"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 2 de abril de 2008

O “tenebroso terrorista”

Por Iván Márquez, integrante do Secretariado das FARC-EP/Colômbia

Aqui há um vivo! –gritavam na obscuridade. Mete bala nele! –respondiam. E logo os disparos... Assim atuavam as tropas de Uribe Vélez, o tenebroso terrorista internacional, fantoche dos Estados Unidos, ao consolidar a tomada do acampamento de Raúl Reyes. Vários dos feridos foram assassinados com tiros à queima roupa.

Às 00:25 do dia primeiro de março um míssil acerta com um estrondo o coração do acampamento que dormia. Não se escutaram aviões nem helicópteros. O míssil havia sido disparado pelos gringos da base aérea de Três Esquinas, em Caquetá. De sul a norte entraram as tropas terrestres que foram avistadas na área desde o dia 26 de fevereiro. Já não havia encontro com a delegação francesa para explorar a liberação de Ingrid. Haviam morrido Raúl Reyes, alguns de seus guerrilheiros e uns estudantes mexicanos de visita ao lugar. Como disse o comandante Manuel: “mataram Raúl, e feriram gravemente a troca de prisioneiros e a paz”.

O “Israel” da América do Sul –Colômbia-, o país receptor da maior ajuda militar e de milhões e milhões de dólares do governo de Washington na região, havia atuado seguramente, com o consentimento de seu amo, com satélites e a tecnologia militar de ponta proporcionada pelo governo dos Estados Unidos.

A indignante mentira da perseguição à quente não pôde resistir ao embate da verdade. Caiu por terra a primeira análise deixando clara a mais infame violação ao território, à soberania e à dignidade de um país-irmão. E como já haviam soltado seu veneno, tentaram e seguem tentando converter a nação vítima em culpada. Por isso ladram como cães em coleiras a soberania limitada, inaceitável sofisma e pretexto da Casa Branca para agredir e saquear povos, manobra precária que não servirá para encubrir a transgressão e a lei internacional em Nossa América. A resposta do Presidente do Equador, Rafael Correa, ao senho Uribe foi altiva e contundente: “sua insolência causa mais dano que suas bombas assassinas. Deixe de mentiras!

O mundo não poderá esquecer aquela tarde de Santo Domingo em que um enlouquecido Àlvaro Uribe cubria de impropérios Raúl Reyes, já morto, chamando-o de covarde e tenebroso terrorista, qualificações que mais servem para se referir ao terrorista com faixa presidencial, que em nome do narco-paramilitarismo que veio após os cartéis de Cali e Medellín, se tornou o Palácio de Nariño.

Seguiu-se à morte de Raúl e o posterior assassinato de Iván Ríos a mais irracional euforia triunfalista das oligarquias da Colômbia. O fascismo histérico –o mesmo que incita a lapidar mulheres extraordinárias como Piedad Córdoba- estremeceu o país comandado pelos Santos, gossains e arismendys. Vomitaram todo seu ódio e encheram o espaço eletromagnético de informações manipuladas, mãos decepadas, recompensas e traidores, ares de vitória e de incitações a “fumigar” a insurgência. Destaparam-se e lançaram-se com tudo, acreditando que estavam selando a vitória da batalha final. Seus mais terríveis agentes profanaram os cadáveres dos caídos com o mesmo método dos paramilitares com suas vítimas. Acontecerá com eles o que aconteceu com o oficial Monet, que tendo como certa a vitória nos campos de Ayacucho, com desmedido otimismo lançou-se com todas as suas forças a exterminar aos invencíveis de Sucre e de Bolívar.

Através de um microfone o Fiscal Geral Mario Iguarán exteriorizava seu mais absurdo dilema: enquadrar ou não como homicida o assassino do comandante Iván Ríos e sua companheira. E por outro lado o general Mora Rangel se gabava dos 400 mil efetivos das Forças Armadas oficiais comparados com os 50 mil do Equador e os 70 mil da Venezuela. A experiência dos soldados colombianos é maior, -dizia “estamos anos luz à frente até da Venezuela, pois nossos pilotos estão acostumados a combater à noite”. E talvez tenha razão, mas o problema de sua ligeira análise é que não inclui nela nem as FARC e nem os povos da Grã-Colômbia. As FARC livres para avançar não é um assunto ignorável, e muito menos so o fazem rodeado de povo inssurecto, decidido a sair da horrível noite da opressão.

Está se esquecendo que a Colômbia inteira é um barril de pólvora prestes a explodir. Uribe excluiu para sempre de seus discursos os programas sociais. Só fala de guerra e ódio e o faz a partir das guarnições militares, e da escola de polícia General Santander. Converteu suas Câmaras de Vereadores na tribuna da demagogia e o engano descarado à população. Anuncia que vai solucionar as necessidades mais sentidas da gente, mas daí não passa. Já são mais de 30 milhões de colombianos que vivem na pobreza. O alto custo de vida e o desemprego estão matando de fome as maiorias. Não há teto, não há saúde nem educação para elas. As terras despojadas não foram devolvidas aos camponeses, e mais de 4 milhões de deslocados continuam engrossando a miséria. Só há ganhos para os grandes investidores, objeto fundamental da “sacrosanta” política de Segurança Democrática imposta pelos gringos, como prolongação renovada da nefasta Dutrina de Segurança Nacional.

A violação à soberania do Equador foi outra das tantas cortinas de fumaça para tentar tapas todas as podridões e vergonhas reunidas de um regime que virou suas armas repressivas contra o povo. Buscam encobrir os irrefutáveis vínculos do senhor Uribe com a narco-para-política que desonra o nome da Colômbia. Que ninguém questione como pode seguir sendo presidente um homem cujos principais apoiadores estão atrás das grades por seus escandalosos nexos com a narco-para-política. 90% dos congressistas acusados são uribistas. O Vice-presidente e o Ministro da Defesa, os senhores Santos, não podem ocultar seus rabos presos de paramilitares. Os mesmos chefes paramilitares denunciaram que financiaram com maletas repletas de dólares as campanhas presidenciais de Uribe. Não se pode ocultar a trajetória de delinqüência do senho Uribe no narcotráfico. Está metido até o pescoço desde que atuou como diretor da Aeronáutica Civil, cargo que aproveitou para autorizar Pablo Escobar Gaviria a criação de centenas de pistas clandestinas na selva, de onde o chefe inundou de cocaína as cidades estadunidenses.

É este que Bush e Rice dizem apoiar como Presidente democrático e paladino da justiça social? Será que já se esqueceram que ele chegou à presidência, além de tudo, diante de uma gigantesca fraude eleitoral, montada pelos paramilitares e o diretor do DAS? Que diga este “presidente democrático” onde estão os 11 prisioneiros que tirou do acampamento de Raúl Reyes, hoje desaparecidos. Que responda pelos massacres e as milhares de valas comuns que seu governo criou, pelos mais de 150 mil cidadãos presos por suas ações fascistas. Que responda pelo assassinato de dirigentes sindicais e populares, pela extradição aos Estados Unidos de mais de 600 cidadãos, renunciando à soberania jurídica do país na mais estarrecedora submissão à uma potência estrangeira. Não pode ser um governante democrático quem envia suas hordas paramilitares a Venezuela para assassinar um Presidente, ou quem se cala diante do assassinato de vários dos organizadores da grande marcha de 6 de março contra o terrorismo de Estado. Na realidade, Uribe é um “tenebroso terrorista”. O terrorismo de Estado é sua prática cotidiana.

As convulsões da Colômbia de hoje são o sinal de que estamos no início de uma nova era. América está voltando à era de Bolívar. É a hora da luta dos povos e a solidariedade. Nos aproximamos de um momento histórico importante no qual os povos serão os protagonistas da mudança após 500 anos de opressão e espoliação. Não se pode vacilar nesse momento. Essa corja de bandidos santanderistas, neoliberais e pro-yankees não vai desativar a resistência popular com sua subjetiva e alegre arrogância triunfalista.

Os povos da Grã-Colômbia devem marchar contra esse fantoche fascista de Washington, contra os falcões histéricos que gritam ameaçadores sua doutrina fascista sobre os povos de Nossa América, ajudados pelo Comando Sul.

Colômbia precisa de um levante popular pela pátria, pela solução política do conflito, contra a fome, contra a guerra, pela paz, por um novo governo, pela democracia popular e soberania do povo. Queremos a pátria que Bolívar queria, não a que fizeram Santander e o então Secretário de Estado Henry Clay, um novo governo que aborde a busca urgente pela paz com justiça social que dê ao nosso povo a maior soma de estabilidade política e felicidade; que empunhe a bandeira bolivariana de construir nesse hemisfério uma grande nação de repúblicas, que seja “escudo de nosso destino” e garantia inalienável de respeito e dignidade.

Montanhas da Colômbia, 20 de março de 2008