"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 10 de julho de 2007

"Não sou inimigo do povo dos Estados Unidos"

Declarou em sua defesa no julgamento/montagem que continua numa Corte Federal de Washington, Simón Trinidad. Disse que é um homem educado, e que como poderia referir-se a pessoas como Hemingway, Steinbeck, Edgar Allen Poe, Melville y Faulkner como "os mais horríveis animais do planeta". Disse que tais epítetos eram palavras de fanáticos e que não tinham nenhum lugar na ideologia das FARC. Também, mencionou numerosos membros de sua família que moram nos EEUU.


O Comandante em Chefe das FARC, Manuel, à espera da repatriação e liberação de Simon Trinidad!


[Paul Wolf]


Este é o comentário do advogado Paul Wolf, sobre o desenvolvimento do segundo julgamento contra Ricardo Palmera (Simón Trinidad), levado a cabo pela Corte Federal do Distrito de Columbia na cidade de Washington DC. Estados Unidos.


O policial colombiano Intendente John Frank Pinchao, fez hoje notícia e certamente muito dramática. Porém, não como todos haviam esperado. Depois de descrever sua fuga das FARC, além de dar detalhes de seu cativeiro, perguntaram-lhe se em algum momento havia visto Simón Trinidad. O intendente Pinchao, respondeu: "Nunca". Foi isto o que contestou de maneira enfática, talvez um pouco cansado das especulações que diziam que ele estava ali para prover a "prova mãe". Ou seja, a evidência crucial necessária para condenar Simón Trinidad. Ele não queria ter nada a ver com isso e com sua enfática declaração conseguiu impor-se como uma pessoa sincera e honesta. Pinchao foi uma grande testemunha. Certamente, com a exceção de que não pôde oferecer nada de útil para a promotoria.


E mais, ao somar dois e dois, descobri que Pinchao forneceu um bom argumento para a defesa. O Intendente Pinchao foi preso junto aos três estadunidenses, Ingrid Betancourt e com os mais conhecidos presos políticos das FARC, a maior parte dos 8 anos que esteve em cativeiro. Agora, por todo este tempo que esteve em cativeiro, ele nunca viu Simón Trinidad nem sequer uma vez, isto é ou seria um bom argumento de que Simón Trinidad nunca havia visto nenhum destes prisioneiros tampouco. Assim, todo este esforço para mostrar Simón Trinidad como um conspirador e seqüestrador tem sido inútil, já que logo a testemunha principal demonstrará ainda melhor que nem sequer havia visto os retidos. "Ora"! Que classe de "seqüestrador".


Uma teoria da conspiração veio-me à cabeça imediatamente. A desastrosa manobra de Pinchao pode indicar que há um acordo secreto sobre um possível intercâmbio de prisioneiros. Eu odeio as teorias das conspirações, e neste caso, eu acredito que o Intendente Pincaho é uma pessoa íntegra, e não gosto como o estão mostrando nos meios de comunicação como um títere do governo. O porquê a promotoria pensava que poderia tirar algum proveito dele é que vai além do meu entendimento.


Além de tudo, do testemunho de que "nunca" viu Simón Trinidad, Pinchao através do seu depoimento tendia a mostrar as FARC como uma organização de uma alta estrutura militar organizada. A promotoria estava tentando mostrar o grupo como uma organização criminosa baseada na conspiração para efetuar seqüestros. A descrição feita por Pinchao de como foi capturado durante os ataque das FARC em Mitú, me soa como um combate legítimo. (embora não tenha sido usado como evidência no julgamento, pode-se ver o vídeo das FARC sobre o ataque a Mitú em http://www.youtube.com/watch?v=cjJb28_SjVQ.


Por outro lado, descreve como foi liberada pelas FARC a maioria dos prisioneiros capturados em combates de maneira unilateral. Só os oficiais de alta patente como Pinchao continuavam detidos. Toda esta descrição do assunto parecia mais um boletim de guerra contado o fato de tomar como reféns aos três estadunidenses, coisa longe de ter sido um crime. A promotoria pode argumentar que os três estadunidenses não eram combatentes, somente buscavam laboratórios de processamento de cocaína. Porem o de Mitú, sem dúvida foi um combate, de fato e de direito.


De fato, Pinchao pode esclarecer um pouco, o tipo de papel que jogavam os estadunidenses, baseado nos que estes haviam-lhe contado. Tom Howes era o piloto. Isso já se sabia. Marc Gonsalves e Keith Stansell previamente foram qualificados de "Analistas de Sistemas". Entretanto, Pinchao esclareceu que Gonsalves operava o equipamento fotográfico dentro da aeronave, enquanto que Stansell operava o equipamento eletrônico preparado para detectar sinais de microondas e outros sinais eletromagnéticos. Como se sabe os laboratórios de drogas usam fornos de microondas para secar seu produto e os sinais de microondas podem ser detectados por esse tipo de aeronaves que voam pela área (No primeiro julgamento, averiguamos que o contratante com o qual trabalhava era a Califórmia Microwave Systems, que também tinha um contrato com o departamento de Defesa para recoletar "Imagens e comunicações de inteligência". Porém uma testemunha da empresa Cal Mike negou que foram interceptar as comunicações das FARC como parte de sua missão).


Pensei que os promotores podiam ter feito muito mais com sua testemunha. Em vez de permitir que respondesse a suas perguntas com respostas velozes e apuradas. Os promotores teriam podido, melhor ainda, tê-lo retido no tribunal e feito muito mais perguntas. Vê-se que Pinchao não estava contente ao dar seu depoimento e nunca usou um tom de relator motivado. Ele não reviveu suas experiências para o júri. Tampouco vimos nenhuma de suas imagens, emocionalmente ao reunir-se com sua família, seu aspecto era de abatido, como se estivesse padecendo uma imensa fome, como mostrou a imprensa colombiana depois de sua fuga. Ainda assim, isto não me convence das teorias conspirativas. Tampouco o faz, o fato de que a defesa não contra-interrogou com as tradicionais perguntas que usam fazer. O certo é que não entendo o porquê não lhe fizeram nenhuma pergunta, porém de todas as maneiras, o depoimento de Pinchao ajudou a defesa.


Então, Simón Trinidad veio ao tribunal. Começou da mesma maneira que no julgamento anterior, repetindo seus antecedentes e sua história pessoais, as razões do porquê ingressou nas FARC. Inclusive caiu em pranto no preciso momento, como o fez no julgamento anterior, em que descrevia como se sentiu ao escutar as notícias sobre o atentado e morte de Jaime Pardo Leal, o candidato a presidência da república pela União Patriótica (UP). Para este momento emocionante, o Juiz Lamberth declarou um recesso de 10 minutos. O resultado foi dramático, pelo menos para aqueles que nunca o haviam presenciado.


Depois do recesso, Trinidad teve que responder ao depoimento de um ex-integrante da guerrilha de nome "Duarte " que substituiu a Maryanne Arango por ter sido qualificada como a testemunha falsa no julgamento anterior. No primeiro julgamento, Arango declarou ter sido uma radioperadora de Simón Trinidad, e que escutou Trinidad ordenando inúmeros seqüestros enquanto era sua assistente. O seqüestro de Elías Ochoa foi um exemplo, Ochoa e sua esposa ambos testemunharam que Trinidad estava envolvido. Nenhuma destas pessoas teve credibilidade alguma para o jurado. Talvez a moça. Arango tenha adquirido um nova vida com uma nova identificação e seu "green card" (cartão de residência que permite aos imigrantes trabalharem nos EE.UU) como recompensa depois de cumprir com seu acordo de cooperação. O Sr. Ochoa recebeu um cargo diplomático como Consul da Colômbia na Venezuela (Estou certo de que os venezuelanos estarão brincando de alegria por semelhante nomeação...). Tanto o Sr.Ochoa como sua esposa recusaram depor novamente. Por isso é que ordenaram um novo ex-integrante.


Aparentemente, Duarte depôs que (eu não o escutei) também trabalhava com Trinidad, que lhe ordenou seqüestrar pessoas, incluindo o Sr. Vengochoa e a um tal Sr. Cardonosa há muitos anos atrás. Também declarou que Trinidad ordenou aos membros das FARC que derrubassem qualquer avião pulverizador e seqüestrassem estadunidenses, incluindo um administrador da Drummond Corporation próximo a Valledupar. Trinidad também havia dito que os estadunidenses eram "os animais mais horríveis do planeta".


Trinidad refutou estas acusações ao explicar sua limitada autoridade nas FARC para atingir semelhantes "façanhas" e também assinalou o lugar em que esteve nas diferentes ocasiões. De maneira que demonstrou serem tais ordens impossíveis. Ele declarou que seqüestrar a um executivo da Drummond seria ilógico, devido a que as FARC nesse ínterim estavam mais envolvidas em organizar os trabalhadores que em promover semelhante ação pois causaria fortes problemas. Finalmente, negou ter qualificado de "animais mais horríveis do planeta" ao ressaltar aos estadounindenses de maneira positiva pelo menos por espaço de 15 minutos. Falou da luta dos afro-americanos contra a escravidão, pelos direitos universais do homem, a luta pelos direitos da mulher. –Elogiou nossos logros no campo da ciência e da tecnologia. Também, disse que os estadunidenses têm muito que ensinar e têm ensinado bastante ao mundo. Disse que ele é um homem educado, então, como poderia referir-se a pessoas como Hemingway, Steinbeck, Edgar Allen Poe, Melville y Faulkner como "os animais mais horríveis do planeta". Disse que tais epítetos eram palavras de fanáticos e que não tinham nenhum lugar na ideologia das FARC. Também, mencionou a numerosos membros de sua família que residem nos EEUU.


Finalmente, declarou que ele não era inimigo do povo dos EEUU, e que não estava de acordo com as políticas de governo de EEUU com relação à Colômbia. De fato, enfatizou que Noam Chomsky e Howard Zinn tinham posições mais radicais que ele quanto às políticas dos EEUU. E quando ia relatar as políticas do governo do EEUU na Colômbia soou a campainha das cinco da tarde, a corte interrompeu a sessão até amanhã pela manhã.


Inicialmente pensei que o testemunho de Trinidad ia ser uma reciclagem do julgamento anterior, não o tinha sido até então. Estarei de volta amanhã e tomarei atenta nota sobre o que disser.



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