O caso Assange e a infinita hipocrisia do imperialismo dos EUA
Julian Assange, (na foto com sua advogada Jennifer Robinson) fundador do WikiLeaks, site que expôs as vísceras imundas da diplomacia estadunidense, corre o risco de ser extraditado pela Justiça britânica para a Suécia. Dali, ele pode ser enviado aos Estados Unidos, cujo governo supostamente democrático liderado por Barack Obama tem a intenção de condená-lo por espionagem, o que pode resultar até em pena de morte.
A acusação que pesa sobre Assange não pode ser considerada séria. O homem é suspeito de manter relações sexuais sem usar camisinha, o que é considerado crime na Suécia, país hoje governado por uma coligação de direita, fiel aliada do império.
Pretexto
O fundador do WikiLeaks, perseguido como um grande meliante internacional (colocaram até a Interpol no seu encalço), sustenta que é inocente e classifica as acusações de mero pretexto para atingir o polêmico site que criou.
O processo “é uma injustiça”, conforme Assange. “Nunca pude apresentar a minha versão da história", disse em entrevista coletiva. Seu assessor jurídico, o professor da Universidade de Harvard Alan Dershowitz, denunciou a hipocrisia daqueles que, neste momento, exigem liberdade de imprensa “em países como o Egito e Irã. Portanto, teremos de deixar claro que não podem medir com dois pesos e duas medidas e limitar o uso dos novos meios quando afetam aos interesses dos EUA”.
As correspondências reveladas pelo site criaram grandes constrangimentos para os EUA, pois mostram que a diplomacia imperial não tem nada a ver com a retórica da Casa Branca em defesa da “democracia” e dos “direitos humanos”.
Assange e o WikiLeaks prestam um grande serviço à democracia e aos povos na medida em que contribuem para escancarar as verdadeiras razões que orientam a política imperialista. Os fatos revelados têm mais força que os argumentos dos críticos para desmascarar o império. Daí o ódio da Casa Branca.
Espionagem ou jornalismo?
Aquilo que o WikiLeaks faz não tem nada a ver com espionagem. É só bom jornalismo. Os segredos revelados não ameaçam a integridade física de ninguém, mas têm a virtude de expor a infinita hipocrisia dos chefões do imperialismo e seus lacaios pelo mundo, que infelizmente não são poucos.
O que se nota, por parte do governo sueco e dos EUA, é um atentado à liberdade de imprensa e ao jornalismo que merece ser considerado sério ou ético. O silêncio cúmplice da mídia capitalista e das entidades patronais (como a Sociedade Interamericana de Imprensa – SIP) diante desta ofensiva antidemocrática é emblemático.
Conspiração do silêncio
Os fatos desta novela reacionária são noticiados secamente por esta mídia, que se julga a referência do bom jornalismo. Evitam-se maiores comentários. O tema não frequenta os editoriais, embora seja possível fisgar argumentos a favor das justificativas esgrimidas por Washington, sugerindo que a opinião pública não tem o direito de ser informada sobre o verdadeiro caráter da diplomacia imperialista e deve confiar cegamente na retórica enganadora da Casa Branca, que simula a defesa dos direitos humanos, da democracia e da liberdade de imprensa.
O ex-presidente Lula criticou com razão a conduta desses meios de comunicação, que no Brasil constituem monopólio de quatro ou cinco famílias capitalistas (Marinho, Frias, Civita e Mesquita). “Não vi um ato em defesa do fundador do WikiLeaks”, disse, enquanto ainda estava à frente Presidência da República, numa referência irônica à mídia hegemônica. Pois é. Imaginem se o sueco fosse caçado não pela CIA, Interpol ou Barack Obama, mas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A conversa seria outra.
Fonte: vermelho.org