratégia de dominação dos grandes poderes do latifúndio, do corolenismo e do capital industrial e financeiro, aliados com o poder imperial dos Estados Unidos que, em nome de uma falsa democracia, expandiam o terror pelo mundo.

Desse modo, a tarefa de melhorar a situação do nosso povo significava assumir um compromisso revolucionário que não consistia em outra coisa a não ser encabeçar as lutas de nossa classe e as lutas do nosso povo para que fossem essa classe e esse povo os que, em determinadas circunstâncias, independentemente do tempo, um dia assumissem o poder.

Acima de qualquer interesse individual, a função do revolucionário não era outra que defender a causa de seu povo, a vida toda. Por isso podia completar vinte e cinco anos, cinquenta anos e não se cansar da luta. Questão que adquiria singular importância em um processo de conversações com o governo, em que esse procuraria, através de dádivas, quebrar a convicção dos rebeldes.

Aqueles que não tinham um compromisso revolucionário, cedo ou tarde se cansariam da luta e, portanto, com relativa facilidade cairiam envolvidos nas promessas do governo que, inclusive, poderia chegar a torná-los governo, por algum tempo, para depois tirá-los a ponta-pés quando já não lhes fossem úteis, como havia acontecido sempre na história.

Para Jacobo, um acordo sério com o governo significava mudar a atmosfera política e social do país para, nas novas condições, entrar na discussão do destino do movimento guerrilheiro. Inclusive seu desarmamento e reincorporação. Reabilitado socialmente o povo, mudado o regime político, excluídos o terror e a violência de Estado, claro que poderia haver desmobilização.

Definitivamente, continuamos sendo fieis ao pensamento de Jacobo Arenas