Consulta Popular pela Paz
Fonte: adital.org
Inúmeras
organizações indígenas e camponesas do sul do Departamento de
Cauca lançarão, no dia 11 de maio, uma nova proposta para a
resolução do conflito: a Consulta Popular pela Paz. Essa iniciativa
busca tornar realidade o direito constitucional à paz. E que a paz e
a forma de construí-la sejam considerados assuntos que dizem
respeito a todas/os as/os colombianas/os, conforme explicam alguns
promotores.
Os
promotores da Consulta Popular exigem que se reconheça o direito a
realizar "diálogos regionais de paz” que envolvam os atores
armados e a população civil, como meio de avançar em iniciativas
humanitárias que permitam resolver certos problemas cotidianos que
são muito graves em diferentes zonas.
A
voz dos povos indígenas e camponeses
"Porque
a vida é sagrada, a paz é construída pelos povos”, é a consigna
que convoca a mobilização cidadã de 8 a 11 de maio, no
Departamento de Cauca.
Entre
os convocantes, encontram-se a Asociación de Cabildos Indígenas del
Norte del Cauca (Acin), o CRIC (Consejo Regional Indígena), o Plan
de Vida Integral de Caloto, a Cococauca, as organizações camponesas
Cima (do Macizo), Acit (de Inzá) e do Cajibío, a Red de Alcaldes
por la Paz (Prefeitos pela Paz), a Ruta Pacífica de Mujeres e a Red
de Iniciativas de Paz desde la Base.
Em
um documento de convocação, assinalam que "a paz não é
assunto exclusivo dos que fazem a guerra. Portanto, a paz é
propriedade de todas/os. A paz nasce da palavra dos povos; está no
poder das pessoas”.
Os
que assinam a convocação, fazem uma análise da difícil situação
econômico-social que padece a maioria da população caucana.
Reconhecem que a luta em defesa de seus territórios e de seus
recursos provoca contradições com a prática/presença de
multinacionais que exploram ditos recursos. E sublinham a necessidade
de rediscutir o modelo atual hegemônico de desenvolvimento nacional
e mundial que não oferece opções aos povos.
E
antecipam um caminho para sair do conflito: "Queremos consolidar
a construção de nossos sistemas autônomos, governos e planos de
vida (programa de sociedade) para colocá-los como colaboração para
o restante da sociedade colombiana em termos de construir uma grande
agenda nacional de paz”.
Quanto
ao objetivo da atual mobilização, consiste em: "visibilizar a
agressão sistemática da guerra nas áreas rural e urbana. Ambientar
iniciativas e fatos de paz. Semear no coração da população a
importância de construir a paz...
Com
a visão de "apresentar ante a opinião pública uma proposta de
Consulta Popular que nos permita aos colombianos e colombianas
decidir e mandatar o direito e o dever da paz.
Mobilização
para lançar a consulta
A
atividade central e culminante promovida por organizações
indígenas, camponesas, afrodescendentes, de mulheres e de direitos
humanos para lançar a Consulta Popular pela Paz se realizará no dia
11 de maio, na localidade de Villa Rica, a 36 quilômetros de Cali.
Os organizadores esperam a chegada de milhares de participantes.
O
programa de mobilização inclui a Marcha pelo Direito à Vida, ao
Território e à Paz, que se iniciou na cidade de Caloto, prossegue
por Santander de Quilichao e culminará em Villa Rica.
A
iniciativa "é impulsionada em uma das zonas mais atingidas pelo
conflito no Departamento de Cauca”, explica Nubia Fernanda Espinosa
Moreno, da Minga, uma das associações nacionais mais ativas no
país.
"A
barbarie do conflito golpeia diretamente a 16 dos 42 municípios”,
analisa Espinosa. E a mais atingida pelo mesmo é a população
civil, em particular os indígenas, afrodescendentes e camponeses,
analisa a historiadora de Minga.
Somente
no norte de Cauca, que é a zona onde trabalha Acin (Asociación de
Cabildos Indígenas do Norte), em 2011, devido aos enfrentamentos
armados, foram assassinados 37 líderes indígenas; 617 famílias
foram desalojadas; 30 menores de idade foram feridos; 825 habitações
destruídas. "Situação dramática se se agrega o impacto
psicológico de tudo isso nas comunidades da região”, enfatiza
Espinosa, que insiste no tema de fundo em torno ao fim do conflito e
da construção da paz no país sul-americano. "O governo
expressou em diferentes ocasiões que é o único que tem a chave
para a paz. Nós, desde a sociedade civil, pensamos que todas/os
as/os colombianas/os temos essa chave para a paz”.
Ressaltando
também a importância de que vários prefeitos e outras autoridades
de primeiro escalão do Departamento de Cauca adiram à proposta de
uma Consulta Popular pela Paz, o que dá maior peso à mobilização.
E
conclui com uma visão integral da paz "que não significa
somente calar os fuzis”, mas implica em uma aposta estratégica com
a participação ativa da sociedade civil. Construindo-a desde a
base, cotidianamente. Mudando as culturas políticas atuais.
Resolvendo
as causas estruturais que motivaram o início do conflito, dando
respostas claras às reivindicações sociais e abrindo uma nova era
de respeito absoluto aos direitos humanos”, conclui a jovem
historiadora.
O
valor de uma iniciativa constitucional
"É
uma proposta transcendente e seu impacto dependerá da cobertura que
consiga junto aos meios de comunicação”, explica a psicóloga
suíça Dominique Rothen, que trabalha na região de Cauca há quase
três anos.
O
mais importante da iniciativa, analisa a jovem profissional, é o
esforço jurídico que contém. Utilizando um instrumento
constitucional existente –a Consulta popular- para conseguir que a
"paz e a forma de construí-la seja um assunto de todas/os as/os
colombianas/os e não um monopólio do governo e menos ainda uma
agenda exclusiva dos atores armados”, analisa.
Rothen
é cooperante de E-Changer, organização suíça de cooperação
presente na Colômbia, ressalta também a enorme oportunidade dessa
tentativa no atual marco constitucional. No entanto, "em minha
concepção de democracia participativa, penso que essas tentativas
jurídicas tendentes a que a paz seja realmente considerada, na
prática, um direito constitucional, têm uma importância
significativa para a cultua institucional colombiana”, conclui.
[Sergio
Ferrari, da Colômbia, colaboração de E-CHANGER, ONG suíça de
cooperação solidária presente na Colômbia].