"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 15 de abril de 2014

Comissão de Esclarecimento


--> Por Hernán Camacho



No início do ciclo 23 dos diálogos entre a insurgência das FARC e o governo nacional, em Havana, se filtraram vários temas de ordem nacional que a guerrilha das FARC pôs sobre mesa. Um deles é a chamada Comissão de Esclarecimento das Causas e Responsabilidades do Conflito, que não é igual à Comissão da Verdade, anunciada pelo governo nacional na voz de Humberto de La Calle. Que as FARC também acolhem.


E é que a diferença é significativa. Enquanto o governo Santos pretende adjudicar responsabilidades a essa guerrilha dos fatos próprios do conflito em meio século de guerra, a Comissão de Esclarecimento e Responsabilidades aponta a identificar as causas sociais e políticas, entre elas as responsabilidades dos governos que, por sua ação ou omissão, perpetuaram a guerra, aprofundaram a inconformidade social, reduziram a democracia a sua mínima expressão e excluíram a sangue e fogo visões diferentes do manejo do país.


O fundo da proposta


Como podem estabelecer-se responsabilidades, ou como pode abordar a mesa o tema de vítimas, de sua reparação, do perdão e do compromisso de um ‘nunca mais’, se não se estabelece como se deram os fatos de violência que derivaram em seis décadas ou mais de conflito armado?”, se perguntou o chefe da delegação de paz das FARC, Iván Márquez.


A Comissão de Esclarecimento pretende estabelecer um período de estudo histórico desde o ano de 1936, a propósito da lei 200 daquele ano impulsionada pelo presidente Alfonso López Pumarejo, que, para muitos historiadores, foi a gênese da violência terra-tenente contra o campesinato beneficiário da redistribuição da terra.


A Comissão proposta pela insurgência permitiria dar clareza acerca dos responsáveis pelos milhões de colombianos em deslocamento forçado e no apoderamento violento e ilegal de pelo menos oito milhões de hectares. Inclusive, chegaria até aos responsáveis materiais e intelectuais do genocídio político da União Patriótica ou de magnicídios políticos que alimentaram o conflito, desde Jorge Eliécer Gaitán até Jamie Pardo Leal ou Bernardo Jaramillo, que continuam na impunidade.


Aquele que estiver livre de pecado que atire a primeira pedra. Para
as FARC, o que se trata é de invocar a responsabilidade “do Estado e das esferas do poder público, dos presidentes, dos partidos hegemônicos, dos terra-tenentes, dos empresários, dos bananeiros, dos pecuaristas, dos banqueiros, da Igreja, dos grandes meios de comunicação convertidos em instrumentos da guerra, dos militares, dos paramilitares, da polícia, dos guerrilheiros e ex-guerrilheiros, dos organismos de inteligência, dos Estados Unidos”, isto é, a todos os atores e fatores do conflito.


Não se trata de colocar o Estado contra a parede, nem de desatar insolúveis consequências judiciais, nem caças às bruxas, senão que de estabelecer o quadro completo dos horrores da violência”, dizem as FARC, reconhecendo que não temem aos tribunais de justiça.


A Comissão permitiria ir adiantando as discussões que se atenderão no ponto relacionado às vítimas, quando se dê por terminado o de cultivos ilícitos. Nesse momento, a voz das vítimas vai ter um espaço primordial para ser atendida. Não obstante, será o governo nacional quem determine se permitirá ou não escutar as vítimas do terrorismo de Estado num processo que até agora tem sido hermético para o povo colombiano. Um “manda calar”.


Outro dos temas propostos no debate público, desde o Centro de Convenções da maior das Antilhas, foram as respostas ao ex-mandatário e agora senador eleito Álvaro Uribe Vélez, quem assinalou, em declarações à imprensa internacional, que ele quer a paz do país, porém sem impunidade. E as FARC estão de acordo. Se se trata de não deixar impunidade nas atuações, a insurgência chamou a responder ao eleito senador Uribe por assuntos ocorridos ao longo de sua vida política, em especial como chefe da Aeronáutica Civil, governador de Antioquia e chefe de Estado.


Sim. Que não haja impunidade para quem, desde a governadoria de Antioquia, regou de mortos, com seu irmão Santiago e seu bando paramilitar, os ‘Doze Apóstolos’, a Yarumal e o norte do Estado. Que planejou o massacre do Aro e que não explicou porque o helicóptero da Governadoria sobrevoava o lugarejo no momento em que se desenvolvia o massacre. Que lançou contra Urabá, como cão de caça contra o povo, a Rito Alejo del Río. Que fez matar a defensores de direitos humanos, como José María Valle”, manifestou Márquez.


E, como essa situação em particular, a guerrilha relembrou outros episódios que invocam a responsabilidade de Álvaro Uribe, como a impunidade reinante nos denominados falsos positivos ou execuções extrajudiciais que serviram para elevar as cifras de resultados operacionais em sua política de segurança democrática.


Ou as confissões paramilitares indicando que ajudaram a eleger Uribe como presidente no ano de 2002. Porém, também suas atuações quando apenas se vislumbrava para a política, ocupando o cargo de chefe da Aeronáutica Civil. O narcotraficante Pablo Escobar o chamou de “o rapazinho bendito”, por ajudar-lhe, segundo recentes declarações de Virginia Vallejo, a outorgar-lhe licenças aéreas para trazer para a Colômbia pasta de coca para seu negócio. “Uma vida tortuosa assinalada pelo crime”, destacaram as FARC.


Fonte: Semanario Voz