Dia da paz para a Colômbia
Javier Orozco Peñaranda
Fonte: Rebelión.org
O Dia da Paz convida para ver as possibilidades da Colômbia para superar seu conflito social e armado de meio século de evolução. É melhor fazê-lo novamente a partir das Astúrias, pois falar de paz na Colômbia é perigoso. As elites a consideram uma idéia dos terroristas e pode custar a prisão ou a morte. Entretanto, não há outro caminho do que a paz, vistos o horror cotidiano e os enormes custos – humanos e econômicos – de uma guerra cada vez mais intensa e inútil.
O Plano Colômbia não atingiu os seus objetivos. Muitos milhões de dólares em armas de ultima tecnologia, milhares de consultores estrangeiros e meio milhão de soldados profissionais não conseguiram acabar com as guerrilhas e são muito caros para um povo empobrecido que na sua maioria não ganha dois dólares por dia, mas que é endividado e explorado para pagar mais de 50 bilhões de dólares que tem custado para manter nos últimos anos semelhante posição de força.
Após muitos anos de guerra o tempo está se esgotando para a nossa terra, que entrou em um estágio avançado e agudo do conflito. A guerrilha, que se tem refugiado nas fronteiras e em áreas de densa floresta, está golpeada, mas não derrotada. Para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, na Colômbia, a guerrilha “adaptou-se de forma dinâmica à situação e mais uma vez tem a capacidade de ser um ator importante no conflito armado”. Os narcotraficantes penetraram o Estado e colocaram peças chave nos principais cargos públicos. Ao mesmo tempo, a crise de direitos humanos se aprofundou, as massacres, ameaças, assassinatos, desaparecimentos e deslocamentos forçados.
O plano de guerra concebidos nos EUA serviu para o lucro dos seus fabricantes de armas e para que alguns empresários e chefões da máfia se apoderassem, com violência e gratuitamente, das terras dos camponeses, dos povos indígenas e dos afrocolombianos, e para aniquilar sindicalistas e opositores da guerra. Serviu também para que a Colômbia seja hoje um dos três países da América em que a desigualdade econômica aumentou, assim como na Guatemala e República Dominicana.
A população colombiana está cansada da guerra e é alto o custo político elevado para as partes. As guerrilhas estão perdendo apoio social por causa dos sequestros e a tomada de reféns, e a força pública pelos graves atropelos que diariamente são cometidos contra a população civil, como as execuções extrajudiciais de mais de duas mil pessoas em menos de dois anos, sendo Ministro da Defesa o atual Presidente Juan Manuel Santos Calderón.
O novo governo também não parece disposto a investir na paz e continua com a velha e inútil exigência de rendição das guerrilhas como condição prévia para uma negociação. Enquanto isso, incrementa o orçamento para a guerra e o número de profissionais dedicados a ela, transformando o Ministério da Defesa no maior empregador do país. No entanto, os fatos mais notórios são que a guerra vem deixando de ser funcional para o acumulo de capital e que, apesar do risco, os setores sociais mais organizados ainda exigem diálogo e negociação política.
Aí aparecem os obstáculos. A desconfiança entre as partes, a incidência do narcotráfico nas dinâmicas da guerra, a perda do comando centralizado na guerrilha, a ingerência dos EUA e sua crescente presença militar, e os interesses daqueles que fazem da guerra um meio eficaz para incrementar os lucros. Mas, acima de tudo, contra a aspiração de paz conspira a impunidade em que ficam as graves violações dos direitos humanos e a comprovação histórica de que na Colômbia, as terras e os bens acumulados por meio da violência passam a ser propriedade indiscutível dos usurpadores, com o qual estaria semeado o seguinte ciclo de violência.
O presidente Juan Manuel Santos diz que não jogou no mar as chaves para a paz, mas insiste, como Álvaro Uribe, em manter como única presença do Estado nas regiões a dos uniformes e armas oficiais. Mas isso, em meio ao abandono e miséria absoluta do povo, tem limite.
O desafio dos colombianos é fazer com que as partes dialoguem e abordem as agendas que dão prioridade à paz, já previstas há quase vinte anos. Bruno Moro, do PNUD, tem razão ao afirmar que a paz na Colômbia não é o silêncio das fuzis. Necessita-se de reformas que tragam equidade e justiça social. Urge criar espaços de cultura de paz, pois por fim ao conflito sem eliminar suas causas materiais e culturais, pode trazer o paradoxo de haja mais mortes depois da guerra do que durante ela, como tem se visto em alguns países da América Central.
A comunidade internacional, que está deixando sozinhos àqueles que lutam pela paz na Colômbia, pode assumir a verdade tangível de que este país não está na etapa de pós conflito. A Europa e a Espanha podem se comprometer com uma agenda na qual a paz e os direitos humanos sejam a espinha dorsal da agenda bilateral, até agora relegados pelos interesses econômicos.
A paz da Colômbia é possível e necessária, é a paz da América do Sul. A libertação unilateral pelas FARC de um grupo de pessoas nos próximos dias é um gesto que deve ser valorizado para encontrar soluções para esta guerra sem fim.
(*) Javier Orozco Peñaranda é sindicalista, membro do Coletivo de Colombianos/as Refugiados nas Asturias “Luciano Romero Molina”.
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