Breve história sobre os prisioneiros políticos, os sequestrados do Estado colombiano
Na Colômbia, o regime mantém presas a mais de 7.500 pessoas, muitas delas sindicalistas, estudantes, professores, camponeses, sociólogos, encarcerados por seu pensamento critico e reivindicação social.
Os prisioneiros políticos sofrem reiteradas torturas por parte do Estado. Há poucos dias José Alberto Manjarres faleceu devido a seis meses de tortura por parte do Estado colombiano. Ele foi aprisionado com uma toraxcotomía ainda por sanar, seu estado de saúde piorou com as condições insalubres da prisão; sofria terríveis dores abdominais e o Estado negou-se lhe prestar assistência médica por mais de 6 meses, apesar das greves de fome feitas pelos outros prisioneiros para que se lhe desse o atendimento necessário diante seu deplorável estado de saúde, com dores horríveis e evidente perda de massa muscular.
O Estado esperou até que a situação ficasse irreversível para depois realizar os exames (seis meses de espera pelos exames adequados), após os quais resultou que já levava meses sendo devorado por câncer de estômago.
Após toda essa tortura, o Estado foi ainda mais impiedoso contra a sua maltratada humanidade: o deixou sem tratamento adequado para a dor em condições de total abandono até que, em 08 de janeiro, faleceu. Mas isso não foi tudo: depois de sua morte, o Estado ainda cometeu a crueldade de sepultá-lo como “indigente”, não notificou sua morte à família que ficou sabendo dias depois quando de uma visita do Comitê de Solidariedade com os Presos Políticos na Colômbia.
A privação de cuidados médicos como forma de tortura é recorrente contra presos políticos
Da mesma forma que J.A. Manjarres morreu, em janeiro de 2011, após as torturas ativas ou privação da saúde, morreram centenas de presos políticos nos últimos anos nas prisões colombianas: de fato, a privação da saúde é denunciada como tortura sistemática por parte do Estado colombiano contra os prisioneiros políticos; situação que deve ser urgentemente denunciada.
O testemunho de Diomedes Meneses é um caso muito representativo de repetidas torturas sofridas por presos políticos nas mãos do Estado colombiano, um Estado denunciado pela Organização Mundial Contra a Tortura como um dos mais torturadores do mundo:
http://blip.tv/file/3374604/
O Estado extirpou de Diomedes Meneses um olho e o torturou até que ficou paraplégico, além de deixar que a sua perna apodrece pela gangrena. Diomedes vive em condições de tortura permanente.
No primeiro episódio de torturas, o Exército tentou degolando-o: o deram por morto e o enviaram para o necrotério. Diomedes é um sobrevivente: foi colocado em um saco plástico, como fazem com os cadáveres (conforme fotos da imprensa); ao começar a abrir seu corpo, depois de dois dias no necrotério, o médico legista percebeu que ele está vivo: “Meu abriram do osso esterno até a pélvis (...) perceberam que estava vivo porque emanei calor, então o médico que estava fazendo o procedimento percebeu que eu estava vivo, mas os militares não queriam me deixar sair, pediram que o médico continuasse, pois eu não tinha me movido diziam, mas outro chamou os direitos humanos (...) Sofri de catalepsia, estava morto, mas na realidade estava vivo”.
“Fiquei 13 dias em coma no hospital, depois de 15 dias acordei e me levaram para o sexto andar do hospital. Após um mês e meio, o Gaula (polícia) me fez um atentado, foi antes de eu falar, eu ainda não podia falar através do tubo (aponta para a garganta); Três pessoas se infiltraram (...), um tirou uma seringa, mas o guarda chegou (...) e identificaram como da Gaula, apresentaram seus distintivos (...). O segundo atentado, foram dois homens do DAS, vestidos de eletricistas (...). Esse comandante que salvou minha vida (o guarda), já está morto, ele “caiu” de uma guarita da prisão modelo de Bucaramanga (...)”.
Diomedes está preso em condições que não são adaptados para o seu estado de saúde, consequência das múltiplas torturas:
"Estive na cela com um companheiro que sofre de câncer terminal, ele foi o que me transportava pela prisão (...), andava com um saco coletor pendurado do corpo (...) os companheiros presos políticos foram muito solidários comigo (... ) Enfiavam-me uma sonda pelo pênis a cada 6 horas para extrair minha urina (...), os companheiros presos políticos me tiravam o saco coletor e o lavavam no banheiro (...)”.
Os presos políticos são, intencionalmente, colocados em alas cheias de paramilitares, sabendo que eles podem ser assassinados:
“Venho sofrendo represálias políticas, eu não deveria estar na ala 9 (...) depois nos levaram para a ala 7 junto dos paramilitares e homens do Gaula (...) Sou roubado, me derrubam, me batem. No outro dia derrubam minha maca e cai ao chão, bati com a coluna (...), sabem das minhas limitações físicas e sabem que sou um preso político (...) Tentaram me envenenar (...) e da infecção tive diarréia, não dava tempo de pedir aos companheiros para me levar ao banheiro, pois já estava sujo (...). Da minha segurança ninguém se importa”
“Estão os 15 nomes dos que me torturaram (tiraram o olho, mutilaram minha coluna e os que me degolaram), que se faça justiça (...)”.
“Que levem em conta o meu estado físico (...) somos forçados a usar a mesma seringa (...) se você tiver dores que exigem assistência médica, te colocam em uma cela (...) Não tenho tranquilidade nem para comer com a dor tão penetrante nos ossos (...) Devido às dores passo as noites sem dormir”.
A tortura continuou com a amputação por causa da gangrena que prosperou à causa da negação da assistência médica, e com a vulnerabilidade de um paralítico em condições carcerárias inadequadas e insalubres, em constante risco de morte.
Urge a solidariedade internacional
Urge fazer conhecer essa realidade invisível da existência de milhares de prisioneiros políticos na Colômbia e suas terríveis condições carcerárias. E é urgente que a comunidade internacional se mobilize para denunciar a prática de tortura contra os presos políticos. Assim como as milhares de armações judiciais que sofrem as organizações sociais e os ativistas dos direitos humanos, sindicais e sociais, sob os quais são encarcerados, com “provas” apresentadas por autoridades militares e informantes paramilitares.
http://agenciapensamientocritico.blogspot.com/2011/01/video-7500-presos-politicos-del-regimen_3583.html
NOTAS:
(1) Existe uma Campanha internacional 2009-2011 pela libertação dos presos políticos na Colômbia. São 7.500, na sua maioria prisioneiros de opinião e ativistas sociais. Muitos deles aprisionados após medonhas armações judiciais. A associações e pessoas de todo o mundo que queiram apoiar a campanha pela libertação dos presos políticos na Colômbia, podem fazê-lo assinando aqui:
http://www.tlaxcala.es/detail_campagne.asp?lg=es&ref_campagne=14&nbsp