"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 10 de julho de 2010

A PÁTRIA GRANDE

Alberto Pinzón Sánchez
Fonte: Anncol.eu



Corria o ano de 1990, e desde os EUA decretava-se, para toda a humanidade, o fim da História. Em meio à densa nuvem de poeira produzida pela queda do Muro de Berlim e à decepção, alguns Marxistas, à defensiva, abandonaram reliquias e princípios. O avassalador refluxo das massas em todo o globo impediu pensar com clareza e calma, e o desconcerto foi aproveitado pelos ideólogos do imperialismo para avançar através de uma ofensiva inimaginável, impondo através de todos os meios ao seu dispor o seu neoliberalismo globalizante.

Samuel Huntington anunciava a mais recente onda de democracia “made in EUA” e, na pátria grande, surgiram por esse salmo democratico “da mão invisível do mercado” como paradigmas neoliberais: o melindroso César com seus quatro infame Carlos: Carlos Salinas, no México; Carlos Menem, na Argentina; Carlos Andrés Pérez, na Venezuela e César ( OEA) Gaviria, da Colômbia. Cada um deles encarregado de aplicar à risca o receituário neoliberal e amarrar, para sempre, com acordos de Livre Comércio as econômias bananeiras e desmazeladas de seus países à poderosa carroça Impérial. Bem-vindos ao Futuro! Começou o sangrento desfile e aqueles que vão morrer pela exploração, balas e miséria, oh César, te saudam.

Em uníssono, os povos da Grande Pátria não foram só despojados pelos Santanderistas e traidores da pátria de todos os países, da sua História (distorcida) e do nome que os unificava e identificava diante do invasor colonial. A América espanhola do tempo da luta anticolonial de Bolívar ou “Colombeia” de Francisco Miranda, ao acrescentar o Brasil se transformou na “Iberoamerica” e, à medida que o império espanhol foi sendo substituido pelo império inglês e depois pelo norteamericano, no início do século XX, passou a ser chamada de América Latina à qual, um pouco mais tarde, foi acrescentado o Caribe”.

O que une os latinoamericanos e caribenhos: A língua, religião, economia, cultura , música ou um Estado? Nada disso lhes é comum mais. No Caribe e nas Guianas falam-se línguas germânicas (inglês e holandês) junto com linguas classificadas como latinas (castelhano, português, francês) e as línguas indígenas. Coexistem inumeras religiões “oficiais” e diversos costumes regionais, horizontes culturais muito diferentes e economias muito dispares, cujo única característica visível é que todas são atrasadas, subdesenvolvidas, ou melhor, dependentes do imperialismo e das suas instituições financeiras transnacionais. Entretanto, na ausência de uma definição melhor, e como se fosse uma fatalidade, foi aceita essa “ficção” imposta pela metrópole, da mesma forma que os imigrantes tiveram que aceitar o ódio com que foram perversamente dominados para separá-los e identificá-los como “sudacas, spaniks, cucarachas, chicanos ou latinos”.
América Latina e o Caribe. Sugestivo título para um relatório do Fundo Monetário Internacional, ou uma reunião diplomática em qualquer lugar, ou para uma canção em “spanglish” de Gloria Stefan, Ricky Martin ou Shakira, que não identifica ninguém com alguém. Como um MacDonald em Cingapura, na Polinésia, Bolívia ou Alasca, apenas identifica o “american way of life” globalizado. Assim, o equivocado termo ‘América Latina e o Caribe’, transformou-se em uma “Área de Livre Comércio” (ALCA) e foi dividida em “Regiões” para poder executar correspondentes planos geoestratégicos: México e América Central são sinônimos do Plano Puebla-Panamá. A região Andina passa a ser a ‘Iniciativa Regional Andina/Plano Colômbia’, e o Caribe como ‘Cone Sul’, em regiões separadas com um plano de integração aparte.

Durante as duas décadas posteriores, a demanda por cocaína continua a aumentar nos paraísos do consumo superdesenvolvidos e seu preço, mantido artificialmente com a incalculável quantidade de dólares norteamericanos utilizados na repressão militar da ‘War Drugs’ (guerra contra as drogas). Então, como em qualquer filme dos Intocáveis de Eliot Ness, no tempo da proibição do álcool nos os EUA, dos massacres de mafiosos e gangsters, para realizar o outro sonho americano do ‘self-made man’; foram globalizados (com a mesma lógica implacável dos MacDonalds) e se mudaram de Chicago para as cidades da América Latina e Caribe.

E a experiência dos PEPES, realizado em 1990 por Cesar (OEA ) Gaviria para unir o DEA norteamericano, o Poder do Estado colombiano, com uma mafia narcotraficante contra as máfias rivais, se generalizou na área e nas Regiões, justificando de antemão, mais repressão, mais ‘War Drugs’ e melhores preços para a mercadoria.

O México foi ‘colombializado”? Esta hipotese não é sustentável, porque na Colômbia existem duas guerras misturadas e simultâneas: A guerra Antinarcóticos e a Contrainsurgente, o que não é o caso do México. O que se observa é que a estratégia dos EUA na guerra contra as drogas para a Área de Livre Comércio não resolveu nenhum dos problemas que a criaram: As máfias surgem e reaparecem como cogumelos depois da chuva, eles se movem entre os diferentes países e regiões da “Área”. Lutam até a morte entre elas, ou com o Estado, pelo controle do mercado. Pagam pistoleiros profissionais ou “contract killer”, que na Colômbia são chamados simplesmente de sicários, para cometer massacres espetaculares ( quase cinematográficos), que ficam impunes e, finalmente, a mercadoria branca chega às ruas do Primeiro Mundo produzindo dólares verdes. Como dizia literalmente Pablo Escobar: "Enviamos -lhes o branco e trazemos o verde. São as cores do meu time de Medellín".

A melhor prova da derrota destes dois termos, “América Latina e o Caribe” e “War Drug”, é a imagem de Uribe Velez, o melhor aliado latino dos EUA na Área de Livre Comércio; quando foi comunicado da espantosa massacre numa boate em Medellin-Itagui, ocorrido na semana passada na sua cidade natal, realizado “aparentemente” por Valenciano, filho de criação do narco-paramilitar Don Berna, a quem Uribe extraditou para os EUA para silenciar suas declarações incriminatórias. A única coisa que conseguiu dizer, tentando tampar com o dedo a derrubada da sua Segurança Democrática, era que todo o poder de fogo que teve à sua disposição durante oito anos como comandante geral do Exército da Colômbia, ficara reduzido ao seu telefone celular.

Com isso, como não continuar levantando o conceito bolivariano de Pátria Grande, diferenciador, anti-imperialista e Anfictiônico (leia-se bem Anfictiônico), que nos dá vida comum, História únida e um futuro permanente assegurado?