Faltam propostas à esquerda colombiana
Entrevista com Hernando Calvo Ospina
Carlos Henrique Pianta. Brasil
Especial para www.desacato.info
O jornalista colombiano Hernando Calvo Ospina veio a Florianópolis onde apresentou seu livro “O Terrorismo de Estado na Colômbia”. Em evento na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ospina, que atualmente trabalha no Le Monde Diplomatique da França, palestrou e debateu sobre as FARC, a história das guerrilhas na Colômbia e o atual governo de repressão daquele país.
Ao chegar ao auditório do Centro de Filosofia e Humanas (CFH) da UFSC, deparo-me com um Senhor de estatura baixa, com cabelos e bigodes, tipicamente reconhecível pelo estereótipo de homem colombiano. O que inicialmente me apareceu cômico, assim continuou. Hermano além de uma admirável habilidade política e dialética tem excelente senso de humor. Mesmo com as intervenções de um estabanado cachorro que ora invadia o auditório, conseguiu manter a atenção e a presença de todos até o final do debate, além de uma extensa fila sedenta de autógrafos em seu livro, ora censurado na mesma Universidade.
A fala de Hernando Calvo Ospina iniciou-se falando que as guerrilhas na Colômbia surgiram com o partido Liberal, em guerra com o Conservador. Todavia, esses dois partidos mesmo “antagônicos”, antes de tornarem-se partidos, já se uniriam para favorecer o capital estrangeiro e o interesse latifundiário em detrimento aos partidos comunistas e aos camponeses mini-fundiários.
Quando o assunto foi narcotráfico, Ospina foi enfático ao dizer que na Colômbia o tráfico de drogas é organizado por uma milícia paramilitar estruturada pelo governo e chefiado pelos parlamentares governistas. A influência estadunidense também tem muita importância no comércio e tráfico de drogas colombiano. Além do dinheiro do narcotráfico ser usado para o pagamento da dívida externa, os Estados Unidos promoveram um combate à produção de maconha na Colômbia, com fins de acabar com o tráfico (e com as FARC) no país sul-americano, resultado: Hoje o primeiro produtor e quem mais lucram com a maconha no mundo são os Estados Unidos, através o estado da Califórnia e as guerrilhas populares estão cada vez mais fortes.
As FARC são um movimento reivindicatório que iniciou nos anos 60 com apenas cinqüenta membros. Desde a sua criação cada governo que assume promete, em seu mandato, acabar com ela. Eis a repressão, os assassinatos, a marginalização de uma população. Ospina avalia muito bem quando afirma que enquanto houver carência na saúde, na distribuição de terras e na educação, as FARC e todas as guerrilhas e movimentos populares continuarão existindo. Eles têm como base os camponeses pobres e oprimidos pelo regime.
Ao final do debate Hernando concedeu entrevista ao Desacato:
Desacato: Que valor para o processo pacificador da o Sr. às deliberações por parte das FARC do cabo Pablo Mocayo e do soldado Josué Calvo que deve acontecer nos próximos dois dias?
Hernando: Para resolver o problema da violência, os EUA e a oligarquia devem tratar da violência estatal, que não é um problema apenas nacional e sim te toda nossa região.
Desacato: Qual é a diferença de no lugar de ser Álvaro Uribe candidato a segunda reeleição, for candidato o ex-ministro da defesa Juan Manoel Santos?
Hernando: Manoel é pior que Uribe! Aprofundamento na repressão e nas relações com Israel e Estados Unidos.
Desacato: Que possibilidades eleitorais têm o pólo democrático de Gustavo Petras?
Hernando: Muito poucas pelas divisões internas e falta de propostas da esquerda.
Desacato: Como influem na Colômbia e para América Latina as sete bases militares yankees no seu país?
Hernando: As bases são usadas para combater as guerrilhas e para vigiar os países americanos, inclusive o Brasil está cercado por elas. A função é declarar a Amazônia território mundial e assim tomar o poder sobre ela.
Desacato: Você disse que o Brasil está cercado por essas bases, em que países os Estados Unidos as possuem?
Hernando: além de Colômbia, Peru, Uruguai e Paraguai.
