"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 28 de abril de 2008

Nós colombianos não somos prisioneiros nem seqüestrados da obediência a este governo



Sobre este e outros temas relacionados, como a troca de prisioneiros, a ilegitimidade do governo...

...e a crise estrutural do Estado, conversamos com o Comandante Iván Márquez, membro do Secretariado Nacional das FARC-EP.

Entrevista da ANNCOL e da ABP a Iván Márquez

Integrante do Secretariado das FARC-EP

Em primeiro de março, no território equatoriano, junto com vários combatentes de sua guarda e algumas pessoas que estavam visitando seu acampamento de paz, foi abatido o comandante Raúl Reyes, integrante do Secretariado Nacional das FARC-EP.
Poucos dias depois, em 7 de março, pelas mãos de um agente inimigo infiltrado nas fileiras do Bloco norte-ocidental, o Comandante Iván Ríos, também integrante da máxima instância executiva do Estado Maior Central insurgente, foi assassinado de forma atroz, ao lado de sua companheira.
É Indubitável que estes fatos suscitaram uma nova situação para o desenrolar da confrontação política, militar e social na Colômbia. No primeiro caso, gera comprometimento e desestabilização diplomática na região latino-americana e no segundo, como também ocorre no primeiro caso, atinge sensivelmente as estruturas de condução estratégica no seio da guerrilha mais antiga e experimentada do continente.
Sobre estes e outros temas relacionados, como a troca de prisioneiros, a ilegitimidade do governo e a crise estrutural do Estado, conversamos com o Comandante Iván Márquez, membro do Secretariado Nacional das FARC-EP.

Qual é o balanço que faz a Direção insurgente a respeito das lamentáveis mortes dos comandantes Raúl Reyes e Iván Ríos, tão festejadas pela oligarquia colombiana, no momento em que as FARC-EP, mediante gestos unilaterais e apesar da intransigência uribista, vinham mostrando sua grande disposição em chegar a um acordo de intercâmbio humanitário que abriria caminhos para a paz?

Foi um golpe muito duro que nos estremeceu até a alma. Tratava-se de dois comandantes muito valiosos, como o são todos os que combatem pela causa dos pobres da terra.
Dói que Raúl tenha caído quando buscava caminhos para a troca humanitária, a qual considerava degrau em direção à paz com justiça social. Com perfídia, Uribe aproveitou essa circunstância para planejar, com a colaboração dos Estados Unidos e de Israel, a cilada criminosa.
A morte de Iván ficará como exemplo histórico da degradação da guerra que rege as ações do Estado.
Cortar as mãos dos adversários abatidos… É a sevícia do regime colombiano, não de agora, mas de sempre, que também corta cabeças e desmembra suas vítimas.
O júbilo triunfalista das oligarquias durará apenas um instante. A inconformidade social está aumentando o volume de fogo de sua cólera.
A morte de Raúl, de Iván e de tantos outros, não é uma vitória do adversário: é uma miragem. As FARC não são um, nem dois, nem três, nem cinco comandantes, nem várias colunas… são o povo com ânsia incontida de vitória.
No dia do levante geral se poderá apreciar com nitidez que o povo está nas FARC e que as FARC são o povo em armas. Comandantes virtuosos nos campos militar e político, como Joaquín Gómez e Mauricio Jaramillo ocuparam o lugar dos caídos, garantindo um Estado Maior Central coeso em torno do Comandante em Chefe, do Plano Estratégico das FARC, da Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia…, e da bandeira de paz com justiça social, que tremula no topo da serra guerrilheira.
Nossos mortos vivem nos fuzis e no projeto político e social das FARC. Em suas tumbas depositamos hoje uma flor vermelha de arizá, das que só brotam nas montanhas rebeldes da Colômbia, a de Bolívar.
Venceremos. Haverá uma Nova Colômbia, Pátria Grande e Socialismo.

O Presidente da Colômbia, Álvaro Uribe Vélez, ofereceu garantias para que uma missão médica organizada pelo governo francês possa assistir aos prisioneiros de guerra nas profundezas da selva.
As FARC foram consultadas a este respeito?

Não.
É algo que estão montando sem contar com as FARC. O êxito de um empreendimento desta natureza não pode suscitar grande ilusão.
Uribe disse que garantia… garante o que?
Acaso é um porta-voz insurgente?...
Não faltava mais nada!
O homem designado pelo Secretariado das FARC para dialogar com a delegação do governo francês era o comandante Raúl Reyes.
Mas, como todos sabem, Raúl foi abatido num ataque militar dos governos da Colômbia e dos Estados Unidos em território equatoriano, violando flagrantemente a soberania deste país e a lei internacional.
Esta é a razão pela qual o governo francês não tem podido contatar às FARC. Em conseqüência deste astuto ataque fatal, não há hoje um interlocutor das FARC para tal.

Mas a Igreja católica instou o Secretariado das FARC a nomear rapidamente a substituição de Raúl Reyes…

Com todo o respeito; os insignes purpurados acreditam que isso é como soprar e fazer garrafas?
O que ocorreu com o assassinato de Raúl Reyes e Iván Ríos é de suma gravidade. Qualquer um entende que não se pode, nestas circunstâncias, nem atuar, nem exigir tão alegremente, como se nada houvesse ocorrido. As FARC não dançam ao som das campanhas midiáticas nem de mediações parcelares.
A diplomacia santanderista do governo de Bogotá mata enquanto sorri. Assassina nossos porta-vozes e em seguida diz que está disposto a conversar.
Sustenta que promove o acordo humanitário e ordena ao mesmo tempo o resgate militar, a fogo e sangue, dos prisioneiros na montanha.
Extradita guerrilheiros para os Estados Unidos enquanto exige que os três gringos aprisionados pelas FARC devam ser libertados.
Fala de humanidade e seu governo está montado sobre milhares de fossas comuns e massacres.
Ufana-se de sua “segurança democrática”, que é dos gringos, embora mais de 30 milhões de colombianos – do total de 44 - vivam na pobreza.
Pratica todos os dias o terrorismo de Estado e tem a falta de vergonha de adjudicar essa condição aos seus opositores.
É um governo tão mafioso como Don Vito Corleone e tem a descaramento midiático de qualificar aos guerrilheiros de narcotraficantes.
Não. Não. A opinião pública não é candura em flor, muito menos a guerrilha das FARC.
Deveriam ler com mais atenção as folhas da história do Exército do Povo, que ensina que, quando as FARC recebem ataques traiçoeiros como o de Casa Verde, o regime obtêm indefectivelmente uma resposta digna, de acordo com a gravidade dos fatos.

O ministro da defesa, Juan Manuel Santos, qualificou a agressão ao Equador como uma ação legítima de guerra e o comandante das Forças Militares, general Fredy Padilla de León, assegura que todo aquele que se reúna com as FARC se converte automaticamente em objetivo militar…

Aí está manifesto.
Eles atuam em consonância com o escritório que os gringos montaram na antiga zona do Canal de Panamá, para monitorar com as oito agências da inteligência americana as fronteiras da Colômbia com Venezuela, Equador e Panamá, na função de provocar e justificar um eventual conflito bélico entre nações, marca da estratégia geopolítica de Washington.
Com o que foi expresso pelo general Fredy Padilla de León, alguém pode se perguntar se teria dito o mesmo se, no lugar dos estudantes mexicanos e do cidadão equatoriano, estivessem reunidos com Raúl os delegados do governo francês.
É que eles, o governo e seus generais, acreditam que sua hipócrita luta contra o que chamam tendenciosamente de “terrorismo” justifica todos os seus desaforos e transgressões.
Quanto ao Ministro da defesa, Juan Manuel Santos, uma só reflexão: ele tem dito, com infinita arrogância, mas com o olhar fixo em 2010 e na Presidência da República, que se, por justificar o ataque bélico da Colômbia contra o Equador, o chamam “Falcão da guerra”, que o sigam chamando então “Falcão da guerra”.
O problema é que esse senhor0zinho da oligarquia não passa de um covarde falcãozinho atrás de um escritório, que nem sequer sabe que cheiro tem a pólvora. É dos que incitam à guerra mas não expõem sua pele na linha de fogo, como sim tem que o fazer os soldados e alguns oficiais subalternos.
Enquanto aparece sorridente ante microfones e câmeras com o “V” da vitória que não lhe pertence, e que não conseguiram, vão desaparecendo também de sua memória os militares mortos e os mutilados.
Mais do que falcão, tem a aparência e o vôo de um gavião caça-galinhas. Que o diga o país.

Os computadores apreendidos, segundo o governo da Colômbia, junto a Raúl Reyes, e resgatados de um demolidor bombardeio parecem mais ser um expediente de Bogotá e Washington para chantagear os governos da Venezuela e Equador e para atenuar a resistência dos povos de Nossa América às políticas imperiais… Pode se lhe dar alguma forma de credibilidade ao que estão difundindo como seu conteúdo?

A um governo mentiroso como o de Uribe Vélez não se pode lhe dar nenhum crédito nem aqui nem em Cafarnaum.
A mentira é a ponta de lança de sua asquerosa diplomacia. Daí seu total isolamento no concerto das nações latino-americanas. Por acaso terá um par de cúmplices, mas nunca terá amigos.
Mentiu quando falou em calor da perseguição no ataque ao acampamento de Reyes. Mentiu e continuou mentindo quando disse que a guerrilha dispara a partir do Equador.
Mente quando diz que as FARC recebem armas e dólares da Venezuela. Se tivéssemo-lo recebido – não tenho a menor dúvida - já teríamos derrubado mil vezes esse governo pútrido de Bogotá que se enfurece contra o povo através da “segurança democrática”, que efetivamente é uma “segurança invertida”, como o confessou o próprio Uribe na Guajira.
Mente quando diz que a assinatura do TLC será a redenção social da Colômbia, quando na realidade é o grilhão da escravidão moderna.
Não se pode acreditar num governo mentiroso e terrorista quando ele qualifica de terrorista a luta dos fracos.
O próprio Goebbels está instalado no Palácio de Nariño.
O que realmente deve gerar alarme na consciência ética de Nossa América é que ninguém diga nada ante a criminosa ajuda de Washington em milhões e milhões de dólares e em armas ao governo fascista e narco-paramilitar da Colômbia para incendiar o país com uma guerra injusta, como são todas aquelas que se propõe a opressão e o espolio.
Ao tribunal dos povos corresponde a missão de julgar essa política criminosa. Ao povo da Colômbia deve assistir o sagrado direito universal a levantar-se contra a opressão e a livrar-se do jugo que mantêm curvada a sua cabeça.
O governo de Bogotá se aborrece com Chávez por sua ousadia em desfraldar, em meio à tempestade da guerra dos poderosos, a bandeira da paz, porque ela arruína seus negócios.
Chávez é Nossa América às portas do novo Ayacucho. São Bolívar e seu projeto político e social que despontam nesta aurora, os quais temem as oligarquias e o império.
Lhes assusta Correa e sua imagem de dignidade que se agiganta ao lado de herói Alfaro e do Marechal de Ayacucho, iluminando o caminho aos povos do continente.
Pela paz com justiça social, pelo decoro e pela unidade numa Grande Nação de repúblicas, estamos dispostos a dar até a vida. E estas não são palavras ao vento.

Acredita ser necessária a revogatória do Congresso, por seu alto grau de contaminação com a para-política e a fraude eleitoral?

É que a dignidade não pode conviver com a ilegitimidade.
Os colombianos não podem ser prisioneiros nem seqüestrados da obediência a este governo.
Um poderoso grito social está fustigando, com suas faíscas de indignação, o céu da ilegitimidade das instituições. Por mais que Uribe expresse seu contundente desacordo relativo à revogatória do Congresso e clame, desesperado, pelo fortalecimento das instituições, porque sabe que se cai o Congresso, por detrás de seu estrondo deve cair também o Executivo infecto que governa.
Esta verdade, como o Sol, não pode ser tapado com uma peneira nem com mentiras. Uribe foi eleito Presidente da Colômbia com os mesmos votos que levaram ao Congresso os Senadores e Representantes da narco-para-política.
Uribe aí está graças à fraude eleitoral que armaram os para-militares e o DAS (Segurança do Estado) que obrigou as pessoas a votarem sob a ponta de fuzis e moto-serras e que pôs a sufragar até os mortos. A chamada institucionalidade colombiana fede.
Uribe e o Congresso devem renunciar porque seu mandato usurpado é ilegítimo e ilegal. A Colômbia necessita de um grande acordo nacional pela paz, a democracia verdadeira e a dignidade.
O chamado de nosso manifesto a reunir em um só feixe as forças da mudança, como nova alternativa de poder, deve abrir este espaço.
Que cesse a horrível noite.
A Colômbia merece um outro governo, que lhe dê a maior soma de felicidade possível.

Nas montanhas da Colômbia