“A guerra a morte” e o Intercâmbio Humanitário
Sonia e Simón são parte do Intercâmbio humanitário com Uribe ou sem ele!
[Allende La Paz, ANNCOL]
Os antecedentes históricos do Intercâmbio Humanitário estão claramente referenciados em “A Guerra a Morte’ antecipada por Simón Bolívar, em resposta à barbaridade com que atuavam os espanhóis com os partidários da causa independentista. Isso demonstra que tal proposta nos momentos atuais não nasce do capricho da insurgência, mas do reconhecimento das condições histórico-concretas em que se desenvolva o conflito interno colombiano.
O historiador Alfonso Rumazo González em sua obra: “Sucre. Grande Marechal de Ayacucho” disse: “diante da negativa dos exércitos de Quiroga e Riego, na Espanha em marchar para a América – haviam preferido sublevar-se-, o rei jurou a Constituição liberal em março desse ano (1820). Morillo, muito contrariado, teve que dar a conhecer aos venezuelanos, em ato público solene. Bolívar escreveu, então profeticamente: “nossa causa foi decidida no tribunal de Quiroga”!. A proclamação da lei liberal significava a exigência da paz entre espanhóis e americanos. Uma paz negociada, embora temporal. Uma paz que incluísse – eis aqui o recôndito – a possibilidade do regresso à Espanha do general (Pablo) Morillo, o que ele desejava ardentemente, tanto pela vigência da Constituição liberal como porque em anos seu país não havia lhe enviado nem auxílios nem reforços. Em Morillo recrudescia o ressentimento; um desejo de deixar a cena o quanto antes. Atender a esse anseio significava o mais astuto dos procedimentos, porque no lugar do eminentíssimo chefe ficaria o general La Torre, inferior em todos os sentidos”.
O intercâmbio ou Permuta “será eterno como o mais belo monumento da piedade aplicada à guerra”.
Rumazo continua: “Com antecedentes numerosos e não poucos incidentes, resolve-se de ambos os lados negociar o armistício e também um tratado de regulação da guerra. O escolhido para essa atividade prolixa, difícil, é o general Sucre, com o coronel Briceno Méndez, e o tenente coronel José Gabriel Pérez. O papel de plenipotenciário corresponde a Sucre. Concedeu-lhe honra muito alta, em uma atividade diplomática complexa ao extremo. Os três delegados discutiram os termos do acordo durante quatro dias, na cidade de Trujillo. Cruzaram várias informações; houve intenção de ruptura da parte hispânica. Ao final firmaram tanto o armistício como o Tratado de Regulação da Guerra (não fuzilamento de prisioneiros) E o mérito foi, nos dois casos, de Sucre. A tal ponto que o próprio Bolívar escreveu: “Este tratado é digno da alma do general Sucre: a benignidade, a clemência, o gênio da beneficência o ditaram; ele será eterno como o mais belo monumento da piedade aplicada à guerra: ele será eterno como o nome do vencedor de Ayacuchoi”.
Convivem então em uma entrevista entre os dois comandantes supremos das forças em guerra: Pablo Morillo e Simón Bolívar. Rumazo nos conta assim: “A entrevista pessoal entre o libertador e Morillo foi realizada em 27 de novembro. Bolívar, acompanhado de Sucre, Briceño Méndez e seus edecanes, sem guardaalguma, se aconteceu na praça de Santa Ana. Morillo, ao vê-los avançar, perguntou a O”Leary qual era Bolívar; ao apontar exclamou: “Como?, aquele homem pequeno de ll azul e gorro de campanha e que vem em uma mula?”
O Tratado estabelecia que “a permuta de prisioneiros será obrigatória.
“…O que tomava transcendência, daqueles atos solenes, era o Tratado de Regulação da Guerra: “A guerra entre Espanha e Colômbia será feita como fazerm os povos civilizados...Todo militar tomado no campo de batalha será mantido como prisioneiro de guerra e será respeitado, até alcançar sua libertação...Os feridos não serão prisioneiros de guerra...Os militares ou empregados que tenham desertado de suas bandeiras não podem ser castigados com pena capital...A troca de prisioneiros será obrigatória....Os habitantes dos povos que alternativamente se ocuparem das armas de ambos os governos serão altamente respeitados e gozarão de absoluta liberdade e segurança...Os cadáveres, nos campos de batalha, receberão as últimas honras da sepultura”.
Evidentemente o Tratado responde às condições históricas concretas. Isso é interpretado por Rumazo que nos diz: “Este texto, redigido por Sucre, foi o que chamou Bolívar “o mais belo monumento à piedade aplicado à guerra”. Por sete anos havia regido a “guerra a morte”, que foram os espanhóis os primeiros a impor. “A guerra a morte” conseguiu definir os campos, no tempo em que os soldados passavam de um a outro bando, muitas vezes no próprio momento de batalha; e foi elemento capital na forja de uma consciência de nacionalidade, sem a qual não teria sido impossível prosseguir a luta. Sucre a cumpriu estritamente; sabia o intenso drama a que encerrava; viu correr o sangue dos prisioneiros indefesos atravessados pelas armas. Assistiu ao clamor dos familiares, seu protesto; sua ira terrível parecia pedir vingança. Daí que sentisse, humanamente, alívio e mostrasse magnanimidade ao redigir os termos do convênio de cessação de fogos. Tinha que seguir até o triunfo final, porém sem o desaforado desate da tragédia”.
O Intercâmbio ou Liberação hoje
O Estado colombiano adianto uma guerra de extermínio contra seu próprio povo. Terrorismo de Estado.
A guerra que o exército libertador levava adiante era contra o império espanhol que subjugava nossos povos e cometia toda série de arbitrariedades, desde imposição de altos impostos, até violações dos mais elementares direitos humanos dos americanos. Situação, que guardadas as devidas proporções, vivemos na Colômbia de hoje por conta da oligarquia parasitaria e o império estadonidense, que substituiu o espanhol depois da traição das elites crioulas ao pensamento bolivariano.
Hoje estamos sofrendo um conflito interno, que condena os colombianos a sofrer os rigores da guerra. São persistentes e permanentes as violações dos direitos humanos por parte das forças militares-narco-paramilitares no que tem sido definido como Terrorismo de Estado e a guerrilha em seu acionar de resposta a tal política estatal produz efeitos colaterais de terror nos moradores, mas nem por isso podemos qualificá-las de ‘terroristas’. Pelo contrário, entendemos que respondem aos imponderáveis derivados da guerra e não a uma reorientação organizacional.
Singular consideração merecem os prisioneiros de guerra de cada parte. Os prisioneiros da insurgência e lutadores populares a grande imensa maioria não tem sido capturados em combate, e os prisioneiros do “estabelecimento’: políticos, militares e policiais (capturados em combate), todos eles integrantes do aparato estatal que leva a efeito a política de extermínio, a guerra contra seus próprio povo.
Nestas circunstâncias faz-se indispensável aplicar o herdado desde os tempos da guerra de independência. Por isso o estudo do “tratado de Regulação da Guerra’ é elucidativo.
Os governantes oligárquicos têm carecido das qualidades da “alma do general Sucre: a benignidade, a clemência. O gênio da beneficência’ e tem sido mesquinhos no tratamento dado à proposta da FARC-EP para adiantar o Intercâmbio ou Permuta de prisioneiros. O qual não deve considerar-se da ótica politiqueira de ‘ganhadores e perdedores’, mas sobre a base de princípios humanitaristas. Concretamente no momento presente o presidente Álvaro Uribe Vélez nega-se a facilitar as condições exigidas por esta organização guerrilheira, demonstrando que carece do que Bolívar chamou “ o mais belo monumento da piedade aplicado à guerra” e se mostra surdo ao clamor dos familiares dos prisioneiros em poder da insurgência, inclusive ao dos próprios prisioneiros do ‘establishment‘.
Considerar o “tratado de Regulação da Guerra’ como uma base histórica para o momento atual, seria uma mostra de realismo político e de humanitarismo ao poupar sofrimentos desnecessários às partes em guerra. Recordemos que um dos pontos mais importantes deste Tratado estabelecia: “A Liberação de prisioneiros será obrigatória...”
Com posições que atacam a Permuta, o presidente Álvaro Uribe, demonstra quanto inferior é a “alma do general Sucre” e dos Libertadores da Colômbia – da 1ª independência-, aos quais pretendeu ser comparado. A mesquinharia e a perversidade são “qualidades’ de uma alma pobre ...e acaso teremos que esperar os colombianos outros quatro anos?
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