"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 30 de março de 2015

Tentativa de golpe contra a Venezuela



Ignacio Ramonet



Ave simpática da fauna amazônica, o tucano é bem conhecido por seu espetacular bico de cor vistosa. Mas também é o nome de um agressivo “pássaro de aço” fabricado pela construtora brasileira Embraer, cuja denominação militar é EMB 312, e cujos dois modelos mais vendidos são: o T-27, em sua versão de treinamento, e o AT-27, armado para ataques em terra. É uma das aeronaves de treinamento mais vendidas no mundo. A aviação militar da Venezuela, por exemplo, possui cerca de trinta Tucanos. 

E precisamente um desses tucanos militares, artilhado para atacar, deveria bombardear o Palácio de Miraflores, em Caracas, no último dia 12 de fevereiro. E matar o presidente Nicolás Maduro. Tinha como missão, da mesma forma, atacar o Ministério da Defesa e destruir o edifício que abriga os estúdios do canal de televisão internacional Telesur, a fim de semear o caos e a confusão.

Segundo revelou o próprio presidente Maduro, a tentativa de golpe foi desarticulada graças à habilidade dos organismos de inteligência bolivarianos. Eles permitiram a prisão de um grupo de oficiais da aviação e de civis uniformizados. “Trata-se – declarou o mandatário venezuelano – de uma tentativa de utilizar um grupo de oficiais da aviação para provocar um ataque e um atentado golpista à democracia e à estabilidade da nossa pátria; é o último suspiro do chamado 'golpe azul' de um ano atrás, em fevereiro-março de 2014”.

Nicolás Maduro contou que um dos oficiais envolvidos estava “comprometido” desde o ano passado com grupos de ultradireita venezuelana que procuravam gerar novamente distúrbios violentos no país. O presidente revelou que, depois de uma série de investigações, as autoridades militares exigiram que esse oficial fosse banido das forças armadas. “Mas há algumas semanas – explicou o mandatário –, vários opositores o contactaram de novo, pagaram-lhe uma soma importante em dólares e confiaram a ele várias missões. Ao mesmo tempo, a embaixada do Estados Unidos lhe concedia um visto com data de 3 de fevereiro e lhe garantia que, 'se isso falhar, já sabe, tem um visto para entrar nos Estados Unidos por qualquer uma de nossas fronteiras'”.

A partir daquele momento – continuou relatando Nicolás Maduro –, esse oficial contatou mais quatro companheiros para executar as missões “planejadas de Washington”. Uma delas consistia em gravar em vídeo declarações do general de aviação Oswaldo Hernández Sánchez na prisão. Ele foi detido por tentar dar um golpe de Estado em 2014.

A ordem era gravar um vídeo desse general, a quem apelidam de El Oso [O Osso, em tradução literal], e em 12 de fevereiro, nos atos de comemoração, pegar um avião Tucano e atacar o Palácio de Miraflores e outros 'objetivos estratégicos', como o Ministério da Defesa, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e a sede da Telesur. A ordem de iniciar a ação se dispararia no momento em que um jornal de oposição publicasse o que eles chamavam de 'programa de governo de transição'”.

Por sua vez, Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, e Jorge Rodríguez, prefeito do município Libertador, contribuíram em Caracas, no último dia 13 de fevereiro, com mais detalhes da tentativa golpista. Ambos os dirigentes chavistas confirmaram que os oficiais detidos haviam admitido que a publicação de um “manifesto” na imprensa era uma das senhas para lançar a tentativa, cujo código era Operação Jericó.

Ambos revelaram que, segundo declarações dos presos, os golpistas tinham a intenção de “liquidar” desde o primeiro instante, além do presidente Nicolás Maduro, aos próprios Diosdado Cabello e Jorge Rodríguez, e a duas personalidades bolivarianas: Tibisay Lucena, presidenta do CNE, e Tareck e Aissami, o ex-ministro do Interior e atual governador do estado de Aragua.

Por outro lado, identificaram, além do general Oswaldo Hernández, El Oso, outros supostos cabeças da conspiração. A saber: o capitão Héctor José Noguera Figueroa, o coronel José José Suárez Rómulo, o primeiro tenente Ricardo Antich Zapata (supostamente encarregado dos contatos com a embaixada dos Estados Unidos) e o primeiro tenente Luis Hernándo Lugo Calderón. Também mostraram parte do arsenal apreendido, em particular armas de alto calibre, como fusis semiautomáticos AR-15, metralhadoras e granadas. Da mesma forma, revelaram que descobriram mapas da cidade de Caracas com vários “alvos estratégicos” marcados: o Palácio de Miraflores, os ministérios da Defesa, do Interior e de Justiça e Paz; o Conselho Nacional Eleitoral, a Direção de Contrainteligência Militar e o canal Telesur.

Cabello e Rodríguez designaram como “autores intelectuais” da tentativa golpista e do projeto de magnicídio duas personalidades da oposição: Antonio Ledezma, prefeito de Caracas (preso no último dia 19 de fevereiro), e Julio Borges, deputado da oposição. Também afirmaram ter provas da participação de pessoas da embaixada norte-americana: “Uma funcionária da embaixada chamava as esposas dos generais venezuelanos e lhes dizia que o nome de seu marido estava na lista de pessoas sancionadas pelo Congresso dos Estados Unidos. E que o visto de toda a sua família para ingressar em território americano havia sido invalidado. Tentando criar confusão nas famílias dos oficiais”, explicou Jorge Rodríguez.

O presidente Maduro disse, por sua vez, ter em seu poder o “plano de governo” redigido pelos golpistas, no qual se eliminam os poderes públicos e se ameaça os cubanos das missões de serviço social (saúde, educação, esporte). “Também falam – disse maduro – em privatizar a PDVSA (Petróleos de Venezuela Sociedad Anónima), em dissolver todos os poderes públicos, suspender as garantias democráticas, liberalizar o sistema de câmbio e presentear a oligarquia com dólares mais uma vez”. O presidente acrescentou que, nesse “plano de governo”, os golpistas “lançam uma ameaça contra o que chamam de “coletivos” – que nós sabemos que é o povo venezuelano –, anunciando que, quando chegarem ao poder, atuarão contra eles com toda a força militar. E os cubanos das missões na Venezuela teriam 24 horas para se apresentar nos escritórios do novo governo de fato ou 'enfrentarão as consequências (…)'”.

Apesar de todos esses detalhes e provas trazidos pelas máximas autoridades venezuelanas, os meios de comunicação internacionais (inclusive na América Latina) deram pouco crédito a esse anúncio de intenção de golpe de Estado. Essa “incredulidade” faz parte – há 15 anos – da estratégia dos grandes meios de comunicação dominantes em guerra contra a revolução bolivariana, para desacreditar as autoridades bolivarianas. Indiferente a essa atitude hostil, o presidente Nicolás Maduro continuou explicando, com perseverança pedagógica e com todo o tipo de provas, como, desde o falecimento de Hugo Chávez (há exatamente dois anos), e desde sua eleição (14 de abril de 2014), um “golpe lento” está em marcha para tentar derrotá-lo.

Desta vez, o golpe seria executado em quatro fases. A primeira começou no começo de janeiro de 2015, quando o presidente Maduro realizava uma longa viagem ao exterior (China, Irã, Catar, Arabia Saudita, Argélia e Rússia). Essa fase foi realizada com o apoio de setores do empresariado, que impulsionaram campanhas de retenção de alimentos básicos e produtos de primeira necessidade, com a finalidade de criar escassez e mal estar, preparando as condições para que os cidadãos saíssem às ruas para protestar e saquear supermercados. O que não aconteceu.

Na segunda fase, os grandes meios de comunicação internacionais intensificaram a difusão de reportagens, notícias e artigos que davam uma imagem distorcida da realidade venezuelana. Fazendo crer que, no país do “socialismo do século XXI”, estava-se produzindo uma autêntica “crise humanitária”. O presidente Maduro denunciou, na ocasião, o detestável papel desempenhado nessa fase da Operação Jericó por vários jornais espanhóis (El País, ABC).

A terceira etapa deveria ser protagonizada por um “traidor” que, na televisão e nos grandes meios de comunicação, faria um chamamento solene à rebelião. Ainda que o presidente não tenha deixado claro quem seria esse “traidor”, alertou os cidadãos: “Não quero alarmar ninguém, mas sou obrigado a dizer a verdade (…) Estão procurando um traidor e peço ao povo que esteja alerta”.

A quarta fase do golpe é a que se desvelou em 12 de fevereiro, com a participação de um grupo de oficiais direitistas da aviação militar, financiados pelo estrangeiro. Então, seria anunciado o “programa de governo de transição”. E se enterraria a revolução de Chávez.



Mas inclusive em quatro fases, o golpe fracassou. E a revolução bolivariana continua viva.



Tradução de Daniella Cambaúva