O porquê do ódio a Chávez
Ele cumpriu a promessa de governar para as maiorias e mostrou que a
História não tinha terminado. Por isso (não por seus erros) as
oligarquias da Venezuela e de todo o continente latino-americano o
detestam… e usam dos meios de comunicação dia e noite para atacá-lo
Por Ignacio Ramonet
(ex-diretor do jornal Le Monde Diplomatique)
e Jean-Luc Melenchon
(candidato da esquerda nas eleições presidenciais da França)
(Tradução: Daniela Frabasile)
Hugo Chávez é, sem dúvida, o chefe de Estado mais difamado no mundo.
Com a aproximação das eleições presidenciais de 7 de outubro, essas
difamações tornaram-se cada vez mais infames, em muitos países.
Testemunhavam o desespero dos adversários da revolução bolivariana
frente à perspectiva de uma nova vitória eleitoral de Chávez.
Um líder político deve ser valorizado por seus atos, não por rumores
veiculados contra ele. Os candidatos fazem promessas para ser eleitos:
poucos são aqueles que, uma vez no poder, cumprem tais promessas.
Desde o início, a proposta eleitoral de Chávez foi muito clara:
trabalhar em benefício dos pobres, ou seja – naquele momento – a
maioria dos venezuelanos. E cumpriu sua palavra.
Por isso, este é o momento de recordar o que estava verdadeiramente em
jogo nesta eleição. A Venezuela é um país muito rico, pelos fabulosos
tesouros de seu subsolo, em particular o petróleo. Mas quase toda essa
riqueza estava nas mãos da elite política e das empresas
transnacionais. Até 1999, o povo só recebia migalhas. Os governos que
se alternavam, social-democratas ou democrata-cristãos, corruptos e
submetidos aos mercados, privatizavam indiscriminadamente. Mais da
metade dos venezuelanos vivia abaixo da linha de pobreza (70,8% em
1996).
Chávez fez a vontade política prevalecer. Domesticou os mercados,
deteve a ofensiva neoliberal e posteriormente, graças ao envolvimento
popular, fez o Estado se reapropriar dos setores estratégicos da
economia. Recuperou a soberania nacional. E com ela, avançou na
redistribuição da riqueza, a favor dos serviços públicos e dos
esquecidos. Políticas sociais, investimento público, nacionalizações,
reforma agrária, quase pleno-emprego, salário mínimo, imperativos
ecológicos, acesso à moradia, direito à saúde, à educação, à
aposentadoria… Chávez também se dedicou à construção de um Estado
moderno. Colocou em marcha uma ambiciosa política de planejamento do
uso do território: estradas, ferrovias, portos, represas, gasodutos,
oleodutos.
Na política externa, apostou na integração latino-americana e
privilegiou os eixos Sul-Sul, ao mesmo tempo que impunha aos Estados
Unidos uma relação baseada no respeito mútuo… O impulso da Venezuela
desencadeou uma verdadeira onda de revoluções progressistas na América
Latina, convertendo este continente em um exemplo de resistência das
esquerdas frente aos estragos causados pelo neoliberalismo.
Tal furacão de mudanças inverteu as estruturas tradicionais do poder e
trouxe a refundação de uma sociedade que até então havia sido
hierárquica, vertical e elitista. Isso só podia desencadear o ódio das
classes dominantes, convencidas de serem donas legítimas do país. São
essas classes burguesas que, com seus amigos protetores e Washington,
vivem financiando as grandes campanhas de difamação contra Chávez. Até
chegaram a organizar – junto com os grandes meios de comunicação lhes
que pertencem – um golpe de Estado, em 11 de abril de 2002.
Estas campanhas continuam hoje em dia e certos setores políticos e
midiáticos encarregam-se de fazer coro com elas. Assumindo –
lamentavelmente – a repetição de pontos de vista como se demonstrasse
que estão corretos, as mentes simples acabam acreditando que Hugo
Chávez estaria implantando um “regime ditatorial no qual não há
liberdade de expressão”.
Mas os fatos são teimosos. Alguém viu um “regime ditatorial” estender
os limites da democracia em vez de restringi-los? E conceder o direito
de voto a milhões de pessoas até então excluídas? As eleições na
Venezuela só aconteciam a cada quatro anos, Chávez organizou mais de
uma por ano (14, em treze anos), em condições de legalidade
democrática, reconhecidas pela ONU, pela União Europeia, pela OEA,
pelo Centro Carter, etc. Chávez demonstrou que é possível construir o
socialismo em liberdade e democracia. E ainda converte esse caráter
democrático em uma condição para o processo de transformação social.
Chávez provou seu respeito à vontade do povo, abandonando uma reforma
constitucional rejeitada pelos eleitores em um referendo em 2007. Não
é por acaso que a Fundação para o Avanço Democrático [Foundation for
Democratic Advancement] (FDA), do Canadá, em um estudo publicado em
2011, colocou a Venezuela em primeiro lugar na lista dos países que
respeitam a justiça eleitoral.
O governo de Hugo Chávez dedica 43,2% do orçamento a políticas
sociais. Resultado: a taxa de mortalidade infantil caiu pela metade. O
analfabetismo foi erradicado. O número de professores, multiplicado
por cinco (de 65 mil a 350 mil). O país apresenta o maior corficiente
de Gini (que mede a desigualdade) da América Latina. Em um informe em
janeiro de 2012, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe
(Cepal, uma agência da ONU) estabelece que a Venezuela é o país
sul-americano que alcançou (junto com o Equador), entre 1996 e 2010, a
maior redução da taxa de pobreza. Finalmente, o instituto
estadunidense de pesquisa Gallup coloca o país de Hugo Chávez como a
sexta nação “mais feliz do mundo”.
O mais escandaloso, na atual campanha difamatória, é a pretenção de
que a liberdade de expressão esteja restrita na Venezuela. A verdade é
que o setor privado, contrário a Chávez, controla amplamente os meios
de comunicação. Qualquer um pode comprovar isso. De 111 canais de
televisão, 61 são privados, 37 comunitários e 13 públicos. Com a
particularidade de que a parte da audiência dos canais públicos não
passa de 5,4%, enquanto a dos canais privados supera 61%… O mesmo
cenário repete-se nos meios radiofônicos. E 80% da imprensa escrita
está nas mãos da oposição, sendo que os jornais diários mais
influentes – El Universal e El Nacional – são abertamente contrários
ao governo.
Nada é perfeito, naturalmente, na Venezuela bolivariana – e onde
existe um regime perfeito? Mas nada justifica essas campanhas de
mentiras e ódio. A nova Venezuela é a ponta da lança da onda
democrática que, na América Latina, varreu os regimes oligárquicos de
nove países, logo depois da queda do Muro de Berlim, quando alguns
previram o “fim da história” e o “choque de civilizações” como únicos
horizontes para a humanidade.
A Venezuela bolivariana é uma fonte de inspiração da qual nos
nutrimos, sem fechar os olhos e sem inocência. Com orgulho, no
entanto, de estar do lado bom da barricada e de rerservar nossos
ataques ao poder imperial dos Estados Unidos, seus aliados do Oriente
Médio, tão firmemente protegidos, e qualquer situação onde reinem o
dinheiro e os privilégios. Por que Chávez desperta tanto rancor em
seus adversários? Sem dúvida, porque, assim como fez Bolívar, soube
emancipar seu povo da resignação. E abrir o apetite pelo impossível.
O povo venezuelano deu o troco, mais de 80% do eleitorado votou. Um
fato inédito na história do país e das eleições em países
latino-americanos. E 55% deles deram mais seis anos ao presidente
Chávez.
Fonte: www.brasildefato.com.br