Eleições na Colômbia: A movida dos vice-presidentes
(na foto: catedral de sal na cidade de Zipaquirá, perto de Bogotá)
Por : Gabriel Becerra Y.
Caída a reeleição presidencial para um terceiro mandato de Uribe e passadas as eleições para o Congresso da República, a campanha presidencial é deflagrada. As máfias e a classe dominante reacionária, mediante o medo, a corrupção e o controle da grande mídia continuam exercendo o domínio sobre uma franja importante da população e o país. As forças alternativas não conseguem superar a dispersão, e o PDA em particular, nem sequer com a eleição de representativos líderes populares, escapa do retrocesso.
A esquerda deve fazer uma avaliação autocrítica e corrigir seu rumo para aumentar em lugar de diminuir o apóio popular conquistado em eleições anteriores.
O “uribismo”, nome pomposo, com o qual se autodenomina a herança nefasta e violenta do mandatário saliente, a meio do coronelismo que caracteriza a política nacional, cria as condições para sua continuidade sem Álvaro Uribe à cabeça. Estamos diante de uma crise nas alturas do poder onde se tenta definir o relevo do projeto reacionário. Uribe quer a qualquer preço garantir quem lhe cubra suas costas diante da avalancha de denuncias e processos jurídicos nacionais e internacionais que serão veiculados na sua contra.
Como parte de essas primeiras movidas de campanha sobressaem as formulas vice-presidenciais da maioria dos candidatos, só restam os candidatos a vice dos Partidos Conservador e Verde. A figura jurídica da vice-presidência, existente em outros períodos da historia da República, foi retomada pela Constituição de 1991 em seus Artigos 202 ao 205, em lugar da figura do Designado presidencial que havia regido desde 1910 até esse ano. Sua função essencial é substituir ao Presidente durante suas faltas temporais ou absolutas, e assumir as missões, encargos especiais ou designações em qualquer cargo do ramo executivo que ele lhe delegue. A historia indica que tanto a figura do Designado quanto a do Vice-presidente não têm cumprido uma função transcendental na vida institucional e política do país, tem sido mais o uso político da mesma em práticas indecorosas e alianças político-eleitorais.
Nas fórmulas definidas até o momento pelo Partido da “U” com Angelino Garzón; Cambio Radical com Elsa Noguera, o Partido Liberal com Aníbal Gaviria e, Julio Londoño Paredes como fórmula de Sergio Fajardo, não se apresentam grandes novidades.
Tem chamado muito a atenção a candidatura à vice-presidência de Angelino Garzón porque ratifica sua perfídia, já iniciada há duas décadas com se retiro das fileiras do Partido Comunista. A metamorfose dessa personagem rompe os limites, ao se converter, sem nenhuma vergonha, em uma ficha da classe dominante e mafiosa, responsável pelo assassinato e o genocídio de milhares de lutadores populares, em especial da União Patriótica; com sua designação, a direita trata de enganar à opinião pública e à comunidade internacional, ao se apresentar como tolerante e includente, todo o contrário do que demonstram os fatos. Se alguma coisa fica clara com sua nomeação, sobre tudo ao interior dos setores da esquerda e democráticos, é que por trás da fachada das posições de “centro esquerda”não em poucos casos, realmente se esconde o mais descarado
dos oportunismos.
A candidatura vice-presidencial de Cambio Radical é claramente um cálculo eleitoral para incorporar a Costa Caribe no seu débil campanha através da questionada e abastada família Char, da qual a senhora Elsa Noguera é tecnocrata e subordinada política. No caso do Partido Liberal, o que se percebe igualmente é a intenção de ganhar votos no estado de Antioquia para evitar uma dispersão maior do liberalismo, incorporando o caudal de Aníbal Gaviria, que obteve 513 mil votos para governador e foi a surpresa na passada consulta liberal. Por seu lado, Sergio Fajardo inclinou-se por um homem com trajetória e experiência pública como o ex-chanceler Julio Paredes, também embaixador da Colômbia em Cuba durante os últimos dez anos. Sua nomeação é mais coerente com as funções de um verdadeiro vice-presidente, mas seus aportes eleitorais são praticamente nulos.
Em quanto ao Polo, a opção definida por Gustavo Petro aporta à unidade interna desse Partido. Clara López é uma mulher preparada e com trajetória na administração pública, de reconhecidas posições políticas avançadas em temas como a busca da solução política negociada e a defesa dos Direitos Humanos. Sua chegada apresenta-se num momento político complicado, mas aspiramos a que sua presença na fórmula presidencial, contribua a clarificar uma mensagem programático transformado e um estilo muito mais coletivo de campanha.
Editorial Voz No 2532