"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 17 de março de 2010

Política de segurança de Uribe é uma mentira

Prestes a deixar o cargo, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse, nesta terça (16), que vai se dedicar à execução da política de segurança, com o objetivo de aperfeiçoá-la para seu sucessor. Mas a verdade é que, carro chefe da gestão, a “segurança democrática” de Uribe em nada melhorou a vida do povo. Ela mesma se alimenta do conflito interno, está baseada na repressão e censura e permite a proliferação de paramilitares (muitos ligados ao governo) e fenômenos como os “falsos positivos”.


No dia 30 de maio, os cerca de 30 milhões de colombianos irão às urnas para escolher o sucessor de Uribe, que chegou a nutrir esperanças de disputar um terceiro mandato. A justiça colombiana, contudo, vetou a iniciativa, por considerá-la inconstitucional.

“Nosso governo termina em 7 de agosto e estamos empenhados em trabalhar nestes 145 dias de forma eficiente, que permita deixar ao próximo governo uma política de segurança incrementada, melhorando diariamente, com maior eficácia, de forma transparente”, disse Uribe, segundo a Agência Brasil.

Agora no fim de seu segundo mandato, ele construiu toda a gestão em torno do que chama de Política de Segurança Democrática, base da ação que autoriza o uso de armas no combate às operações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O presidente defendeu que o seu substituto trabalhe para manter “uma política de maior segurança, na melhoria permanente”.

Acontece que, diferente do que Uribe tenta pregar, a sua estratégia está longe de ser um sucesso. Como bem disse o antropólogo mexicano, Gilberto López y Rivas, “pode-se afirmar, sem nenhuma retórica e perante as dimensões da tragédia do povo colombiano, que o governo de Uribe fez do crime de Estado a sua política de Estado”.

O exemplo mais gritante talvez seja o fato de que os paramilitares continuam agindo impunemente no país. Contam com a conivência do exército e de políticos. Sua atuação permanece amparada no narcotráfico, na apropriação de terras com deslocamento forçado, na repressão e na intervenção na política.

Enquanto o governo Uribe ignora a alternativa do diálogo e da negociação para obter a paz na Colômbia e centra suas forças no combate armado com as Farc, informações dão conta de que os paramilitares já desalojaram mais de quatro milhões de pessoas e seguem assassinando as lideranças sociais.

Eles surgiram justamente a partir da incapacidade do Estado de dominar os movimentos armados que surgiram no país para se contrapor às elites que sempre comandaram a Colômbia. Eram financiados por empresários para, à margem do Estado, ‘confrontarem’ integrantes da esquerda, alegando que tinham vínculos com as Farc.

Acontece que os paramilitares escaparam das mãos do governo ao firmarem parceria com o narcotráfico. E, a partir de 2003, após uma forte pressão internacional, começou na Colômbia um processo de ‘desmobilização’ dos paramilitares.

A iniciativa, contudo, logo depois foi desmascarada. Os paramilitares sequer chegaram a entregar de fato suas armas e rapidamente se reorganizaram, com anuência de representantes das instituições colombianas, nas quais estão infiltrados. E hoje estão novamente atuando às claras, com um efetivo calculado entre 4 mil e 10 mil homens.

Além disso, reina a impunidade. Dos mais de 35 mil paramilitares ‘desmobilizados’, apenas 698 responderam por crimes cometidos. E 133 deputados e ex-deputados ligados aos partidos governistas são investigados por vínculos com esses gupos.

Sindicalistas mortos e ‘falsos positivos’

Um recente levantamento divulgado pela Central Única dos Trabalhadores da Colômbia (CUT) revelou que, desde 1986, mais de 10 mil sindicalistas foram alvo de atentados à vida, à liberdade e à integridade. Nas gestões Uribe, 503 trabalhadores sindicalizados foram executados (mais de 18,6 por cento do total) e 3912 foram alvo da repressão.

Escândalo maior são as centenas de assassinatos de civis, que são apresentados pelo próprio exército como “baixas em combate”. Isso porque a “segurança democrática” de Uribe prevê incentivos e recompensas – inclusive a civis – para cada morto em “combate.” Desta forma, os interessads no prêmio tiram a vida dos falsos guerrilheiros, que ainda ajudam a inflar os números do combate à guerrilha, justificando assim os apoios obtidos por meio do Plano Colômbia – polêmica parceria com os Estados Unidos.

Diante desse cenário, no qual está provada a ineficiência da política uribista no combate à violência e ao narcotráfico, é difícil convencer alguém de que o apoio e a presença norte-americanos na Colômbia tenha algum saldo positivo. Ainda assim, o presidente Uribe anunciou, no ano passado, a ampliação das tropas dos EUA no país e a utilização por esses soldados de sete bases militares colombianas.

Para além da segurança

Mas não foi só por conta do insucesso da absurda ‘segurança democrática’ - que reserva até 15% do seu PIB para gastos com Defesa - que as forças progressistas comemoraram a decisão da Justiça de impedir um terceiro mandato para Uribe. Alguns dados reunidos pelo jornal Avante ilustram a situação no país:
- Oito milhões de colombianos vivem na indigência e mais de 20 milhões são considerados pobres.

- A taxa de desemprego oficial é de 12%. Mesmo considerando fiável este dado oficial - estimativas indicam que o desemprego atinge 23% da população ativa -, a taxa é a maior da América Latina.

- Enquanto os bancos pagam, com sorte, 2% de taxa de juro sobre os depósitos, cobram 36% de interesse sobre os empréstimos.

- O salário mínimo nacional cobre apenas metade do valor dos gastos com bens essenciais, e a maioria dos contratos de trabalho não garante saúde e outros benefícios sociais.

- Metade dos jovens entre os 14 e os 17 anos trabalham por menos que o valor do salário mínimo.

- Todos os anos são contabilizados pela justiça mais de 9500 casos de maus-tratos a menores e outros tantos de abuso sexual. Mais de 30 mil crianças são exploradas sexualmente.

- Só 30% das crianças em idade escolar ingressam nos estabelecimentos de ensino, e apenas 60% destes concluem o ensino obrigatório.

- Estabeleceu-se uma rede de colaboradores e espiões, com programas de incentivo a informantes entre camponeses, estudantes, taxistas e outros.

- O escândalo dos falsos positivos já permitiu identificar quase dois milhares de jovens que, tendo sido recrutados para trabalhar, acabaram executados pelos militares e apresentados perante as câmaras de televisão como guerrilheiros das Farc.


Por Joana Rozowykwiat
Com agências
Fonte: vermelho.org.br