"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 30 de julho de 2007

Por que os meios de comunicação não falam dos jornalistas da RCN assassinados pelo exército na retenção dos 12 deputados em Cali?


[Dick Emanuelsson]


A mesma RCN não disse nada. Tampouco acusou nem uma só vez em seu canal de televisão o exército de ser o assassino do repórter cinematográfico da RCN, Héctor Sandoval, e Walter López, coordenador da equipe da RCN – Televisión em Cali, dirigido pela jornalista Luisa Estela Arroyave, hoje exilada no Canadá pelas ameaças de morte do exército.


Essa equipe jornalística, igual a outras, seguiram a pista da coluna guerrilheira das FARC que havia retido os onze deputados da assembléia doValle em 12 de abril de 202. De um helicóptero foram metralhados pelo exército colombiano com o resultado fatal. Como isto foi pouco, o edifício de RCN em Bogotá foi vítima de um disparo de bazuca no dia seguinte como advertência de “Não toque no assunto, lhes pode custar caro!”


Hoje, não somente o presidente da Colômbia Álvaro Uribe Vélez acusa e sentencia a guerrilha das FARC pelo assassinato dos onze deputados em 18 de junho, como RCN, Caracol, El Tiempo, para não falar dos juizes dos juízes dos jornalistas, a emissora “W”, que se sente com muito direito a estar por cima de todo o sistema judicial, chamando de guerrilheiro a todos aqueles que crêem que o jornalista não pode ser tão categórico e acusar sem ter provas ou nem sequer indícios sobre assuntos tão delicados como a tragédia dos onze deputados.


A cobertura da imprensa colombiana da tragédia dos onze deputados ilustra uma total subordinação a Uribe e aos organismos de inteligência das forças militares colombianas. Os meios mencionados acataram a terminologia oficial que não tem nada a ver com jornalismo profissional. Há exceções, tem que reconhecer, como é o caso de Nestor Morales, que dirige o programa “Hora 20” de Caracol, que em uma crônica sobre a morte dos onze deputados publicada em El Nuevo Siglo hoje, 04 de julho de 2007, acusa a setores políticos de aproveitar “a tragédia politizada”, e rechaça com indignação “o oportunismo político em relação às vítimas do seqüestro”.


Os jornalistas da RCN puseram as cartas na mesa


Por uma casualidade estive com vários jornalistas da RCN poucas semanas depois que seus colegas em Cali haviam sido atacados pelo exército e assassinados por balas de metralhadora Punto 60 do helicóptero militar. Concluíram: “Não nos permitem dizer nada sobre o caso. Se o fazemos…”


E agora, cinco anos depois da prisão dos onze deputados do Valle e a morte deles, se iniciou uma campanha de caça às bruxas contra todos que tenham uma opinião contrária ao presidente no sentido de que este não pode emitir acusação e sentenças com uma impressionante facilidade sem esperar ate que se possa fazer uma investigação real e imparcial da tragédia e facilitar a entrega dos corpos dos onze. Cada um que reclama esta exigência elementar e básica é qualificado de porta voz da guerrilha e deve sair rápido do país.


Mas os meios, que tem a obrigação democrática de questionar o poder, se converteram em repetidores do presidente, em seus portavozes.


Alguém escutou ou viu os jornalistas ou os diretores da RCN reclamar justiça por seus colegas ou empregados assassinados em 2002? Claro que não, por que não se atrevem. No entanto o fariam se nao fossem os laços politicos entre o estado-Uribe e os donos do país, os mesmos donos da Colômbia, os mesmos donos da RCN, quem impõe a ordem do dia.


Os meios sequer investigam quando são assassinados seus próprios trabalhadores, repórteres ou pessoal. Esse é o caso da RCN.


A censura aos jornalistas do General Mora


O general Jorge Henrique Mora, então chefe do exército, disse em uma roda de imprensa em 13 de abril de 2002, que os repórteres não devem meter-se na zona de conflito. Visivelmente irritado e aborrecido pela cobertura que os meios haviam feito sobre a ação da guerrilha, nos narizes da força pública. Foi vergonhoso e humilhante para os militares já que toda a ação foi filmada por uma equipe de televisao local e por uma equipe da mesma guerrilha


“Nos destacamentos, os militares ameaçaram de morte os jornalistas que seguiam a pista dos guerrilheiros. E nos Farallones foi metralhada durante duas horas nossa equipe da RCN que iria cobrir o fato pelo canal. Primeiro mataram Walter López, o condutor e depois Héctor Sandoval, câmera, que caiu ferido mortalmente. Luisa Estela Arroyave foi resgatada por outros colegas, entre eles um de El Tiempo, de ser assassinada pelo helicóptero que disparava com metralhadora Punto 60 durante duas horas”, foram as palavras de vários jornalistas da RCN que me contaram um par de semanas depois do sucedido em Cali.


Exército lançou uma bazuca contra RCN


Estivemos no hotel Peñol no município de Girardot, no mês de abril, em 2002. Angelino Grazon, o então ministro do trabalho do governo de Andrés Patrana, convidou os jornalistas que cobríamos o mercado de trabalho. Os jornalistas do canal RCN nessa época ‘soltaram’ amplamente a língua, indignados pelo assassinato de seus colegas, preocupadíssimos pela sorte futura de sua colega Luisa Estela Arroyave e pela bazuca que o exercito havia lançado contra as instalações da RCN em Bogotá.


Foi uma incrível ação militar que “falhou por uns metros mas que derrubou uma bodega ao lado, por suposto porque era apenas uma advertência do exercito. “Se acaso revelássemos ou investigássemos algo sobre os assassinatos de nossos companheiros de trabalho, iriam melhorar a pontaria”, dizia um jornalista. Outra jornalista relatou como todo o edifício e a sede da RCN temia uma explosão de bazuca, “uma arma que a guerrilha não tem”, acrescentou, “só o exercito.”


Os organismos internacionais de jornalistas se pronunciaram, condenando a ação assassina e perigosíssima por parte do exercito e seus organismos de inteligência contra os jornalistas da RCN. Mas na Colômbia os meios de comunicação estavam mudos e paralizados sobre o assunto, não se tocava no assunto para nada. Escrevi um artigo publicado no semanário VOZ e outros meios internacionais. Mas na Colômbia reinava um total silencio sobre os mortos da RCN.


Foi um ‘episodio’: Diretor da RCN


Passaram dois anos do sucedido em Calli. Pedi uma entrevista ao diretor da RCN, Álvaro Garcia para sondar até onde havia chegado a investigação e pór que o silencio deles. Perguntei-lhe:


- E como está, Álvaro Garcia, diretor da RCN television, a investigação de seus trabalhadores assassinados pelo exercito nos Farallones em 12 de abril de 2002?


“Realmente as investigações até onde tomamos conhecimento, não avançou muito. O assunto ficou nas mãos da Procuradoria Geral (Camilo Osório, mão direita de Uribe, acusado de ser “parafiscal”, salvando militares oomo o general Rito Alejo del Rio). E por outro lado, há outra ala da investigação que está na justiça penal militar. Porque, como tu dizias, houve participação das forças militares nesse episódio. Por isso eles estão com a obrigação de investigar o que aconteceu. Até agora não tivemos resultados precisos da questão. Já passaram três anos e não temos certeza absoluta em detalhes do que realmente aconteceu nessa tarde em Farallones de Calli e que terminou com a morte de nossos companheiros.”


Comparem o vocabulário do diretor da RCN acerca do assassinato de seus empregados: “episódio”. Que vocabulário utilizam agora quando se trata dos autores dos onze deputados assassinados ou mortos? “Assassinados pela guerrilha!” E ponto.


Os meios repetem sem descansar


O canal RCN entrevista o presidente Uribe que aproveita a “tribuna” que oferece a RCN para acusar categóricamente a guerrilla de “assassinos dos onze deputados”. Sem provas, sem investigações, sem testemunhas que possam ratificar essa versão. Quer dizer: Na Colômbia o presidente suplantou as autoridades policiais e judiciais e expediu sua sentença sobre um fato de tremenda dimensão no país. Uribe é juiz e parte. E os meios repetem sem descansar o declarado pelo presidente. Mas RCN não aproveita a oportunidade de perguntar a Uribe um parecer pelos companheiros de trabalho assassinados em 11 de abril de 2002 pelo exercito em Farallones de Calli. Se tprnam cúmplices não somente com o Estado mas também com a impunidade em geral.


Disse Álvaro Garcia na entrevista de 2004 que não sabe em “detalhes” o que se passou. Não somente é uma declaração cínica com os familiares dos empregados da RCN assassinados, como também nega assim o jornalismo investigativo e sério. O mais provável: Álvaro Garcia não tem aval dos donos da RCN para dizer a verdade, por que então se choca com os interesses políticos que os donos tem com os militares e o atual presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, o mesmo Uribe que recebeu milhões em apoio a sua campanha eleitoral em 2002 e em 2006 da parte dos donos do país e também o apoio dos narcoparamilitares.


“Encurralados em meio ao fogo cruzado”: RCN


E fiz a seguinte pergunta ao diretor da RCN:


“Até onde chegou o próprio trabalho de investigação jornalística da RCN para poder esclarecer os assassinados de seus companheiros?”


“Bom, não muito mais que as investigações (da procuradoria, nota do redator) e (...) do testemunho que deu Luisa Estela, de que haviam ficado encurralados em meio a um fogo cruzado (Sic!) e caíram disparos muito perto, e, ...e, ...e,... provavelmente dos helicopteros que estavam patrulhando a zona, ainda que tmbem da parte alta da montanha havia movimentos de gente armada, tanto da guerrilha como do exercito. Realmente foi impossível saber o que se passou nessa tarde.”


Agora se serve a declaração “encurralado em meio ao fogo cruzado”, mas quando se trata dos onze deputados mortos em 18 de junho só há um assassino sem nenhuma investigação: as FARC.


Mas o mais palpável e vergonhoso, para não dizer penoso é que a cadeia RCN não investigou absolutamente nada em um assunto tão próprio, tão pessoal e delicado como é a morte de companheiros de trabalho. O senhor Garcia sabe perfeitamente bem, que nem a procuradoria e muito menos a Justiça Penal Militar, vai investigar o exercito e o general Mora por haverem sido os responsáveis pelas mortes dos integrantes da RCN.


Álvaro Garcia prefere deixar os assassinatos de seus dois colegas na impunidade para assim proteger os assassinos do exército essa tarde em Los Farallones de Calli. Porque agora deve concentrar-se nos ataques frontais contra a guerrrilha das FARC, acusando-as sim, de ‘assassinos de onze deputados’, sem ter, como o presidente, nem sequer os cadáveres, porque o mesmo presidente não quer que se realize uma investigação forense que determine a causa das mortes e o tipo de bala utilizada, menos sabendo das circunstancias dos acontecimentos confusos de 18 de junho.


Não será melhor que o presidente Álvaro Uribe Vélez tenha a certeza de quem cometeu o assassinato? Não terá o presidente Álvaro Uribe a certeza de quem são ‘o grupo não identificado’ a que se referem as FARC?


Questionar cada declaração do poder


Em vez de apoiar os familiares em sua dor e de facilitar a entrega dos corpos dos onze deputados, a imprensa colombiana se converte em porta voz de URIBE. Vai lhe custar caro quando os estudantes na faculdade de comunicação social, não somente na Colômbia, senão no mundo, tomem o exemplo da cobertura dos onze deputados de como os meios podem ser instrumento para fins políticos, esquecendo seu sagrado dever: questionar cada declaração do poder.


Somente assim se descobre, desmascara e melhora a democracia. Tudo o que vemos hoje na Colômbia, onde a histeria e a caça às bruxas é canalizado através de meios como RCN, Caracol e El Tiempo.


Fontes:


Os meios RCN e El Tiempo assumem o vocabulário dos militares.

Por Dick Emanuelsson (especial para ARGENPRESS.info)* (Data de publicação:19/02/2006)

http://www.argenpress.info/notaold.asp?num=028079


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