"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 31 de julho de 2007

Necessitamos da Nova Colômbia

O país não tem porque seguir a um presidente irracional, desaforado, que, ante a palavra FARC, se arrepia e entra numa espécie de transe convulsivo. O que não pôde lograr-se com o Plano Patriota não se alcançará com disparos de adjetivos. Negar a inversão social para colocá-la a serviço da voracidade da guerra, como o faz Uribe, não acelerará a vitória militar do Estado, senão o levantamento popular generalizado. Necessitamos urgente da Nova Colômbia.

Iván Márquez


[Iván Márquez*]


Ante o primeiro-ministro canadense e sem que ninguém o estivesse perguntando, o presidente Uribe manifestou que ele não era paramilitar e que em 2002 as FARC estiveram a ponto de tomar o poder.


O primeiro só pode brotar de um homem encurralado como ele, por esse engendro do Estado que é o Frankenstein da narco-para-política. É como se divagasse impulsionado pelo repúdio internacional e as aflitivas evidências.


Os fatos são graves e contundentes. Toda a cúpula do Estado está envolvida. Seus ministros mais importantes, o de Defesa, o de Fazenda, o vice-presidente da República, o comandante do exército, uns 80 congressistas uribistas, vários governadores, seu ex-chefe de segurança, a ex-chanceler..., todos eles chapinham sem saída nesse pântano da podridão que é a narco-para-política.


O da Colômbia não é um governo confiável. Isso deve ter percebido Uribe de repente frente ao ilustre visitante. Não pode inspirar confiança um governo foragido e manipulador quando se trata de abordar as relações com outros governos, instâncias e organismos internacionais. Algo deve motivar os senadores democratas para deixar no limbo as relações com Uribe enquanto não resolva o assunto da para-política e dos direitos humanos.


É que se trata de um governo montado sobre milhares de fossas comuns, milhões de deslocados, de motosserras paramilitares, de torceduras de cuello à Constituição, de fraudes eleitorais e dinheiros do narcotráfico.


Esse “eu não sou paramilitar” escapado sem convicção dos lábios de Uribe faz parte desse persistente costume que o arrebata de contradizer sua própria consciência.


E, quanto a iminência da queda do governo e da tomada do poder pelas FARC, ação só frustrada por Uribe em suas fantasias, devemos dizer que é um tema de outras profundidades e magnitudes.


É certo que, nessa época, tínhamos em nosso poder cerca de 500 prisioneiros de guerra, todos capturados em combate, que havíamos assestado golpes demolidores às tropas oficiais em vários pontos do país; que – como diz o general Tapias –, se houvéssemos tomado um batalhão se haveria desmoronado a moral do exército; que, certamente, existiam, como hoje, condições objetivas para a tomada do poder, porém não haviam condições subjetivas que lançassem o povo às ruas, às barricadas e à insurreição, com essa decisão dos povos que, num momento determinado da história, os impele a não deixar-se governar-se mais pelos opressores, e que é componente essencial do Plano estratégico das FARC, que também chamamos Campanha Bolivariana pela Nova Colômbia.


O que mais teme esta oligarquia, e teme como o diabo à água bendita, é a explosão social com a existência nas montanhas de um exército guerrilheiro, bolivariano como as FARC; porque sabe que na confluência, no encontro dessas duas forças demolidoras está a chave da vitória popular. E não só. Sabe muito bem que se levantaria, então, no norte da América do Sul a grande onda da revolução continental e a possibilidade do surgimento neste hemisfério da Pátria Grande sonhada pelo Libertador.


É esta perspectiva a que move a Casa Branca a escalar sua intervenção militar no conflito interno da Colômbia. O Plano Patriota – componente militar da “Segurança Democrática” – desenhado pelos estrategistas do Comando Sul do exército dos Estados Unidos, buscar cortar esta possibilidade propondo a derrota militar da guerrilha, ou, ao menos, quebrar sua vontade de luta para levá-la subjugada à mesa de negociações.


A conversão paulatina da base aérea de Três Esquinas e do posto de mando de Larandía no Caquetá em enclaves ou bases militares estadunidenses faz parte deste intrincado jogo de xadrez militar. Os gringos, com sua tecnologia de ponta, seus satélites, seus “predators” e seus helicópteros Chinook não vieram ao sul da Colômbia somente para matar mosquitos no tédio do meio-dia da selva amazônica.


A verdade é que, neste novo intento de aniquilar a resistência, levam mais de 5 anos e não o puderam. O Plano Patriota é um fracasso, o reconhecem tirios e troianos. Ocuparam – tal como o projetaram – o “coração da rebelião” e têm trilhado a selva e rebuscado cordilheiras, porém não apresentam resultados consistentes. Parece que não entenderam que se enfrentam é com uma guerra de guerrilhas móveis, que não cessa de causar-lhes baixas e de brindar-lhes surpresas, e mais surpresas. Ao contrário do que se propunham, o que se está espatifando é a vontade de luta das tropas oficiais. Como diz o general Tapias, a guerrilha se acostumou ao conceito das forças de deslocamento rápido, de unidades móveis e de apoio aéreo. Do fragor dos combates está surgindo o guerrilheiro da ofensiva final, o que sabe que conta com o amor do povo, porque esta luta tem as mais profundas raízes sociais e políticas.


O Plano Patriota não tem modificado substancialmente o despregar estratégico da força estipulado no Plano Geral das FARC. Avança-se, como em todo projeto, com os altos e baixos que imponha a realidade. Quando uma fase logra seus objetivos, se passa à seguinte até que se considere chegado o momento da ofensiva final, do governo de coalizão democrática ou do revolucionário, segundo a via pela qual se chegue a ele.


Desejamos a solução política, porém, os governos da oligarquia só querem a rendição e a entrega das armas, sem mudanças estruturais, sem ceder a seus privilégios, sem discutir o assunto da conformação das Forças Armadas, sem justiça social e sem dar passagem a um novo Estado. Todos se foram por essa via. Pastrana mente quando diz que o processo do Caguán fracassou por causa das FARC. Fracassou porque esse presidente correu da discussão sobre o desemprego e o sistema econômico. E, sobretudo, porque necessitava ganhar tempo para concluir o que se deu em chamar a reengenharia do exército para seguir teimosamente após essa quimera da derrota militar da guerrilha. Agora, saca pecho dizendo que no acordo humanitário pactuado com a guerrilha logrou a libertação de cerca de 400 militares. Pelo acordo humanitário só ficaram em liberdade 13 guerrilheiros e uns 47 militares. O resto, 305 militares e policiais prisioneiros, foram libertados como um gesto unilateral das FARC. É melhor que se busque outro cavalinho de batalha, e que abandone essa ridícula pretensão de ganhar indulgências com pais-nossos alheios.


Na busca de uma solução do conflito pela via política, diplomática, levantamos a bandeira da plataforma bolivariana pela Nova Colômbia, de 12 pontos, a Agenda Comum do Caguán, e aos povos a proposta de organização no Partido Clandestino e no Movimento Bolivariano.


Os diálogos de paz com as FARC são na Colômbia, de frente com o país, com participação de organizações políticas e sociais, e com um território desmilitarizado de tropas.


Enquanto isso, o Plano estratégico das FARC seguirá seu avanço em suas duas vertentes: a via do acordo nacional para a solução política, e a via armada. Uribe não está ganhando a guerra que nega em sua mentalidade de avestruz. Ele, que recebe toda a ajuda bélica ingerencista dos Estados Unidos, se rasga agora as vestimentas porque no irmão Equador uma organização política social resolveu solidarizar-se com os esforços da insurgência colombiana e com as formas de luta que assumam os povos. Só faltava isso: que os torquemadas da direita e do fascismo que tomaram por assalto o Palácio de Nariño agora queiram pendurar e condenar à fogueira os dirigentes sociais da América Nossa. Isso explica as barbaridades que têm cometido contra os dirigentes populares do país, ademais de reafirmar que o que têm aplicado aqui é o delito de opinião.


O país não tem porque seguir a um presidente irracional, desaforado, que, ante a palavra FARC, se arrepia e entra numa espécie de transe convulsivo. O que não pôde lograr-se com o Plano Patriota não se alcançará com disparos de adjetivos. Negar a inversão social para colocá-la a serviço da voracidade da guerra, como o faz Uribe, não acelerará a vitória militar do Estado, mas sim o levantamento popular generalizado. Necessitamos urgente da Nova Colômbia.


Montanhas da Colômbia, 24 de julho de 2007


* Integrante do Secretariado das FARC-EP


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