"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 2 de março de 2015

Coluna semanal do sociólogo James Petras


A ideia dos Estados Unidos É não assinar um acordo. A principal meta é desarmar as FARC”.
MAB: Existem muitos temas e queremos tentar abarcar o maior número possivel deles. Assim, podemos começar pela Venezuela.

JP: A questão da Venezuela é muito clara. Os Estados Unidos aumentaram os esforços para tombar o governo utilizando todos os mecanismos disponíveis, inclusive a força, a violência de rua, as mobilizações das grandes empresas comerciais para provocar o desabastecimento. E também a propaganda midiática, onde toda a imprensa está atuando em conjunto com os Estados Unidos, acusando o governo de autoritarismo porque começou a prender os golpistas que atuam em vários cargos, inclusive o prefeito de Caracas, o senhor Antonio Ledesma, que assinou um documento público fazendo uma chamada para derrubar o governo.

Esta política surte efeito porque está aproveitando a crise econômica com a queda do preço do petróleo para criar uma imagem de um país deteriorado e um presidente incompetente.

Por fim, o governo começou pelo menos a tomar algumas medidas para estabilizar a Economia, mas são muito duras. Por exemplo, a desvalorização aumentou o custo de vida para as pessoas comuns.

Também estão tomando medidas fortes utilizando o controle dos aparatos estatais, a fim de castigar os que estão tentando destruir a democracia. E esta intervenção governamental recebe muitos aplausos da grande maioria do povo que está contra a impunidade da oposição, que faz o que faz pensando que não pode ser castigada.

Agora, com as últimas intervenções de Maduro se tem mais confiança que o governo está à altura de tomar medidas, para proteger a democracia e o direito do governo de governar.


MAB: Como você vê a reação nos outros países da América Latina e no mundo em geral frente a isto que ocorre na Venezuela?

JP: Todas as organizações internacionais, sem exceção, particularmente as da América Latina, apoiam as medidas do governo, inclusive a necessidade de tomar medidas policiais contra os golpistas. Se alguém tentar analisar, por exemplo, os vários grupos, grupos não alinhados que representam mais de 100 países, respaldam o governo e denunciam o golpismo norte-americano. Porém, isso não aparece em nenhum meio de comunicação, nem na BBC, nem no New York Times que apresentam a opinião do mundo e das organizações latino-americanas. Simplesmente apresentam o assunto como uma repressão do governo sem uma razão.

A guerra propagandística é muito forte e tenta demonizar o governo para justificar e defender os golpistas, para que estes tenham as mãos livres. E a oposição internacional ao golpismo é muito importante, porque mostra que o governo de Maduro, diplomaticamente não está isolado. Neste momento, o golpismo norte-americano não tem nenhuma ressonância na América Latina, porém segue adiante. Obama, como um louco violento, pensa que tudo pode ser resolvido com a força.

Assim como fizeram na Ucrânia, organizaram um golpe. Querem repetir, agora na Venezuela, o mesmo processo de propagandear contra o governo, demonizar e, depois, lançarem-se com mãos livres a atacar o governo e tomar o controle do poder.


MAB: Fala-se de ‘golpe brando’ na Venezuela e na Argentina. É possível classificá-los assim?

JP: Começam brandos. Ou seja, utilizam a legalidade para influenciar a opinião pública, organizam marchas supostamente pacíficas, mas, de repente, encontram outra oportunidade de lançarem-se com medidas econômicas de desabastecimento, especulação, pressões de empréstimos e tudo mais, para enfraquecer o governo com medidas econômicas.

Então, primeiro protestos legais, depois medidas econômicas e, posteriormente, visam formar uma aliança com setores militares para tomar o poder. Por isso, não se pode separar as medidas brandas da trajetória violenta.

É um processo, então, não se pode terminar o debate dizendo que é um ‘golpe brando’. Porque ‘um golpe brando’ tem os mesmos efeitos que um golpe duro. Ou seja, vão reverter as mudanças sociais, as medidas progressistas, a independência da política exterior e voltar ao que podemos chamar de ditadura do capital, do capital selvagem, que pode resultar em um retrocesso de tudo o que o povo ganhou nos últimos anos.


MAB: Neste marco, Petras, soube-se esta semana que os EUA nomearam um representante para sentar-se à mesa das negociações de paz da Colômbia, que ocorre em Havana. E os EUA designaram, a pedido do governo da Colômbia, um enviado especial, Bernard Aronson.

JP: Sim, Bernard Aronson tem uma trajetória muito sinistra. No passado, esteve envolvido de muitas formas no apoio ao neoliberalismo, aos governantes autoritários na América Central, como padrinho dos chamados “tratados de paz”.

Então, está lá para garantir que não haja nenhuma concessão consequente por parte do governo para as FARC; quer assegurar que as FARC vão se subordinar à política imperialista na América Central, como em El Salvador, na Guatemala. Não é nenhuma figura neutra. É um partidário da militarização da Colômbia, da repressão à insurgência popular e, também, busca aprofundar o livre comercio e os tratados bilaterais entre Wall Street e Bogotá.

Aronson é um personagem sinistro e não podemos nos iludir que os EUA estão como ‘observadores’. Estão atuando nas negociações em Havana, assegurando que o governo faça o mínimo de concessões. E a linha dos EUA é, simplesmente, não assinar um pacto, mas fazer com que os dirigentes guerrilheiros sejam presos supostamente pelos crimes de guerra. Enquanto isso, os milhares de oficiais, civis, o ex-presidente (Álvaro) Uribe – que são os verdadeiros culpados, os assassinos políticos – são os principais aliados de Aronson.


MAB: Sim, tanto Aronson quanto Roberta Jacobson e John Kerry pediram às FARC e ao ELN que demonstrem seu valor renunciando à violência para sempre, eliminando-os.

JP: Sim, desarmá-los e matá-los. Eu acredito que é a trajetória.

Uma vez que estejam desarmados, vão sofrer a forte repressão. A ideia de desarmar as FARC é a principal meta, não é nenhum acordo. E os acordos assinados são irrelevantes porque uma vez que o governo desarme as FARC, uma vez que comece a controlar o território, vai continuar com a repressão política favorecendo a minoria, as grandes empresas petroleiras e de carvão. E deixar toda a retórica de paz e os acordos para trás.


MAB: A imprensa diz, com base nos comunicados do Exército da Colômbia, que ontem mataram 3 guerrilheiros no sul do país, na Colômbia.

JP: Sim, diariamente ocorre algum ataque nas comunidades progressistas no campo. Tanto as comunidades indígenas como as de camponeses vêm sofrendo muitas invasões. Além das muitas vítimas da guerrilha, existem as da Marcha Patriótica e de outras organizações populares.

No ano passado, mais de quatro dezenas de ativistas de direitos humanos sofreram ataques, assassinatos, encarceramentos.

Então, a guerra na Colômbia continua, apesar das conversações de paz em Havana. Existe uma tática dupla aqui: falar de paz em Havana e continuar a guerra na Colômbia.


MAB: E todos estes temas que estamos abordando referem-se às relações dos EUA com a América Latina, Venezuela, Argentina, Colômbia.

Hoje, lemos que aumenta a presença militar dos EUA no Peru, que passa de 125 soldados para 3.200
.

JP: A militarização está em marcha, por varias razões.

Primeiro, o outro lado da moeda é que o Peru arde agora com muitas mobilizações populares, protestos, tanto no campo, como nas comunidades, frente à mineração em larga escala, como nas cidades. E frente às mobilizações populares, os EUA estão fortalecendo a mão repressiva do governo de Humala.

Os processos de direitização na América Latina e a repressão estão em ascensão. Podemos vê-los, por exemplo, na mobilização supostamente em memoria de Nisman, na Argentina. Podemos vê-los nas campanhas de desestabilização na Venezuela. Podemos vê-los na militarização da Colômbia.

Eu acredito que a explosão dos escândalos no Brasil é outro fator detonante de recuperação da direita.

De toda forma é uma extensão da militarização global dos EUA com a intervenção na Síria, com a extensão de drones utilizados no Iêmen, a volta de tropas ao Afeganistão. Tudo é uma nova onda direitizante de Obama, que quer impor o poder norte-americano a partir da força e violência, não a partir de negociações de paz.

Eu acredito que o terror global dos EUA provoca o terror individual em seu próprio país.


MAB: Esta semana muda a Presidência do Uruguai. Sai José Mujica e assume Tabaré Vázquez.

JP: Sim, existe um discurso de Mujica que me parece interessante e gostaria de comentá-lo.

Mujica disse uma coisa que é verdade, porém em jogo. Disse que “a geração espontânea não cria sociedades justas” e cito textualmente: “é preciso vontade humana organizada para esta transformação”. Certo.

Porém, que tipo de política deve ter a organização humana visando uma transformação? Obviamente, a Frente Ampla é uma organização, porém ninguém pode dizer que durante a presidência de Mujica tivemos uma transformação. A única transformação foi que entregaram a metade do território produtivo aos grandes investidores estrangeiros, que formam os consórcios agrícolas.

Então, Mujica disse verdades como a que o espontaneísmo não chega a alcançar transformações, porém tampouco elas são obtidas pelas organizações políticas que seguem a linha neoliberal de sua Presidência.


MAB: É certo e acrescento que Joe Biden, como representante do governo dos EUA, chega esta semana para a posse.

JP: É um louco, cada vez que abre a boca caem pérolas de merda. Por exemplo, de qualquer forma tenta intervir na política e causa escândalos, porque diz coisas que são espontâneas, sem pensar nas consequências. Em Washington é considerado um palhaço, somente o mandam a viagens ao exterior para evitar escândalos domésticos.

Em todo caso, de uma forma ou de outra, representa a política imperialista. Porém, no caso da visita ao Uruguai, quer assegurar que Vázquez seguirá a linha de sua campanha eleitoral, que foi a conciliação com o Pentágono e o Departamento de Estado, ao invés de evitar qualquer aprofundamento nas relações com a Venezuela, Argentina ou outros países do MERCOSUL. Querem que Tabaré Vázquez aprofunde sua dependência e vínculos carnais com Obama.

MAB: Está sendo veiculado que as conversações entre o Irã e o grupo dos 5+1 estão concluindo. O que você sabe sobre isso?

JP: É evidente, (dizem) todos os ex-diplomatas, que o Irã não tem programas de armas nucleares. Segundo, as concessões feitas pelo Irã são substanciais enquanto os compromisos recíprocos dos EUA são mínimos. Por exemplo, suspender as sanções para os EUA é um processo que pode se prolongar por dez anos.

O Irã é um país muito pacífico, que busca conciliar com os EUA e está disposto a pagar o preço para acabar com as sanções e evitar a agressão de Israel. Agora, inclusive em Israel, alguns setores oficialistas reconhecem que a campanha de (Benjamin) Netanyahu de atropelar as negociações tem um efeito bumerangue. Para os EUA, um acordo com o Irã significa colaborar contra o ISIS e os grupos agressivos, contra a insurgência violenta. Para os EUA isso tem muito valor porque permite fortalecer sua hegemonia no Iraque e na Síria. Então, Israel agora tem que se cuidar, pois está provocando a ira da Casa Branca por conta da intromissão. Daí, vem Netanyahu dirigir a palavra ante o Congresso. Isso gerou oposição entre os ultrassionistas aqui, que estão preocupados com a intromissão de Netanyahu que soa muito mal para a maioria da população. Inclusive os mais fieis a Israel do Partido Democrata estão anunciando que não vão assistir à conferência.

Então, as perspectivas devem ser muito factíveis para um acordo com Irã-EUA, porém nunca se sabe porque os sionistas seguem tendo muita força.


MAB: Resta algum tema que você tenha interesse em comentar?

JP: Sim, poderíamos comentar algo sobre a Grécia.

Como disse em edições passadas, o SYRIZA tem uma política de ambiguidade, um discurso radical, porém sempre tornou posições conciliadoras.

O pacto de sexta-feira passada é terrível, significa a continuidade da supervisão de Bruxelas sobre a política da Grécia. Ou seja, o SYRIZA se submeteu à soberania norte-americana e à diretriz de Bruxelas.

Em segundo lugar, aceitou impor reformas neoliberais sobre o país. O SYRIZA fala de lutar contra a evasão fiscal, porém Bruxelas insiste nas privatizações.

Hoje em dia, percebo que um grande setor do SYRIZA está contra esse acordó e vai provocar um conflito interno pela indignidade que Alexis Tsipras e seu Ministro da Fazenda aceitaram.

Creio que a luta interna agora na Grécia vai se intensificar, pela capitulação do SYRIZA ante as exigências de Bruxelas.


Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)