Crises e Cúpula vs. Cúpula
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Narciso Isa Conde/CCB República Dominicana
Reza um ditado popular que "não há mal que não venha para bem".
A crise do chamado socialismo real teve por um lado efeitos depressivos e modificou a correlação de forças a favor do imperialismo norte-americano e ocidental. Por outro, abriu campo a um pensamento revolucionário criador e não dogmático, assentando as bases para a negação do modelo estatista-burocrático para sustentar a alternativa ao capitalismo e fazer possível, ainda frente a esse desastre, a renovação do pensamento socialista.
Esta grande crise sistêmica e estrutural do capitalismo mundial tende a piorar as condições e o modo de vida dos (as) trabalhadores (as) e dos povos oprimidos, oferece a oportunidade de fortalecer as idéias e as forças alternativas ao modelo neoliberal e ao capitalismo explorador e predador.
Aqui, em nosso pátio, a pequena "Cúpula" da mentira e desonestidade, a "Cúpula" convocada pelo presidente Leonel Fernández e a oligarquia dominicana, trouxe à superfície a enorme desconfiança do povo nesse governo e nessas instituições e estimulou a criação da Cúpula Alternativa do Povo, magnífica iniciativa iniciada no Fórum Social Alternativo (FSA).
Se uns dos pilares do neoliberalismo são a fragmentação e dispersão dos movimentos sociais e os sujeitos potenciais da mudança, a extraordinária resposta unitária à convocação da Cúpula Alternativa do Povo, realizada no ato inaugural, abre a possibilidade de começar a superar esse problema até produzir uma ampla, diversa e potente convergência de forças sociais e políticas potencialmente alternativas ao neoliberalismo e ao capitalismo em crise, à partidocracia corrompida, aos agentes sociais, econômicos, culturais e ideológicos beneficiados e responsáveis por essa crise nacional e global do sistema dominante.
Esse processo de unidade está em marcha, mesmo que com importantes déficits no conteúdo alternativo de iniciativa popular, evidente na seleção dos eixos temáticos e em uma parte das intervenções feitas para apresentá-los.
Se a crise é estrutural e abrange os setores político-institucional, econômico, ambiental e social em todas as dimensões (empobrecimento crescente, saúde, educação, exploração, super-exploração, má distribuição de renda, relações de poder de classe, de gênero e gerações etc.); se ela abrange também o militar-policial, a segurança cidadã, a negação da participação da sociedade nas decisões que lhe dizem respeito, a ausência de soberania nacional e o inaceitável quadro de uma democracia seqüestrada pelas elites empresariais, políticas e militares mafiosas… é necessário contemplar as mudanças estruturais e sistêmicas capazes de superar as causas que geram esta dramática realidade.
É preciso incluir eixos temáticos que permitam tratar tudo o que for relativo às relações de propriedade, à recuperação do patrimônio privatizado, à erradicação do latifúndio, ao caráter público e gratuito dos serviços sociais, à justa distribuição da renda nacional, à autodeterminação do povo e a soberania da nação, à relação entre democracia direta, processos participativos e representação no contexto de uma nova democracia e uma nova Constituição, a refundação das forças armadas, o desmonte do Estado delinqüente centralizado e do narco-governo atual, a política de defesa e segurança baseada na aplicação dos direitos integrais da população, o saneamento ambiental e a recuperação ecológica do país, a eqüidade de gênero e a erradicação do adultocentrismo e do racismo.
Nesses aspectos fundamentais houve ausências e insuficiências notáveis, ficando bastante prejudicada a agenda capaz de gerar uma proposta de governo, de Estado, instituições e sociedade alternativa ao neoliberalismo, à pseudo-democracia atual, à decadente civilização burguesa, patriarcal, racista… e à unidade de nossa América.
Mas houve acertos em temas relacionados à questão ecológica, à política de gênero, à problemática do poder na sociedade burguesa, às políticas sociais, à proposta de constituinte popular (sem relacionar os temas da nova constituição) e a importância do protagonismo jovem.
Das mulheres e jovens participantes veio uma consistente e necessária crítica à apresentação das questões como parte dos "problemas e direitos de minorias", um equívoco dos que aprovaram os eixos temáticos a ser apresentados na inauguração: juventude, mulheres e pobreza (trabalhadores/as e povo pobre e explorado) são as três grandes maiorias do tecido social dominicano.
Latifúndio, patrimônio público e patrimônio natural privatizado, monopólios, oligopólios, foram injustificadamente - salvo algumas menções limitadas - os grandes ausentes nesse evento. Algo que é possível e urgente superar.
Por outro lado, na "Cúpula" da mentira se reúnem o governo, parte da partidocracia, a oligarquia, as transnacionais, as fundações a serviço da ordem estabelecida, a hierarquia católica e as forças vivas da grande corrupção. É a "Cúpula" sistêmica em meio a uma crise sistemática.
Na nossa, na Cúpula Alternativa, foi dada voz a uma parte significativa dos movimentos sociais populares, organizações profissionais, setores intermediários, esquerdas, forças transformadoras e progressistas que no contexto de uma crise desta natureza devem empenhar-se para não serem subservientes ao sistema. Por isso não devem esperar que o governo e o poder (surdos impenitentes) nos escutem para “melhorar o sistema”, mas fundamentalmente instrumentalizar o povo com um programa transformador e uma dinâmica capaz de mudar o próprio governo, a estrutura, o sistema e as instituições decadentes por outras, novas, que possam desabrochar uma sociedade de justiça, com criação e participação coletiva e principalmente liberdade.
Outra necessidade inadiável é a luta, o protesto, as rebeldias, as iniciativas inovadoras com propostas precisas. Isso ainda precisa ser concretizado, uma vez que hoje este povo está sendo levado ao Diabo e precisa despertar para lutar mais e melhor, com propósitos claros para a construção de poder para que tudo possa mudar de verdade.
Enlace original
Reza um ditado popular que "não há mal que não venha para bem".
A crise do chamado socialismo real teve por um lado efeitos depressivos e modificou a correlação de forças a favor do imperialismo norte-americano e ocidental. Por outro, abriu campo a um pensamento revolucionário criador e não dogmático, assentando as bases para a negação do modelo estatista-burocrático para sustentar a alternativa ao capitalismo e fazer possível, ainda frente a esse desastre, a renovação do pensamento socialista.
Esta grande crise sistêmica e estrutural do capitalismo mundial tende a piorar as condições e o modo de vida dos (as) trabalhadores (as) e dos povos oprimidos, oferece a oportunidade de fortalecer as idéias e as forças alternativas ao modelo neoliberal e ao capitalismo explorador e predador.
Aqui, em nosso pátio, a pequena "Cúpula" da mentira e desonestidade, a "Cúpula" convocada pelo presidente Leonel Fernández e a oligarquia dominicana, trouxe à superfície a enorme desconfiança do povo nesse governo e nessas instituições e estimulou a criação da Cúpula Alternativa do Povo, magnífica iniciativa iniciada no Fórum Social Alternativo (FSA).
Se uns dos pilares do neoliberalismo são a fragmentação e dispersão dos movimentos sociais e os sujeitos potenciais da mudança, a extraordinária resposta unitária à convocação da Cúpula Alternativa do Povo, realizada no ato inaugural, abre a possibilidade de começar a superar esse problema até produzir uma ampla, diversa e potente convergência de forças sociais e políticas potencialmente alternativas ao neoliberalismo e ao capitalismo em crise, à partidocracia corrompida, aos agentes sociais, econômicos, culturais e ideológicos beneficiados e responsáveis por essa crise nacional e global do sistema dominante.
Esse processo de unidade está em marcha, mesmo que com importantes déficits no conteúdo alternativo de iniciativa popular, evidente na seleção dos eixos temáticos e em uma parte das intervenções feitas para apresentá-los.
Se a crise é estrutural e abrange os setores político-institucional, econômico, ambiental e social em todas as dimensões (empobrecimento crescente, saúde, educação, exploração, super-exploração, má distribuição de renda, relações de poder de classe, de gênero e gerações etc.); se ela abrange também o militar-policial, a segurança cidadã, a negação da participação da sociedade nas decisões que lhe dizem respeito, a ausência de soberania nacional e o inaceitável quadro de uma democracia seqüestrada pelas elites empresariais, políticas e militares mafiosas… é necessário contemplar as mudanças estruturais e sistêmicas capazes de superar as causas que geram esta dramática realidade.
É preciso incluir eixos temáticos que permitam tratar tudo o que for relativo às relações de propriedade, à recuperação do patrimônio privatizado, à erradicação do latifúndio, ao caráter público e gratuito dos serviços sociais, à justa distribuição da renda nacional, à autodeterminação do povo e a soberania da nação, à relação entre democracia direta, processos participativos e representação no contexto de uma nova democracia e uma nova Constituição, a refundação das forças armadas, o desmonte do Estado delinqüente centralizado e do narco-governo atual, a política de defesa e segurança baseada na aplicação dos direitos integrais da população, o saneamento ambiental e a recuperação ecológica do país, a eqüidade de gênero e a erradicação do adultocentrismo e do racismo.
Nesses aspectos fundamentais houve ausências e insuficiências notáveis, ficando bastante prejudicada a agenda capaz de gerar uma proposta de governo, de Estado, instituições e sociedade alternativa ao neoliberalismo, à pseudo-democracia atual, à decadente civilização burguesa, patriarcal, racista… e à unidade de nossa América.
Mas houve acertos em temas relacionados à questão ecológica, à política de gênero, à problemática do poder na sociedade burguesa, às políticas sociais, à proposta de constituinte popular (sem relacionar os temas da nova constituição) e a importância do protagonismo jovem.
Das mulheres e jovens participantes veio uma consistente e necessária crítica à apresentação das questões como parte dos "problemas e direitos de minorias", um equívoco dos que aprovaram os eixos temáticos a ser apresentados na inauguração: juventude, mulheres e pobreza (trabalhadores/as e povo pobre e explorado) são as três grandes maiorias do tecido social dominicano.
Latifúndio, patrimônio público e patrimônio natural privatizado, monopólios, oligopólios, foram injustificadamente - salvo algumas menções limitadas - os grandes ausentes nesse evento. Algo que é possível e urgente superar.
Por outro lado, na "Cúpula" da mentira se reúnem o governo, parte da partidocracia, a oligarquia, as transnacionais, as fundações a serviço da ordem estabelecida, a hierarquia católica e as forças vivas da grande corrupção. É a "Cúpula" sistêmica em meio a uma crise sistemática.
Na nossa, na Cúpula Alternativa, foi dada voz a uma parte significativa dos movimentos sociais populares, organizações profissionais, setores intermediários, esquerdas, forças transformadoras e progressistas que no contexto de uma crise desta natureza devem empenhar-se para não serem subservientes ao sistema. Por isso não devem esperar que o governo e o poder (surdos impenitentes) nos escutem para “melhorar o sistema”, mas fundamentalmente instrumentalizar o povo com um programa transformador e uma dinâmica capaz de mudar o próprio governo, a estrutura, o sistema e as instituições decadentes por outras, novas, que possam desabrochar uma sociedade de justiça, com criação e participação coletiva e principalmente liberdade.
Outra necessidade inadiável é a luta, o protesto, as rebeldias, as iniciativas inovadoras com propostas precisas. Isso ainda precisa ser concretizado, uma vez que hoje este povo está sendo levado ao Diabo e precisa despertar para lutar mais e melhor, com propósitos claros para a construção de poder para que tudo possa mudar de verdade.
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