"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

O vice de Uribe, negociou com os paramilitares


Por: Maria Laura Carpineta
Fonte;Página 12

Um dos comandantes dos grupos armados de direita contou que o vice-presidente colombiano tinha uma relação estreita com líderanças paramilitares e que com eles coordenava ações repressivas contra a guerrilha



O ano era 1997 e, o hoje, vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos, liderava os esforços para libertar todos os “seqüestrados” do país através da sua Fundação País Libre. Por essa razão, conforme justificou anos mais tarde, reuniu-se secretamente com vários líderes paramilitares. Mas, 13 anos mais tarde, um dos comandantes dos grupos armados de direita contou sua história. "Santos perguntou ao comandante (Salvatore) Mancuso como progredia a ofensiva e a guerra (...), lhe perguntou como tinha ficado a questão pendente com o comandante (Carlos) Castaño sobre a presença das autodefesas (grupos paramilitares) em Bogotá e Cundinamarca (centro do país)", foi uma das lembranças escritas por Jorge 40 em suas memórias, recentemente publicadas pelo website verdadabierta.com.

Rodrigo Tovar Pupo, mais conhecido pelos colombianos pelo seu apelido Jorge 40, foi o paramilitares que denunciou o escândalo da para-política e colocou atrás das grades a dezenas de parlamentares, governadores e vereadores. Foi também o comandante que semeou o terror no norte-oeste do país com um exército de 4.500 homens durante seis anos e, em seguida, confessou mais de 600 crimes, incluindo dezenas de massacres de camponeses, pescadores e comunidades indígenas. Em 2006, negociou com o governo de Álvaro Uribe, depôs as armas e prometeu contar tudo que sabia.

Começou a falar perante os tribunais colombianos e, na privacidade da sua cela, a escrever suas memórias, uma versão adocicada de passagem pela guerra irregular, cheia de nomes e anedotas. Na noite de 13 de maio de 2008, quando ainda estava por escrever os anos mais lucrativos do paramilitarismo, Uribe deu a ordem de extraditá-lo para os EUA, junto de outros 13 chefes das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) acusados de narcotráfico. No meio do caminho, o governo confiscou as 152 páginas do seu manuscrito. Quase dois anos depois o texto vazou e veio à tona.

Através das páginas, Jorge 40 relatou seus primeiros contatos com os insipientes grupos armados de direita. Como roubavam armas da guerrilha ou as compravam diretamente de Miami, e como as alianças com alguns chefes de polícia evitavam problemas com a lei ou, inclusive, os tiravam da prisão quando necessário. Ele mencionou muitos nomes, mas o que se sobressai sobre os demais é o do atual vice-presidente Francisco Santos.

Dois líderes paramilitares, Salvatore Mancuso e Freddy Rendón Herrera, conhecido como ‘Alemão’, já o haviam mencionado em sua longa lista de contatos e de aliados políticos. O primeiro foi extraditado e a Corte Suprema da Colômbia impediu que o segundo seguisse o mesmo destino. Os dois acusaram o filho da poderosa família, dona do maior complexo de comunicações do país, de promover a criação de uma frente paramilitar em Bogotá. Mas Santos sempre se defendeu com o mesmo argumento; estava lá, nas reuniões com os sanguinários paramilitares, pelo ‘sequestrados’, só por eles. Depois de experimentar na carne, a mando do chefão narcotraficante Pablo Escobar, Santos criou em 1991, a Fundação País Libre para ajudar as famílias das vítimas deste flagelo.

Mas, para Jorge 40, a relação entre Santos e Mancuso foi além de uma simples mediação humanitária. "Vi a forma efusiva com que se cumprimentaram, e ele se dirigiu ao comandante Mancuso pela alcunha de ‘Monito’ (Macaquinho). Assim confirmei que já se conheciam", relembrou o líder paramilitar a respeito da primeira reunião que ele testemunhou em meados de 1997, quando as AUC apenas começavam a ser reconhecidas.

Nessa reunião, Santos pediu a Mancuso a liberação de um sequestrado que estava nas mãos de paramilitares, de acordo com a autobiografia do comandante: "Não só para ajudar uma família, mas também porque serviria para que a Fundação começasse com o pé direito”, teria explicado o reconhecido jornalista.

Não conseguiu uma resposta afirmativa, mas não por isso a conversa terminou. Segundo o relato de Jorge 40, Santos e Mancuso continuaram bebendo uísque e conversando. “Santos disse que era verdade que a guerra deveria continuar e que o ruim da guerra era que houvessem mortos.Disse então que estes não poderiam desaparecer, pois acabariam virando um problema, não apenas de direitos humanos, mas também um problema para sua Fundação", escreveu o comandante.

O manuscrito do paramilitar mantém, do início ao fim, um tom inocente, as vezes ingênuo.
Jorge 40 não era nem um nem outro. As organizações de direitos humanos colombianos o acusam como um dos mais sangrentos chefes AUC e um dos comandantes que concentrou maior poder territorial. Desmobilizou-se somente depois de chegar a um acordo com o governo de Uribe e Santos: Ele e o resto da cúpula paramilitar entregaram as armas e confessaram todos os seus crimes em troca de um da anulação das acusações e nova conta com a Justiça.

Tudo ia bem até 2007, quando a polícia invadiu o esconderijo de um dos seus comandados que não tinha sido desmobilizado e apreenderam o computador que desencadeou o chamado escândalo da para-política. A lista de políticos e funcionários que tinham apoiado e financiado os paramilitares para ganhar as eleições foi tornada pública e a Justiça começou a fazer perguntas a Jorge 40 e a seus companheiros. Em cada uma de suas declarações, um governador, senador, deputado ou vereador da coligação do presidente caia em desgraça.

Em 14 de maio os colombianos acordaram com a notícia de que quase todo o primeiro escalão paramilitar foi extraditado para os EUA. Uribe não consultou, nem informou a ninguém, nem à justiça, nem às famílias das vítimas. Para as organizações de direitos humanos, o presidente queria parar a hemorragia que desatou a parapolítica dentro de suas fileiras. Impossível confirmar. Mas Jorge 40 não poderá terminar suas memórias. Ele permaneceu nos primeiros meses de 1998, quando ele ainda tinha os anos de apogeu, militar e político, do paramilitarismo.

Da sua cela, em Washington, já não tem mais motivos para continuar escrevendo. No final de 2008, testemunhou através de videoconferência, numa causa contra uma deputada uribista, mas a sua predisposição parece ter mudado desde que seu irmão, o empresário Sergio Tovar Pupo, foi assassinado na Colômbia, em dezembro passado. Desde então, o comandante paramilitar não responder às convocações da justiça colombiana. Com ele seriam quatro os líderes paramilitares que foram chamados ao silêncio nos EUA. Um silêncio que somente beneficia seus antigos sócios.