"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O que Uribe está levando em sua queda

A dramática crise que vive o país político, empresarial, financeiro, militar, religioso e gremial a partir do intento de lavagem de imagem do paramilitarismo se constitui na mais profunda crise política da história colombiana.

Buscam-se por crimes!

[Zorba]

Inexorável e contundentemente, o narcoparamilitar chefe de governo da Colômbia, Álvaro Uribe Vélez, está arrastando consigo, em sua inevitável e já muito próxima queda da presidência da República, à qual chegou graças aos incondicionais e negociados acordos com as máfias, não só os “valores” de sua casta, senão que a seus próprios irmãos de classe. Desde os começos mesmos da República, quando em meio das guerras da Independência os caciques locais rifaram o território da Grande Colômbia, dando, assim, jogando para o espaço o sonho bolivariano de uma grande Nação integrada por Colômbia, Peru, Venezuela, Equador e Panamá (que não existia, ainda, como Nação), até nossos dias, jamais se havia vivido uma crise política ou moral como a atual.

Em menos da metade de seu segundo período, a nave narcoparamilitar uribista está fazendo água por seus quatro costados. E isto, que não teria nada de raro já que é esperado desde há tempos, está arrasando também com o que ficava à velha casta dirigente colombiana de sentido de honra, de pátria e de valores éticos.

O regime uribista, carcomido até os tutanos pela máfia paramilitar montada por latifundiários, pecuaristas, contrabandistas, industriais e comerciantes que não vacilaram em entregar a soberania das armas da República em mãos de bandos criminais que prometiam proteger seus bens e velhas conezias, em troca de criminais e cúmplices silêncios, recolhem hoje os frutos de sua política.

Ali, todos juntos, unidos por seus pessoais e pequenos ou grandes interesses, todos a uma, como em Fuente Ovejuna, vão aparecendo com suas respectivas cargas de culpas, de cumplicidades, de silêncios comprados ou vendidos, de fossas comuns, de desaparecidos, de viúvas e de órfãos, os tristes personagens desta tragédia que cresce em dramatismo e intensidade no dia-a-dia deste verdadeiramente patético espetáculo que vive Colômbia desde a chegada ao poder da máfia uribista e seu desavergonhado contubérnio com os personagens mais sinistros e pervertidos da sociedade, aos quais Uribe Vélez prometeu (e, desde logo, que lhes está cumprindo) lavar-lhes seu passado criminal e convertê-los em “honoráveis” membros da classe política nacional.

Este trágico adorno, montado “jurídicamente” sob uma amanhada lei elaborada a seis mãos entre o governo, o parlamento e os paramilitares, contém a razão histórica, legal e moral da chegada do Poder do uribismo, que não é outra que a legalização desses tenebrosos exércitos postos a serviço dos mais obscuros interesses privados.

Por esta razão, desde o primeiro segundo de sua reeleição, Uribe Vélez dedicou todos os seus esforços em sacar adiante o que ele denominou jocosamente o “processo de paz com o paramilitarismo”, que não é outra coisa que um atalho jurídico para que os crimes de lesa-humanidade cometidos por seus aliados se paguem com umas sentenças que chegam a um máximo de 5 anos de prisão.

E, no interregno, à medida que os mafiosos paramilitares lavam suas malfeitorias ante os complacentes e manietados juízes da República, vão aparecendo os demais protagonistas desta tragédia: em primeiro lugar, os militares das Forças Armadas colombianas que cobrem desde a cúspide do generalato até o último soldado profissional.

E, desde logo, a seu lado, em aberta conivência e cumplicidade, todos, absolutamente todos os membros do notablato colombiano que cobre desde reconhecidos industriais estilo Carlos Ardila Lule e Julio Mario Santodomingo, até distantes hierarcas militares e religiosos, transportadores e executivos de grandes empresas transnacionais, que resultaram cúmplices necessários da tragédia colombiana depois de ouvidas suas vergonhosas confissões.

E, ao desfile de sobrenomes provincianos outrora considerados símbolos de honorabilidade e de respeitabilidade, vão somando-se os já longuíssimos prontuários de outros nomes que não estão deixando por fora de suas sinistras páginas nem sequer a “nobreza” bogotana, um de cujos pilares históricos estava representado na família Santos, dona do diário “El Tiempo”, de canais de TV e de uma imensa fortuna.

É de tais proporções a crise provocada pela máfia uribista e suas alianças non sanctas com o narcoparamilitarismo que toda a classe dirigente colombiana, incluindo parlamentares, governadores, senadores da República, representantes à câmara, ministros, hierarcas religiosos e dirigentes desportivos, esperam com pânico a notificação de que seu nome esteja entre os que serão chamados a render indagações por seus vínculos mafiosos.

Porém, por que o destape de toda esta podridão se dá em pleno regime uribista? Por razões poderosas, algumas das quais trataremos de deixar registradas aqui para que os colombianos que vivem no exterior e os estrangeiros interessados na tragédia colombiana os tenham em conta para suas futuras leituras do país.

Em primeiro lugar, a crise se produz em meio da euforia triunfalista do uribismo, porque seu chefe, o Presidente da República, elegido por seus conmilitones paramilitares, montou todo um sistema político, jurídico e sociológico que conduzia, inexoravelmente, ao nauseabundo destape do esgoto em que nasceu.

Qualquer estadista situado na difícil posição de Uribe Vélez haveria tratado de prevenir a crise recorrendo a uma fórmula muito simples e de comprovada eficácia: o aprofundamento da democracia. Ao invés disso, o que o uribismo fez foi precisamente o contrário: instaurou um regime policialesco baseado na delação e na espionagem de todos contra todos.

Nesta “democracia totalitária” (como a qualificou, em seu momento, Marcuse, referindo-se ao sistema político burguês da Europa ocidental), se tratava, antes de tudo, de lavar as próprias culpas alienando as consciências culpáveis. Assim, apareceu a fórmula milagrosa: “num país no qual todos somos culpáveis da crise, ninguém é totalmente culpável!”

E, daí a provocar as “confissões” dos criminais paramilitares em troca de sentenças em extremo bondosas (máximo 8 anos de prisão por crimes de lesa-humanidade, que terminariam em 5 simbólicos), não haveria senão um passo por cumprir: e foi o de declará-los, trêmulos de medo, insurgentes, o qual lhes outorgava licença de corzo político para suas futuras atuações.

E, ademais, para demonstrar a “delicadeza” das medidas punitivas, se criou por disposição presidencialista todo um corpo de 2 milhões de delatores (auxiliares da justiça, chamaram-nos), para que vigiassem a todo mundo. Assim, desde as fileiras militares até o mais inocente da sociedade civil, ficou à disposição dos olhares acusadores dos delatores oficiais.

Como é óbvio, os serviços de “inteligência” do Estado se puseram em alerta máxima, e sem mais preâmbulos, sem necessidade de certificações judiciais, começaram a grampear todas as chamadas telefônicas e os correios eletrônicos dos colombianos, em busca de “inimigos” (leia-se, opositores) do regime, para mantê-los sob estrito controle e vigilância.

Neste sancocho (prato típico da culinária colombiana preparado com toda classe de carnes e ingredientes) jurídico-político-mafioso, narco e paramilitar, ademais, entrou o elemento “partidos políticos”. E, em vez de fortalecer aos tradicionais, que haviam sido historicamente o sustento do Estado, o uribismo procedeu a liquidá-los e a suplantá-los por outros “de bolso”.

Assim, sem partidos políticos organizados e coesos, sem uma justiça independente do Executivo, sem um Parlamento com plena autonomia e soberania, e com uns corpos parapolicialescos e paramilitares a serviço do Regime, Uribe Vélez teria que terminar onde terminou: afirmando, sem nenhum pudor, que ele, soberanamente, toma medidas administrativas “por razões de Estado”.

Recordam vocês a frase “O Estado sou eu”, e no que terminou? Pois bem: mesmo que ainda não terminou oficialmente, o certo é que o uribismo está de saída do Poder, deixando atrás de si as ruínas de um sistema político que, bem ou mal, havia deixado algum rastro. O outro fato positivo é que também está deixando as ruínas da classe política que permitiu que tudo isto sucedesse.

O uribismo, com seu contubérnio com as máfias paramilitares, montou, meticulosa e inconscientemente, os dispositivos que dariam ao traste com sua vigência, e ainda que não sabia que sempre os pigmaleões terminam devorando a seu autor, tem hoje o final que se merece. Ao fim e ao cabo, ao mudar a fórmula de aprofundar o regime democrático por um policialesco e de democracia totalitária, reflete a essência humana e ideológica do autor, o defensor e o fracassado sustentáculo do paramilitarismo: Álvaro Uribe Vélez. Ele é incapaz de outra coisa.