"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 20 de março de 2010

O legado de Uribe

Por Antonio Caballero

Sábado 13 Março 2010


Os candidatos uribistas proclamam a defesa e o aprofundamento do "legado do Uribe", quando o que a Colômbia precisa é justamente do contrário: libertar-se do uribismo, que só tem agravado os problemas existentes e criar outros novos.

Repetem a ladainha do chefe: "Segurança democrática, confiança no investimento, coesão social". É um programa mínimo, tomado ao pé da letra: dar segurança, manter a confiança, garantir a coesão, são as obrigações básicas de qualquer Estado. Não se cumpriam na Colômbia antes dos governos de Uribe, sem dúvida. Mas também ele não as trouxe. Pelo contrário: nos últimos oito anos diminuiu a segurança, aumentou a desconfiança, e cresceu a divisão entre os colombianos (tanto no econômico, a divisão entre ricos e pobres, quanto no político, o enfrentamento entre "bons" e "maus", entre uribistas e anti-uribistas).

A segurança. É verdade que hoje há menos sequestros e que as estradas são menos perigosas que antes. E isso é apenas natural tendo aumentado os gastos em segurança até a colossal cifra de 15 bilhões de reais por ano, e 430.000 homens em armas: têm policiais em todos os municípios e batalhões do exército em todas as montanhas do país. Os principais chefes narcoparamilitares foram extraditados e de vinte mil homens que tinham, cinquenta mil entregaram as armas; mas a estrutura narcoparamilitar subsiste intacta sob o eufemístico nome de 'Bacrim' (bandas criminais), com novos jefes, e seus contatos políticos, embora alguns estejam presos, continuam sendo os dirigentes do uribismo rural.

A guerrilha tem sofrido fortes golpes, bombardeios e deserções e baixas em combate, e tem sido de novo encostada para o fundo das selvas (ou das fronteiras); mas ainda conserva sua capacidade de recrutamento, que não vem do atrativo das suas ideias, mas do simples fato de que o campo arrasado pela política agrária dos governos não oferece mais do que duas perspectivas de emprego: a guerrilha ou o paramilitarismo.

E esses resultados se pagam caros: em recompensas em dinheiro, e sobre tudo na monstruosa moral dos "falsos positivos" provocados pelas recompensas: cerca de dois mil inocentes assassinados pela força pública. E os deslocados: esse rio de milhões de homens e mulheres enxotados do campo que vão engrossar o mar da miséria e da delinquencia das cidades. Isto não é segurança. Nem pode chegar a ser, porque a segurança não é obtida com as receitas uribistas de grana e chumbo, suborno e repressão, ensaios já falidos (embora em menor escala) sob seus antecessores. A receita é outra, que os donos do poder e da riqueza não querem experimentar: a justiça social.

Enquanto que a receita para combater a violência do narcotráfico, que financia todas as demais, também é outra: a legalização do negócio.

A confiança: Se realmente existisse o que os uribistas chamam de "confiança no investimento", milhões de cidadãos não tivessem investido suas economias nas 'pirâmides' ilegais. E as reformas trabalhistas teriam servido para criar emprego, ao invés de destruir. E os capitais estrangeiros (salvo os mineiros) e uma boa parte dos nacionais não teriam fugido levando as suas isenções de impostos. E não teriam que sair da Colômbia a procura de emprego milhões de pessoas.

Quanto à confiança geral, basta ver o crescimento desaforado da corrupção para inferir que não existe: ninguém acredita que pode-se ganhar sem roubar. E não pode ser diferente sob um governo que compra e vende os cartórios, que devem ser os garantes da fé pública, como se fossem móveis.

Os únicos que parecem ter confiança na Colômbia, para viver e investir, para trabalhar e educar seus filhos são os narcotraficantes. Os quais vão se confundindo a cada dia com os integrantes da classe política. Um país onde isto acontece não pode ser um país que tem sido bem governado nos oito nem nos cem anos anteriores.

A coesão: Pode se falar seriamente de "coesão social" em um país que está em guerra? Não. Somente é possível, como os uribistas fazem, negar que a guerra é uma guerra.

Insegurança. Desconfiança. Polarização. Esse é o legado que deixam oito anos de trambiqueiros, corruptos e brutais governos de Álvaro Uribe.
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Com o apoio do Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano