"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 16 de janeiro de 2010

O que pensa Eduardo Frei, candidato de Michelle Bachelet no Chile


Fonte: O Vermelho.org

Satisfeito e muito confiante depois de sua espetacular recuperação nas pesquisas, Eduardo Frei considera que seu rival, Sebastián Piñera, por ser um homem de negócios, terá conflitos de interesse caso chegue à presidência chilena. É o que ele afirma em entrevista aos repórteres J. Marirrodriga e M. Délano, publicada neste sábado (16) no jornal espanhol El País.

Filho do ex-presidente Eduardo Frei Montalva (1964 -1970), o engenheiro Eduardo Frei Ruiz Tagle, de 68 anos, nasceu na capital Santiago. Seguindo o caminho do pai, presidiu o Chile entre 1994 e 2000, após ser eleito com 57,9% dos votos válidos pela coligação Concertação — que está no comando do país há 20 anos, desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet.

O ex-presidente chileno confia em voltar a ocupar o Palácio de La Moneda depois das eleições deste domingo e afirma que vai abolir a Lei de Anistia, que deixa imunes crimes da ditadura militar. Veja os principais trechos da entrevista.

El País: A Concertação continua tendo sentido, 20 anos depois, com a democracia assentada e Pinochet morto?

Eduardo Frei: O Chile teve historicamente um movimento de centro-esquerda muito forte. E um dos grandes êxitos da Concertação foi saber construir esse movimento. Sim, tem de ser modernizada e tornar-se mais transparente. Mas, sobretudo tem de fazer uma renovação geracional. Assim como a presidente Bachelet implantou a paridade de gêneros, nós temos de fazer um processo especial para incorporar pessoas de 30, 35 e 40 anos para que assumam responsabilidades.

El País: E o senhor, que já ocupou o cargo, por que volta?

Frei: Tomei a decisão em um momento em que vi uma coalizão cansada, muitas vezes desanimada, acreditando que ia perder. Fiz isso na campanha municipal, fui nomeado e a disputei porque acredito nela.

El País: Depois que o candidato de esquerda Marco Enríquez-Ominami obteve 20% no primeiro turno, o senhor disse que havia compreendido a mensagem dos cidadãos. Qual é essa mensagem?

Frei: Há uma reclamação muito forte contra o sistema político. Não só de pessoas, mas também da forma como se trabalha, para ter uma renovação de verdade, com uma política muito mais transparente, a começar pelo sistema de eleição binominal, que incomoda todo mundo. Além disso, as pessoas, especialmente nas classes médias e nos setores marginalizados, sentem que o mercado regula tudo e não é capaz de resolver seus problemas.

El País: Seu rival, Sebastián Piñera, é um conhecido homem de negócios. Terá conflitos de interesse se ganhar?

Frei: As pessoas entenderam o que se define nesta eleição: duas maneiras de levar o país. E, como diz a canção, "não é igual". Somos muito diferentes: em temas trabalhistas, na relação entre o dinheiro e a política ou em questões de direitos humanos. Sobre o conflito de interesse, ficou claríssimo. Por exemplo, em março se discutirá a televisão digital. Não sei como se pode resolver isso. A televisão digital abre muitas possibilidades para a televisão pública, regional, educativa, cultural. Mas ele é o dono de um canal de televisão. Não tenho nenhuma confiança em como será resolvida a questão, se se atuar sobre a base do mercado.

El País: O período de mandato é muito curto, quatro anos sem reeleição. Isso sobrecarrega qualquer programa de governo?

Frei: Eu sempre disse que não permite desenvolver políticas de longo prazo, mas a vantagem que tivermos é que a Concertação está a 20 anos aplicando as mesmas políticas. Por exemplo, o plano de hospitais de Ricardo Lagos não teria sido possível sem essa continuidade anterior e posterior. Mas há muitas coisas por fazer. Os cidadãos se sentem indefesos diante do setor privado e do público, e isso afeta principalmente as classes médias. Somos um país que se modernizou em muitos campos, mas não na política. Continuamos com um sistema de eleição binominal que destrói a democracia. Essa mudança é fundamental.

El País: Há quatro anos a então presidente eleita Michelle Bachelet disse a estes mesmos jornalistas que ia mudar o sistema binominal. O senhor fará isso?

Frei: A direita se opôs a mudá-lo cada vez que propusemos. Se não há vontade para mudar, será preciso buscar outros caminhos e modificar a forma de reeleição de um parlamentar, modificar a forma de eleição das autoridades dos partidos. Se continuar o sistema binominal, o que se está desprestigiando é a autoridade, o poder e o sistema político.

El País: Piñera disse que não pensa em modificar as linhas gerais do governo que o Chile teve até agora.

Frei: Sim, mas diz isso nos últimos dias. Quando a presidente Bachelet propôs importantes reformas. A direita a acusou de populista e de querer destruir o país. Nunca apoiaram uma reforma trabalhista em 20 anos e apresentaram permanentemente projetos de lei de "ponto final".

El País: O senhor pedirá para abolir a lei de anistia?

Frei: Sim, estou comprometido com isso. O Chile fez uma tremenda contribuição ao processo de reconciliação nacional, com longos anos de sacrifício, com muito esforço para conhecer os casos através dos tribunais. É preciso continuar e manter isso. Foi em meu governo que se deteve e processou o ex-chefe da polícia secreta (general Manuel Contreras). Não conheço outro caso semelhante na América Latina.

El País: Seu pai, o ex-presidente Eduardo Frei Montalva, foi envenenado pela ditadura de Pinochet. Essa experiência o fez ver de outra maneira o tema dos direitos humanos?

Frei: O tema geral dos direitos humanos, não. Desde o final de 1974 começamos a conhecer as histórias (de violações dos direitos humanos). Mas o Chile não interiorizou suficientemente que aqui houve uma organização para fabricar produtos químicos, botulínicos, para eliminar pessoas. Muito poucas ditaduras, pelo menos na América Latina, fizeram isso.