"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 8 de maio de 2015

Cuba: Democracia, esta é a verdadeira democracia.


Resumen Latinoamericano (corresponsalía Cuba) maio 2015.-  

Primero de Maio de 2015. Antes que amanheça, a multidão já é imensa, se pode apenas caminhar pela avenida 23 de Havana, porém obstinadamente continuamos tratando de chegar até o ponto onde acordamos reunir-nos o coletivo de Resumen Latinoamericano em Cuba, o Comitê Internacional pela Liberdade dos Cinco –transformado em Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos- e um numeroso grupo de amigos latino-americanos residentes nesta cidade. Finalmente chegamos e a alegria é imensa; empunhamos cartazes e bandeirolas. Num deles se pode ver a Fidel, esse Comandante-Chefe da dignidade latino-americana, lendo um número de RL. Começa o desfile; podemos apenas nos escutar uns aos outros, tal é o alvoroço, a alegria, a música daquela compacta multidão. Um amigo comenta comigo: “Vamos ver se os meios de comunicação controlados pelos ianques se atrevem a dizer que toda esta multidão veio obrigada” –rápida como uma centelha, uma jovem mestiça, bela como a vida, portando um cartaz com uma foto do Che, comenta – “porém, é verdade, todos viemos obrigados à marcha... obrigados por nossa consciência e pela obrigação de estar junto a Raúl e aos Cinco”
Que rara é esta “ditadura castrista” onde o poder está em mãos dos operários, estudantes, campesinos, das maiorias. E penso nas “democracias” que impedem as manifestações dos operários neste primeiro de maio, ou assassinam as pessoas pelo cor de sua pele. Relembrei então as palavras de Fidel na celebração de um dia dos trabalhadores.
Era o Primeiro de Maio de 1960, como era de costume, o Comandante-Chefe fez uso da palavra e, como sempre, foi um discurso histórico pelos temas que tratou. Um deles foi a definição de democracia. Como uma conferência magistral, Fidel mostrou ao povo de Cuba o que é a democracia revolucionária, comparando-a com a que existia antes de 1959.
«[…] O que era antes um desfile do Primeiro de Maio? Hoje os trabalhadores não trouxeram uma só reivindicação e, no entanto, antes os trabalhadores podiam apenas carregar o montão de grandes cartazes que traziam sobre seus ombros no Primeiro de Maio. E nisso consistia o Primeiro de Maio: uma oportunidade para que os operários desfilassem carregando cartazes enormes, com alguma promessa de satisfazer essas ou algumas dessas reivindicações. E assim, aqueles Primeiro de Maio eram, ao fim e ao cabo, uma chacota contra os trabalhadores, que no outro ano tinham que voltar outra vez carregando os mesmos cartazes com as mesmas reivindicações. E quando obtinham algo não era porque se lhes concedia graciosamente, mas sim porque arrebatavam-no lutando a braço partido através das greves e dos movimentos organizados em prol de reivindicações econômicas.
«O operário sabia que tinha que lutar, o operário tinha que estar numa perene luta para obter alguma pequena vantagem na ordem econômica, para conseguir com que respeitassem seus direitos mais elementares. E por isso tinham que vir ao Primeiro de Maio portando suas reivindicações. Que outra coisa podiam fazer? O operário sabia que o que ele não fizesse por si mesmo ninguém o faria por ele; o operário sabia que o que não trabalhasse por si mesmo ninguém trabalharia para ele. Porque tu, operário, e tu, campesino, trabalhaste sempre para os demais! Trabalhaste para ti e para os demais! [...] Tu, que produzes; tu, que te sacrificas; tu, que trabalhas, foste sempre, e é hoje e serás amanhã a maioria do povo! Porém, tu não governavas; eras a maioria, porém outros governavam por ti e contra ti!
«Te inventaram uma democracia, uma rara e estranha democracia em que tu, que és a maioria, não contavas para nada; em que tu, campesino e operário, que és o que produz a maior parte das riquezas, e que conjuntamente com os trabalhadores intelectuais, produzes o total da riqueza; tu, que produzias tudo nem sequer tinhas oportunidade de aprender muitas vezes a assinar teu nome.
«Te inventaram uma democracia estranha, uma rara democracia em que tu, que eras a maioria, nem sequer existias politicamente dentro da sociedade. Te falavam de direitos do cidadão, e esse direito consistia em que teu filho pudesse morrer de fome ante o olhar insensível do governo; em que teu filho ficasse sem aprender uma só letra, em que tu mesmo tivesse que ir a vender teu trabalho ao preço que te quisessem pagar por ele, se alguém se interessava por comprá-lo.
»Te falavam de direitos que nunca existiram para ti. Teus filhos não tinham assegurado nem o direito a uma escola; teus filhos não tinham assegurado nem o direito a um médico; teus filhos não tinham assegurado nem o direito a um pedaço de pão; e tu mesmo não tinhas assegurado nem o direito ao trabalho.
»Te inventaram uma democracia que consistia em que tu, que és a maioria, não contasses para nada. E assim, apesar de tua tremenda força, apesar de teus sacrifícios, apesar do que tu trabalhavas para os demais dentro dessa vida nacional, tu, apesar de ser a maioria, nem governavas nem contavas para nada.
»E a isso chamavam democracia! Democracia é aquela em que as maiorias governam; democracia é aquela em que a maioria conta; democracia é aquela em que os interesses da maioria se defendem; democracia é aquela que garante ao homem já não o direito a pensar livremente mas sim o direito a saber pensar, o direito a saber escrever o que se pensa, o direito a saber ler o que se pensa ou pensem outros; o direito ao pão, o direito ao trabalho, o direito à cultura, e o direito a contar dentro da sociedade.
Democracia, por isso, é esta, esta democracia da Revolução Cubana! Democracia é esta em que tu, campesino, contas e recebes a terra que expropriamos das mãos estrangeiras usurárias que a exploravam! Democracia é esta em que tu, operário agrícola açucareiro, recebes 80 000 cavalarias de terras para que não tenhas que viver nos casebres! Democracia é esta em que tu, trabalhador, tem assegurado teu direito ao trabalho sem que te possam jogar na rua para passar fome! Democracia é esta em que tu, estudante pobre, tens a oportunidade de conquistar um título universitário, se és inteligente, ainda que não sejas rico!
»Democracia é esta em que tu, filho de operário, ou filho de campesino, ou filho de qualquer família humilde, tens uma professora e tens uma escola onde poder educar-te! Democracia é esta em que tu, ancião, terás assegurado teu sustento quando já não te possas valer por teu próprio esforço! Democracia é esta em que tu, cubano negro, tens direito ao trabalho, sem que ninguém te possa saquear por estúpidos preconceitos! Democracia é esta onde tu, mulher, adquires a plena igualdade com todos os demais cidadãos e tens direitos até a empunhar uma arma para defender tua pátria junto com os homens!
»Democracia é esta, em que um governo converte as fortalezas em escolas, que quer construir uma casa para cada família para que cada família tenha teto! Democracia é esta, que quer para cada enfermo o médico que o atenda! Democracia é esta, que não recruta um campesino para torná-lo soldado, corrompê-lo e convertê-lo em inimigo do operário de seu próprio irmão campesino, senão que converte o soldado não num defensor dos privilégios mas sim num defensor dos direitos de seus irmãos, os campesinos e os operários!
»Democracia é esta, que não divide o povo em setores humildes, enfrentando-se uns aos outros! Democracia é esta, em que um governo busca a força do povo e a une! Democracia é esta, que faz o povo forte, porque o une! Democracia é esta, que entrega um fuzil aos campesinos, e entrega um fuzil aos operários, e entrega um fuzil aos estudantes, e entrega um fuzil às mulheres, e entrega um fuzil aos negros, e entrega um fuzil aos pobres, e entrega um fuzil a quanto cidadão esteja disposto a defender uma causa justa! Democracia é esta, em que não só contam os direitos da maioria, senão que entrega armas a essa maioria! E isso só pode fazê-lo um governo realmente democrático, onde as maiorias governem!
»E isso uma pseudo democracia não o poderá fazer jamais. E nós outros gostaríamos de saber o que passaria se aos negros dos sul dos Estados Unidos, que tantas vezes foram linchados, lhe entregam, a cada um deles, um fuzil! O que nunca poderá fazer uma oligarquia exploradora, o que nunca poderá fazer uma casta militar das que oprimem e saqueiam aos povos, o que nunca poderá fazer um governo de minoria é entregar um fuzil a cada campesino, entregar um fuzil a cada operário, entregar um fuzil a cada estudante, entregar um fuzil a cada jovem, entregar um fuzil a cada cidadão humilde, entregar um fuzil a cada um dos que compõem a maioria de um povo.
»E isso não quer dizer que os direitos do resto não contem. Os direitos dos demais contam na mesma medida em que contem os interesses da maioria, no mesmo alcance em que contem os direitos da maioria; porém, são os direitos da maioria os que devem prevalecer acima de privilégios de minorias.
»E essa democracia real, essa democracia irrepreensível, essa democracia sincera e honesta é a democracia que existe em nosso país desde o primeiro de janeiro de 1959. Essa democracia tem se expressado desta forma; tem se expressado, diretamente, na íntima união e identificação de governo e povo; neste tratamento direto; neste fazer e lutar pelo bem das grandes maiorias do país e no interesse das grandes maiorias do país. Essa democracia direta a temos exercido assim, com mais pureza, mil vezes mais pureza que essa falsa democracia que se vale de todos os meios de corrupção e de fraude para falsificar a verdadeira vontade do povo».
Como Fidel nos acostumou, olhou para o futuro e previu o futuro:
»[…] Porque, se em algum processo os ineptos ficam no caminho, se em algum processo os patifes fracassam, é num processo revolucionário, em que abre passagem a virtude, em que abre passagem o mérito, jamais a inabilidade, jamais a ambição, jamais a picardia. Porque num processo de luta revolucionária, como em nenhuma outra luta, só os homens firmes, os homens verdadeiramente convictos, os homens verdadeiramente leais marcham adiante.
»E um processo revolucionário não quer dizer só a etapa da guerra. Aquela foi a etapa da rebelião; depois veio a etapa da Revolução. Antes foi a guerra consequência da rebeldia de nosso povo e agora é a Revolução consequência do espírito criador de nosso povo. E por isso dizíamos que em Cuba se estava praticando uma verdadeira aspiração democrática, apesar do que queiram escrever e do que queiram afirmar os inimigos de nossa Revolução».
Durante a marcha pela Praça da Revolução começou a chover, nos molhamos nós outros e os cartazes que levávamos, porém, ainda que pareça produto de um ato de magia, ou porque algo mágico nos acompanhava, a imagem de Fidel lendo o RL sobre o regresso dos Cinco Heróis não se molhou, e mais, seu sorriso parecia acentuado acompanhando a uma pícara insinuação de olhos.


Tradução de Joaquim Lisboa Neto