Colômbia, nós te aguardamos
Eron Bezerra *
Ainda não foi nesse último domingo de maio que o povo colombiano pode conhecer seu novo presidente. Vai ter que aguardar o segundo turno, no dia 20 de junho, para enfim conhecer qual será o papel da Colômbia nesse novo cenário geopolítico em construção.
O resultado até agora apurado contraria todas as pesquisas eleitorais, o que leva a oposição a legitimamente questionar se tal resultado não decorre de fraudes. O primeiro turno foi polarizado entre o candidato governista Juan Manuel Santos (46,58%) e o oposicionista Antanas Mockus (21,47%), os quais estavam em empate técnico até as vésperas da eleição, o que reforça essa suposição.
O segundo turno ocorrerá graças ao desempenho dos demais candidatos, o que impediu o candidato de Uribe de obter 50% + 1 dos votos válidos, conforme preconiza a legislação eleitoral colombiana e também a brasileira.
Germán Vargas Lleras, do Mudança Radical, foi o terceiro (10,14%); Gustavo Petro, do Polo Democrático Alternativo, obteve 9,16%; Noemi Sanín, do Partido Conservador Colombiano alcançou 6,14%; e Rafael Pardo, do Partido Liberal, fechou a lista com 4,37%.
O que está em discussão na Colômbia, entretanto, é muito mais do que uma mera disputa entre dois nomes, ou mesmo entre situação e oposição. O que o povo colombiano vai deliberar é se continua como satélite do governo americano e se permitirá que seu território continue sendo base de operação do exército americano para intimidar os seus vizinhos latinos ou se dirá um basta a isso e buscará o caminho já trilhado por praticamente todos os demais países da América do Sul.
O voto no governista Juan Manuel Santos significa dizer sim a essa política, a política até então levada a cabo pelo governo de Álvaro Uribe, de quem Santos era o Ministro da Defesa; o voto em Antanas Mockus, do Partido Verde, sinaliza se não uma ruptura radical com essa política, a busca de uma alternativa, baseada no diálogo em busca da paz num país dilacerado por mais de 50 anos de guerra e que, objetivamente, vive em estado de beligerância.
Para o Brasil e para nós da Amazônia em particular o resultado das eleições colombianas tem grande importância, tanto porque estamos aguardando há muito tempo pelo Colômbia nessa mesa que busca o consenso e a paz pelo diálogo e não pela força bruta que, em última análise não tem resultado em soluções que garantam a paz e a tranqüilidade aos cidadãos colombianos.
Ademais, no caso do Amazonas, temos fronteira com a Colômbia por uma enorme extensão, que vai do alto Solimões, na região de Tabatinga, até o alto rio negro, na região de São Gabriel da Cachoeira.
Os colombianos são nossos irmãos e nós os esperamos ansiosos para a busca da paz e da concórdia e de um desenvolvimento sustentado. Até 20 de junho.
* Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual, Membro do CC do PCdoB, Secretário Nacional da Questão Amazônica e Indígena.