"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 2 de abril de 2008

"Teu cadáver pequeno de capitão valente extendeu-se ao imenso sua metálica forma" CHE.

"Teu cadáver pequeno de capitão valente extendeu-se ao imenso sua metálica forma" CHE.

Jesús Santrich e Rodrigo Granda/Especial para ANNCOL


Com o símbolo da resistência, com a imagem de Manuel Marulanda em seu peito, Raúl Reyes caiu abatido nos confins da selva da Nossa América. Onde? Têm nos perguntado se foi na Colômbia ou no Equador. Caiu na Pátria Grande, dizemos, porque para um genuíno bolivariano as fronteiras traçadas sobre a terra da Awy Ayala não são nada além da maldade anti-bolivariana que pouco a pouco temos de arrancar pela raiz para que logo frutifique o sonho de unidade do Libertador.


Raúl veio ao mundo no seio cálido e tranqüilo de um humilde lar huilense. Em setembro de 1949, no município de La Plata, nasceu Luís Eduardo Devia Silva, que era seu nome de batismo.
Passou seus anos de juventude entre o estudo e a militância política revolucionária. Desde cedo, e por sua alta sensibilidade social, vinculou-se à Juventude Comunista Colombiana, onde foi forjando sua consciência de classe e recebendo formação ideológica humanista ao lado de seus companheiros nas fileiras.


Assim que se graduou como técnico com especialização agropecuária e com alguns conhecimentos como contador vinculou-se como empregado de uma reconhecida empresa transnacional de produtos lácteos, na qual desenvolveu um intenso trabalho em defesa dos interesses dos operários. Como dirigente sindical ganhou o apreço de seus companheiros mas também o ódio dos patrões.


Luís Eduardo Devia Silva e o Raúl Reyes, então são o retrato do homem operário, sindicalista..., lutador que assumindo a causa altruísta dos desfavorecidos se faz guerrilheiro e assume o combate pelos pobres da terra até as últimas conseqüências. Assim caiu nosso camarada, como insurgente comunista de pátria ou morte sobre o bendito solo dos filhos de Bolívar derramando seu último suspiro de vida sonhando com a emancipação dos povos.


A partir dessa nova La Higuera, desde aquela inóspita Santa Rosa de nossas selvas, desde aquele emaranhado de bosques guerrilheiros em que se verteu seu sangue e o de seus companheiros, a resistência, a indignada força contra o fascismo e a opressão, palpita sem que possa haver quem a detenha. Com o vermelho de seus semblantes abatidos, a semente do valor germina para dar o fruto da honra multiplicada, o fruto do homem com seus sonhos, o fruto dos povos em seu assomo de gritos de vitória redimidos.


Ao lado dos seus, aqueles partidários da rebeldia, da teoria e da prática redentora, sem dúvida alguma a fé nos oprimidos era o credo de certeza na vitória. E todo o histórico de luta do Comandante pôde confirmar-lhe que o potencial de emancipação só os oprimidos que possuem.

Em sua época de trabalhador, a atividade trabalhista levou-lhe às férteis terras do departamento do Valle Del Cauca e logo ao rico e belo Caquetá. Este último departamento foi transitado por Devia também naquelas memoráveis campanhas políticas nas quais os setores revolucionários haviam propiciado algumas alianças com setores liberais como o que conduziam Luís Carlos Galán Sarmiento e Rodrigo Lara Bonilla, entre outros. A busca pela abertura democrática era um propósito fundamental na qual ele decidiu empenhar-se a fundo, contando também com a companhia de Luciano Marín Arango, no desenvolvimento da chamada Frente Democrática, que incluía os comunistas e o Novo Liberalismo, em uma tentativa de encontrar opções de mudanças favoráveis ao povo, dentro de um ambiente de amplitude, pensando sempre na necessidade da unidade nacional e na paz da Colômbia, que no fundo era a essência do projeto pacificador que mais à frente assumirá a União Patriótica a partir do seu surgimento. Naquele momento Luís Eduardo havia sido eleito vereador do município de Paujil.


Posteriormente o candidato presidencial Galán Sarmiento e o ex-ministro Lara Bonilla seriam assassinados por espécimes pertencentes à esse mesmo gênero de criminosos que hoje formam a narco-parapolítica colombiana. Por sua parte Luciano Marín foi para a montanha; como Iván Márquez, incorporou-se à luta armada e no seio das FARC-EP que era a única opção que a guerra suja lhe deixava, cada vez mais encaminhada contra os que queriam uma mudança democrática para a Colômbia.


Em sua época de militante comunista dentro das fileiras do Partido, Devia tornou-se parte do Comitê Central, espaço que seguiu desempenhando combinado com seu trabalho político, sindical e o da representação popular que havia assumido, deixando sua marca como efetivo e meticuloso organizador, que de uma ou outra maneira seguia mantendo até a sua morte. Mas também as circunstâncias de repressão e guerra suja não o deixam outra alternativa senão a da luta armada. Não obstante, a persistência no ideal da paz levam as FARC e um conjunto de organizações democráticas a tentar novamente esse caminho com a fundação da União Patriótica que como projeto político de pacificação foi também afogado por uma nova orgia de sangue desatada pelo regimes desde meados dos anos oitenta e que cobraria a vida de cerca de 5000 militantes upecistas.

Assim como centenas e milhares de militantes revolucionários, Devia sofreu com a hostilidade criminal dos órgãos de segurança do Estado. Mas esta não era uma situação nova para ele; já tinha experiência desde o período presidencial de Julio César Turbay Ayala (1978-1982), quando sentiu na pele as atrocidades do sinistro "Estatuto de Segurança" que legaliza a tortura e o desaparecimento de lutadores populares. Luís Eduardo salvou sua vida em vários atentados, escapou de diversas tentativas que tinham o propósito de desaparecer com ele..., até que a hostilidade foi tal que não teve outro caminho senão ingressar nas colunas guerrilheiras, diante do acossamento da ditadura turbayista. A decisão de vincular-se às FARC leva-o à necessidade de separar-se de Hilda, sua companheira, e de seus pequenos filhos, Robspierre e Lida. Já na década de oitenta quando ele transita pelas trilhas da selva com o nome que toma para enfrentar a nova etapa da guerra de resistência como Raúl Reyes.


Sem dúvida nosso camarada será modelo para configurar o guerrilheiro heróico do Século XXI. Um guerrilheiro coletivo, real, desses que os oligarcas só poderiam admitir como mito impotente, como româtico ideal que nã consegue derrubar sua opulência. Esse guerrilheiro do século XXI que representa a vida e a obra de Raúl Reyes é o símbolo do renascimento da utopia que está em desenvolvimento com a potência da resistência que vai, que anda, que avança com a certeza de que cada passo dado é um avanço que a morte não apagará.

Para os revolucionários de hoje, tudo o que a oligarquia tente para sujar a imagem do insurgente, só será lixo que os condene. Porque nada poderá ocultar as razões que motivam a rebeldia dos guerrilheiros das FARC em sua ascensão rumo ao objetivo do homem novo, avançando na conquista da revolução colombiana, gran-colombiana, da Nossa América..., bolivariana. Porque acontece que, nossos combatentes, como é o caso de nosso Raúl Reyes, são cada um e em conjunto a perseverança de todo o povo em armas contra toda claudicação e são, também, essa persistência que se engrandece quando a alma se move inspirada nos sonhos de Pátria Grande do Libertador.


De onde vem o ódio da oligarquia colombiana a Raúl Reyes? De onde vêm as ofensas das grandes cadeias transnacionais de desinformação que o ultrajam como querendo tirá-lo da memória em sua condição de lutador valente, ou de guerreiro da esperança?... Pois Raúl era sinceramente um combatente, um modesto soldado do povo oprimido e por isso sempre maltratado, que ao blindar-se de corpo e alma na nossa causa que é a que identifica o povo simples, torna-se, para o opressor, tão perigoso que o querem morto; e é daí que vem o ódio dos opressores, nesse mesmo aspecto que é o amor dos oprimidos.


A entrega de Raúl e os seus à causa dos pobres, a alta disciplina, o talento intelectual, o companheirismo e sobretudo o absoluto e profundo amor ao povo fazem o quadro dos revolucionários integrais, nos quais o que mais reluz é a capacidade de entrega generosa, que para o caso do Comandante havia se dado de presente com um virtuosismo que é precisamente o mérito que o colocou no posto de Direção no Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP, que ocupou até o dia de sua queda. Esse é o estandarte que o conjunto dos combatentes preservam, nos quais, em sua praxe revolucionária, vão a vanguarda do sacrifício pelos demais.
Como combatente Raúl ajudou na criação de várias Frentes Guerrilheiras, e com seu exemplo e ensinamentos contribuiu na formação de múltiplos quadros e novos militantes. Em cumprimento dos planos, para ir executando o deslocamento estratégico da força, pôs todo o seu empenho para contribuir na fundação do poderoso Bloco Sul de nosso exército insurgente.


Durante o mandato de Belisario Betancur (1982-1986), Raúl participou dos diálogos de paz com o governo nacional e é um dos assinantes dos acordos de "Cessar-fogo, Trégua e Paz", assinados em Casa Verde, município de Uribe, Meta, entre o governo e a insurgência. Como conseqüência desses acordos é que surge a União Patriótica, que seria exterminada à sangue e fogo pelo Estado colombiano, no maior genocídio político lembrado na história recente da América Latina, frustrando assim, mais uma vez, as possibilidades de paz para a Colômbia.


Era Raúl um homem de pátria ou morte, de causas insubornáveis, de integridade e de lealdade à toda prova. Um homem que sofria como prórpia a dor alheia, que se sentia pelas penas de toda a América e tornava sua cada intenção de emancipação de cada povo por mais remoto que fosse. Com a inocência de uma criança às vezes, o entusiasmo que empregava em casa causa lhe fazia vulnerável, mas sobretudo quando as tentativas de paz requeriam seu empenho particular. Mas assim era ele, um construtor de utopias, um passageiro do impossível, um convencido da necessidade da luta pela liberdade tanto como da necessidade da paz no socialismo, ou ao menos nas elementais condições de justiça que brindaram sequer o pão para matar a fome enquanto com paciência e tenacidade foi fazendo a longo prazo a construção do ideal do Libertador. Esse era Raúl Reyes, e não esperemos que o digam os oligarcas, os imperialistas..., porque raro seria em momentos de fascismo e de exacerbação imperialista sobrar algo de dignidade e espiritualidade neles que lhes permita reconhecer seu adversário.


Durante a VIII Conferência Nacional de Guerrilheiros das FARC-EP, foi criada a Comissão Político-diplomática de nossa organização guerrilheira, e ele foi eleito como seu responsável. Raúl, então sob o mando de um punhado de guerrilheiros se entrega à tarefa de tornar as FARC conhecidas no mundo levando a proposta de paz com justiça social e as denúncias sobre o terrorismo de Estado que assola a Colômbia.


Com a solvência de um hábil mensageiro da paz, põe em xeque as posições guerreiristas dos governos no exterior. É a raiz desse trabalho que se conhece, então, como O Chanceler das FARC.


Em sua missão é recebido por chefes-de-Estado e de governo, chancelarias, personalidades, ONG´s, representantes do mundo acadêmico, etc... em três dos cinco continentes.


Em 1999 é nomeado negociador das FARC-EP frente ao governo de Andrés Pastrana Arango (1998-2002) no cenário colombiano que ficou conhecido como "Área Desmilitarizada", oi "Zona de Despejo", de San Vicente Del Caguán. Então, outras qualidades políticas e humanas se mostram no comandante, que mostra uma paciência inesgotável para escutar e debater, com prudência suficiente e firmeza revolucionária nessa trincheira na qual se converteu a mesa de negociações. Com um semblante imperturbável nos momentos de dificuldades, era seu costume caprichar os momentos álgidos da discussão com amplos sorrisos muito naturais com os quais às vezes deixava sem graça à contra parte (os representantes do governo) na medida em que sua afabilidade brotava ao lado de suas posições firmes, quando se tratava de defender os interesses populares.


Desde o Caguán, a imagem de Raúl Reyes, como nunca antes havia sido conhecida, saltou para os principais noticiários da televisão, jornais e revistas do mundo inteiro. Seu rosto se fez familiar para colombianos e estrangeiros..., e tinha pouco a ver com o que exteriorizavam os meios; ou seja, os argumentos absolutamente favoráveis ao povo que sempre tecia, como o subsídio ao desemprego, a redefinição salarial em benefício dos trabalhadores, a discussão às políticas neoliberais que permitissem chegar a conclusões que pagassem a crescente miséria na qual se afundavam nossos compatriotas, a erradicação definitiva do problema do narcotráfico mediante um programa de substituição e legalização desenhado pelo comandante Manuel. Enfim, posições que permitissem chegar a alcançar a paz instaurando a justiça social. Mas o regime não ceder, não privar os oligarcas de seus excessivos privilégios. Em conseqüência os diálogos foram rompidos abruptamente, ativando uma operação de aniquilamento que chamaram de Operação Thanatos, o Anjo da Morte, que foi com a qual assassinaram outra opção de paz. O que seguiria seriam anos de aplicação do plano colonialista de Washington, para cuja execução haviam estado fazendo uma re-engenharia da força. "Plano Colômbia" chamaram essa nova aventura guerreirista que o disfarce de um plano social desatou uma operação militar de grande envergadura conhecida como Plano Patriota. Pastrana iniciou a re-engenharia e a instalação do Plano e Uribe a continuou com toda a sanha de seu particular caráter vingativo. Desde então e já no desenvolvimento do segundo período de governo do narco-paramilitar presidente Uribe, as FARC têm resistido e derrotado o plano Patriota, assumindo o que se conhece como Plano Consolidação; ou seja, terra arrasada contra o povo e avanço militarista para fazer da Colômbia a ponta de lança que permita proceder contra o continente.


Raúl não temia os riscos que implicava a tarefa para a qual o Secretariado havia lhe designado. Tornou-se o nome mais vulnerável de nossa Direção, sem dúvida, porque para tornar conhecida essa respeitável organização, deveria correr o risco de cair nas armadilhas que são colocadas, às vezes pelos mesmos que solicitam, ou dizem estar gerando garantias para propiciar os contatos. Havia uma experiência e ele o sabia. Muitas vezes a Direção guerrilheira foi atacada à sangue frio quando se tentava uma busca de relações para iniciar alguma tentativa de paz. Mas, porque se tratava de um mandato, de um dever e de uma convicção, ele havia decidido correr o risco. E mais, ele havia assumido o risco o tempo todo. Mas em grande medida sentiu-se confiante... ; ele tinha a tendência à confiança, mas não como um assunto de improvisação ou de descuido, mas como um assunto de suas convicções; deveria começar a confiar para poder abrir um espaço de aproximação, dizia. Era como parte de uma íntima doutrina essa forma de pensar, e seguramente aquilo que já era parte de sua forma de ser se derivava de sua absoluta entrega à busca por um caminho de reconciliação, mesmo nas piores circunstâncias da confrontação.


Para os combatentes, sempre desconfiados por conhecerem a maldade e a traição com a qual o inimigo atua, a entrega de Raúl à essa tarefa poderia ter o sino da desventura ou de uma tragédia na pessoa a qual estimavam e na qual confiavam por sua experiência enorme, mas que consideravam crédulo demais por ser tão bondoso e tão entusiasta. Mas não, tanta demasia em seu convencimento não tinha fonte na ingenuidade e sim no convencimento que se fundia com o anseio de paz e a abnegação que como revolucionário imprimia à tudo. Não há nada em seus atos que não deva ser ligado com a sua certeza na revolução continental e na paz com justiça que favorecesse aos oprimidos, quando, já sem opressores, pudessem buscar a liberdade.


Para ele, efetivamente a Pátria é a América. Se solía perguntar quando poderiam acabar as fronteiras; se sentia tão equatoriano como colombiano, tão venezuelano como peruano, tão boliviano como argentino, tão de todas as partes que seguramente deve estar rindo da discussão inócua se ele estava ou não do outro lado da fronteira, mas quando sua gestão não era ofensiva, e sim de paz e busca incansável por saídas ao conflito colombiano, porque era propulsor também, ainda mais, do respeito à política de fronteiras promulgada pelas FARC na Oitava Conferência Nacional: não está permitido fazer operações ofensivas fora da Colômbia.

Ultimamente, o Secretariado lhe havia dado a missão de aprofundar, acentuar, sua busca de contatos pela paz; no dia 29 de fevereiro do presente ano, Raúl Reyes, por ordem da Direção guerrilheira, deslocou-se juntamente com sua guarda pessoal para atender um encontro com delegados do governo francês que preparariam as condições de uma possível reunião entre o Comandante guerrilheiro e o Presidente dessa nação, Nicolás Sarkozy, tratando de dar solução definitiva ao caso de retenção política da cidadã franco-colombiana Indrid Betancur, e cuscar nesse marco uma nova alternativa para iniciar um diálogo de paz duradoura. Para tal propósito o comandante Raúl havia improvisaco um acampamento de trânsito, como são todos os acampamentos guerrilheiros, que permitisse em condições mais ou menos tranqüilas atender à importante e delicada gestão que incluía também a atenção a outros emissários e pessoas do continente que desejavam conhecer a realidade da confrontação do ponto de vista da insurgência. Umas semanas antes, o comandante havia feito diligências em outro país de onde vinha se deslocando pela linha sul da fronteira brasileira-peruana-equatoriana- da Pátria Grande, até chegar a Santa Rosa, localidade que fica na província equatoriana da Nossa América. Chegou até ali com suas tropas, e nesse lugar a morte o alcançou, dormindo, enquanto descansava após receber estudantes e acadêmicos que haviam conseguido uma entrevista após esperaram vários dias. O comando militar do Comando Sul dos Estados Unidos, com suas tropas e com lacaios do exército colombiano, mediante uma obscura operação de guerra, por ar, água e terra, fizeram o assalto ao acampamento. Assim, às 00:25 horas do dia primeiro de março, começou a orgia de sangue na qual o império e seus lacaios aniquilaram quase completamente todos que se encontravam naquele acampamento de paz.


Ele estava ali, à espera dos contatos, pois como sempre assumiu a tarefa com toda sua determinação, e não podia ser então o Putumayo nem nenhuma pedra no caminho o limite para seus empreendimentos.


Raúl Reyes havia sido destacado também para que atendesse a muitos companheiros e companheiras que a partir de distintas partes do continente enviavam mensagens para discutir sobre possibilidades de paz para a Colômbia. Tarefa que não lhe surpreendia, pois ele era quemmais manifestava que era necessário escutar e avaliar as opiniões dos que no continente e na Colômbia se preocupam com a nossa situação de guerra e com nosso futuro, que ultimamente tornou-se um fator de muito peso na definição do destino da América Latina e O Caribe. E claro, devia fazê-lo na clandestinidade, para preservar os que desejam a paz, da violência criminal da injúria imperialista que deseja manter a confrontação como a desculpa para assegurar a premanência bélica na região.


Raúl havia dito em alguma entrevista, que era provável que ele ou qualquer integrante do Secretariado morresse na tentativa de busca pela paz, mas que no desenvolvimento mesmo da guerra...; Seja como for, aspirava que, se isso acontecesse, que então estivesse bastante aberto o caminho, ou bastante acumulada a experiência para que outros sigam adiante com tão elevado propósito. E o certo é que sua partida assim, dessa maneira infame como os inimigos dos pobres o propiciaram foi um atentado que – como o indicou o Secretariado- matou ele e ao mesmo tempo feriu mortalmente a dinâmica alcançada na dura luta pelo intercâmbio humanitário de prisioneiros de guerra, que sem dúvida era um passo essencial para buscar o diálogo pela paz. Mas, por outro lado, "por bem ou por mal", como diria um amigo muito próximo, aí está a prática que deverá nos aconselhar sobre os passos que devemos dar.

A causa de Raúl tem milhares e milhares de apoiadores: é de um valor inestimável a solidariedade expressada por amigos, simpatizantes, e pessoas desconhecidas que deram reconhecimento ao importante papel desse pequeno capitão na condução do valoroso Exército do Povo. De tal maneira que ainda há de sobra quem possa continuar o caminho. Disso não há dúvida, assim provam-se errados mais uma vez os gritos da morte e a tragédia nacional se acreditam que esse assassinato é o que poderia colocar em xeque as FARC-EP. Aqui ninguém se rende nem se amedronta, porque a luta que temos abraçado é um compromisso de pátria ou morte por tudo o que defendia e fazia Raúl: a denúncia das injustiças disseminadas pelos oligarcas; a luta contra a guerra suja desatada pelo regime terrorista; sua batalha ao lado de pessoas mais humildes, por seus direitos e necessidades mais sentidos. Ou seja, a entrega absoluta à busca pela paz sem restrições. Para isso se encontrava com muitos altos funcionários do Estado assim como com múltiplos homens preocupados da cidade e do campo de quem buscava as idéias que constituíam seu potencial moral de firme revolucionário, já levantando a voz pelos prisioneiros do império, por Sonia, por Simón, pelos cinco cubanos, por Victor Polay, por Múmia..., por nossos prisioneiros nas mãos do regime; pelos deslocados, os desaparecidos e os explorados.

Esse é o significado de Raúl, esse é o ideário e a voz rebelde, justiceira, que odeiam os oligarcas que o difamam e o maltratam ainda depois de morto. Quem sabe por o sentirem mais vivo que nunca. Isso é o que torna-o proibido, isso é o que o faz indesejado, isso é o que o fez perseguido, mas pelos de cima.

A palavra e a prática de Raúl Reyes, por tudo que ela significava, suscitava a ira de Uribe Vélez, ou seja, do fascismo. De tal maneira que, para continuar avançando, não poderia ser de outra forma senão na clandestinidade, nas trilhas da selva ou nos caminhos do cyber-espaço, falando ao mundo com a mensagem que os opressores desejavam ocultar; quebrando cercos, fugindo das perseguições, inventando caminhos, cruzando rios, desfazendo fronteiras, atuando clandestino, resistindo!... Sempre disposto a cair abatido se necessário fosse para seguir enaltecendo a causa da paz digna.

Não inquietavam Raúl as inverossímias acusações e afrontas difamadoras. Com mais entusiasmo reiniciava seus trabalhos cada dia, imbatível como militante comunista bolivariano..., como bom homem, leal, sacrificado, sempre avançando até esse céu que continuará buscando nesse momento que por incrível que pareça não é mais que a crise que antecederá grandes definições a favor dos oprimidos, com o detalhe de que (para a tristeza da oligarquia e o império), Raúl, ou melhor, Raúls, haverão aos montes. Com segurança o exemplo desse comandante como revolucionário é um dos exemplos a serem seguidos pelo mundo caminhando rumo à felicidade sem exploradores nem explorados.

Raúl seguirá na trincheira da Pátria Grande, com uma arma de amor para os pobres, com essa arma que é o ideário bolivariano, revolucionário, ajudando de alguma forma, com a paciência e o cuidado que requer a guerra de resistência diante de tantas infâmias dos opressores.

Não esperemos que por estas ações os inimigos, os fascistas, batam palmas ou cantem hinos... Não, e se isso ocorresse deveríamos estranhar, pois seria algo suspeito. Aos revolucionários nos bastam os coros de amor dos oprimidos, esses cantos de amor que aterrorizam os terroristas do nêutron e da moto-serra.