Ex-paramilitar revela relação de Uribe e atual vice com grupo
Em entrevista concedida nesta segunda-feira (21), Sierra disse que nas eleições presidenciais de 2002 a AUC, organização hoje dissolvida, realizou um leilão de gado para arrecadar fundos para beneficiar Uribe. Segundo o ex-paramilitar, o então candidato presidencial estava presente nesse evento, que reuniu centenas de milhões de pesos colombianos (moeda local) para a sua campanha. Ele acrescentou ainda que seu bloco das AUC foi responsável por fornecer as medidas de segurança necessárias para Uribe.
Em outro trecho da entrevista, Pablo Hernán Sierra conta que presenciou reuniões do comandante paramilitar Ernesto Báez com Luis Carlos Restrepo (conselheiro da Paz de Uribe). Desta mesma reunião participou um emissário do então governador de Valle del Cauca, Angelino Garzón (atual vice-presidente da Colômbia), além do senador Elmer Arenas, vários prefeitos e um bispo.
Sierra contou que o aval para que traficantes como "Los Mellizos" (em português, “os gêmeos”) fossem classificados como paramilitares não foi dado pelo Ministério da Defesa, mas por Restrepo, em troco de benefícios econômicos: “quem dava o aval não era o Ministério Defesa. Os integrantes desse ministério foram os mediadores, mas o aval foi dado por Luis Carlos Restrepo, e para que Luis Carlos Restrepo desse esse aval, beneficiou-se economicamente, isso não foi grátis", afirma Sierra.
Morte encomendada por Uribe
O ex-comandante da AUC revela que presenciou conversas a respeito da morte de Vicente Castaño, que teria sido assassinado como “um favor que Don Berna fez ao senhor Presidente Álvaro Uribe Vélez".
Vicente Castaño foi líder da AUC. Ele foi acusado de assassinar seu próprio irmão, Carlos Castaño, que fora líder do mesmo grupo. Vicente teria morrido em 17 de março de 2007 em uma propriedade localizada entre os municípios de Nechí, Antioquia e Ayapel; em Córdoba, no norte do país. As informações seriam de uma testemunha classificada pelo governo da Colômbia como de alta credibilidade.
Don Berna, ou Adolfo Paz, como é conhecido Diego Fernando Murillo Bejarano, assim como os demais, é ex-líder da AUC. Ele começou a trabalhar para o Cartel de Medellín e se tornou o braço paramilitar do grupo. Tornou-se o terceiro na cadeia de comando da AUC e um jogador-chave durante o processo de paz em Santa Fé de Ralito (Córdoba), entre sua organização e o governo da Colômbia, até que ele foi acusado por um tribunal de ser responsável pela morte de um deputado. Em seguida, ele escapou de Santa Fé de Ralito e se entregou às autoridades quatro dias depois.
Réu incofesso
O senador Luis Elmer Arenas admite que está sendo investigado pela Corte Suprema por manter relações com paramilitares e alega que as declarações contra si são parte de uma extorsão. Entretanto, negou-se a dar uma resposta oficial às perguntas feitas pela reportagem.
Esta não é a primeira revelação pública que vem à luz sobre os vínculos de Uribe e de seus seguidores políticos com o paramilitarismo. Durante o seu mandato, sucederam-se escândalos a respeito das ligações de parlamentares que fizeram parte do governo de coalizão com os grupos de extrema-direita, casos eufemisticamente conhecidos na Colômbia como "parapolítica".
Com apoio de vermelho.org