"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 10 de julho de 2011

Marquetalia-Simacota: berços de resistência e de unidade


Anncol/ Num dia de maio de 1964, e apenas dois meses depois, em julho daquele ano, em resposta ao regime oligárquico, iniciaram suas gloriosas marchas, um grupo de homens e mulheres que decidiram se por à tirania, assumindo a resistência armada como o único caminho que sobrou, por um regime déspota e elitista ao longo da história do país tem concentrado a riqueza em poucas mãos e massificou a pobreza e a miséria no povo trabalhador.

Estes homens e mulheres deram origem às FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo) e ao ELN (Exército de Libertação Nacional), o povo em armas para conquistar a tomada do poder para reivindicar ao povo trabalhador, ao povo camponês massacrado pelos latifundiários e as multinacionais, ao povo trabalhador excluído das decisões transcendentais sobre o futuro do país, apesar de ser a fonte de trabalho e produtora de riqueza. Desses primeiros insurgentes, após 47 anos dessa epopéia, não podemos esquecer nomes como Manuel Marulanda Velez, Jacobo Arenas, Manuel Pérez Martínez, Camilo Torres Restrepo, entre outros pioneiras e pioneiros, impossível mencioná-los todas.

Nesse ano de 1964, como relatado na última declaração do Estado-Maior Central das FARC-EP: " 47 anos de violência a partir do dia em que o bipartidarismo liberal-conservador personificado no excludente, corrupto e infame pacto da alternância presidencial da Frente Nacional, no governo de Guillermo León Valencia, decidiu embaralhar o curso histórico da pátria pelos desfiladeiros da barbárie, lançando a maior ofensiva militar até hoje conhecida na América Latina, com mais de 16.000 soldados das forças governamentais dirigida desde a Casa Branca, em sua estratégia para o controle geopolítico do continente e para conter os ventos de dignidade e independência que sopravam da revolução cubana, articulado no Plano LASO (Latin American Security Operation) para aniquilar os camponeses de Marquetalia . É que a violência e a genuflexão perante o amo ianque, tem sido por excelência a conduta política das classes dominantes na Colômbia ".

Após 47 anos de existência, uns poucos deram um passo para o lado para renunciar à luta armada e desapareceram na rendição e nas dádivas que o regime ofereceu para entregar seu fuzil e seus princípios. A institucionalidade os absorveu sistematicamente desaparecendo como sujeitos individuais e coletivos da resistência. Por umas quantas migalhas lhes caiu o muro e para eles chegou o fim da história, hoje servem como caixa de ressonância das políticas que um dia combateram e perderam toda perspectiva histórica transformadora.

Hoje, como diz a última declaração do Comando Central do ELN: “Hoje, 47 anos depois, continuam em vigor todas as motivações que originaram o engajamento guerrilheiro popular e há muitas razões mais para levantar as bandeiras Vermelhas e Negras de nossa causa libertária”.

Atualmente, todas as causas que justificam o levantamento armado se agravaram: a exploração econômica, a exclusão política, o empobrecimento social, a alienação cultural, a repressão militar e a dependência externa. Do regime político de exclusão da Frente Nacional, onde um único partido político se alternava no poder, mudando apenas a cor do pano, hoje passamos para um regime mafioso e fascista, que controla a administração pública, apoderou-se do governo e do Estado, eliminando o Estado Social de Direito, a pouca democracia e as liberdades civis, para garantir uma nova legislação a serviço do capital estrangeiro. A sociedade foi militarizada, criminalizando a protesta e mobilização social; as principais organizações sociais que se atrevem a exigir os seus direitos foram enfraquecidas ou aniquiladas, assim como o movimento de oposição política. A metade da população colombiana está na pobreza e 15 por cento na indigência. Temos 0,58 no coeficiente de Gini, que mede a desigualdade de renda, um dos mais altos do continente e do mundo.

Após 47 anos do levante popular, a oligarquia fez mais vigentes as motivações que um dia originaram o caminho da luta armada para emancipar o povo colombiano, “Desde meados da década dos anos 70 do século passado, a Colômbia foi submetida a uma recolonização imperialista mediante a imposição do modelo neoliberal, juntamente com a doutrina da Segurança Nacional. Assim, a privatização, do terrorismo de Estado, o paramilitarismo, o tráfico de drogas, os massacres, o exílio e a desapropriação se tornaram políticas de Estado.

Sob os ditames imperialistas, foi-se aniquilando a indústria manufatureira e estatal que sustentava uma economia nacional, dentro do modelo de substituição de importações. Toda a economia passou a depender do capital transnacional, com o prejuízo para os pequenos e médios empresários, e privatizando as importantes empresas estatais. A economia tem sido dominada pelo fenômeno da Financeirização, onde prima o capital financeiro e especulativo, em contrapartida ao capital produtivo” (COCE, julho 2011).

Hoje, estamos piores do que antes, como afirma o Estado-Maior Central das FARC-EP: “A barbárie não pode continuar sendo parte do nosso destino por mais 47 anos, e menos agora com a mobilização que podemos-nos impor um futuro verdadeiro e civilizado, agora que o terror e o medo acrescentado pelo modelo de Estado mafioso implantado por Uribe Vélez se descortina a corrupção ocultada pela exaltada ‘segurança democrática’ onde a parapolítica, a Yidid-política, os ‘falsos positivos’, as prisões em massa, as valas comuns em todo o país, o roubo de recursos destinados ao campo, através do programa ‘Agro-ingresso seguro’ para enriquecimento dos aliados clientelistas do regime, as zonas francas para beneficio do bolso familiar do ex-presidente, os seguimentos ilegais do DAS, a extradição de seus aliados narco-paramilitares para garantir a impunidade, as mansões dentro das guarnições militares para hospedar os oficiais das forças armadas condenados por crimes de guerra e de Estado não amedrontam mais o nosso povo, como este já o reiterou em suas manifestações. Manifestações que vem crescendo desde o ano passado, e crescerão, como o clamor por justiça social que a nação exige, contra o continuísmo do uribismo representado pela ‘Unidade Nacional’ do presidente Juan Manuel Santos, seu neoliberalismo que propõe um modelo de enclave que dê garantias para as multinacionais mineiro-energéticas que aprofundará a crise humanitária que afeta o país e a crise do meio ambiente que assola inclemente à nação em cada mudança de estação, do diminuição e repressão das liberdades civis, do aprofundamento do conflito social e armado justificado em uma concepção de segurança nacional imposta por Washington e que fundamenta todas as formas de crimes de Estado que são aplicados na Colômbia, de impunidade à corrupção que permeia todos os níveis do Estado, como os cartéis da saúde estabelecidos pela lei 100”.

Hoje a Colômbia é um país putrefato, como afirma o COCE: “Os antivalores capitalistas têm desvirtuado as novas gerações na competição, o egoísmo, a corrupção, o crime, o dinheiro fácil, que têm sido exacerbados pela financeirização, o narcotráfico e a máfia, como os protótipos da vida que devem ser imitados e são injetados no inconsciente coletivo através dos grandes meios de desinformação de massas com filmes, telenovelas e todo o mundo do espetáculo. O imperialismo ianque transformou a Colômbia em uma colônia servil e é por isso é a maior potência militar na América Latina, com o propósito de intervir nos países vizinhos que avançam com governos democráticos populares. Não só temos as 7 bases militares gringas do escândalo, mas cerca de 30 bases militares onde quem manda são os gringos, além disso eles podem utilizar os portos, aeroportos e todo o território nacional para mover as tropas estrangeiras que quiserem. Hoje, a Colômbia é um país mais desastroso, empobrecido, injusto, dependente, vil e inabitável, do que há 47 anos.

No entanto, os dois grupos insurgentes apostam em uma solução política, como o firmam as FARC-EP:

“A violência nunca foi a nossa razão de ser, a violência nos foi imposta e é a característica principal de um regime decadente prospera nele. Que assassina os opositores para monopolizar o poder político e aumentar a corrupção ou alcançar reconhecimento dentro da estratificação da morte estabelecida pelo Ministério da Defesa, para recompensar os crimes de Estado e que, para eludir sua responsabilidade, os denominaram eufemisticamente de ‘falsos positivos’. Violência que deslocou mais de 5 milhões de compatriotas e fez desaparecer a mais de 19 mil colombianos, apenas nos 8 anos de governo Uribe, para o enriquecimento de industriais, agroindustriais, pecuaristas, grandes proprietários de terras envolvidos com o narcotráfico e militares”.

Nossa razão de ser é a paz da moradia digna; do desenvolvimento humano equilibrado; da educação gratuita em todos os níveis; da saúde preventiva para toda a nação; da reforma agrária integral que beneficie as comunidades camponesas, indígenas e afrodescendentes; do salário justo e do emprego garantido; da proteção integral do meio ambiente; a das garantias políticas para o debate e a participação nos órgãos do poder político; do pleno exercício dos direitos humanos integrais; a do respeito e garantias para as comunidades LGTV; a do reconhecimento pleno dos direitos de gênero; a do reconhecimento do aborto como parte substancial de uma sociedade que deve crescer em matéria de direitos e o direito à protesta e à mobilização social . E por esta paz apostamos tudo, até a própria vida, como o têm endossado generosamente centenas de combatente”.

Ou como afirma o ELN:

“A essência que move o conflito colombiano é a luta entre aqueles que estão ao lado das grandes maiorias contra uma minoria excludente que detém o poder e tem muito claros seus interesses e seus laços com o imperialismo global, inimigo obstinado dos povos”.

“Portanto, é essencial tomar partido, sem cair em sectarismos nem ser excludentes, mas não há dúvida que se deve saber de que lado se está na disputa. É urgente convocar e organizar um Acordo Nacional para a luta, com a força de todas as organizações populares, que elas sejam representadas pelos seus autênticos dirigentes e estes, aliados aos setores médios, saibam interpretar o interesse popular e da Nação, de tal forma que seja esta a essência desse Acordo. Não se pode ir mais longe se realmente se encarna uma posição política com um sentido de luta popular, de mudanças importantes e de uma perspectiva política e social, que projete um Novo Governo de Nação, Paz e Igualdade”.

As respostas do regime mafioso às propostas de soluções políticas para o conflito feitas pelas duas organizações insurgentes tem sido com uma política arrogante de terra arrasada, onde o culto da morte torna-se o eixo central de sua política genocida. Diante da morte de insurgentes, o governo não duvida um instante em posar para as fotos com as mãos ensangüentadas em um delírio macabro digna de sua estirpe, mesmo assim são os dois grupos insurgentes os que têm proposto ao país saídas que evitem a tragédia da guerra: “Nestes 47 anos de batalhas pela paz na Colômbia desde a resistência armada, ratificamos nosso compromisso da reconstrução e reconciliação da Colômbia bolivariana, da pátria grande e do socialismo, iluminados pelo pensamento unitário do Libertador Simon Bolivar. Porque a unidade e a paz são possíveis sim (FARC-EP declaração citada)”. “Hoje, as palavras de ordem de ‘unidade popular contra a oligarquia’, levantadas por Gaitan há mais de 60 anos e por Camilo Torres, os dois maiores dirigentes populares do nosso tempo, estão na ordem do dia. O ELN continuará a insurreição armada. Ao mesmo tempo que corrige seus erros, reafirma-se em suas convicções e espírito de luta. Reconhecemos o movimento popular de oposição que não desiste diante do Terrorismo de Estado. Acreditamos que as condutas repressivas e criminosas dos governos da vez somente desaparecerão quando a organização popular, em seu legítimo direito de se organizar e lutar, rompa as imposições dos seus inimigos. Juntamente com a luta firme e decidida do povo, o ELN dá muita importância à solidariedade dos povos e governos do mundo, em particular os do continente, em seu apoio rumo à justiça social, democracia e socialismo para os colombianos. (ELN, comunicado em www.eln-voces.com )

Após 47 anos de luta, as duas organizações insurgentes, em mensagens para o povo colombiano, confirmam: “Somos um patrimônio de luta e dignidade do nosso povo, somos a esperança libertadora, somos um exemplo de vida plena com os humildes. Nossas armas, firmeza e decisão de combate, pertencem ao nosso povo, porque somos parte de suas lutas e nossa razão de ser é defender os interesses populares. NEM ENTREGA, NEM RENDIÇÃO...SEMPRE JUNTO AO POVO, NEM UM PASSO PARA ATRÁS, LIBERDADE OU MORTE!”. (CCEO, 04 de julho de 2011, Montanhas da Colômbia). “Nestes 47 anos de batalhas pela paz na Colômbia desde a resistência armada, ratificamos o nosso compromisso com a reconstrução e reconciliação na Colômbia bolivariana, a pátria grande e do socialismo, iluminados pelo pensamento unitário do Libertador Simon Bolivar. Porque a unidade e a paz, sim são possíveis. (Estado Maior Central das FARC-EP, 27 maio de 2011: www.farc-ep.co )

A história da Colômbia não pode ser escrita sem lembrar a heróica luta de homens e mulheres que integram a insurgência colombiana, honra e glória para os companheiros e camaradas mortos em ação. Nestes 47 anos de resistência, os prisioneiros e prisioneiras políticas ocupam um lugar sagrado nesta emancipadora.

As duas organizações têm proclamado a unidade, a organização e luta como um bandeiras.


PELA NOVA COLÔMBIA, A PÁTRIA GRANDE E O SOCIALISMO
NEM UM PASSO PARA ATRÁS, LIBERDADE O U MORTE
TODOS COM TODAS POR UMA SOLUÇÃO POLÍTICA, UNIDADE, ORGANIZAÇÃO E LUTA