"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 29 de junho de 2010

O futuro do Brasil em jogo

A candidata governista Dilma Rousseff começa a se impor ao candidato da oposição José Serra na disputa pela sucessão presidencial de Lula

Cecilia Escudero
Revista Debate



De espírito ineludivelmente futebolístico, no Brasil respira-se certo o ar de intervalo político, onde suas eminentes figuras reúnem-se com os seus, pensam e planificam as próximas estratégias.

Uma situação consagrada pelo impasse causado pelo magnetismo da Copa do Mundo na África do Sul, quando os candidatos presidenciais preservam-se para aparições significativas, enquanto nos bastidores, refinam as suas respectivas táticas, sabendo que o jogo que adotarem no futuro será, simplesmente, determinante.

No entanto, oficializado o começo do que se prevê ser uma campanha eleitoral muito ativa, a disputa a ser resolvida não é menor: trata-se da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente que bate recordes de popularidade, dentro e fora do gigante sulamericano.

Segundo o cenário prognosticado pelas últimas pesquisas, para os comícios presidenciais de 03 de outubro, o duelo eleitoral já tem dois contendores garantidos.

Alguns pontos a mais ou a menos, as últimas pesquisas indicam que a candidata de Lula, a candidata do governista Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, começou a prevalecer sobre o adversário José Serra, do Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) (40 e 35 por cento de intenções de voto, respectivamente).

Desta forma, as duvidas geradas por uma terceira candidata na disputa, a ecologista Marina Silva, virtualmente desapareceram. Marina, dona de uma imagem de prestígio entre os brasileiros, mas que por ora, apenas arranha dez por cento das intenções de voto. Ainda assim, a representante dos verdes – ex-militante do PT , e ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula – tentará, no futuro próximo, quebrar a forte polarização, com a intenção de cooptar o voto da juventude, costurando suas preocupações sobre o meio ambiente.


Consagração

A escolha de Rousseff como candidata oficial, na última convenção do PT, não poderia ter chegado em melhor hora. Acontece que, até recentemente, a ministra da Casa Civil – Chefe de Gabinete – aparecia bem atrás do seu principal rival.

No mês de Abril, a candidata ainda estava com uma desvantagem de dez pontos, uma equação que não conseguia dissipar as vozes críticas de alguns papas do partido governante, aos quais a “escolhida” do presidente não agradava. Em contrapartida, o virtual empate entre os candidatos revigorou a figura de Rousseff e engrossou os apoios partidários através de todo o país.

O ponto de virada para a escalada da candidata foram as suculentas manobras do seu hábil mentor, alguns artifícios que valeram a Lula ser multado quatro vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral, por propaganda eleitoral antecipada.

Como se tratasse-se de uma poção infalível, Lula não sucumbiu em sua tentativa de acrescentar, cada vez mais, pequenas doses de seu grande carisma e popularidade para a candidata, mais bem famosa pela rigidez de seu caráter e um marcado perfil técnico.

Para explicar melhor a ligação entre eles, o líder brasileiro chegou a dizer, brincando: “Me chamarei Dilma Rousseff”, nos comícios futuros quando o nome de Lula da Silva não apareça nas cédulas eleitorais, pela primeira vez desde 1985. Sugestiva, a frase despertou uma maratona de comentários entre os principais analistas políticos do Brasil.

O influente blogueiro político Ricardo Noblat lembrou: “Lula não tinha outros nomes para substituí-lo, após a queda de José Dirceu, seu chefe de gabinete, e Antonio Palocci , Ministério da Fazenda”.

Certamente, há algum tempo atrás, ambos os políticos se apresentavam como os candidatos com mais chances de substituir o ex-torneiro mecânico. Mas o jornalista indicou que, tanto a então mão direita de Lula como “o mago das finanças” sofreram uma franca queda após os escândalos de corrupção que abalaram o governo em 2005. Implacável, o blogueiro continuou: “Além disso, havia outros potenciais candidatos, mas Lula escolheu Dilma, uma petista recente e sem experiência eleitoral. E a escolheu, em primeiro lugar, porque ela é uma mulher, o que poderia cair bem entre os brasileiros. Segundo, porque Dilma demonstrou lealdade irrestrita a Lula. Em terceiro lugar, porque se ela ganha, Deus e o mundo atribuirão a vitória ao presidente, somente a ele. Se Dilma perder... Bem, a culpa vai ser sua também. Mas uma derrota poderia facilitar o retorno de Lula em quatro anos”.


Prós e contras

Em relação à caça de votos, os especialistas concordam que Serra, pelo menos, está em uma encruzilhada muito mais complexa do que a da sua rival. Homem de vasta trajetória pública começou nas pesquisas com números muito altos, mas agora tenta se mover rapidamente para evitar uma relativa estagnação.

Ele sabe que conta com um elemento valoroso: um indiscutível capital político cultivado no sudeste do país, onde se encontram os estados mais ricos e industrializados, e as zonas eleitorais brasileiras mais poderosas, como é o caso de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

No entanto, a certeza de que esta eleição não será fácil para o candidato da oposição, apesar da ausência de Lula, é algo que ninguém se atreve a contestar. Por exemplo, Fernando Abrucio, cientista político de peso a nível local, opina sobre o candidato socialdemocrata: “Serra deve desmarcar sua posição da candidata governista. Embora devesse evitar criticas extremadas, que relembrem os piores momentos da oposição nos últimos anos. Cabe recordar que mais de setenta por cento da população está satisfeita com a gestão de Lula”. Ao mesmo tempo, o especialista marcou certos passos já dados pelo candidato socialdemocrata para a presidência ao afirmar que “a aposta de Serra é reforçar a idéia de que ele está disputando a presidência com Dilma e não com o presidente Lula. Como resultado, deve centrar a campanha olhando para o futuro e não para o passado”.

Para Serra, o núcleo de suas dificuldades está na forma como se posicionar na calçada do outro lado da um governo que alcançou objetivos muito valorizados em todo o país e que, naturalmente, incentivam a consolidação da sua adversária. Neste caso, uma provável “herdeira” que, como a própria Rousseff disse, continuará “com o Brasil de Lula, mas com alma e coração de mulher”.

Para citar apenas alguns dos cavalos de batalha que validam a administração do atual governo, cerca de cinqüenta milhões de pessoas melhoraram substancialmente a sua qualidade de vida nos últimos oito anos. A ampla gama de programas sociais – o mais famosa é o Bolsa Família – tirou da pobreza a cerca de vinte milhões de pessoas, enquanto outros 31 milhões subiram na escada social. O salto econômico, que fez do Brasil uma potência emergente chave, e o foco no eixo social, foram de grande impacto nas regiões mais pobres localizadas ao norte e nordeste. Por esta razão, o maior apoio para o governo vem de lá. É todo um legado político do qual Dilma participou ativamente durante a gestão Lula. Y é a sua melhor cartada. O intelectual brasileiro Emir Sader, disse em seu blog, que todos estes avanços sociais podem ser simplesmente “desmontados” com a ascensão do candidato da oposição.


Consenso e dissenso

No panorama assim colocado, Serra gesticula moderação, mesmo fazendo criticas a Lula, por enquanto não as faz com dureza. Ao contrário de Rousseff, ele se submeteu com sucesso o veredicto das eleições, com as quais conseguiu chegar ao Parlamento e em seguida ao governo do poderoso estado de São Paulo.

De qualquer forma, na hora da analise do trajeto que ainda falta para a entronização de um dos dois candidatos, há outros elementos que poderiam beneficiar Rousseff. Nesse sentido, o sociólogo Marcos Coimbra, um dos pesquisadores mais importantes do país, disse: “ Serra já é conhecido por oitenta por cento da população. Ele tem menos espaço para crescer. Ao contrário de Dilma que pode crescer mais de vinte por cento, pois cerca de quarenta por cento dos eleitores sabe pouco ou nada sobre ela. Assim, Dilma pode crescer mais de vinte pontos nesse segmento”.

Em outras leituras, ao mesmo tempo, observa-se, como uma excepcionalidade desta campanha, a convergência em várias das propostas dos candidatos, um dado de forte ligação com a bonança econômica e que mal foi afetado pela crise financeira mundial.

Estrategicamente inclinados para o centro, os candidatos não apresentam diferenças substanciais nos seus programas de governo segundo os especialistas. Pelo menos, no que diz respeito aos princípios fundamentais da dinâmica econômica dos últimos anos.

Além disso, entre os vários caciques do conglomerado econômico local, o candidato da socialdemocracia tem melhor aceitação, enquanto Rousseff provoca certos ressentimentos: muitas vezes, é colocada à esquerda do Lula, um mandatário que sempre enfatizou que, no exercício poder, é “multideológico”.

As desavenças entre os dois candidatos graduados em Economia, afloram quando o assunto é a competência do Estado. Dilma Rousseff é a representante de um Estado forte, mas Serra queixa-se da centralização e dos gastos. Com um forte tom liberal, Serra defende, no entanto, a austeridade. “Cortar desperdícios inúteis, reduzir gastos, de forma a melhor atender às necessidades sociais”, afirmou ele.

Assim, entre as diferenças, as que deixam uma profunda marca referem-se à política externa. Justamente num momento em que o Brasil desempenha um papel de destaque como promotor de uma nova geopolítica, questionadora do poder de “xerife” exercido pelos Estados Unidos.

E a discussão que se gerou em torno do novo peso do Brasil no cenário internacional não é menor. A revista Veja, pela mão do analista Diogo Mainardi, coincide com Serra em desaprovar a aproximação de Lula para com o polêmico regime iraniano de Mahmoud Ahmadinejad. “O apoio ao programa nuclear iraniano é o maior erro que o Brasil já cometeu no âmbito internacional. Só a vaidade de Lula ganha com este erro. Desafia os EUA e a Europa, tornando-se cúmplice do Irã”, escreveu Mainardi em sua coluna.

Por sua vez, Rousseff aprova cem por cento os passos do presidente brasileiro, ao defender o diálogo com o Irã e o seu direito de desenvolver um programa nuclear para uso civil. Também aposta na integração da América Latina. “Nós não podemos ser ricos cercados por pobres”, disse ela, enquanto Serra é abertamente crítico do Mercosul, ao qual chegou a chamar de “farsa”.

Os candidatos navegam por estas discussões, enquanto Lula aposta tudo para que a ex-militante da esquerda combativa, ainda pouco conhecida entre os setores de baixa renda, desponte nas pesquisas. O atual empate abre um jogo em que tudo está por vir. A certeza é que o primeiro dia de 2011 começará uma nova era no Brasil, desta vez sem Lula vestindo a faixa do presidente mais popular da história do Brasil.


Dilma e José, os potenciais presidentes

Desde muito jovens, ambos os candidatos dedicaram suas vidas à militância política. Economistas de gabarito, os dois têm uma formação e capacidade de gestão altamente respeitada.

Por sua vez, ambos gozam de apoios que podem ser cruciais: Luiz Inácio Lula da Silva (oito anos de governo) empurra a candidatura à presidência de sua sucessora Dilma Rousseff, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (também por oito anos no poder) da aval para a eleição geral do opositor socialdemocrata José Serra.

Mais uma coincidência: ambos os candidatos estão trabalhando para amenizar o caráter.

Serra, 68, acumula cargos públicos importantes, que tem cumprido com sucesso. Foi, entre outros, deputado, senador, prefeito e governador do estado de São Paulo. Conta com uma alta popularidade. Durante a ditadura, teve que se exilar e resistiu do estrangeiro.

Em vez disso Rousseff, 62, ficou no Brasil durante o governo militar. Quando ainda era apenas uma adolescente, juntou-se à luta armada contra os militares. Participou de diversas ações, até que foi capturada e viveu o inferno da tortura. Esteve presa por três anos. Sua abnegação e energia a tornaram famosa como a “Joana de Arco” do movimento guerrilheiro brasileiro.

Uma vez na democracia, tanto José Serra como Dilma Rousseff se incorporaram ao renascimento da vida política do país.

fonte original: http://www.revistadebate.com .ar/2010/06/25/2993.php