"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Entrevista exclusiva com o Comandante Raúl Reyes.

Pablo Biffi, envidado especial. Selva do sul da Colômbia.
pbiffi@clarin.com


Comandante Raul Reyes


Por que é tão difícil um Acordo Humanitário para liberar reféns, dos quais alguns completaram já dez anos presos?

- O atual governo não tem mínima intenção de fazer o Intercâmbio. As FARC têm insistido há mais de cinco anos na procura de um Acordo sobre a Troca de uns 50 reféns por 400 guerrilheiros presos. Lembremos aqui que nos Diálogos de Paz com o Governo de Andrés Pastrana, liberamos unilateralmente mais de 300 soldados e policiais. E obtivemos a liberação de 14 guerrilheiros que estavam enfermos. Os que continuam em nosso poder são para o Acordo Humanitário.


Por que insistem no despejo militar dos municípios de 800 quilômetros quadrados, Florida e Pradera, para a Troca?

-Quando assumiu este governo em 2002 propomos-lhe o despejo de dos municípios San Vicente del Caguán e Cartagena del Chairá, no Estado do Caquetá. Mas, Uribe disse que estávamos propondo esses municípios porque as FARC sentiam-se acossadas militarmente e queriam recuperar terreno. Nós dissemos então: bom, que sejam outros, assim o governo não crê que queremos tirar vantagem.


Mas, não se pode fazer de outra maneira o Intercambio?

- Não, porque as FARC não têm a mínima confiança nos representantes de Uribe, porque é um governo narco-paramilitar, um governo que não têm interesses distintos à guerra. Ademais, pensamos que é pouca coisa desmilitarizar dois municípios por 45 dias para um Acordo de tanta trascendência.


- Mas, o governo insiste em que não desmilitarizará e, vocês, que sem desmilitarização não há Troca. Como sair dessa armadilha?

-Pensamos que disto se sai com a pressão nacional e internacional, para sensibilizar a Uribe, para que entenda que a única forma de chegar a um Acordo é desmilitarizando os municípios. A proposta da desmilitarização não foi feita por Uribe, mas pelas FARC. Por isto, é que destacamos muitíssimo o papel que têm jogado e continuam a jogar França, Espanha e Suíça em procura do Acordo. Mas a política de Uribe é de resgate pela força, sem se importar com o que possa acontecer aos prisioneiros, já que ele só quer apresentar resultados na execução dos Planos Colômbia e Patriota, financiados pelos EUA, e demonstrar que está derrotando às FARC.


Não lhe parece que seja um jogo de força entre governo e FARC usando os reféns?

-Acontece que na Colômbia há um conflito interno, um confronto de mais de 43 anos, só com as FARC, onde o Estado tem feito de tudo para acabar a guerrilha. Cada presidente utilizou grande quantidade de homens e de recursos na tarefa de acabar com as FARC. Ninguém conseguiu. Pelo contrário, temos crescido e estamos presentes em todo o país, coisa que deixa preocupada a classe governante.


Insisto, não é um jogo de força com reféns no meio?

- O governo que fazer crer ao país a ao mundo que está perto de nos derrotar e que nos fará negociar sob pressão. Nós estamos fortes e não negociaremos sob pressão.


Há uns meses o governo liberou uma centena de guerrilheiros e por pedido do presidente francês foi liberado o chanceler das FARC, Rodrigo Granda. Aguardava-se um gesto recíproco de vocês, por exemplo, deixar em liberdade a Ingrid Betancourt, mas não houve nada.


-Isso foi um feito unilateral do governo a meio de uma campanha da mídia para ocultar o escândalo da parapolítica que o está complicando e não fruto de uma negociação. E sobre a liberação de Granda,
manifestamos nosso agradecimento ao presidente Nicolas Sarkozy. Mas, tampouco houve compromisso das FARC com Sarakozy para que Granda fosse liberado.


Mas, não tivesse sido importante libertar a Ingrid ou Clara Rojas e seu filho de três anos, que nasceu em cativeiro?

- O problema do Acordo Humanitário deriva do conflito interno colombiano e qualquer Acordo deve ser feito na Colômbia. Qualquer intervenção em favor da Troca é proveitosa. Mas quem decide são o governo de Bogotá e as FARC.


Chávez ofereceu seu país e uma zona despejada para que a Troca. Aceitariam que fosse feita na Venezuela?

-Gostaria de agradecer através de Clarín ao presidente Chávez por esse gesto, por essa generosidade, por esse sentido de solidariedade com Colômbia e com os familiares dos prisioneiros y as FARC. Mas, é
necessário aqui lembrar que o presidente Chávez faz essa oferta depois de que a Senadora Piedad Córdoba, do Partido Liberal e opositora a Uribe pediu-lhe que contribuísse no Acordo. E ele está fazendo sua parte, que nós pensamos que é um início, um novo impulso que se pode dar ao tema do Intercambio Humanitário. Mas, seguimos defendendo que por ser um problema derivado do conflito interno, a Troca deve ser feita na Colômbia.


Então, vocês rejeitam entregar reféns na Venezuela?

-Sim, nós não temos problema em dialogar em qualquer lugar, mas a entrega de prisioneiros deve ser na Colômbia.


Não é um ato demencial ter pessoas detidas durante tanto tempo como Ingrid Betancourt, que leva mais de 5 anos em mãos das FARC?

- Para nós, em nenhum dos casos pode-se falar em seqüestro, porque trata-se do resultado de uma confrontação do povo em armas, as guerrilhas revolucionárias na Colômbia e, um estado que tem uma ramificação nos três poderes, Executivo, Judicial e Legislativo. Os soldados em nosso poder são prisioneiros de guerra e os outros, são prisioneiros políticos. No grupo que denominamos de "trocáveis", está Ingrid Betancourt, uma candidata a presidência e antes senadora, mas do sistema que combatemos. Por isso, não é uma seqüestrada.


E no caso dos três estadonidenses que vocês têm desde fevereiro de 2003?

-Eles são agentes estadunidenses. As FARC não os capturaram em Washington, Nova York, Texas ou Boston, mas em território colombiano quando faziam espionagem em nosso país.


O Governo e os EUA dizem que eram contratistas civis....

- Essa é a grande mentira. São agentes que faziam espionagem na Colômbia, violando nossa soberania, nossa independência. Pese a isso, os incluímos entre os "trocáveis" e ganharão a liberdade só quando sejam liberados os Camaradas Simón Trinidad e Sonia, presos nos EUA junto com todos os guerrilheiros e guerrilheiras que estão nos cárceres da Colômbia.


Por que tomam como reféns a empresários?

- Não. Quais empresários?


Não há empresários?

-Que eu saiba, não. E se há, é porque eles não têm cumprido com o pagamento do imposto indicado pela nossa Lei 02, e que as FARC cobram aos empresários, que são os mesmos que financiam a guerra contra o povo colombiano. Muitos pagam esse imposto e, aqueles que não pagam, são feitos prisioneiros. Mas, não estão incluídos no pacote de "trocáveis", pois uma vez que pagam a dívida com a organização, ficam liberados.


Quanto têm que pagar?

- O 10% das utilidades que obtém cada ano.


Você falou de Simón Trinidad e Sonia, presos nos EUA. Acredita que seja possível uma negociação com Washington para trocá-nos pelos três usamericanos?

Haveria que ver em que termos, mas não haveria problema, na medida em que seja feito através do governo colombiano. Em definitiva, Uribe não é mais que um empregado deles e faz quanto lhe mandam.


Não é um mito isso?

- Não, é real.


Como se manifesta?

- Os mesmos estadunidenses o reconhecem. É uma realidade que se expressa por eles saberem perfeitamente quem é Uribe, porém, apóiam-no sabendo de seu passado bastante obscuro de paramilitar, de narcotraficante. Apóiam-no apesar de conhecer as fraudes que sempre tem feito, a compra de votos, apesar de conhecer quem estiveram nas lista com ele e de onde vêm os votos. O acompanham apesar das mentiras que lhes diz diariamente sobre supostos triunfos que não tem. Deram-lhe muito dinheiro para o Plano Colômbia, mas não tem podido apresentar os resultados esperados por eles. Ofereceu-lhes acabar com as FARC o mais rápido possível no seu primeiro mandato e, também, a resgatar os prisioneiros sem precisar de Acordo. Tampouco pode.


Nunca ficou claro como morreram em 18 de junho os 11 deputados em poder das FARC. Realmente, o que se passou?

- Dissemos que uma força não identificada causou a morte dos deputados. Até hoje, não temos podido identificar o que ocorreu.


Por quê?

- Porque na região onde estavam os 11 deputados há confrontação permanente, porque há todo tipo de forças, como o exército oficial, a polícia, os paramilitares ao serviço do Estado, quadrilhas de delinqüentes armadas pelos narcotraficantes. Por isso, as FARC não quiseram se aventurar a responsabilizar nenhuma força de esse lamentável acontecimento.


O Governo diz que vocês os assassinaram.

- Isso não é certo.


Mas, não há responsabilidade nas FARC? Porque vocês têm a responsabilidade pela vida dos reféns.

- Claro, houve falhas na segurança. Houve falhas em nossas tropas, que tinham a responsabilidade de cuidar dos prisioneiros.